julho 11, 2011

Capítulo 11: Quarto encontro

Retornando da cripta, aproximadamente meia-hora depois, as roupas de Philip agora estavam limpas e ele parecia diferente do Philip que me carregara até ali. Ele sentou-se na cama ao meu lado, permaneci estática, pois precisava assimilar todas aquelas cenas de horror. Senti sua mão gelada subir pelo meu pescoço até meu queixo. Ele levantou minha cabeça e eu sabia que iria ouvir uma bronca a respeito do que aconteceu. Olhando em meus olhos ele falou:

- Alteza, vou tentar lhe fazer entender. Você será minha esposa em breve, você me pertence há muito tempo. Não quero adiar mais o nosso casamento. Você está fraca e aparenta estar doente. Vou levá-la ao castelo hoje, você não sairá até se recuperar. Vou vigiar seu sono por hoje.

- Como você me encontrou na floresta? Você não me seguiu, eu não te vi! Você ouviu meus gritos? - falei aterrorizada.

- Segui, de longe, mas estava bem próximo. Ouvi quando você gritou e corri para socorrê-la. Não pretendo arriscar te perder.

- Achei que você não tivesse me seguido. - falei levantando-me para sentar ao lado dele na cama – o que aconteceu depois que você chegou? Como aqueles lobos morreram? Eram muitos lobos...- pisquei lentamente lembrando do pavor que senti

- Vinte, uma alcatéia inteira. Eu simplesmente os matei, precisava te proteger – ele falou se afastando.

- Estou com medo, Phillip... - afastei-me dele tentei me levantar, mas a fraqueza me fez cair sentada – não consigo voltar para o palácio, vou dormir por aqui

- Vou levar você até o palácio, já te informei – ele segurou forte meu pulso

- Você vai acabar me machucando, quando você me carregou, tive medo... você parecia um animal! - falei soltando-me da mão dele e levantando da cama.

- Por que? Por que está fazendo isso? - ele falou com uma voz mais suave, alcançando minha bochecha para acariciá-la.

- Se se transformar como antes, você pode me machucar? - perguntei me afastando dele

- Eu nunca a machucaria, tenho controle sobre meus poderes. Precisava usá-los para te proteger. Você ia virar a refeição daqueles lobos. Você não tem ideia do que eles pensavam

- Você precisa me dar umas respostas – eu falava com certa autoridade ficando de pé e dando voltas pelo quarto, ouvindo o ranger das tábuas do piso – preciso saber... de que você se alimenta?

- De sangue, mas não humano... de animais como aqueles lobos. - ele ergueu a cabeça encarando-me – você está muito nervosa, responderei tudo o que você quiser saber.

- Por que quer que eu volte para o palácio? Por que não posso passar a noite aqui? - perguntei me ajoelhando na frente dele e apoiando minhas mãos em seus joelhos.

- Porque só posso te proteger durante a noite, se acontecer algo a você durante o dia não poderei te ajudar e você está fraca, aparenta estar doente, não quero adiar o casamento, você precisa melhorar. Preciso leva-la para o palácio, seu quarto e sua cama.

- Não entendi, por que não pode me ajudar durante o dia? - perguntei subindo minhas mãos lentamente 

- Porque em meu reino criei uma proteção para a luz do sol, que não há em seu reino. Se eu sair, durante o dia morrerei. - ele falou segurando minhas mãos

- Você vai me levar ao palácio, mas não vai ficar lá? Por que? - senti a fraqueza voltar e cai sentada no chão.

- Vou levá-la ao palácio, você precisa descansar. Fico com você até você dormir. Depois partirei. Preciso que você descanse.

Ele me levantou e pegou-me novamente em seus braços. Desacordei.

Capítulo 10 – Mais um pouco de Philip

- Vossa Alteza está tentando fazer com que eu me sinta culpado pela outra noite? - ele falou ainda segurando minha cintura e puxando-me para perto dele

- Não, estou tentando conversar com Vossa Alteza de forma civilizada - respondi tentando inutilmente me soltar dos braços dele - você pode me soltar? deixe-me ir até lá fora! O rei acha que estou doente, está até pensando em adiar o casamento, mas não me sinto mal. Deixe-me ir, preciso voltar para o palácio mais cedo...

