janeiro 22, 2011

Capítulo 6 – O noivado

Peguei uma das taças enquanto Phillip pegou a outra. Pude ver quando ele rapidamente virou a taça de vinho bebendo tudo em um único gole. Senti uma leve tonteira, talvez pela tensão de todas as minhas recentes descobertas, e preferi não beber. Saímos da biblioteca e seguimos para o salão. Do alto da escadaria toda ornamentada de flores, que descia em uma bela cascata para o grande salão de baile onde todos dançavam, comiam e bebiam. Havia muita alegria no ar, somente eu estava confusa, muito cansada e não muito alegre.



Entreguei a taça de vinho na mão de um dos garçons que serviam os convidados. Eu estava um pouco pálida e muito assustada pelas minhas recentes descobertas. Phillip caminhou, passando por mim, até meu pai, que acenou para que eu fosse em sua direção. Atravessei o salão em direção a meu pai e Phillip, meu pretendente. Antes que eu pudesse alcança-los, pude ver Phillip retirando do bolso um lenço bordado. Quando eu estava a três passos de distância deles, ele ajoelhou-se no chão diante de mim, em frente ao meu pai e abrindo o lenço perguntou: “Vossa alteza, aceita se casar comigo?” Vi meu pai apoiar sua mão sobre o ombro de Phillip, como forma de dar sua aprovação ao gesto e me encarou a espera da resposta. No meio do lenço um belo anel encravado de vários diamantes.



Respirei fundo, pois neste momento todos no salão já olhavam para nós e o salão tão cheio de sons já havia ficado silencioso. Respondi friamente: “Claro, se é da vontade de meu pai.” Um sorriso de alegria surgiu no rosto do rei e Phillip se levantou apressadamente para colocar um lindo anel de brilhantes, que antes estava enrolado no lenço em meu dedo. Após esse momento ele me levou ao centro do salão para uma valsa.



No jantar, além do banquete, tivemos vários brindes, mas eu estava tão tonta e confusa com tudo que não bebi sequer uma gota de vinho, preferindo água, toda a nobreza se despediu aos poucos e os que ficaram se recolheram aos inúmeros aposentos de hóspedes. O príncipe dormiria por aquela noite no castelo e por isso também se recolheu aos seus aposentos. Segui para meu quarto pouco antes de meu pai se despedir de todos.



Estava muito assustada e confusa para conseguir dormir. Caminhei pelos corredores do castelo. Sabia que não precisaria voltar à cabana esta noite. Ele estava ali. A criatura bela dos olhos negros profundos, dos cabelos negros ondulados, pálido, alto e extremamente forte. Dormindo num dos aposentos de hóspedes. Anna me encontrou e me levou de volta para meu quarto. “Vossa Alteza precisa descansar, está abatida e pálida. Nada de fugir esta noite.” Perguntei a ela em que quarto ficara meu pretendente. “Alteza, não faça nada de errado. Amanhã o verá no café-da-manhã. Acalme-se” Mas eu precisava saber e sempre conseguia persuadir Anna à minha curiosidade.



Aguardei em meu quarto até que os sons todos no castelo acabassem. Minha mente vagava em todas as descobertas recentes dos últimos dias. Lembrei da primeira vez, há dois dias, em que entrei na cabana, seguindo para a cripta. Lembrei da imagem de Phillip deitado dentro de um caixão. Tantas dúvidas brotavam no fundo de minha mente, todas as minhas inseguranças e medos surgiram desse momento. Eu tinha que evitar ser pega por alguém, mesmo um servo não poderia me encontrar, pois eu pretendia fazer uma visita noturna proibida. Na certeza de que todos dormiam atravessei os corredores do castelo em direção ao quarto onde dormia Phillip.

janeiro 17, 2011

Capítulo 5 – O encontro

Corri para o banheiro, vomitei o pouco que tinha dentro de meu estômago e lavei meu rosto com bastante água fria, pois precisava parar de suar e tremer. Anna bateu na porta e avisou que meu pai me chamava, mas eu precisava estabilizar o tremor em minhas pernas. Saí de meu quarto seguindo minha aia ao encontro do Rei, mas não no salão de baile. Ele me aguardava em uma das salas de estar do castelo. “Filha, como eu desejo que você não seja mais surpreendida e a pedido de seu noivo, ele gostaria de falar inicialmente a sós com você. Eu o deixei aguardando em nossa biblioteca, estarei no salão com os demais convidados, espero que vocês não demorem muito, mas conversem.”

Caminhei apressadamente até a porta da biblioteca, respirei fundo antes de abrir as enormes portas de madeira e ao entrar não vi o príncipe. Sentado em uma poltrona de costas para a porta ele falou com uma voz forte e conhecida: “Por que você está tremendo? Está com medo de mim?” Novamente senti um arrepio e agora era capaz de ouvir meu coração batendo alto.

