novembro 19, 2024

Acabou

Esse final foi o primeiro final que escrevi aos meus 16 anos. Demorei para concluir, pois não estava encontrando o manuscrito original. Sim, encontrei. Junto a outros dois manuscritos que eu nem lembrava de ter escrito. Publicarei os outros assim que adaptá-los.

Obrigada a todos que chegaram até aqui!!!

Ajudem-me a decidir por publicar este livro em papel... Sim, já levei o arquivo a uma editora e há interesse...

Capítulo 49 - Os anos seguintes

Após nossa noite de núpcias em meu quarto, dormimos profundamente. Na manhã seguinte, tomamos o café da manhã com o Rei e nos preparamos para a viagem, que ocorreria naquela noite. Ficamos umas duas horas após o café no quarto, pois Phillip queria um pouco mais da noite anterior antes da nossa partida. Era assustador o quanto eu também o queria.
- O que há? - ele perguntou deitado ao meu lado acariciando meu braço na cama.
- Eu estava pensando, em tudo. Estou preocupada. - falei voltando de meus pensamentos.
- Preocupada com o que? Achei que tinha pensado bem, que estava decidida. O que houve? - Ele falou virando-se para que seus olhos olhassem bem no fundo dos meus.
- E se sofrermos um novo ataque? E se outra vez alguém vier por Claus? E se você morrer? - comecei a tremer e ele me segurou num abraço, enquanto enterrei meu rosto em seu peito.
- Minha doce rainha, não há porquê pensar no futuro, são muitos e se... acalme-se, só sinta o quanto eu te amo e como estou aqui, com você agora e para sempre. - ele apertou um pouco mais seu abraço ao meu redor.
Comecei a me sentir protegida e como não estaria, em meio aos braços daquele vampiro carinhoso e forte, que me amava mais do que qualquer outro ser no mundo.
Passei grande parte de nossa ida ao reino de Phillip dormindo, parecia que eu havia sido hipnotizada para isso, e acho que ele fez isso para que eu não sentisse a transição na entrada de seu reino, o que não funcionou muito bem, pois ao passarmos pela fronteira mágica acordei com uma forte dor no estômago, que o fez parar a carruagem e tive que descer para vomitar. Diferente da primeira vez, dessa vez após o episódio aterrorizante de esvaziar completamente o estômago na fronteira, vi tudo escurecer em minha visão e caí no chão.
Acordei deitada em uma cama que eu não reconheci, acho que estava no quarto de Phillip, minhas roupas foram trocadas por alguém e era manhã. Sentei na cama e olhei ao redor, eu parecia estar sozinha no quarto.
Levantei e caminhei até a porta e ouvi a voz de Phillip atrás de mim:
- Onde você vai? - virei a cabeça e pude vê-lo se levantar de uma poltrona virada para a janela e rapidamente me alcançar.
- V... você está aqui? O que houve? - perguntei desorientada.
- Chegamos há dois dias. Você passou mal na fronteira e desmaiou. Nosso médico fez exames em você, porque você não acordava. Acho que o feitiço que me protege do sol faz mal a você, então estou pensando em removê-lo. - Phillip falou segurando-me pela cintura.
- NÃO! - saiu mais alto do que eu imaginei, falei virando de frente para ele.
- Se faz mal a você, não continuará lá. - ele falou levantando meu queixo para que eu olhasse em seu olhos.
- Não, sem o feitiço você ficaria confinado ao palácio durante o dia, não quero isso! - falei assertivamente.
- Mas... - Não o deixei terminar a frase dando-lhe um beijo. - tive muito medo de te perder quando você desmaiou. - ele fala ao se afastar um pouco.
- Só acontece quando cruzo a fronteira. - falo tentando tranquiliza-lo, mas vejo o pavor no rosto dele.
- Já aconteceu antes? Da outra vez que esteve aqui? - ele segura forte em meus ombros
- Sim, sempre que entro ou saio da fronteira mágica, mas não é algo que eu vá fazer com muita constância, não é? - falei puxando-o para perto de mim em direção à cama...
- Vossa Majestade acabou de despertar, depois de dois dias, isso pode não ser seguro, querida. - ele falou tentando evitar a proximidade
- Estou bem, com fome, um pouco de sede, mas bem e eu quero você. - falei derrubando ele na cama.
- Eu posso pedir para que preparem uma refeição para você, antes... - novamente o calo com um beijo e dessa vez ele não tenta resistir.
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A questão da fronteira foi tolerada por nós por anos, poucas vezes passei por ela, mas apesar disso mantivemos o feitiço. Aos poucos percebi alguns sinais de passagem do tempo em Phillip, inicialmente uns fios de cabelo branco, o que era muito anormal para um vampiro, e algumas rugas. Eu também envelheci e diferente das espectativas de meu amigo, o conde, tivemos três filhos. Uma menina, Alice, e dois meninos, Tomy e James.
Após mais de 70 anos juntos, Phillip faleceu de velhice... nem meu amigo Lucas, que ainda manteve contato por cartas compreendeu, mas percebemos que ele envelheceu. Eu também... tudo isso foi muito assustador, mas ao mesmo tempo feliz. Nossos três filhos pararam de envelhecer ao chegarem aos 18 anos, outro fato assustador. Todos os três tinham características humanas, podiam se expor ao sol e características de vampiros, sendo extremamente fortes e com um paladar assustador, somente conseguiam comer carne se ela estivesse crua. Ao completarem 15 anos eles perceberam que eram diferentes, por isso eu e Phillip resolvemos contar a eles sobre o pai ser um vampiro. Eles entenderam, mas ainda questionavam sobre fatos que ocorriam.

setembro 28, 2024

Capítulo 48 - Está feito

Após longos momentos dançando de forma a me provocar, eventualmente me puxando mais para perto de seu corpo e me fazendo perceber o quanto ele quer sair da festa, o agora Rei Phillip me conduz pela mão até meu pai e delicadamente se curva.
-Vossa Majestade, permita que nos retiremos da festa? - ele dá um suave sorriso malicioso em minha direção
- Sim, jovem Rei. Descansem por hoje. Amanhã vocês partirão cedo? - o rei questiona com um ar feliz.- Boa noite, minha filha!
- Seu pai me falou que preparou um quarto para nós. Vossa Alteza, sabe qual é o quarto? - Phillip sussurra em meu ouvido enquanto me arrasta para fora do salão de forma sorrateira passando por entre os convidados.
Subimos pelas escadas para o andar do meu quarto e ao chegarmos na porta, há uma grande guirlanda de flores do campo. Viro a maçaneta e sou surpreendida por uma decoração completamente diferente da que eu havia deixado há algumas horas. Na mesa próxima à janela há um enorme jarro com flores. Os lençois brancos e uma colcha vinho adornam minha cama. Até as cortinas de meu dossel são novas em vinho e dourado. Há flores em todos os cantos e inúmeras pétalas de rosas no chão aos pés da cama. Todo o quarto parece sugestionar o que Phillip já tem vontade de cumprir.
Atrás de mim, Phillip me abraça e beija minha nuca. Fazendo-me derreter. Uma vontade forte de beija-lo e continuar naquela posição por um longo tempo. Phillip fecha a porta e tranca-a com a chave. Percebo uma bandeja de frutas sobre a mesa próxima à janela, com uma jarra de água e uma garrafa de vinho. Ao me virar de frente para Phillip, ele para de me beijar e olha profundamente em meus olhos:
- O que há? - ele pergunta com uma voz quase que num sussurro.
- Não sei o que fazer. - falo com certa tensão e um pouco de medo.
Ele então se afasta um pouco e continua a falar.
- Não farei nada que você não queira, e só farei qualquer coisa quando você quizer. - ele agora pára de me abraçar e segue em direção ao vinho na mesa.
- Eu de fato não sei o que fazer. - falo me aproximando de Phillip e o abraçando por traz.
- Minha princesa, você não precisa saber, posso te ensinar e te guiar em cada passo. Mas não farei nada que você não queira, mesmo que esse quarto inteiro esteja gritando para que eu a tome e a torne minha. - ele fala se virando e me entregando uma taça com um pouco de vinho.
- Phillip, acredite em mim, eu quero, mas tenho medo e ainda sim quero. - falei tomando um gole, apoiando a taça e caminhando em direção a Phillip para beija-lo.
Ele então me pega no colo e me coloca sobre a cama, enquanto me beija provocando-me. Ele beija meu queixo e desce para o meu pescoço chegando ate meu decote. Ele tira seu paletó e a camisa e a visão de seu peito nu é magnífica, músculos bem desenhados. Parece um Deus grego à minha frente. Nesse momento percebo que tenho vergonha de me despir, mas ele delicadamente desamarra cada laço de meu vestido e sinto quando sua mão toca em minha pele nua nas costas.
Soltando o espartinho do vestido ele segue beijando de meu pescoço até o meu ombro. Suspiro de nervosismo e Phillip se afasta suavemente e solta:
- Ah, como eu desejei te ver assim, minha amada! - ele fala admirado olhando diretamente para meu corpo despido.
Ele passa suas mãos delicadamente em meu corpo e levanta-se da cama retirando o restante do meu vestido e lançando-o ao chão. Ele abre suas calças e meu nervosismo aumenta. Meu nervosismo aumenta ao vê-lo nu. Ele parece uma escultura. Cada músculo e cada linha de seu corpo perfeito. Ele volta a deitar suavemente sobre mim e volta a beijar-me. Ele então sussurra em meu ouvido:
- Você tem certeza de que quer isso?
Mal consigo respirar, meu coração disparado e só aceno com a cabeça em concordância.
- Eu preciso ouvir um sim, minha princesa.- ele fala enquanto suas mãos percorrem meu corpo despido.
- S...sim. Eu quero. - falo quase sem ar e tentando manter meu coração batendo.
- As batidas do seu coração estão me deixando mais excitado. Se você soubesse o quanto isso deixa um vampiro eufórico. - ele fala com seus olhos mudando de cor para um amarelo brilhante.
De repente posso sentir, em meio aos beijos, quando ele entra em mim com força e dou um grito de dor e prazer ao mesmo tempo. Ele se assusta, mas sorri maliciosamente. E então sussurra:
- A dor irá passar... - ouço com um hálito quente em meu pescoço.
Então ele começa a entrar e sair devegar para que a dor não seja tão intensa. Então uma sensação agradável de prazer inunda meu corpo e ele percebe que já não há mais o desconforto da dor e começa a fazer movimentos mais vigorosos. Começo a perder o controle e transpiro muito, enquanto busco respirar. A sensação agradável aumenta e consigo perceber que estou chegando ao meu ápice. Sinto que Phillip também está perto de chegar.
Após o ato Phillip cai exausto ao meu lado, puxando meu corpo para perto do seu e acaricia meus cabelos. Ele então me vira para mim e fala de frente para mim:
- Está feito. Agora você é minha para sempre.