- Você não está se sentindo bem. O que você tem? - ele falou passando uma de suas mãos pela minha nuca, forçando-me a olhar para os seus olhos – você está tão pálida, parece fraca, por que se arriscou a vir até a floresta, por que não ficou descansando? - ele falou com um tom de preocupação em sua voz

- Eu precisava saber o que havia acontecido com você. Não preciso descansar... pelo menos não agora, passei as últimas semanas descansando - respondi com um tom irônico enquanto me esquivava dele e fugia para a floresta - … se quiser, pode me seguir.

Terminei de falar, consegui me soltar de suas mãos e segui rapidamente para a floresta, que agora parecia bem mais assustadora e fria a noite. Diminui a velocidade da caminhada quando senti a falta de ar e a fraqueza retornando. Vi um amontoado de folhas secas e sentei sobre elas para descansar. Após alguns minutos sozinha senti um calafrio ao ouvir uivos de lobos se aproximando. Pensei em voltar para a cabana, mas não consegui levantar, minhas pernas não respondiam. Estava muito cansada. Uma exaustão fortíssima me abateu.

Não estava acreditando, consegui correr até a cabana, consegui fugir da cabana até ali, mas agora não tinha forças para fugir. Pude ver os olhos dos lobos ao longe e fechei os olhos, porque não queria ver o que iria me acontecer. De repente ao abrir os olhos me vi cercada de lobos. Lobos famintos me cercavam. Por que não fiquei na cabana? Sentia-me uma estúpida. Iria morrer ali, meu pai puniria Anna. E o príncipe? Será que ele sentiria minha falta? Será que ele me procuraria? Quando fugi dele, não olhei para trás, não sabia se ele havia me seguido, ou se me procurava. Olhei para o alto e gritei com toda força que me restava, na esperança de ser ouvida por alguém.

Abaixei a cabeça e a cobri com a capa me encolhendo. A ideia de ver aqueles lobos me devorando não era agradável. Pensei na dor e tremia de medo. Ouvi algo que parecia uma briga entre os lobos seguida de um silêncio mortal. Estava com tanto medo de descobrir a cabeça, mas fui baixando a capa vagarosamente. A visão era assustadora: Philip de pé coberto de sangue com vinte lobos mortos ao seu redor. Seus olhos eram vermelhos e seus dentes estava enormes. O ar que me faltava antes ficou agora totalmente escasso. Comecei a sufocar.

Philip correu em minha direção, pegou-me em seus braços, que pareciam estranhamente mais fortes do que antes e me carregou de volta para a cabana. Sem falar nenhuma palavra. Durante o caminho até a cabana minha mente vagava para fora da realidade e retornava. Quando acordava percebi que ele só buscava sentir o cheiro de meus cabelos durante o trajeto. Chegando na cabana ele me colocou na cama e acendeu a lareira, descendo para a cripta sem falar uma palavra. O quarto parecia bem mais aconchegante e quente. Encolhi-me enrolando a capa ao redor do meu corpo. O ar ainda parecia rarefeito, mas eu me sentia segura agora.

