O pouco tempo de sono foi o suficiente para trazer a mente as imagens mais aterrorizantes a respeito de quem era Philip, meu futuro marido. Com o complemento da imagem horripilante, ainda nítida em minha mente, a cena do cavalo de sua carruagem devorando uma ratazana e lambendo seu sangue do chão. Apenas algumas horas após conseguir finalmente dormir fui acordada por minha Aia, Anna.
Senti uma certa fraqueza, meus movimentos naquela manhã eram lentos e desastrados. Desci vagarosamente, quase perdendo um degrau por passada na escada, com Anna a reclamar da lentidão e dos tropeços que dei. Ela informou que meu pai me aguardava para o café-da-manhã e perguntava se eu havia excedido na quantidade de vinho na noite anterior. “Alteza, a Senhorita sabe que não pode beber!” Mas eu não bebi uma gota de álcool nas festividades de ontem, só não consegui dormir.
Estava pálida e muito cansada, o que acontecera comigo? Por que estava me sentindo assim? Ao sentar-me à mesa ouvi de meu pai: “Minha filha está doente?” O medo percorreu minha pele na forma de um arrepio e respondi: “Não, papai, acho que é só o cansaço pela festa de ontem." Tive medo de que ele percebesse algum dos acontecimentos da noite anterior, afinal uma princesa não pode ser vista se esgueirando pelos corredores do palácio e muito menos invadindo o quarto de um hospede tão nobre, da forma como eu havia feito na noite anterior.
Mas percebi, olhando ao redor, que Philip não estava sentado à mesa conosco. “Onde está o príncipe, papai?” Perguntei na certeza de que ainda o veria no interior do palácio naquela manhã, mas meus pensamentos ainda estavam confusos com o emaranhado de cenas de horror, o cansaço da privação de sono, em meio à cena do tranquilo príncipe belo adormecido quando entrei em seu quarto escondida.
Peguei somente uma maçã e um copo d'água, tudo parecia enjoativo naquela manhã, enquanto o rei se punha de pé e caminhando para a janela falou com uma voz mansa: “Phillip partiu antes do amanhecer, tinha algum compromisso importante.” Em seguida, o rei voltou-se a Anna e deu ordem a ela para cuidar de mim, pois ele também iria viajar, tinha compromissos em uma província e iria demorar alguns dias para retornar.
Parecendo bastante preocupado com meu estado naquela manhã, o rei alertou a todos no palácio que deveriam evitar qualquer atividade naqueles dias de distanciamento dele, pois temia que algo acontecesse comigo durante sua estadia. Tinha medo que eu adoecesse em sua ausência. Avisou a Anna que em breve chegariam as costureiras da corte para fazerem todo o enxoval de casamento da princesa. Meu pai falava como se eu nem estivesse na sala e de repente senti uma tonteira mais forte, resolvi subir para meus aposentos, pensando no que faria nas semanas seguintes em que Philip e meu pai estariam distantes do palácio. Ainda bem confusa deitei em minha cama e adormeci novamente.
Os dias que se seguiram foram silenciosos no palácio, que parecia vazio. Eu mal saia de meus aposentos. Mal me levantava da cama. As vezes minha aia me acompanhava até os jardins na esperança de que um pouco do calor do dia me revigorasse. Ana chegou a pensar que eu estava doente, mas eu só sentia o cansaço e o medo causado pelo horror das cenas do dia da festa. “As costureiras estão aqui.” Esta foi a única frase que saia da boca de Anna com o poder de me fazer levantar da cama. A alegria de experimentar todas aquelas peças, muitas feitas para mim, quase todas exclusivas. Vestidos, camisolas e diversos acessórios novos.
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