setembro 25, 2024

Capítulo 47 - O casamento e a coroação

Olhando-me no espelho a imagem me emocionara. É agora! Estou pronta. Um vestido branco off-white, com um decote comportado, uma saia volumosa, totalmente adornado com babados e pedrarias, digno de uma princesa como eu, acompanhado de um véu longo e bordado. Uma leve maquiagem em meu rosto e os cabelos delicadamente presos em um coque cheio de cachos soltos que emolduram meu rosto. Sapatos delicados para compor toda a roupa.
Minha aia saiu do quarto, informando-me que iria chamar o Rei. Respirei fundo, três vezes. O nervosismo do casamento, por si só já era estressante, mas sabendo de para onde estava indo e com quem estava me casando, deixava a atmosfera toda do dia ainda mais tensa. Tudo que fiz e cada caminho que trilhei para chegar até aqui, me fez pensar no quanto realmente amava Phillip e no quanto queria estar nesse momento.
Minha mente vagou até o momento em que o vi pela primeira vez, na minha primeira fuga até a cabana. Minha primeira visita até a cripta. A visão bela de Phillip dormindo no caixão. Depois lembrei-me de quando ele matou toda uma matilha de lobos para me manter viva na noite da floresta. Divagando pelo momento em que visitei o palácio de Phillip, lembro-me de sua doença e de como fui louca o suficiente de viajar até Paris em busca da cura para ele, tendo que lidar com um dos vampiros mais perversos que conheci.
Meus pensamentos foram interrompidos pela batida em minha porta.
- Quem está aí? - falei sendo arrastada para fora de minhas lembranças
- Seu pai. - ouço a voz do Rei, que responde enquanto abre as portas e entra olhando em minha direção.
Ao me ver percebi uma lágrima se formar no canto de seus olhos. Ele caminha em minha direção e me puxa para um abraço apertado.
- Papai, você vai me amassar toda. - falo secando, com meu lenço, as lágrimas que agora descem pelo seu rosto.
- Minha filha, você se parece tanto com a sua mãe nesse momento. - ele me solta do abraço, me oferecendo seu braço para que eu segure - Vamos, a cerimônia já irá começar. O príncipe disse que não quer partir esta noite direto para o reino dele, ele acredita que você não aguentará uma viagem logo após as festividades. Pediu para lhe perguntar se você se incomodaria de ficar com ele por aqui em sua primeira noite como casados.
- C...como assim? - falei sem conseguir raciocinar.
- Vocês passarão a noite de núpcias por aqui, ia perguntar se minha filha prefere passar esta noite em seu quarto ou se preparo um dos outros quartos para vocês? - ele me falou com a voz suave me puxando suavemente para fora do quarto.
- Podemos ficar no meu quarto? - falei mais como uma pergunta do que como uma escolha
- Vou mandar os serviçais arrumarem o quarto para vocês. - o Rei falou enquanto passávamos pela porta em direção às escadas.
Continuamos caminhando até as portas da Capela, atravessando o jardim. O rei chamou minha aia e pediu a ela para preparar meu quarto para o casal. Respirei fundo, sintia o nervosismo me assolar neste momento. E o Rei conversava levemente para trazer-me conforto. Com a porta da capela bem a nossa frente, minha respiração começa a falhar. Uma aia me entrega um grande buque de flores do campo com um ramo de lavandas no meio. Dei um leve sorriso e agradeci com um aceno de cabeça.
Caminhei delicadamente sobre um tapete de pétalas de rosas a caminho do altar, com o Rei ao meu lado todo o tempo. Olhei para a frente e observei o capelão do reino, à sua esquerda vejo Phillip.
O príncipe percebe que eu o vi e abre um largo sorriso, que acalma um pouco meu nervosismo. Sorrio de volta. Estou feliz, mas também começo novamente a divagar pelos momentos bons e ruins em que tivemos juntos.
Lembro-me de nosso primeiro beijo e de todas as vezes em que ele me protegeu e salvou minha vida. O sorriso fixo em seu rosto me deixa mais tranquila. Uma música agradável toca ao fundo enquanto caminhamos.
"Céus como esta capela é longa!"- devaneio já quase chegando próxima ao altar.
- Vossa Majestade, o Rei, permite que eu prossiga com Sua Alteza? - Phillip se aproxima de nós e se curva diante de meu pai enquanto estende a mão e questiona.
O rei acena com a cabeça e entrega a minha mão nas mãos de Phillip.
O capelão começa a cerimônia que, seguindo toda a tradição, demora pelo menos duas horas horas. Fazemos nossos votos, mas o tempo parece voar com Phillip me olhando com aqueles olhos. Seguindo a tradição, o Rei sobe ao altar. São trazidos às suas mãos o cetro e sua coroa. O capelão profere palavras de benção, então o rei pega o cetro e entrega nas mãos de Phillip e logo após coloca a coroa sobre sua cabeça.
- Longa vida ao rei Phillip III! - meu pai fala com uma voz que ecoa por toda a capela, num grito que é repetido por todos os demais presentes
Após o término da cerimônia seguimos de braços dados até o salão de baile.
Ao atravessar as grandes portas do salão, todo adornado com lindas flores do campo, entramos em um ambiente repleto de sons, com os músicos tocando num palco. Há uma enorme mesa de jantar, todos os lugares devidamente marcados, Phillip sentado à minha esquerda e o Rei no centro da mesa à minha direita.
Após o banquete, Phillip e eu dançamos uma valsa. Conforme o protocolo o Rei também dança uma valsa comigo. A festa flui com muitas conversas, algumas bem entediantes, mas outras mais agradáveis. Phillip me convida para mais uma dança, quando aceito ele aproveita a dança para falar em meu ouvido:
- Acho que já aproveitamos bastante a festa e cumprimos com todos os protocolos reais. - fala ele sussurrando enquanto dançamos e ele me puxa para mais perto.

julho 30, 2024

Capítulo 46 - Mais uma conversa

Diante das enormes portas de jacarandá entalhadas com figuras de leões, respirei fundo, porque eu já imaginava o que o rei iria me dizer, pensava em todas as broncas que meu pai já havia me dado. Lembrando-me da noite anterior pude perceber que Phillip me seguiu pela floresta e estava atrás de mim quando cheguei à cripta na noite anterior. Ele estava no castelo o tempo todo e eu fui até a cabana de forma imprudente. Como pude ser tão burra e acreditar que ele sairia de perto de mim antes do nosso casamento? Como pude achar que ele iria querer um tempo ou alguma distância, qualquer que fosse essa distância? Ele era quem mais queria essa cerimônia, o casamento e sua coroação. Tomei coragem e empurrei as portas com força. Para minha surpresa, o Conde estava sentado de frente para o rei.
- Vossa Majestade me chamou? - falei curvando-me, quando ambos viraram para olhar diretamente para mim
- Sim, Vossa alteza pode sentar. - papai falou apontando para a cadeira ao lado de Lucas. - Conde, continuaremos nossa conversa mais tarde na festa. - o rei falou a Lucas, apontando para a porta, ele se levantou e seguiu para sair do escritório
- Onde você foi ontem à noite? Por que um dos meus guardas me trouxe o informe de que ontem à noite você desmaiou próximo aos portões do palácio, vinda da floresta? Se não fosse seu pretendente, o futuro rei, talvez se outro a tivesse visto naquele estado... você ainda está fraca e se machucou - ele apontou para o curativo em minha mão - mas é teimosa, não me obedece! Pensei que quisesse se casar hoje! - ele terminou batendo com o punho na enorme mesa de madeira sólida entre nós e se colocando de pé.
- Desculpe-me, papai. - falei pensando na desculpa que daria. - Depois de tudo que ocorreu, da doença de Phillip, vocês presos nos Cárpatos e todos os vampiros no processo, pensei em colocar ramos de lavanda em meu buquê, para trazer sorte ao casamento. Mas não havia lavanda florescendo em nosso jardim, e lembro de visto algumas próximas ao castelo, nas proximidades da floresta. Acabei me machucando, também não imaginava que ainda estava tão fraca... - falei rapidamente e quase sem respirar, imaginando o que se passava na mente do rei e como ele iria ou não acreditar na minha mentira, tentei ser o mais convincente
- Você quer que eu cancele o casamento? - o rei falou com uma voz áspera e foi interrompido por uma batida na porta
- Vossa Majestade me chamou? - Phillip entrou imponente e, sem olhar para mim, sentou-se ao meu lado, quando o rei o mandou sentar-se com um gesto
- Príncipe Phillip, a decisão é sua, pois faltam poucas horas para a cerimônia e não sei se acredito que alguns ramos de lavanda seriam o motivo desta fuga noturna de minha filha, mas em poucas horas essa teimosa será sua responsabilidade, por isso quero a sua decisão a respeito do assunto. - o rei falou apontando em minha direção
- Lavanda? Foi por isso que te encontrei ontem desacordada e sendo acudida por um dos guardas do castelo? - ele finamente olhou em meus olhos e engoli em seco, nervosa e tremendo
- S... Sim, lavanda... ajuda em começos. - falei baixinho - eu li em um livro antigo...
- Vossa Majestade, acredito que é uma boa causa. A princesa devia estar ansiosa por hoje, toda essa festa depois de tantas desventuras. Vamos prosseguir. Vou para meus aposentos me arrumar, temos pouco tempo. - rapidamente meu noivo se levantou e saiu sem olhar para trás.
- Você ouviu seu noivo. Levante-se e vá se arrumar. Pedirei a sua aia para colocar os ramos de lavanda em seu buque. Agora vá! - o rei ordenou apontando para a porta.
Levantei e caminhei apressadamente para a porta. Subi as escadas com a mesma velocidade. Chegando ao meu quarto e fechando a porta. Entrei em meu banheiro e deitei na banheira para um longo banho aromático. Ao final do banho rapidamente chamei minha aia para me auxiliar, pois eu precisava me arrumar e o vestido era grandioso. Ainda faria o cabelo e uma leve maquiagem.