Capítulo 9 – O terceiro encontro

Durante dias as costureiras vinham pela manhã e só saiam depois que eu escolhesse o último tecido ou experimentasse o último vestido. Mas naquela manhã fria elas começaram a trazer o vestido de noiva, aquele com o qual me casaria, cheio de detalhes, rendas e babados. Uma princesa não poderia se casar com qualquer vestido, teria de ser um vestido digno da realeza.
Ainda estava cansada como na manhã há semanas, logo após a festa de noivado. Mas a idéia de ter um vestido como este era simplesmente revigorante. Quando o dia terminou o vestido ainda não estava pronto, mas já dava para ver como seria quando estivesse pronto. Com a porta do quarto onde ele era guardado entre aberta admirei-o. O medo de todas as cenas dos dias antes parecia se apagar de minha mente ao observar tão bela visão.
Senti minhas forças retornando. Como seria a cerimônia e a festa? O que eu deveria esperar de meu noivo? As dúvidas aumentaram minha curiosidade e minha mente vagou até a cabana. Eu precisava voltar lá, ao menos mais uma vez. Senti como se fosse um impulso para voltar àquele lugar sombrio. Será que ainda estaria lá? Será que Philip estaria me esperando? Será que ele poderia responder minhas dúvidas?
Não pensei mais. Falei com Anna, que relutou em me deixar sair, mas insisti. Depois de colocar uma pesada capa sobre meus ombros, ela me deu um beijo na testa e pediu para que voltasse mais cedo dessa vez, temia por minha saúde. Saí do palácio correndo, como da primeira vez, mas já não era tão divertido agora. Soltei os cabelos e pude sentir o vento neles.
A noite caiu sobre a floresta e encontrei a cabana logo que o último raio de sol se escondeu no horizonte. Ventava forte. Fechei a capa e entrei pela porta. Estava tudo escuro. Acendi uma vela que estava sobre a mesa. Retirei a capa e os sapatos. Segui pelo alçapão do assoalho, descendo a escada que levava à cripta. O ar estava mais úmido que da última vez, e tudo parecia bem mais escuro. Com algumas velas dos castiçais apagadas.
Acendi as velas próximas das paredes de pedra e me aproximei do altar. Empurrei a tampa com dificuldade, não tinha mais força. Removi a tampa do caixão. Philip dormia, mas parecia novamente estar morto. Cheguei bem perto, senti o frio que saia de sua pele. Aproximei meu rosto um pouco mais. Meu coração parecia estar acelerado. Não resisti ao momento e beijei-o de leve nos lábios.
Ele não acordou. Virei e subi as escadas rapidamente, fechei o alçapão e senti novamente a fraqueza de antes. Sentada na cama fiquei observando a tampa do alçapão enquanto minha mente retornava às imagens que antes me aterrorizavam. Não sabia o que fazer. Pensei: como seria a cabana por fora? Ele havia dito que ela não existia para ninguém.
Coloquei a capa sobre os ombros e com os pés descalços abri a porta. “Philip!” falei assustada ao vê-lo de pé do lado de fora da porta. “Como você fez isso?” perguntei tentando retomar o ar e me manter de pé depois do susto - “Como pôde sair tão depressa do caixão e da cripta e parar aí fora? Como não o vi?” Colocando uma mão ao redor da minha cintura para me segurar em pé e a outra mão sobre a minha boca para que me calasse ele respondeu: “Já lhe falei o que sou... não se lembra daquela noite? Onde você pensava em ir?”
Ele segurava-me firme, mas lentamente ele retirou a mão de minha boca. “Eu ia ver a cabana por fora, você falou que só eu posso vê-la.” falei ainda sem ar “depois dar uma volta pela floresta, por que quer saber? Não parecia se importar comigo quando saiu de meu quarto na noite do noivado...”
- Mas você ficou bem depois daquilo tudo? Eu precisava te ver de novo... e acho que você também precisava me ver. - ele falou bem próximo ao meu ouvido enquanto eu tentava me soltar dele.
- Não, não fiquei bem. As imagens daquela noite dificultaram meu sono e quando estou assustada com algo, costumo dormir com Ana a me observar, não consigo dormir sozinha. Mas você pareceu não notar, na verdade nem sentiu que eu estava mal…

julho 10, 2011

Capítulo 8 – Os dias após

O pouco tempo de sono foi o suficiente para trazer a mente as imagens mais aterrorizantes a respeito de quem era Philip, meu futuro marido. Com o complemento da imagem horripilante, ainda nítida em minha mente, a cena do cavalo de sua carruagem devorando uma ratazana e lambendo seu sangue do chão. Apenas algumas horas após conseguir finalmente dormir fui acordada por minha Aia, Anna.

Senti uma certa fraqueza, meus movimentos naquela manhã eram lentos e desastrados. Desci vagarosamente, quase perdendo um degrau por passada na escada, com Anna a reclamar da lentidão e dos tropeços que dei. Ela informou que meu pai me aguardava para o café-da-manhã e perguntava se eu havia excedido na quantidade de vinho na noite anterior. “Alteza, a Senhorita sabe que não pode beber!” Mas eu não bebi uma gota de álcool nas festividades de ontem, só não consegui dormir.