A biblioteca estava escura, havia apenas algumas velas a iluminar o ambiente. Não consegui ver o rosto do prícipe, quando ele se levantou da poltrona, mas aquela voz... De onde eu conhecia aquela voz. Caminhei lentamente em direção a ele enquanto ele vinha em minha direção. Quase gritei ao reconhece-lo, mas ele foi mais rápido tampou rapidamente minha boca com sua mão gelada, enquanto segurava-me contra si, pela minha cintura com a outra mão.

“Fique calma. Respire. Você não pode gritar, ou vai ter que explicar para o rei o que a princesa anda fazendo enquanto ele dorme, ou por onde anda dormindo no meio da floresta.” ele falou com um tom sarcástico e uma voz rouca e baixa.

Senti raiva, mas ele tinha razão. E ver minha aia sendo punida me partiria o coração. Parei de lutar para tentar me soltar, tentei regular minha respiração com ele ainda me segurando em seu abraço. Ele foi me soltando lentamente. “Pode perguntar.” Ele falou enquanto eu dava mais um passo para trás. “Quem é você? Ou o que é você? Por que estava naquela cripta na noite passada? O que você quer de mim?” as perguntas saíram quase num sussurro. Ninguém poderia me ouvir.

“Vamos nos apresentar primeiro"-ele falou dando um passo em minha direção. "Meu nome é Phillip III, há muitos anos meus pais construíram um reinado de tristeza e morte, um pouco longe daqui. Mas não é disso que você quer saber"- ele curvou levemente os lábios e concluiu: "Eu sempre quis você.” ele falou dando mais um passo em minha direção. “Aquela cripta é um dos meus refúgios, onde me escondo quando venho de meu reino e, embora você tenha encontrado a cabana recentemente, ela não existe, só quem pode vê-la é você."

“Você é o que estou pensando? É um vampiro?” falei tentando respirar, dando mais um passo para trás.

“Sou um ser da noite ou um vampiro como você prefere chamar. Mas não quero que você tenha medo de mim. Saiba que não posso machucá-la.” falou ele chegando bem perto de mim rapidamente, bati numa estante atrás de mim. Agora ele estava muito próximo de mim.

Anna bateu na porta e, após eu mandar entrar, abriu a porta. Com uma bandeja com duas taças de vinho na mão ela falou: “Suas altezas estão sendo aguardadas no salão principal. O rei está chamando.”

janeiro 08, 2011

Capítulo 4 – De volta a rotina

Acordei na manhã seguinte em minha cama no castelo. Dei um pulo da cama ao ver Anna entrar pela porta: “Você me disse que iria chegar mais tarde hoje. Onde está sua capa?” A vontade de contar todo o ocorrido era grande, mas ela ficaria com medo e não me deixaria voltar até lá. Eu nem sabia se realmente queria voltar até aquele lugar. Respondi a ela simplesmente: “Senti saudades de meu quarto, nem tudo é belo além dos portões do castelo. Nem adentrando à floresta.
Após um bom banho e depois de me trocar desci para tomar o café da manhã com meu pai. Descobri então que meus planos de voltar para a cabana deveriam ser adiados, porque o rei havia planejado um jantar de noivado, com toda a nobreza presente e meu pretendente esta noite. Ele iria conversar sobre a aliança antes que eu conhecesse. Uma ansiedade e um nervosismo me consumiram.
Por isso os arranjos e todas as belas decorações no salão de gala do castelo. “Um jantar, papai? Por que não me avisou ontem? O que vestirei?” Ele estava muito sorridente, pois estava feliz com minha preocupação quanto ao que vestir. “As costureiras vieram ontem para isso e voltarão hoje para vesti-la.” Ele estava menos preocupado que da primeira vez que conversamos sobre o casamento arranjado.
Fiquei boa parte da manhã no meu quarto pensando, queria voltar àquela cripta e ter coragem de falar com aquele ser belíssimo. Mas eu tinha medo e os compromissos deste dia já seriam demais para mim. Não poderia sair após o noivado e se o rei quisesse falar comigo mais tarde? Era tudo muito arriscado. Estava tudo muito tenso.
As costureiras chegaram no meio da tarde. Vesti um lindo vestido em cetim rosa, cheio de fitas e pedrarias. Parecia uma verdadeira princesa. Mas meus pensamentos voltaram para o casamento. E se meu pretendente fosse um velho, feio e barrigudo. Como poderia eu com meus 17 anos me casar com alguém mais velho.
Era difícil não pensar neste tipo de coisa, o rei não me dava detalhes sobre meu pretendente. Um reino distante e um príncipe eram as únicas coisas que eu sabia. O que mais me perturbava era não ter minha mãe para conversar sobre estas coisas. Eu não fazia idéia de como deveria proceder. Como seria casar com alguém? Ora, eu deveria ter alguém para falar comigo sobre isso. Mas não tinha. Uma ponta de tristeza encheu meus olhos de água.
A tarde caiu e pude ver o movimento frenético de carruagens chegando de minha janela. Só podia sair de meu quarto quando o rei me chamasse. Assim mandava a tradição. Então eu fiquei ali, sentada, pronta e só apreciando as luzes, o movimento e a nobreza chegando pela porta da frente. Avistei uma carruagem negra chegando, com quatro belíssimos cavalos de raça e pude ver alguém saltar da carruagem acompanhado de seu servo. “Será que era ele o príncipe? Parecia mais novo do que eu pensava. Mas de longe...” Ele estava bem vestido e também parecia bem mais abastado do que eu imaginava.
Acompanhei a carruagem com os olhos e vi quando ela foi colocada atrás do castelo distante das demais. “Estranho!” Pensei. Um dos cavalos olhou para cima e vi seus olhos como chamas vermelhas. Meu coração disparou e comecei a tremer, aquilo não era um cavalo normal. Tive uma visão ainda mais pavorosa quando o cavalo arrebatou do chão com sua boca uma ratazana e a devorou lambendo o sangue que havia escorrido pelo chão.