julho 18, 2024

Capítulo 45 - Uma noite antes

Finalmente desci as escadas em direção ao salão de jantar. O rei me encontrou no meio do caminho e pegou-me pelo braço, para que eu o acompanhasse até o salão. Papai agia de forma estranha nesta noite e eu não compreendi a princípio o porquê. Chegando ao salão percebi que os convidados estavam sentados em outra ordem. O príncipe estava no extremos oposto da mesa, em relação ao meu pai, mas Lucas estava à sua direita.
Era estranho sentar tão distante do príncipe, mas havia algo. O rei iria fazer um pronunciamento. Ele me falou de suas intenções enquanto caminhávamos pelos corredores do palácio até chegarmos ao salão.
Phillip olhava com certo desdém para Lucas, que apesar de estar na minha frente, eu sempre sentava à esquerda do rei, não recebia minha atenção. Pouco antes de começarmos a refeição, o rei levantou-se e começou:
- Amanhã, minha filha e única herdeira de meu trono se casará. Passarei a ter um filho, príncipe Phillip, que também amanhã será coroado Rei de seu reino. O casamento era o detalhe que faltava para que ele tivesse direito a seu título. Teremos as duas cerimônias juntas. Hoje, os cavalheiros estão convidados pelo rei para uma comemoração à parte, a teremos após a refeição, . - terminando de falar, o rei sentou-se e começou a comer.
Fiquei tensa. Comemoração somente entre os cavalheiros? Quase não consegui comer, embora o rei não parecesse perceber minha tensão, ele reparou no prato quase intocado.
- Vossa Alteza está passando mal? - falou o rei olhando diretamente para meu prato.
- Não, Vossa Majestade. Perdoe-me, estava perdida em meus pensamentos. - respondi voltando a comer.
- Ah bom! - falou o rei, olhando nos meus olhos - Não vou aceitar mais nenhum adiamento, tampouco aceitarei minha filha desmaiando em meio às festividades de amanhã. Assim que você esvaziar o prato, sua aia lhe levará ao seu quarto para descansar.
- Mas, papai, que comemoração é essa que você paneja para hoje? - perguntei soltando os talheres e o som deles caindo sobre o prato ressoou em todo salão, trazendo um silêncio repentino e fazendo os olhares se voltarem para mim.
O rei fez um leve movimento com a mão para que todos voltassem a comer. Olhou diretamente nos meus olhos e respondeu:
- Nunca mais faça isso! Planejei uma noite de jogos e bebidas para os convidados da festa. Sim, só para os homens! Não deveria compartilhar isso com minha filha donzela, mas temo que você não termine seu prato se eu não lhe explicar o que pretendo. Aliás, amanhã à noite você partirá depois da festa com o rei Phillip para o reino dele.
- Mas eu não arrumei nada, como farei isso. Nem me despedi... - antes que eu terminasse minha fala, Lucas me interrompeu
- Você sabe que precisa terminar de comer e que o rei está preocupado com sua partida amanhã, pois da última vez em que estiveram lá você não aguentou a viagem? - ele perguntou apontando para meu prato, ainda cheio.
- Tem razão. - respondi voltando a comer. Parei os questionamentos e também parei de olhar em volta, olhando somente para meu prato e esvaziando-o.
Assim que terminei, Anna se posicionou atrás de mim. Pedi licença ao rei e aos demais nobres e percebi que Phillip já havia saído da mesa. Onde ele estaria? Respirei fundo, precisava dormir, mas onde estaria meu noivo? Minha cabeça não parava de questionar.
Pedi a Anna que me deixasse sozinha ao chegar no quarto. Ouvi os passos de minha aia sumirem no corredor e saí silenciosamente do quarto. Cheguei até o último degrau da escada sem ser ouvida. Observei de fora do salão e todas as senhoras já haviam se recolhido, mas o príncipe não estava lá. Saí para o jardim. A noite estava bonita, mas eu procurava Phillip.
Passei pelos portões. Será que ele foi até a cabana? Pensei caminhando apressadamente através da floresta. Senti minha fraqueza voltar quando cheguei à cabana. Sentei-me na cama antes de descer para a cripta. Desci as escadas e percebi que a cripta estava iluminada pelas tochas e pelas velas como sempre e de um canto que eu não havia notado surgiu uma silhueta familiar.
- Vossa alteza não deveria estar aqui. - ouvi a voz de Lucas falar.
- O que você está fazendo aqui? - falei sem conseguir afastar a tensão em minha voz - Nenhum mortal é capaz de ver essa cabana. E a cripta é escondida!
- Mas você vê, não é. - ele respondeu com um tom irônico.
- Sim, Phillip a construiu assim para que eu o visse, eu o encontrasse. - falei segurando a raiva
- Ou seja, esse tempo todo ele te manipulou para que você o amasse. - vi um punhal brilhar em sua mão
- O que você quer aqui, Conde? - ouvi a voz de Phillip atrás de mim nos degraus.
- Queria explicar para a princesa como criaturas como você agem. Trabalhando toda a sua teia de caçadores para seduzir a presa! - vi ira nos olhos de Lucas, que começou a caminhar em minha direção.
- Se você machucá-lo, você só me afastará mais ainda de você, Lucas! - falei ameaçando-o, mas ele se aproximou até agarrar meu braço
- Vou continuar te explicando, minha princesa, como essas criaturas tem todas as suas ações calculadas, são seres frios, não se apaixonam e não amam. - ele me puxou para perto de seu corpo, segurando meu pulso e fazendo um leve corte em minha mão.
Pude ver os olhos de Phillip mudarem de cor para o vermelho ao ver o corte. Doeu muito. Não sei se por conta da fraqueza ou da dor, chutei o Conde. Ele caiu no chão e corri escada acima e para fora da cabana. Toda a tensão a que Lucas me submeteu só piorou meu estado. Estava fraca, mas precisava voltar para o castelo.
Corri pela floresta em direção ao castelo, finalmente avistando os guardas e o portão. Cheguei bem perto dos portões e pedi socorro. No momento em que um dos guardas chegou até mim, desmaiei. Tudo escureceu tão rápido e ficou tão silencioso. Será que Phillip saiu de lá. Será que ele estava bem. Sonhei com o casamento.
Na manhã seguinte acordei com Anna trazendo o meu café em uma bandeja:
- Vossa Alteza não deveria se aventurar na floresta na véspera do casamento. - ela disse deixando a bandeja na mesa perto da janela. - O Rei falou que a aguarda após o café em seu escritório.
As palavras de Anna pareciam facas, mais uma bronca ou quem sabe notícias ruins logo após os café. Olhei para o lugar onde Lucas cortou minha mão e havia uma bandagem. Não me lembrava de como cheguei no meu quarto e muito menos quem trocou minhas roupas. Mas logo que Anna saiu pela porta, Phillip saiu de trás da cortina do quarto e sentou-se na ponta da cama.
- Fui eu. Cheguei até você nos braços de um dos guardas e peguei-a nos meus braços e a trouxe para seu quarto. Depois tirei seus sapatos e parte do seu vestido, mas não fiz nada impróprio, fique tranquila. Coloquei um curativo em sua mão, acho que ficará uma cicatriz... - ele falou segurando minha mão
- O que você faz aqui? Você é louco? Se o rei lhe encontrar aqui... - falei sussurrando.
- Estamos a algumas horas de nosso casamento e minha coroação. Seu pai irá perguntar o que você fazia fora dos portões e me preocupa dele questionar se você teria consições de se casar hoje, pois acho que essa era a vontade de Lucas, adiar mais uma vez.
- Eu não quero! - falei me levantando irritada rapidamente e quase caindo
- O rei não vai querer saber da sua opinião e me chamará. Preciso que você não conte a ele o que de fato ocorreu. Preciso que você invente uma desculpa boba. Quando eu for chamado, quero que você fique em silêncio e me permita responder ao rei. Isso pode adiar nosso casamento, então preciso que você faça o que digo, certo? - ele falou se levantando e caminhando para a porta, antes de sair ele virou-se e falou - Eu te amo!
Fiquei sozinha com meus pensamentos e aquelas três palavras vagando em minha mente. Anna entrou quando eu já estava terminando meu dejejum. Após me ajudar a me vestir, seguimos para o escritório do rei.