Estava pálida e muito cansada, o que acontecera comigo? Por que estava me sentindo assim? Ao sentar-me à mesa ouvi de meu pai: “Minha filha está doente?” O medo percorreu minha pele na forma de um arrepio e respondi: “Não, papai, acho que é só o cansaço pela festa de ontem." Tive medo de que ele percebesse algum dos acontecimentos da noite anterior, afinal uma princesa não pode ser vista se esgueirando pelos corredores do palácio e muito menos invadindo o quarto de um hospede tão nobre, da forma como eu havia feito na noite anterior.

Mas percebi, olhando ao redor, que Philip não estava sentado à mesa conosco. “Onde está o príncipe, papai?” Perguntei na certeza de que ainda o veria no interior do palácio naquela manhã, mas meus pensamentos ainda estavam confusos com o emaranhado de cenas de horror, o cansaço da privação de sono, em meio à cena do tranquilo príncipe belo adormecido quando entrei em seu quarto escondida.

Peguei somente uma maçã e um copo d'água, tudo parecia enjoativo naquela manhã, enquanto o rei se punha de pé e caminhando para a janela falou com uma voz mansa: “Phillip partiu antes do amanhecer, tinha algum compromisso importante.” Em seguida, o rei voltou-se a Anna e deu ordem a ela para cuidar de mim, pois ele também iria viajar, tinha compromissos em uma província e iria demorar alguns dias para retornar.

Parecendo bastante preocupado com meu estado naquela manhã, o rei alertou a todos no palácio que deveriam evitar qualquer atividade naqueles dias de distanciamento dele, pois temia que algo acontecesse comigo durante sua estadia. Tinha medo que eu adoecesse em sua ausência. Avisou a Anna que em breve chegariam as costureiras da corte para fazerem todo o enxoval de casamento da princesa. Meu pai falava como se eu nem estivesse na sala e de repente senti uma tonteira mais forte, resolvi subir para meus aposentos, pensando no que faria nas semanas seguintes em que Philip e meu pai estariam distantes do palácio. Ainda bem confusa deitei em minha cama e adormeci novamente.

Os dias que se seguiram foram silenciosos no palácio, que parecia vazio. Eu mal saia de meus aposentos. Mal me levantava da cama. As vezes minha aia me acompanhava até os jardins na esperança de que um pouco do calor do dia me revigorasse.  Ana chegou a pensar que eu estava doente, mas eu só sentia o cansaço e o medo causado pelo horror das cenas do dia da festa. “As costureiras estão aqui.” Esta foi a única frase que saia da boca de Anna com o poder de me fazer levantar da cama. A alegria de experimentar todas aquelas peças, muitas feitas para mim, quase todas exclusivas. Vestidos, camisolas e diversos acessórios novos.

fevereiro 11, 2011

Capítulo 7 – O segundo encontro

Entrei em seu quarto silenciosamente, sem que ele abrisse os olhos. Somente vê-lo dormir já era observar um pedacinho do paraíso, era a criatura mais bela que eu já havia visto. Como podia ser tão belo? Meus olhos percorreram todo o corpo dele dos pés, passando pela a camisa parcialmente aberta mostrando uma pequena parte de seu peito esculpido em músculos, até os seus cabelos negros bagunçados sobre o travesseiro. Deitado, parecia estar dormindo tranquilamente. Tranquei a porta atrás de mim, tentando evitar qualquer som. Ousei me aproximar silenciosa e lentamente da cama.

Estava extasiada com aquela visão, tanto que nem percebi quando ele abriu os olhos. “O que você está fazendo aqui?” Perguntou se pondo de pé e caminhando em minha direção. “Vossa Alteza, não pretendia acordá-lo.”- falei dando um passo para trás e acabei pensando alto: “Como você é perfeito!” Após um suspiro: “Vossa alteza é realmente um vampiro, como me disse? Gostaria que me mostrasse que realmente é um vampiro, pois ainda não acredito.”

