dezembro 30, 2010

Capítulo 2 - Sonhos

Capítulo 2 - Sonhos

Dormi profundamente. Mas tive um sonho estranho. Assustador na verdade. Sonhei que no chão da cabana havia um alçapão, do qual descia uma escada. Abaixo da cabana a escada levava a uma espécie de cripta escura cujo ar era denso e a iluminação escassa feita somente por velas colocadas ao redor de um altar. Tudo ali dentro da cripta parecia bem mais arrumado do que na cabana acima. Até mesmo as velas estavam em castiçais polidos de prata. Tudo cheio de adornos e arrumado. Parecia que alguém fora recentemente ali, só para fazer a limpeza.

Aproximando-me do altar, que era feito de um granito escuro polido, pude ver que não havia nada em cima dele, mas que algo se escondia sob a tampa. Cheguei perto e lentamente empurrei a tampa pesada. Dentro havia um caixão. Escondido dentro daquilo que parecia um altar havia um caixão belamente adornado. Se é que um caixão pode ser belo! Minha coragem somada a minha curiosidade no sonho foi maior do que a que eu teria se realmente estivesse acordada. Abri a tampa do caixão para saber se havia alguém ali. Era um belo homem, com seus aproximadamente 20 anos. Parecia morto, seus olhos estavam fundos, sua pele muito pálida, mas ele não deixava de ser bonito. Toquei sua testa chegando mais perto para ver se ele estava frio, como dizem que os mortos ficam. Sim! Era gelado.

De repente, ele abriu os olhos encarando-me abruptamente, mas como se já me esperasse. Acordei assustada e completamente suada pelo susto daquele olhar. O sol já invadia a cabana pela janela com cortinas rasgadas. Ao levantar senti tanta fome que decidi não verificar o assoalho da cabana. Deixaria para verificar se havia ou não um alçapão mais tarde. Agora eu precisava correr de volta para o castelo para que ninguém notasse minha ausência. 

Quando cheguei todos ainda dormiam, mesmo o rei que tinha por hábito acordar bem cedo ainda estava em seus aposentos. Subi as escadas evitando fazer qualquer barulho. Somente Ana estava acordada e me esperava a porta de meu aposento. "Pensei que Vossa Alteza não voltaria mais. Onde dormiu?" Sussurrou sonolenta. Para uma aia ,ela estava bem curiosa com minha vida, mas como havia me ajudado contei a ela da corrida e da cabana, mas não mencionei nada sobre o sonho.

Ela mais parecia uma adolescente curiosa. Pedindo-me para mencionar cada detalhe, mas falei que nada de empolgante ocorrera a não ser ver o anoitecer na floresta. Ela preparou meu banho. Após o banho tentei dormir, mas as imagens do sonho foram tão vividas que não consegui parar de pensar em tudo. Quem seria aquela criatura? Por que a cripta  escondida em meio à floresta? 

Meu primeiro Livro. Capítulo 1 - A Fuga


Capítulo 1 - A Fuga


O entardecer era bem mais bonito além dos portões do castelo. Corri para o meio da floresta buscando um lugar onde pudesse pensar sobre o meu futuro que já havia sido decidido por mim. Acabara de receber de meu pai a notícia de que eu iria me casar. Como ele pode fazer isso? Como pode se apressar tanto? Eu tinha meus sonhos, queria poder viajar. Gostaria de estudar, mas agora tudo já estava decidido por mim. Fiquei nervosa não só pelo fato de não conhecer meu pretendente, algum abastado príncipe de um reino distante, mas também porque teria a responsabilidade da aliança entre duas nações em minhas mãos. 

Pensei que nem ao menos a conclusão de meus estudos para que eu pudesse ser uma estadista, eu tinha. E se eu não gostasse de meu noivo? E se todos os planos de meu pai não funcionassem exatamente como ele havia previsto? E se os reinos acabassem sem uma aliança diplomática selada por meu casamento? Os casamentos de princesas normalmente são feitos com estes objetivos, união de reinos, para a criação de um reino bem mais poderoso. Será que daria tão certo?

Quando era pequena, percebi que era diferente das outras crianças, pois era filha do rei. Uma princesa, um pouco mimada, mas sem tanta pompa, só obrigações. Agora via minha infância passar na minha mente, enquanto eu corria, com os pés descalços, pela floresta. Essa estranha sensação de liberdade, para quem passara a vida inteira cercada de enormes jardins, com guardas, servos e muralhas para todos os lados.

Ao cair da noite, percebi que estava longe demais para conseguir retornar ao castelo. A floresta que antes era graciosa ao entardecer, mas se tonava assustadora com o cair da noite. O que eu faria? Onde passaria a noite? Busquei abrigo e um pequeno feixe de luz em meio a vegetação chamou a minha atenção. Então pude avistar uma cabana que parecia abandonada. A luz vinha de uma vela que estava quase no final quando entrei pela porta. Um calafrio assustador percorreu minhas costas. Senti um medo diferente, pela primeira vez sozinha e sem a proteção dos guardas da realeza. Eu estava à mercê de minha própria sorte.

Olhando ao redor percebi tudo muito empoeirado. Era uma cabana velha, com mobília igualmente velha e uma cama coberta por uma manta de retalhos. Levantei a colcha, sentei na cama e deitei.Comecei a pensar em tudo que me fora ensinado durante a minha vida e no que esperava desta fase que iria ter que superar. Chorei um pouco pensando nas decisões tomadas para o meu futuro. Respirei fundo. Não queria toda aquela responsabilidade que este casamento arranjado trazia com ele em minhas mãos. E se algo não desse certo? E se eu prejudicasse o reino de meu pai? Ele contava comigo, eu sabia disso. O rei tinha colocado a responsabilidade dessa aliança em minhas mãos

Depois de algum tempo pensando e chorando, logo veio o sono e percebi que não havia tomado o lanche que Ana, minha aia e única cúmplice da minha fuga, havia preparado para mim, antes da minha partida. Estava com fome, precisava comer e descansar. Eu estava exausta. Estava faminta. Talvez tivesse corrido demais, talvez tivesse percorrido um longo caminho. Eu não tinha idéia de quanto tempo caminhei até a cabana, nem mesmo a qual distânci eu estava do palácio. Meu pai jamais poderia saber que eu havia escapado. Eu não podia parecer cansada amanhã. Ninguém poderia perceber nada. Ou minha fuga ficaria evidente e minha aia seria punida. Anna era a única que me acompanhava há anos, desde a partida de minha mãe. Ela era minha melhor amiga, minha confidente.
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