junho 01, 2024

Capítulo 44 – Mais uma interjeição

Antes que eu respondesse ouvimos uma batida na porta. Era Anna. Eu precisava experimentar uma última vez o vestido para amanhã e ela veio me buscar para que eu fizesse isso. Levantei-me apressadamente. Pedi licença ao príncipe e segui minha aia até a sala onde duas costureiras e outras servas já estavam.
Vesti o vestido que aparentava levemente mais largo, mas nada que pequenos ajustes de última hora não resolvessem. Colocar o vestido pela última vez, antes da cerimônia, me fez chorar. Depois de amanhã eu me despediria de meu reino. De minha infância e de toda uma vida que havia até ali. Lucas entrou na sala dizendo querer falar comigo, mas rapidamente se calou e ficou com o olhar admirado em minha direção.
- O que houve, Lucas? O que é mais urgente do que meus preparativos? - questionei impaciente.
- Posso aguardar. Vossa Alteza irá se trocar e talvez possa dar uma volta com seu amigo de infância pelo jardim? - ele falou soando mais como uma ordem do que como uma sugestão.
- Sim, mas saia agora para que eu possa me trocar. - apontei para a porta com raiva, estava cansada de suas interjeições e ele agora parecia notar
Ele saiu. Minha aia me auxiliou para que eu vestisse meu vestido azul de antes. Saí da sala fechando a porta atrás de mim. Segui para o Jardim, já era quase a hora do almoço, mas pedi ao rei que me permitisse um pequeno atraso para que eu conversasse com Lucas. No jardim, Lucas me aguardava no banco onde eu costumava sentar a espera do retorno deles.
- Fale-me, meu amigo. - comecei a conversa de forma amistosa.
- Diga-me que Vossa Alteza não prosseguirá com essa loucura! - disse ele avançando em minha direção, pegando minhas mãos.
- Do que você está falando, Conde? - eu já estava impaciente e irritada com a insistência dele.
- Você deseja mesmo casar-se com uma criatura das trevas, que não poderá lhe dar futuro, ou herdeiros! O rei sabe do que você e ele estarão abdicando? - ele falou em tom de súplica
- Lucas, eu amo Phillip. Sei de seus sentimentos por mim, mas quero que você respeite os meus sentimentos por meu noivo. Nada me fará mudar de idéia! - respondi irritada levantando
- Mas como será a sua vida? Como conseguirá viver numa noite eterna? E os herdeiros? - ele insistiu
- Já conversei com Phillip. Ele pode me dar filhos, mas não é algo que eu queira agora. Sobre a noite, no reino dele há um feitiço, já vimos um pôr do sol juntos. - respondi assertivamente.
- Então não posso ter mais esperança? - ele questionou desolado, abaixando a cabeça e olhando para o chão.
- Tenho você como um irmão, Lucas. Mas é só isso. Meu coração é dele. - falei olhando ao redor. Percebi que já havia passado muito tempo e provavelmente perdemos o almoço. O rei ficaria furioso.
- Tenho que voltar, preciso me alimentar. Ordens do rei. - falei quase num sussurro, correndo de volta para dentro do castelo.
Voltamos para dentro do palácio e o salão de jantar já estava vazio, todos já haviam almoçado. Pedi a Anna para levar algo para que eu almoçasse em meu quarto. Chegando lá percebi uma sombra perto da janela. Era meu pretendente. Meu príncipe. Mas sua expressão era irritada.
- Por que você não estava no almoço hoje? Seu pai falou que você se atrasaria, mas você não foi e vi quando saiu do palácio acompanhada de seu amigo Lucas. O que é mais importante do que sua saúde? - notei claramente a irritação em sua voz
- Lucas me chamou para conversar. - falei segurando a respiração – parecia importante.
Phillip que estava com os punhos cerrados acertou um soco na parede ao lado da janela, quebrando algumas pedras dela. Isso me assustou.
- O que ele queria? O que ele ainda quer? - Phillip falou entre os dentes, com a voz num tom ríspido que eu nunca ouvira antes, seus olhos mudando de cor para um vermelho sangue.
Caminhei rapidamente até ele e o abracei, aninhando minha cabeça em seu peito, como seu cheiro era agradável e apesar da pele gelada, era confortável para mim abraçá-lo.
- Ele achava que ainda conseguiria me convencer de desistir do casamento. - falei sem respirar, pois estava muito tensa.
Uma batida na porta nos interrompeu. Era Anna trazendo uma bandeja com o almoço. O cheiro me fez salivar, eu estava com fome. Peguei a bandeja e pedi a ela que não deixasse ninguém me interromper, pois queria comer tranquilamente. Coloquei a bandeja na mesa próxima à janela e sentei-me na poltrona de frente para a mesa. Pedi a Phillip que se sentasse também.
- Preciso comer. Meu vestido precisou de muitos ajustes. Não quero novos ajustes, nem novos adiamentos. Amanhã nos casaremos. - falei com um sorriso no rosto
- Como? Mas você falou que estava conversando com Lucas sobre desistir… - Phillip falou sem entender e se reclinando em minha direção, neste momento eu o interrompi
- Ele queria que eu desistisse, mas pedi a ele que respeitasse minha decisão e que meu coração era seu! - olhei para ele enquanto falava, pegando com um garfo uma porção de comida levando-a até a boca. Eu estava de fato com fome. Mas os olhos de Phillip congelaram nos meus e ele parecia mais faminto do que eu, seus olhos voltaram à cor negra que eu amava.
- Vossa Alteza falou isso a ele? - o príncipe falou confuso, sem desviar os olhos dos meus.
- Com essas palavras, meu amor. - complementei colocando outra garfada na boca. - Acredito que ele não insistirá mais. Há mais algum preparativo do qual nos esquecemos para amanhã? - perguntei mudando completamente o foco da conversa, propositalmente, sem que os olhos de Phillip desviassem de mim.
- Como a princesa me chamou? - ele falou soando ainda mais confuso.
- Estamos sozinhos. Você sabe de meus sentimentos por você. Não chamarei meu príncipe por seu título mais. Por agora, lhe chamarei de meu amor. - falei colocando mais um pouco de comida na boca, com um leve sorriso malicioso no canto do lábio.
Phillip se levantou de sua poltrona e se ajoelhou em minha frente numa velocidade, cujo susto me fez engasgar. Antes que eu pudesse prosseguir na minha refeição ele beijou meus lábios delicadamente e falou quase num murmúrio:
- Repita, por favor, minha princesa. Por favor… - Antes que ele falasse mais uma vez repeti:
- Não lhe chamarei mais de Vossa Alteza quando estivermos sozinhos. Meu príncipe, sozinhos você sempre será meu amor.
Ele me puxou para ele e encheu meus lábios de beijos. Ficamos de pé. Ele parecia estar em uma espécie de transe. Intercalamos beijos com abraços apertados de cortar a respiração, eu podia sentir cada curva de seu corpo e seus músculos sob a roupa. Então ele se afastou e disse:
- Vejo minha amada no jantar. Por favor, não se atrase. Será nossa última refeição como solteiros. - ele se virou e saiu do quarto.
Sentei novamente, terminei minha refeição e deitei para descansar. Na hora do jantar fui acordada por Anna que rapidamente me auxiliou para que eu estivesse arrumada e bela para descer em tempo.

Capitulo 43 – A véspera

Amanhã seria o grande dia. Acordei muito tarde, bem descansada. Os raios de sol não invadiram meu quarto, pois as pesadas cortinas estavam completamente fechadas. Eu sabia que era tarde, pois ouvi o som das charretes de comerciantes e fornecedores chegando ao palácio. Os carregamentos para o banquete e uma quantidade absurda de flores.
Afastei uma pequena parte da cortina. Lembrei-me que adormeci com Phillip no meu quarto. Onde ele estava? Abri a porta e os guardas estavam de pé do lado de fora. Onde ele estava? Fui até o banheiro e tomei um bom banho quente. Ainda sentia alguma dor da fraqueza de antes, mas estava melhor e a água quente ajudava. Chamei Anna, que me ajudou a me vestir. Coloquei um belo vestido azul celeste. Saí do quarto ao lado de minha aia. Seguimos para o salão de jantar onde pude ver Phillip sentado ao lado do rei na ponta da mesa de café-da-manhã, Lucas sentado do outro lado da mesa aparentando uma leve irritação.
Parei de respirar. Como? É dia! Olhei ao redor e todas as cortinas e janelas do palácio estavam completamente fechadas. O sol não entrava nem por uma fresta. O rei me chamou com um aceno de mão e fui até ele. Ele apontou para que eu sentasse a sua direita, Phillip estava a sua esquerda.
- Bom dia, Vossa Majestade, Sua Alteza. - falei me sentando
- Como minha filha está? Está melhor hoje? Parece mais descansada, mas não está bem ainda. - o Rei falou colocando sua mão sobre a minha – Pensei que você já estaria bem melhor, mas talvez devêssemos adiar mais um pouco o evento de amanhã.
- Não! - respondi rapidamente e talvez um pouco alto, fazendo muitos olhos na sala se voltarem para mim. Pude notar o olhar com o sorriso malicioso no rosto do noivo. - Quero dizer, estou bem. Só me alimentarei e descansarei por hoje, será o suficiente, vossa majestade, não há necessidade de mais adiamentos.
- Há alguns meses a princesa não queria que esse dia chegasse, mas agora parece que está ansiosa pelo dia de amanhã. - Phillip falou com ironia sem retirar o sorriso dos lábios.
Fiquei em silencio olhando para o meu prato enquanto comia. Preferi não responder, apenas terminei a minha refeição. Pedi licença e saí em direção à biblioteca. Entrei em silêncio, peguei um livro e sentei-me na poltrona em frente a janela completamente fechada. Dessa vez consegui ler bastante, cheguei praticamente na metade do livro. Parece que ter parte das respostas às minhas perguntas havia ajudado minha mente a sair da ansiedade anterior.
- Posso te dar mais respostas! - ouvi a voz de Phillip assertiva, quando ele entrou pela porta da biblioteca e caminhou em minha direção sentando-se na poltrona bem ao meu lado - Mas também quero uma resposta.
- Justo! - falei sem retirar os olhos do livro – Pode me perguntar o que quer saber.- falei ainda olhando para o livro.
- Você havia me falado que estava se apaixonando por mim. Seu pai me falou da conversa que vocês tiveram, na mesma noite em que você voltou após ter ido me ver na cabana. Posso perguntar o que Vossa Alteza sente por mim? - ele falou retirando o livro das minhas mãos e fechando-o – mas quero que me responda olhando nos meus olhos.
- Sim, eu estou completamente apaixonada por você, Phillip! - respondi olhando em seus olhos e aproximando meu rosto do dele. - Você me protege e parece querer cuidar de uma menina mimada e teimosa como eu, então… espero que seja a resposta que você busca. - falei pegando o livro de volta das mãos dele e afastei-me dele recostando na poltrona.
Ele recostou em sua poltrona e ficou olhando diretamente para mim.
- Larga esse livro! - ele falou depois de alguns momentos em silêncio.
- Podemos conversar, mas qualquer um pode entrar aqui e nos ouvir. - falei com receio, ainda segurando o livro aberto
Ele levantou rapidamente e quase como um borrão foi até a porta, girou a chave, trancando a porta e voltou a sentar em sua poltrona agora aparentemente mais relaxado.
- Agora teremos um pouco mais de privacidade. O que mais você queria saber sobre vampiros? - ele perguntou tomando o livro de minha mão novamente, mas dessa vez o lançando sobre uma mesa do outro lado do cômodo.
- O… o que foi isso? Como você trancou a porta? Como o livro foi… - falei assustada mais gaguejando do que falando.
- Vampiros são caçadores perfeitos. Velocidade é algo natural, difícil de controlar, força e precisão também. Por isso arremessei o livro e ele parou onde eu queria. - ele respondeu sorrindo. - Mas não quero que você tenha medo de nenhuma aptidão minha, elas servirão apenas para que eu cuide de você e te proteja.
Ele se aproximou seu rosto do meu enquanto falava, com seus lábios quase tocando os meus. E num sussurro ele completou:
- Eu te amo, minha princesa! - ele terminou a frase dando-me um leve beijo que rapidamente se transformou em um beijo mais profundo.
Quando nos afastamos para retomar o fôlego, perguntei:
- Como você sabe que nunca vai me machucar? - a pergunta saiu como uma flecha que rapidamente atingiu Phillip. Ele se afastou, se levantou de sua poltrona e começou a andar de um lado ao outro da biblioteca pensativo
- De fato há alguns instintos que não posso controlar, mas a maioria deles eu controlo. Há um constante desejo de lhe morder e provar do seu sangue, mas durante todo esse tempo em que estamos juntos tenho conseguido controlar. Aparentemente a sua presença parece saciar esta vontade. - ele falou demonstrando certa tensão e passando os dedos entre os cabelos.
Permaneci sentada. Pensando. Passou pela minha mente o fato de que eu envelheceria, mas ele não.
- E a questão do meu envelhecimento. Eu envelhecerei e morrerei. A menos que você… - parei ao imaginar com pavor em me tornar uma criatura eterna, como ele.
- Novamente, mais uma questão que não quero resolver agora. Alteza, você tem apenas 18 anos. É cedo para pensarmos em envelhecimento. - ele falou sentando-se na poltrona a meu lado calmamente – há mais alguma questão que lhe incomode e talvez te impeça de descansar ou mesmo de nos casarmos amanhã?