Ele voltou para sua cama e deitou-se de costas para mim, cobrindo-se completamente e com um gesto de sua mão me mandou sair. Virei para sair, mas um misto de exaustão e nervosismo me atingiu e caminhei cambaleando até a porta. “O que você tem, princesa?” ele perguntou ao perceber que eu não estava caminhando direito. Quando coloquei minha mão na maçaneta e ia destrancar a porta, faltou o ar e cai, mas com uma velocidade sobrenatural ele levantou-se da cama e me segurou antes que eu tocasse o chão. “Foi o vinho? Eu não a vi beber esta noite. O que você tem?” ele falou baixo com um tom preocupado enquanto me carregava e colocava deitada em sua cama.

“Eu não quero falar." - respondi cobrindo o rosto. "Você não quer me mostrar que é realmente um vampiro, então deixe-me sair. Vou para o meu quarto. Não sei muito sobre os vampiros só conheço algumas lendas e histórias de aldeões sem muitos detalhes,” falei tentando me levantar, mas não conseguindo pois estava sem força.

“Você quer ver o monstro?"- ele perguntou com seus lábios quase tocando em meu ouvido. - "Não basta minha palavra? Tudo bem, eu não queria te mostrar isso, mas … talvez você nem lembre disso amanhã.” segurando-me contra a cama e tampando a minha boca com uma das mãos, ele começou a se transformar seus olhes ficaram vermelhos como o sangue e seus dentes cresceram. Pensei: “Isso é real!” e senti minha boca dormente sob a mão gelada dele. Fechei os olhos completamente aterrorizada.

Após alguns minutos senti sua mão em minha nuca, ele me colocou sentada: “Você não está bem. O que houve? Por que está assim?”ele perguntou preocupado. Eu ainda tentava regular minha respiração, mas sem muito sucesso. Senti uma exaustão bem maior agora.

“Isso deve ser medo. Tenho medo de você. Preciso voltar para meu quarto agora, posso?” levantei-me devagar e cai no chão. Senti quando ele me pegou em seus braços e sussurrou no meu ouvido - “Você não vai conseguir voltar até seu quarto.” Carregando-me silenciosamente pelos corredores ele me colocou sobre a minha cama e virou-se em direção à porta.

“Não vá!” pedi com a voz falhando. Ele respondeu com um breve aceno e pude ver a porta se fechando atrás dele. Passei a noite acordada, quando fechava os olhos via o cavalo devorando a ratazana ou Phillip transformado em monstro. Quando o sol apareceu no horizonte finalmente consegui adormecer.

janeiro 22, 2011

Capítulo 6 – O noivado

Peguei uma das taças enquanto Phillip pegou a outra. Pude ver quando ele rapidamente virou a taça de vinho bebendo tudo em um único gole. Senti uma leve tonteira, talvez pela tensão de todas as minhas recentes descobertas, e preferi não beber. Saímos da biblioteca e seguimos para o salão. Do alto da escadaria toda ornamentada de flores, que descia em uma bela cascata para o grande salão de baile onde todos dançavam, comiam e bebiam. Havia muita alegria no ar, somente eu estava confusa, muito cansada e não muito alegre.



Entreguei a taça de vinho na mão de um dos garçons que serviam os convidados. Eu estava um pouco pálida e muito assustada pelas minhas recentes descobertas. Phillip caminhou, passando por mim, até meu pai, que acenou para que eu fosse em sua direção. Atravessei o salão em direção a meu pai e Phillip, meu pretendente. Antes que eu pudesse alcança-los, pude ver Phillip retirando do bolso um lenço bordado. Quando eu estava a três passos de distância deles, ele ajoelhou-se no chão diante de mim, em frente ao meu pai e abrindo o lenço perguntou: “Vossa alteza, aceita se casar comigo?” Vi meu pai apoiar sua mão sobre o ombro de Phillip, como forma de dar sua aprovação ao gesto e me encarou a espera da resposta. No meio do lenço um belo anel encravado de vários diamantes.



Respirei fundo, pois neste momento todos no salão já olhavam para nós e o salão tão cheio de sons já havia ficado silencioso. Respondi friamente: “Claro, se é da vontade de meu pai.” Um sorriso de alegria surgiu no rosto do rei e Phillip se levantou apressadamente para colocar um lindo anel de brilhantes, que antes estava enrolado no lenço em meu dedo. Após esse momento ele me levou ao centro do salão para uma valsa.