janeiro 04, 2011

Capítulo 3 – Sonho ou realidade

Ana, minha aia, veio me chamar para o café. Perguntou se eu conseguira ao menos descansar um pouco. Respondi que sim com um gesto. Desci as escadarias ao encontro de meu pai para a primeira refeição do dia. Meu pai voltou a tocar no assunto do casamento. Não queria discutir, nem podia. Todos devem obedecer às ordens do rei.

Minha mente voou o dia inteiro pelos acontecimentos da noite anterior e apesar dos afazeres diários, a visita das costureiras para aumentar meu guarda-roupa, acompanhar o jardineiro pelo jardim para colher as flores mais belas – ao menos isso meu pai permitia que eu fizesse, escolher as flores que adornavam os cômodos do castelo e finalmente a visita de minha tutora, tinha aulas todos os dias, sobre quase todos os assuntos: história, geografia, artes... Deveria conhecer de tudo a filha de um rei.

Não podia, no entanto, fazer minhas próprias escolhas. Devia aceitar as escolhas feitas por outros para minha vida. No jantar, novamente o rei tocou no assunto do casamento informando-me tão somente que eu não conheceria meu pretendente só na data da cerimônia. Abaixei minha cabeça em concordância e pedi permissão para me recolher aos meus aposentos.

Ana já me aguardava com minha capa e acompanhando-me pelas escadas e através das dependências da criadagem, pediu para que eu fosse cautelosa, para que ninguém percebesse minha ausência. “Tome cuidado também com os males e feras que se escondem dentre as árvores, o rei mandará degolar-me se descobrir que estou te ajudando ou se algo pior ocorrer.” Ela sussurrou enquanto abria a porta de saída dos fundos.

Pedi somente para que ela me ajudasse, pois eu gostaria de chegar um pouco mais tarde na manhã seguinte. Ela disse somente: “Cuidado! Irá chover esta noite. Abrigue-se e até amanhã.”

Corri, novamente descalça através dos portões do castelo. Precisava ir exatamente para o mesmo lugar: “A cabana onde dormira na noite passada.” Senti uma sensação assustadora, pois parecia que alguém havia trocado os lençóis da cama onde eu dormi. “Acho que não devia ser tão abandonada assim.” Mas onde estaria o dono? Por que não apareceu na noite passada?

Minha curiosidade superou meu medo. Procurei o alçapão no mesmo local em que estava no meu sonho. Debaixo do tapete velho próximo ao sofá. Já era tarde quando desci as escadas. Era tudo igual ao que havia sonhado na noite anterior. Chegando à cripta abaixo da cabana vi o altar. Removi sua tampa bem mais pesada que no sonho e avistei o caixão. “Aberto! Onde está aquela criatura?”

De repente, senti como se alguém estivesse dentro daquele lugar. Tremi, mas não estava com frio. Ao virar lentamente vi o mesmo ser, que em meu sonho estava deitado dentro do caixão, de pé parado atrás de mim e encarando-me da mesma forma que havia feito no sonho. Tinha que manter o controle. Será que ele me mataria.

Como ele estava impedindo a passagem para a subida da escada, fui me aproximando lentamente, para tentar fugir. Senti um calafrio percorrer meu corpo quando ele se pôs na minha frente mais rápido que um piscar de olhos. “O que você está fazendo em minha casa?” O ar estava denso demais e eu mal conseguia respirar. Ele pegou meus braços e pude sentir suas mãos geladas. “Responda-me! O que veio fazer aqui?” Quase sem voz murmurei: “Tive um sonho noite passada... essa cripta e tudo o que há nela também estavam no sonho...” Antes que conseguisse prosseguir desmaiei.