Capítulo 42 – Mais expectativas

Tudo o que eu precisava depois de passar mais de um mês sofrendo por pensar que meu pai, meu melhor amigo, seu pai e o amor da minha vida haviam morrido à distância, sem comer ou dormir direito, era mais uma noite sem sono. Uma noite inteira acordada. Sentia raiva de Lucas por enfiar em minha cabeça todas essas dúvidas. As perguntas não saiam da minha cabeça. Não poderia perguntar a Phillip, pois talvez ele nem devesse estar na cabana. Ainda que estivesse, com dois guardas na porta de meu quarto, não conseguiria chegar até o portão.
Como eu poderia dizer sim a ele e abrir mão do resto da minha vida? Iria enlouquecer se não pudesse perguntar a ele. Será que ele sabia as respostas que eu precisava? Amanhã eu teria que conseguir fugir e chegar até a cabana. Talvez se tentasse fazer isso durante o dia.
Todos os sons da noite me atrapalhavam. Móveis estalando, o vento do lado de fora. Eu precisava descansar. Todo meu corpo doía. Levantei da cama e desisti de dormir. Minha mente não conseguia desligar. Abri a porta do meu quarto e caminhei silenciosamente até a biblioteca. Seguida pelos dois guardas. Informei a eles que só iria até a biblioteca para ler.
Talvez um livro acalme minha mente. Abri a porta e ela rangeu. Sentei-me próxima à janela com um pequeno romance na mão. Depois de ler cinco vezes a mesma página sem conseguir entender a história, coloquei o livro na estante e segui para a porta. Mas neste momento senti uma mão fria tocar no meu braço.
- Phillip! - reconheci seu cheiro e seu toque em meu braço.
- Sua alteza deveria estar dormindo! Precisa se recuperar para a cerimônia. - ele falou com um tom forte, quase uma bronca.
- Sim, mas não consigo! - falei em tom de reclamação - Rentei dormir, mas Lucas esteve conversando comigo sobre vampiros e agora minha mente está povoada de dúvidas com um toque de desespero... - falei ironica enquanto me virava para ele – O que você está fazendo aqui? Como entrou? Eu achei que só o veria depois de amanhã na cerimônia.
Ele puxou meu braço para que eu chegasse mais perto dele. Passando os braços ao redor de minha cintura e encostando minha cabeça em seu peito, ele continuou:
- Lucas! Ele de fato acha que sabe tudo sobre vampiros, não? - ele falou com um misto de raiva e ciúmes em sua voz.
- Preciso voltar para meu quarto. Não sei como estarei amanhã. Já estou muito cansada. Mas queria saber o que você está fazendo aqui? - falei recostando minha cabeça em seu peito musculoso um pouco mais. Como eu adorava abraçá-lo assim. Acalmava toda a minha ansiedade.
- Minha princesa, vamos! Eu te levo até seu quarto. Mas antes a sua resposta. Seu pai estava preocupado, pois você passou o dia inteiro em seu quarto e ele perguntou se havia algo que eu pudesse fazer para ajudá-la a se recuperar para depois de amanhã. Bem, Lucas deve ter falado que nós temos alguns poderes, meio mágicos. Posso fazê-la dormir profundamente. Já fiz isso uma vez, lembra? - ele falou segurando a maçaneta
- Não, não quero acordar daqui a três dias! - reclamei com ele, fazendo uma careta irritada
- Esse é só um dos poderes, minha princesa. Também posso ajudá-la tirando as suas dúvidas. - ele falou com um sorriso malicioso nos lábios
- Prefiro essa idéia. - respondi olhando assustada para os guardas, que caíram sentados no chão dormindo profundamente, com um gesto de mão de Phillip, enquanto passávamos por eles no corredor – O que foi isso?
- Mais um dos poderes. Não quero que ninguém nos incomode e você precisa de respostas. Posso hipnotizar humanos com um gesto, por isso eles adormeceram. Amanhã eles estarão muito bem. E descansados. - novamente aquele sorriso malicioso no canto dos lábios.
- Lucas me falou que talvez você não possa… - antes que eu terminasse de falar ele colocou o dedo nos meus lábios me calando
- Deixe-me adivinhar: que vampiros não podem ter filhos? - ele parecia ler minha mente, errei o passo ao entrar no quarto e quase caí, mas as mãos de Phillip ainda estavam em volta de minha cintura. - Você está muito cansada. Tem certeza de que não quer ter essa conversa amanhã?
Fiz que não com a cabeça. Ele balançou a cabeça nitidamente irritado. Mas continuou.
- Podemos! Há vampiros com filhos espalhados por todo o mundo. Os filhos nascem como humanos normais, mas há algo no desenvolvimento que muda na vida adulta. - ele parou e limpou a garganta. - Então sim, eu quero ao menos três filhos, minha princesa. Mas não precisamos apressar as coisas. Está mais tranquila?
- Sim, acho que vou me deitar antes de cair. - falei com um sorriso sem graça no rosto – você vai embora? Ou ficará até o dia da cerimônia? Quando você chegou? - perguntei com ansiedade.
- São muitas perguntas. Seu pai me chamou hoje, vim assim que ele me chamou, mas já trouxe o que precisava para ficar até nosso casamento. Então não vou embora. Talvez aproveite o tempo extra que terei com você. Mas talvez você precise descansar. Aliás, o Rei me contou sobre a conversa que vocês tiveram e o quanto minha amada princesa fez questão de dizer que estava certa de que queria se casar comigo. E agora? O que você sente por mim? - quando ele terminou de falar e se virou para me ver eu já estava deitada em minha cama dormindo profundamente. - Acho que terei que esperar até amanhã.

maio 27, 2024

Capítulo 41 - Dúvidas

Acordei relaxada, mas a tensão da conversa da noite anterior me reservou uma dor de cabeça forte no dia seguinte. Anna veio até meu quarto para que eu descesse para o café da manhã, mas não consegui. Pedi a ela que informasse ao rei que eu precisava de algum tempo, que estava com dor. Assim que retornou com a resposta, minha aia veio com uma bandeja farta de pães, bolos e frutas, ordens do rei segundo ela. Tomei o café em minha cama mesmo, mas passei o resto da manhã pensando.
Na hora do almoço, não foi Anna quem veio me buscar, mas o próprio rei. Ainda muito indisposta pedi a ele para permanecer em meu quarto e ele concedeu, afinal eu tinha pouco tempo para me recuperar e se todo aquele repouso e alimentação ajudasse, ele não me impediria de passar os próximos dias no meu quarto.
Dormi um pouco após o almoço em meu quarto. Um pouco antes do jantar desci para a biblioteca. Esse cômodo sempre foi meu favorito, depois do jardim. Li um dos livros enquanto aguardava pela hora do jantar. Fui interrompida em minha leitura por Lucas batendo na porta e pedindo licença para falar comigo.
Assenti com a cabeça e ele começou, após sentar-se em uma poltrona a minha frente:
- Gostaria de pedir que me perdoasse pela minha indelicadeza ontem. - ele falou com o olhar baixo
- Sem problemas, Lucas. - após falar limpei a garganta para prosseguir – mas tudo o que você descobriu sobre Phillip, ele já havia me contado de certa forma. Nós estávamos nos conhecendo ao longo dos meses. Ele mesmo já havia perguntado para mim se eu tinha certeza de que eu queria este casamento. Inicialmente eu não podia decidir, meu pai foi claro. Mas o príncipe não queria que eu fosse forçada a casar com ele. Acredito que ele queria que seu amor fosse correspondido, mas sem poderes, sem hipnose, só a minha vontade. - falei calmamente apoiando o livro sobre uma mesa lateral
- Não acredito que essas criaturas tenham sentimentos. Mas eu o vi protegendo o rei nos Cárpatos. Ele parece ter. Espero que ele te proteja e cuide de você como eu faria. Espero que você tenha certeza de sua escolha, Alteza! - ele se levantou e ficou de pé atrás da minha poltrona, abaixou-se e falou no meu ouvido – mas acredito que você não queira virar uma criatura dessas, ou quer? Vocês poderão ter filhos? Acho que seu pai conta com isso… - ele voltou e sentou-se novamente na poltrona na minha frente.
- Eu não sei. Não sei de nada disso, Lucas! - fiquei com raiva dele, a dor de cabeça voltou bem mais forte. Levantei e caminhei até a porta. - Vou jantar! Não me perturbe mais com seus ciúmes!
Abri a porta, saí e fechei-a com força atrás de mim. Um arrepio de medo e raiva percorreu meu corpo. Segurei as lágrimas que vieram do fundo do meu coração. Eu queria filhos. Será que Phillip poderia me dar filhos? Fiquei apavorada com a idéia. Respirei fundo e desci as escadas em direção ao salão de jantar, que hoje estava muito cheio, afinal faltavam dois dias para as festividades.
Após um jantar festivo, segui para o jardim. Meus pensamentos não me permitiriam dormir tão cedo. Como eu odiava Lucas por enfiar todas essas questões na minha mente. Eu tinha tanta certeza de que queria ficar com Phillip. Maldito! Andei de um lado para o outro, sentei-me no banco de frente para uma enorme fonte no centro do jardim e senti uma mão no meu ombro.
- Está com dúvidas? - pude ouvir a voz de Lucas bem perto, vindo de trás de mim.
- Por que você fez isso? Por que você colocou essas coisas em minha mente? - falei retirando a mão dele com raiva.
- Porque não vou te perder sem lutar. - ele falou com um sorriso malicioso nos lábios.
Levantei e caminhei em direção ao palácio, subi as escadas e me tranquei em meu quarto. Sei que hoje não conseguirei dormir. Droga!