No jantar, além do banquete, tivemos vários brindes, mas eu estava tão tonta e confusa com tudo que não bebi sequer uma gota de vinho, preferindo água, toda a nobreza se despediu aos poucos e os que ficaram se recolheram aos inúmeros aposentos de hóspedes. O príncipe dormiria por aquela noite no castelo e por isso também se recolheu aos seus aposentos. Segui para meu quarto pouco antes de meu pai se despedir de todos.



Estava muito assustada e confusa para conseguir dormir. Caminhei pelos corredores do castelo. Sabia que não precisaria voltar à cabana esta noite. Ele estava ali. A criatura bela dos olhos negros profundos, dos cabelos negros ondulados, pálido, alto e extremamente forte. Dormindo num dos aposentos de hóspedes. Anna me encontrou e me levou de volta para meu quarto. “Vossa Alteza precisa descansar, está abatida e pálida. Nada de fugir esta noite.” Perguntei a ela em que quarto ficara meu pretendente. “Alteza, não faça nada de errado. Amanhã o verá no café-da-manhã. Acalme-se” Mas eu precisava saber e sempre conseguia persuadir Anna à minha curiosidade.



Aguardei em meu quarto até que os sons todos no castelo acabassem. Minha mente vagava em todas as descobertas recentes dos últimos dias. Lembrei da primeira vez, há dois dias, em que entrei na cabana, seguindo para a cripta. Lembrei da imagem de Phillip deitado dentro de um caixão. Tantas dúvidas brotavam no fundo de minha mente, todas as minhas inseguranças e medos surgiram desse momento. Eu tinha que evitar ser pega por alguém, mesmo um servo não poderia me encontrar, pois eu pretendia fazer uma visita noturna proibida. Na certeza de que todos dormiam atravessei os corredores do castelo em direção ao quarto onde dormia Phillip.

janeiro 17, 2011

Capítulo 5 – O encontro

Corri para o banheiro, vomitei o pouco que tinha dentro de meu estômago e lavei meu rosto com bastante água fria, pois precisava parar de suar e tremer. Anna bateu na porta e avisou que meu pai me chamava, mas eu precisava estabilizar o tremor em minhas pernas. Saí de meu quarto seguindo minha aia ao encontro do Rei, mas não no salão de baile. Ele me aguardava em uma das salas de estar do castelo. “Filha, como eu desejo que você não seja mais surpreendida e a pedido de seu noivo, ele gostaria de falar inicialmente a sós com você. Eu o deixei aguardando em nossa biblioteca, estarei no salão com os demais convidados, espero que vocês não demorem muito, mas conversem.”

Caminhei apressadamente até a porta da biblioteca, respirei fundo antes de abrir as enormes portas de madeira e ao entrar não vi o príncipe. Sentado em uma poltrona de costas para a porta ele falou com uma voz forte e conhecida: “Por que você está tremendo? Está com medo de mim?” Novamente senti um arrepio e agora era capaz de ouvir meu coração batendo alto.

A biblioteca estava escura, havia apenas algumas velas a iluminar o ambiente. Não consegui ver o rosto do prícipe, quando ele se levantou da poltrona, mas aquela voz... De onde eu conhecia aquela voz. Caminhei lentamente em direção a ele enquanto ele vinha em minha direção. Quase gritei ao reconhece-lo, mas ele foi mais rápido tampou rapidamente minha boca com sua mão gelada, enquanto segurava-me contra si, pela minha cintura com a outra mão.

“Fique calma. Respire. Você não pode gritar, ou vai ter que explicar para o rei o que a princesa anda fazendo enquanto ele dorme, ou por onde anda dormindo no meio da floresta.” ele falou com um tom sarcástico e uma voz rouca e baixa.

Senti raiva, mas ele tinha razão. E ver minha aia sendo punida me partiria o coração. Parei de lutar para tentar me soltar, tentei regular minha respiração com ele ainda me segurando em seu abraço. Ele foi me soltando lentamente. “Pode perguntar.” Ele falou enquanto eu dava mais um passo para trás. “Quem é você? Ou o que é você? Por que estava naquela cripta na noite passada? O que você quer de mim?” as perguntas saíram quase num sussurro. Ninguém poderia me ouvir.