maio 26, 2024

Capítulo 40 - Sua Decisão

Segui-o até uma das salas de estar, sentado numa poltrona estava o rei e em outra, próxima se sentou Lucas.
- Sente-se, princesa! - ordenou o Rei com seu tom rude
Segui até a poltrona à frente dele e Lucas se sentou na poltrona ao lado do Rei. Logo ele recomeçou:
- Preciso informar o que minha investigação trouxe sobre seu noivo - Lucas apontou em minha direção - e que pode ou não alterar os sentimentos de Vossa Majestade em relação ao casamento da princesa. - ele terminou olhando para meu pai.
Meu coração parecia que ia parar de bater. O que poderia Lucas ter descoberto que comprometeria a cerimônia daqui a três dias? Precisei me concentrar para não prender a respiração. O casamento não podia ser cancelado. Eu queria Phillip.
- Vampiros tem poderes. Podem seduzir facilmente uma presa. - Lucas começou - estudei todas as formas que eles atuavam por lá. Mas Phillip tem pequenos segredos que vão além de poderes.
- Respire, minha filha, não quero te perder. Já basta tudo que você passou sem que eu pudesse protegê-la - o Rei falou ajoelhando-se na minha frente - Não pude te proteger do maldito do Claus e quem sabe o que mais você não me contou, mas das suas fugas noturnas eu só soube para onde você ia quando Phillip me contou nos Cárpatos.
- Ele construiu a cabana para ficar mais perto de mim - falei quase num soluço.
- Então provavelmente ele já te contou tudo sobre ele? - Lucas disse cruzando os braços sobre o peito.
- Espero que sim. - mais um sussurro quase inaudível
- Phillip era o filho mais novo do rei John, sua mãe a rainha Helena faleceu dando a luz a ele. A infância dele e de seu irmão foi terrível. O rei enlouqueceu e era cruel com os filhos. Phillip fugia para a floresta, um dia ele veio à cavalo, quando tinha por volta de doze anos até os limites do reino. Ele viu a linda menina de cachos dourados brincando no jardim. Você, princesa - falou ele apontando em minha direção - ele viu a sua felicidade brincando sozinha em meio ao jardim.
- Ele não me contou isso... - falei colocando o rosto entre minhas mãos
- Ele via sua alegria. Ele voltou inúmeras vezes. A sua alegria brincando e correndo o fazia feliz. O menino de doze anos já passava mais tempo por aqui do que em seu reino e seu pai ficou com raiva e o mandou para concluir os estudos em Paris.
- Por isso, John nunca mais conversou comigo? - o rei falou alto.
- Se ele pudesse, se seu reino fosse mais poderoso comercialmente do que o seu ele certamente entraria em guerra com Vossa Mahjestade, mas ele sabia que seria derrotado por seu exército. - respondeu Lucas
- Como você sabe de tudo isso? - perguntei com lágrimas nos olhos
- Sua Alteza, investiguei da mesma forma como você fez em Paris para encontrar Claus. - Lucas respondeu
- Minha filha foi atrás daquele assassino? - o rei disse colocando a mão na cabeça e se levantando
- Depois ela poderá explicar melhor ao Rei, mas preciso terminar. - falou Lucas se aproximando de meu pai e colocando a mão em seu ombro.
- Phillip não é muito mais velho que a princesa. Ele foi para Paris estudar, mas seu irmão não aguentou a solidão com a crueldade do pai e se atirou da torre mais alta do palácio. Phillip não aguentou mais essa perda e a distância de seu grande amor. Foi num momento de fraqueza dele que Claus o transformou no vampiro que ele é hoje. Mas diferente de Claus ele só bebeu sangue humano uma vez. Ele não é um vampiro cruel. Ao voltar ele procurou pela princesa e sabia que ela já teria idade para se casar. Foi neste momento que ele veio até o rei para conseguir a mão da princesa... - Lucas terminou limpando a garganta e sentando e se acomodando na poltrona de volta.
- Ele me contou quase tudo... - falei gaguejando - e eu o conheci na noite antes da noite do noivado. Foi a minha primeira fuga do palácio e também a primeira vez que vi a cabana. Ele salvou minha vida na floresta, de lobos... - falei abaixando a cabeça e olhando para o chão
- Por que você foi atrás de Claus? - o rei perguntou com um tom intimidador, voltando para a sua poltrona e olhando diretamente para mim
- Phillip ia morrer. Ele adoeceu. Somente Claus poderia ajudar com a cura. Eu tive medo, mas não poderia perde-lo - respondi olhando nos olhos do rei
- Minha filha, preciso saber de você, você quer se casar com o príncipe? - ele perguntou olhando nos meus olhos - Mesmo sabendo que ele não é humano
- Eu não queria antes, não o conhecia, mas sei que quero agora. Eu arrisquei minha vida por ele... e sei que faria de novo. - respondi tremendo
- Está certo. Preciso que você descanse. Vou avisar ao seu noivo e a cerimônia será em três dias. Até lá nada de escapar à noite. Nada de correr mais riscos. Saiba que colocarei dois guardas em sua porta. Vossa alteza não sai do palácio até o fim da cerimônia.
Concordei com a cabeça e saí da sala em direção às escadas. Lucas me seguiu e segurou-me pelo braço.
- Você sabe que tenho sentimentos por você? - ele falou chegando bem perto de mim - Tem certeza de que quer se casar com uma criatura como Phillip? - ele falou tão perto de meu rosto que pude sentir seu hálito quente em minha bochecha
- Ele não é uma criatura! Estarei me casando com o príncipe Phillip! - falei soltando meu braço da mão de Lucas. - você é como um irmão para mim, Lucas.
Subi as escadas rapidamente, entrei em meu quarto e fechei a porta. Estava exausta. Caí na cama sem sequer me trocar e adormeci rapidamente.

Capítulo 39 – Uma noite

- Levando você de volta para o palácio. Você precisa descansar. Em três dias, você precisa estar bem e saudável, não quero mais riscos. Por isso uma das bruxas de meu reino lançou um feitiço de proteção e nada acontecerá a você, ao rei ou a qualquer nobre que estiver dentro do palácio. E em três dias volto para nossa festa. Conversei muito com seu pai e ele já sabe que sou um vampiro. Contei a ele absolutamente tudo nos Cárpatos. Queria que ele compreendesse o que estava acontecendo. Ele sabe o que aconteceu em detalhes e amanhã, talvez ele a chame para uma conversa sobre o casamento.
- O que? Conversar sobre o que? - perguntei nervosa
- Quando contei a ele quem eu era, o que eu era, informei que aceitava do rei que ele abrisse mão de nossa aliança e entenderia se ele não quisesse permitir nosso casamento. Eu assegurei a ele que não permaneceria com os planos para o casamento e me afastaria, mas ele disse que antes de tomar essa decisão precisava conversar com vossa alteza. Ele quer que você decida se ainda me quer como seu noivo ou não. Falei a ele que não iria sequer utilizar de meus poderes para convencê-la a ficar comigo. Então, hoje você volta para o palácio e só nos veremos de novo se Vossa Alteza disser que me quer.
- Como assim? Pensei que eu não poderia decidir sobre o casamento, mas agora eu posso? Não entendo... - praticamente vomitei as palavras.
Phillip me colocou no chão quando chegamos na porta do palácio.
- Aqui me despeço de você. Talvez para sempre? - ele perguntou enquanto me abraçava me colocando bem perto de si.
- M... mas... - antes que eu conseguisse falar ele me deu um beijo nos lábios, virou-se rapidamente e desapareceu na escuridão da noite como um borrão.
Mil imagens passaram pela minha mente, cada incidente terrível que me trouxe até aqui. Como eu resolveria isso. Pelo menos tinha até amanhã para pensar. Não, eu definitivamente não saberia viver sem Phillip ao meu lado. Mas todo o terror dos últimos meses me assombrava. Será que tudo tinha acabado? Será que ainda haveria mais algum momento de pavor...
Respirei fundo, entrei no palácio e quase caí para trás ao ver o vulto de Lucas de pé perto das enormes portas do saguão principal.
- Princesa, onde você foi? - ele perguntou com um ar bastante irritado e segurou minha mão
- Eu precisava fazer uma coisa, hoje. - falei quase num sussurro, não queria que ele soubesse que atravessei a floresta, em minha condição fraca, para visitar meu noivo vampiro no meio da noite.
- Você foi ver Phillip? - ele disse olhando diretamente nos meus olhos
- Como você sabe? - perguntei confusa, será que eu era tão óbvia assim?
- Quando você me contou que ele era um vampiro, na noite em que matamos Claus, eu resolvi fazer uma breve investigação sobre seu pretendente. Eu precisava saber se você estava em perigo e se precisava ser protegida dele.
- Como assim? O que você fez? Você é louco? - perguntei deixando a raiva tomar conta de mim
- Lido com esse tipo de criatura há alguns anos nos Cárpatos. A minha querida princesa achou que eu deixaria você se unir a uma dessas criaturas sem que eu soubesse exatamente o porquê dele fazer tanta questão de casar-se com você. E Vossa Alteza sabe porque o príncipe Phillip te quer tanto? - ele perguntou soltando minha mão e caminhando até outra sala, me chamando para segui-lo.

maio 21, 2024

Capitulo 38 – Eles retornaram

Quando finalmente consegui ficar de pé, recebi um abraço de meu pai, o rei. Lucas me pegou no colo e repetiu a pergunta:
- O que houve com, Vossa Alteza? - seu tom parecia assustado, como se eu estivesse com uma aparência horrível, sentia-me fraca, mas não me olhava num espelho há um bom tempo.
- Há alguns dias eu recebi uma carta de um servo seu… - peguei o papel dobrado no meio do livro que eu carregava e entreguei ao pai de Lucas, ele entregou ao Rei que seguiu em direção a entrada do palácio.
- Desgraçado! - pude ouvir meu pai murmurar, enquanto mostrava o papel para Lucas.- Ele tentou matá-la!
- Como? - perguntei quando Lucas me colocou de pé dentro do saguão do palácio.
- O filho de Claus, antes de morrer, falou que teríamos uma surpresa ao voltar. Provavelmente, ele pensou que você se mataria.- ele disse me segurando para evitar que eu caísse novamente.
Seguimos caminhando para o salão de jantar, onde estava servido o almoço. Muitos dos nobres que estavam aguardando o casamento felicitaram o rei em sua chegada. Sentamos em nossos lugares e pela primeira vez em meses finalmente comi. Ainda sentia falta de Phillip, mas tinha certeza de que ele não viria até escurecer.
Após o jantar todos se recolheram e o rei recomendou que eu descansasse, pois em três dias ele realizaria a cerimônia. Em meu quarto, sentei de frente para a janela pensando se Phillip viria me ver, como ele estaria? Nenhum dos três, meu pai, o pai de Lucas ou o próprio Lucas contaram absolutamente nada do que ocorreu nos Cárpatos.
A ansiedade estava me matando. Já passava da meia noite quando resolvi me agasalhar e correr pela floresta até a cabana. Lá estava ela. Entrei e desci rapidamente para a cripta, estava escuro, apenas uma tocha iluminava aquele cômodo gelado. Afastei a tampa do caixão, mas estava vazio.
- Onde você está, Phillip? - murmurei baixo, olhando para o caixão vazio.
- Cumpri minha promessa! - ouvi sua voz em meu ouvido, atrás de mim. Senti suas mãos em meus ombros.
- Por que Vossa Alteza não foi até o palácio? - perguntei me virando para olhar em seus magnificos olhos negros.
- Porque eu sabia que você viria até aqui. Mas você não parece bem, minha princesa, não deveria ter vindo! - ele falou me olhando com preocupação para meu rosto.
Aproveitei a proximidade dele para abraça-lo forte pressionando meu rosto em seu peito.
- Como você está? O que aconteceu? Como vocês conseguiram voltar? - perguntei afastando minha cabeça somente para olhar nos olhos de Phillip, mas sem soltá-lo de meu abraço.
- Calma, eu vou responder a todas as suas perguntas.- ele falou baixo, aproximando sua boca do meu ouvido - Mas primeiro queria pedir desculpas por fazê-la dormir por três dias. Você precisava descansar e ainda passaria por tanta preocupação, sem ninguém por perto para cuidar de você. - ele falou com o olhar preocupado, afastando uma mecha de meu cabelo para trás da minha orelha.
- Estou bem. - falei olhando nos olhos de Phillip.
- Minha princesa certamente já encontrou seu pai e Lucas, então sei que sabe que estão todos bem. Eu estou bem, por ter certeza de que o filho de Claus está morto, e não poderá mais vir atrás de você para tentar matá-la ou ao seu amigo. Um excelente caçador de vampiros, pelo jeito. Pois ele rastreou o esconderijo onde o exército se abrigava durante o dia e os matava ainda dormindo. Eu guardava o castelo do pai de Lucas à noite. Quando os vampiros tentavam de todas as artimanhas para invadi-lo. Foram muitos dias até que conseguíssemos nos livrar dos vampiros que ele alistou. Agora é a minha vez de perguntar. - ele me afastou de seu abraço e me sentei nos degraus atrás de mim.
- Quando eu parti você não estava tão pálida nem tão fraca. O que houve com você? - ele perguntou sentando-se ao meu lado no degrau e aproximando de mim.
- Há alguns dias recebi uma carta, parecia ter sido escrita por um servo de Lucas. Dizia que todos vocês haviam morrido. Fiquei assustada, aterrorizada, perdi o chão. Eu não sabia o que fazer, pensei em continuar aguardando o retorno de vocês, mas já o fazia sem ter esperanças. Chorei, não dormi direito, não comi direito, não conseguia… - falei com uma lágrima escapando no canto do meu olho – pensei em morrer, mas o reino me manteve viva, marquei uma reunião com o conselho, contaria o conteúdo da carta hoje, mas então...
- Não fale isso. - Phillip falou se aproximando mais de mim e pegando minha mão e colocando-se em seu peito.
- E o casamento, meu príncipe? - falei olhando para o chão.
- Você sabe dos meus sentimentos por você, minha noiva. - ele falou me levantando do chão e subindo as escadas para a cabana comigo.
- Você não foi me ver assim que chegou. Por que? Por que ficou aqui, e não foi me ver? - perguntei recostando minha cabeça em seu peito.
- Preciso falar a verdade para minha bela princesa. Eu queria saber se você viria me ver. Queria saber se você ainda me queria como demonstrou antes de minha partida.- ele falou colocando a mão em minhas costas e rapidamente me pegando no colo para me carregar pelas escadas.
- A floresta tem lobos, Vossa Alteza sabe dos riscos – falei com um leve sorriso malicioso no canto da boca.
- Consegui ouvir você vindo. Ouvi sua inquietação enquanto estava em seu quarto, após o jantar. Mas não sabia se você dormiria ou se viria até mim. - ele respondeu com um sorriso malicioso.
Na cabana achei que ele me colocaria na cama, mas não. Ele continuou andando, saiu pela porta e continuou caminhando até o palácio.
- O que você está fazendo? - perguntei olhando para ele, que não me soltava e caminhava naturalmente como se eu não pesasse em seus braços.

Capitulo 37 – Dias tristes

- Três dias? Como assim? Você nem tentou me acordar? - perguntei a Anna tendo um ataque de pânico.
- Tentei, Sua alteza! Não consegui. Nem nosso médico conseguiu. - ela respondeu aflita.
Durante o café da manhã eu estava com muita fome, terminei depois de meia-hora. Levantei e segui para a biblioteca, peguei um livro e resolvi sentar-me num banco no jardim do palácio para ler. De acordo com Phillip eu devia esperar. Não consegui ler sequer uma palavra. Comecei a divagar pelos pensamentos sombrios que pairavam em minha mente. COmecei a me culpar. "Provoquei tudo isso. Por que fui até Claus? Como Phillip me fez dormir por três dias." Anoiteceu e Anna veio me buscar no jardim para jantar. Após a refeição me recolhi em meu quarto, tomei um longo banho e me arrumei para descansar. Deitei e demorei a dormir.
Os próximos dias foram iguais. Eu sentava no mesmo banco no jardim. Divagava. Lia alguns livros que eu pegava na biblioteca. Perdi a conta de quantos livros eu li. Eu parecia estar constantemente hipnotizada pelo portão. Meus olhos só se desviavam das páginas dos livros para aquele portão. Qualquer barulho que eu ouvisse, me fazia olhar para o portão.
Passou-se um mês, pelos portões atravessou um mensageiro do reino com uma carta, que peguei e abri ansiosa. Certamente foi uma das piores coisas que já fiz, em seu interior um papel completamente manchado de sangue:
Vossa Alteza,
Quem vos transmite essa notícia triste e dolorosa é o servo fiel do Sr. Lucas.
Meu mestre, o príncipe Phillip, seu pai e o pai de meu mestre faleceram numa batalha voraz. Lutaram honrosamente, mas não conseguiram vencer, pois o exército de Eduard era enorme e ávido por vingança.
A esta hora os servos que restaram vivos nos Cárpatos e não foram transformados em monstros estão fugindo por suas vidas.
Lamento muito, acredito que Eduard, filho de Claus irá atrás de você.
Acredito que não sobreviverei…
A escrita se interrompia num enorme rabisco apavorante. E agora? O que eu faria? Como eu poderia superar a dor e continuar o governo de meu pai? Entrei no palácio e subi as escadas e me tranquei. Foram mais três dias perdidos. Eu não sabia o que dizer ao conselho ou ao primeiro ministro de meu pai. Permaneci trancada em meu quarto chorando e dormindo de exaustão. Depois de meu breve luto de alguns dias pensei no reino e em todos que dependiam de um governante capaz de comandá-los, eu sabia que não tinha essa capacidade.
Após um banho quente resolvi descer para o dejejum. Muitos nobres ainda estavam no palácio aguardando o retorno do Rei e de meu noivo. Só eu sabia do conteúdo da carta, não estava pronta para partilhar com ninguém. Mas comecei a definhar lentamente com o passar dos dias. Voltei a sentar-me com um livro olhando para os portões. E se eles voltassem? E se a carta não fosse verdade?
Já não me alimentava mais o suficiente. Nem dormia o suficiente. Passou-se mais uma semana dolorosa e eu tinha tomado coragem para chamar o conselho. A reunião seria à tarde, mas passei minha manhã lendo no jardim. Admirando os portões. Até que observei três silhuetas familiares desembarcarem de uma carruagem em frente ao portão. Levantei ao reconhecer Lucas e meu pai, um terceiro senhor, que parecia o Conde, pai de Lucas. Involuntariamente sorri e tentei correr na direção deles. Meus pés falharam miseravelmente. Eu estava fraca demais. Caí sentada sobre a grama.
- Lucas, é você? - perguntei sentada na grama com a voz rouca.
- Sim, meu anjo, o que houve com você? Por que está tão pálida? - ele falou me ajudando a levantar do chão.

maio 20, 2024

Capítulo 36 - Onde está o rei?