“Vamos nos apresentar primeiro"-ele falou dando um passo em minha direção. "Meu nome é Phillip III, há muitos anos meus pais construíram um reinado de tristeza e morte, um pouco longe daqui. Mas não é disso que você quer saber"- ele curvou levemente os lábios e concluiu: "Eu sempre quis você.” ele falou dando mais um passo em minha direção. “Aquela cripta é um dos meus refúgios, onde me escondo quando venho de meu reino e, embora você tenha encontrado a cabana recentemente, ela não existe, só quem pode vê-la é você."

“Você é o que estou pensando? É um vampiro?” falei tentando respirar, dando mais um passo para trás.

“Sou um ser da noite ou um vampiro como você prefere chamar. Mas não quero que você tenha medo de mim. Saiba que não posso machucá-la.” falou ele chegando bem perto de mim rapidamente, bati numa estante atrás de mim. Agora ele estava muito próximo de mim.

Anna bateu na porta e, após eu mandar entrar, abriu a porta. Com uma bandeja com duas taças de vinho na mão ela falou: “Suas altezas estão sendo aguardadas no salão principal. O rei está chamando.”

janeiro 08, 2011

Capítulo 4 – De volta a rotina

Acordei na manhã seguinte em minha cama no castelo. Dei um pulo da cama ao ver Anna entrar pela porta: “Você me disse que iria chegar mais tarde hoje. Onde está sua capa?” A vontade de contar todo o ocorrido era grande, mas ela ficaria com medo e não me deixaria voltar até lá. Eu nem sabia se realmente queria voltar até aquele lugar. Respondi a ela simplesmente: “Senti saudades de meu quarto, nem tudo é belo além dos portões do castelo. Nem adentrando à floresta.
Após um bom banho e depois de me trocar desci para tomar o café da manhã com meu pai. Descobri então que meus planos de voltar para a cabana deveriam ser adiados, porque o rei havia planejado um jantar de noivado, com toda a nobreza presente e meu pretendente esta noite. Ele iria conversar sobre a aliança antes que eu conhecesse. Uma ansiedade e um nervosismo me consumiram.
Por isso os arranjos e todas as belas decorações no salão de gala do castelo. “Um jantar, papai? Por que não me avisou ontem? O que vestirei?” Ele estava muito sorridente, pois estava feliz com minha preocupação quanto ao que vestir. “As costureiras vieram ontem para isso e voltarão hoje para vesti-la.” Ele estava menos preocupado que da primeira vez que conversamos sobre o casamento arranjado.
Fiquei boa parte da manhã no meu quarto pensando, queria voltar àquela cripta e ter coragem de falar com aquele ser belíssimo. Mas eu tinha medo e os compromissos deste dia já seriam demais para mim. Não poderia sair após o noivado e se o rei quisesse falar comigo mais tarde? Era tudo muito arriscado. Estava tudo muito tenso.
As costureiras chegaram no meio da tarde. Vesti um lindo vestido em cetim rosa, cheio de fitas e pedrarias. Parecia uma verdadeira princesa. Mas meus pensamentos voltaram para o casamento. E se meu pretendente fosse um velho, feio e barrigudo. Como poderia eu com meus 17 anos me casar com alguém mais velho.
Era difícil não pensar neste tipo de coisa, o rei não me dava detalhes sobre meu pretendente. Um reino distante e um príncipe eram as únicas coisas que eu sabia. O que mais me perturbava era não ter minha mãe para conversar sobre estas coisas. Eu não fazia idéia de como deveria proceder. Como seria casar com alguém? Ora, eu deveria ter alguém para falar comigo sobre isso. Mas não tinha. Uma ponta de tristeza encheu meus olhos de água.
A tarde caiu e pude ver o movimento frenético de carruagens chegando de minha janela. Só podia sair de meu quarto quando o rei me chamasse. Assim mandava a tradição. Então eu fiquei ali, sentada, pronta e só apreciando as luzes, o movimento e a nobreza chegando pela porta da frente. Avistei uma carruagem negra chegando, com quatro belíssimos cavalos de raça e pude ver alguém saltar da carruagem acompanhado de seu servo. “Será que era ele o príncipe? Parecia mais novo do que eu pensava. Mas de longe...” Ele estava bem vestido e também parecia bem mais abastado do que eu imaginava.
Acompanhei a carruagem com os olhos e vi quando ela foi colocada atrás do castelo distante das demais. “Estranho!” Pensei. Um dos cavalos olhou para cima e vi seus olhos como chamas vermelhas. Meu coração disparou e comecei a tremer, aquilo não era um cavalo normal. Tive uma visão ainda mais pavorosa quando o cavalo arrebatou do chão com sua boca uma ratazana e a devorou lambendo o sangue que havia escorrido pelo chão.

janeiro 04, 2011

Capítulo 3 – Sonho ou realidade

Ana, minha aia, veio me chamar para o café. Perguntou se eu conseguira ao menos descansar um pouco. Respondi que sim com um gesto. Desci as escadarias ao encontro de meu pai para a primeira refeição do dia. Meu pai voltou a tocar no assunto do casamento. Não queria discutir, nem podia. Todos devem obedecer às ordens do rei.

Minha mente voou o dia inteiro pelos acontecimentos da noite anterior e apesar dos afazeres diários, a visita das costureiras para aumentar meu guarda-roupa, acompanhar o jardineiro pelo jardim para colher as flores mais belas – ao menos isso meu pai permitia que eu fizesse, escolher as flores que adornavam os cômodos do castelo e finalmente a visita de minha tutora, tinha aulas todos os dias, sobre quase todos os assuntos: história, geografia, artes... Deveria conhecer de tudo a filha de um rei.

Não podia, no entanto, fazer minhas próprias escolhas. Devia aceitar as escolhas feitas por outros para minha vida. No jantar, novamente o rei tocou no assunto do casamento informando-me tão somente que eu não conheceria meu pretendente só na data da cerimônia. Abaixei minha cabeça em concordância e pedi permissão para me recolher aos meus aposentos.

Ana já me aguardava com minha capa e acompanhando-me pelas escadas e através das dependências da criadagem, pediu para que eu fosse cautelosa, para que ninguém percebesse minha ausência. “Tome cuidado também com os males e feras que se escondem dentre as árvores, o rei mandará degolar-me se descobrir que estou te ajudando ou se algo pior ocorrer.” Ela sussurrou enquanto abria a porta de saída dos fundos.

Pedi somente para que ela me ajudasse, pois eu gostaria de chegar um pouco mais tarde na manhã seguinte. Ela disse somente: “Cuidado! Irá chover esta noite. Abrigue-se e até amanhã.”

Corri, novamente descalça através dos portões do castelo. Precisava ir exatamente para o mesmo lugar: “A cabana onde dormira na noite passada.” Senti uma sensação assustadora, pois parecia que alguém havia trocado os lençóis da cama onde eu dormi. “Acho que não devia ser tão abandonada assim.” Mas onde estaria o dono? Por que não apareceu na noite passada?

Minha curiosidade superou meu medo. Procurei o alçapão no mesmo local em que estava no meu sonho. Debaixo do tapete velho próximo ao sofá. Já era tarde quando desci as escadas. Era tudo igual ao que havia sonhado na noite anterior. Chegando à cripta abaixo da cabana vi o altar. Removi sua tampa bem mais pesada que no sonho e avistei o caixão. “Aberto! Onde está aquela criatura?”

De repente, senti como se alguém estivesse dentro daquele lugar. Tremi, mas não estava com frio. Ao virar lentamente vi o mesmo ser, que em meu sonho estava deitado dentro do caixão, de pé parado atrás de mim e encarando-me da mesma forma que havia feito no sonho. Tinha que manter o controle. Será que ele me mataria.

Como ele estava impedindo a passagem para a subida da escada, fui me aproximando lentamente, para tentar fugir. Senti um calafrio percorrer meu corpo quando ele se pôs na minha frente mais rápido que um piscar de olhos. “O que você está fazendo em minha casa?” O ar estava denso demais e eu mal conseguia respirar. Ele pegou meus braços e pude sentir suas mãos geladas. “Responda-me! O que veio fazer aqui?” Quase sem voz murmurei: “Tive um sonho noite passada... essa cripta e tudo o que há nela também estavam no sonho...” Antes que conseguisse prosseguir desmaiei.