Alguns dias se passaram, fornecedores de todo o reino entravam e saiam do palácio e o Rei não retornava de sua visita ao pai de Lucas. Muitos nobres chegavam e já estavam hospedados. Faltando apenas dois dias para a cerimônia o Rei não chegou. Uma grande preocupação se abateu sobre o conselho e o Primeiro ministro veio até o palácio, informando que estava administrando tudo, mas ainda precisava de auxílio do rei em algumas decisões. Então uma carta chegou. Lucas pegou a carta e não me deixou ler. Após ler a carta, Lucas virou-se para mim e disse:
- Preciso ir até os Cárpatos para trazer o Rei de volta! - conforme falou, Lucas saiu e rapidamente seguiu em direção aos estábulos mandando preparar a sua carruagem.
Despediu-se de mim, embarcou em sua carruagem que estava pronta rapidamente e me pediu para entregar a carta fechada a Phillip, pois ele poderia ajudar. Sem abrir a carta e ansiosa pelo que o fez correr para os Cárpatos, aguardei o anoitecer, e corri até a cabana. Lá desci rapidamente até a cripta, Phillip não estava deitado em seu caixão, mas estava de pé num canto do cômodo gelado:
- Você não me obedece! - pude ouvir sua voz ríspida, quase num tom de bronca, olhando fixamente para mim.
- Algo aconteceu... - falei tentando me recuperar do susto e regular minha respiração que estava irregular - Lucas partiu hoje cedo para os Cárpatos. Meu pai não voltou de lá. Essa carta chegou de lá hoje. - entreguei a carta, ainda fechada, nas mãos de Phillip
- Deixe-me ver. - Ele falou pegando a carta da minha mão.
Depois de ler a carta cuidadosamente longe de meus olhos, ele falou:
- Preciso partir também - ele falou calmamente para mim - Mas vou deixá-la no palácio. Acho que não voltaremos em dois dias. Vou aproveitar para informar de um novo adiamento, mas prepare-se para a nossa volta.
- O que está acontecendo? O que há na carta? - perguntei nervosa.
- Algo aconteceu nos Cárpatos, Lucas precisará de ajuda. Voltarei com seu pai e Lucas, mas prossiga com os preparativos, pois vamos nos casar assim que voltarmos. Espere por nós.
- Fale-me o que está acontecendo! - exigi irritada
- O filho de Claus está em busca de vingança pela morte de seu pai! - Phillip andava de um lado para o outro
- Como assim? - Sentei no degrau atrás de mim, sentindo minhas pernas fracas
- Ele criou um pequeno exército de criaturas da noite, e estão cercando o Castelo do pai de Lucas. Ele está tentando matar seu pai e o pai de Lucas.
- O que os está impedindo? - perguntei tremendo, com as lágrimas escorrendo dos meus olhos
- Um vampiro só pode entrar em algum lugar depois de ser convidado pelo dono da casa, o pai de Lucas não permitiu essa visita em seu castelo. Venha, preciso te colocar em segurança. Vou levá-la de volta ao palácio e depois vou encontrar Lucas nos Cárpatos. - ele disse com uma voz calma
- Não posso deixar você ir. E se o filho de Claus matar você. - falei me levantando e caminhando em direção ao Phillip.
- Sou um vampiro, sei me defender deles. E sei mais sobre nossa espécie do que ele. - ele falou me abraçando perto de seu peito
Neste momento vi tudo escurecer e não me recordo de mais nada. Acordei na minha cama no palácio com um bilhete de Phillip em minha mão explicando que ele voltaria em uma semana com Lucas e meu pai. Assim que voltasse de viagem com o rei, o casamento ocorreria em dois dias. Desci para o café e percebi que estava completamente revigorada. Anna demonstrou surpresa ao me ver e rapidamente me serviu o café. Perguntei a ela o que houve, ela respondeu que eu havia dormido por três dias seguidos.

maio 07, 2024

Capítulo 35 - A noite cai

Enquanto eu almoçava, minha ansiedade me lembrava que Phillip ficou no meu quarto sozinho. Ele andou de um lado para outro incerto. Deitou-se na minha cama. Ele adorava deitar em minha cama, pois tinha meu cheiro e ele adorava sentir meu cheiro nos lençois. Assim ele adormeceu. Chegando em meu quarto após o almoço avisei a Anna que eu dormiria mais cedo e por isso não desceria para o jantar.
Pedi a ela que me deixasse repousar, pois eu precisava estar bem em alguns dias para o casamento. Phillip estava deitado, sem camisa, com o rosto enterrado em meu travesseiro e com os cabelos desgrenhados. Era uma visão divina. Ele não acordou mesmo depois de ouvir o som da chave trancando a porta.
Sentei devagar na cama. Tomei meu tempo observando aquela visão. Ele era tão lindo, tão forte, cada músculo de suas costas parecia saltar em relaxamento total. Não iria resistir à tentação de beijá-lo, ele parecia tão vulnerável. Reclinei devagar em sua direção, deitando ao seu lado. Cada movimento preciso e delicado, para que ele não acordasse. Segurei seus pulsos contra a cama e o beijei como antes de sair.
Ele acordou e ao invés de tentar se afastar, me abraçou trazendo seu corpo mais para perto do meu. O tempo parecia ter parado naquele beijo. Quando finalmente nos afastamos, para respirar ele falou com a voz rouca, olhando diretamente em meus olhos:
- O que foi isso? - ele sentou enquanto falava
- Eu não resisti e senti que era o momento certo para um beijo. - falei ainda tentando respirar e sentando-me ao seu lado
- Nunca ninguém me beijou assim, princesa... - ele falou me puxando novamente para perto de seu corpo recostado na cabeceira da cama
- Eu também nunca fui beijada assim antes, acho que estou completamente apaixonada por você, Phillip. - falei passando meus dedos em seus cabelos.
Ficamos ainda um bom tempo só trocando olhares. Recostados na cabeceira e grudados um no outro.
- Você parece cansado. - falei preocupada
- Estou há duas noites sem me alimentar. Vampiros começam aparentar cansaço, fraqueza e ficamos lentos, quando estamos com fome. - ele falou se levantando. - Já anoiteceu?
Levantei e segui até a janela para verificar e sim, já era noite.
- Tenho que ir. Só nos veremos no dia do casamento. Não vá até a cabana. Tenho medo de você sozinha na floresta. - ele falou pegando a sua camisa e a vestindo.
Ele se aproximou rápido de mim, me abraçando e falando em meu ouvido:
- Você diz que tem sentimentos por mim, mas fugiu quando eu te perguntei se você já havia beijado outra pessoa, chega aqui e me desperta com um beijo que será difícil de esquecer.
Um arrepio correu pelo meu corpo e tentei manter minha postura mais rígida:
- Você desconfia de mim, quando eu falo a verdade. Nunca beijei, nem beijarei outra pessoa. O que ocorreu em Paris, com Claus foi contra a minha vontade... - respondi tentando me soltar do abraço dele sem sucesso
Ele me apertou mais perto dele, como se isso fosse possível e falou com os lábios nos meus:
- Adeus, minha noiva.
- Adeus... - falei com ele me soltando e saindo pela janela.
Pude ver quando ele montou em um de seus corcéis negros e então desapareceu na escuridão da noite e voltei para minha cama. Talvez depois do dia agradável, aproveitando a companhia maravilhosa de meu amado príncipe eu conseguisse dormir melhor. Iria sonhar com ele certamente. Dormi cedo neste dia. Não voltei à cabana. E ele não voltou a me procurar.

maio 05, 2024

Capítulo 34 - Mais um dia com ele

Acabei adormecendo sentada ao lado de Phillip, com minha cabeça em seu ombro. O dia amanheceu e ele acordou. Ele me carregou até a cama para que eu dormisse melhor. Anna entrou em meu quarto e pedi a ela que me deixasse dormir, pois eu estava ainda muito cansada. Ela deixou as cortinas fechadas e saiu do quarto discreta e silenciosamente. Pensei que Phillip tivesse partido, mas o vi saindo de meu closet assim que Anna fechou a porta. Antes de sair ela me lembrou que eu tinha que almoçar com Lucas.

- Bom dia! - ele falou com um enorme sorriso nos lábios

- Bom dia, achei que você tivesse ido embora. Anna entrou para abrir as cortinas, mas falei a ela que eu precisava descansar e ela saiu.

- Por que eu acordei com você dormindo em meu ombro? Sentada ao meu lado? Não é mais confortável dormir na cama? - ele perguntou com um tom irônico em sua voz, com os braços dobrados em frente ao peito, com a camisa parcialmente aberta, encostado na parede próxima à janela

- Demorei a sentir sono. Muitos pensamentos atrapalharam, cenas horríveis que preferia esquecer. - falei me levantando e caminhando em direção ao banheiro.

- Mas você dormia hoje de manhã, quando a coloquei na cama. - ele falou caminhas até próximo à porta do banheiro

- Porque olhar para você dormindo ajudou a acalmar meus pensamentos. - falei com um sorriso nos lábios, jogando água gelada no rosto

Ele abriu a porta do baheiro e entrou. Eu estava enchendo a banheira, mas ainda não tinha me despido para um banho.

- Você adormeceu por minha causa? - ele perguntou olhando diretamente nos meus olhos - Você vai tomar um banho?

- Sim, adormeci porque seu belo rosto me traz paz e sim, vou tomar um banho e agradeceria se você fosse um cavalheiro e me esperasse no quarto.

Ele virou-se e fechou a porta atrás de si, com um sorriso malicioso no rosto. Após o banho, vesti um vestido mais simples e confortável. Saí do closet e fui para o quarto. Sobre a mesinha de café, minha aia deixou uma bandeja com frutas e croissants, além de suco e café.

- Então meu belo rosto ajuda Sua Alteza a dormir. - ele falou se gabando, com um ar arrogante, enquanto eu caminhava em direção ao café da manhã.- Anna deixou sua bandeja aqui.

Não respondi. Só peguei uma xícara de café e um croissant. Sentei na poltrona em frente a ele, que estava sentado na poltrona diante da mesa.

- Você não vai me dizer o que a manteve acordada? - ele perguntou se curvando em minha direção.

- Fui atacada por um vampiro em seu castelo. Ele me seguiu até aqui e podia ter me matado, ainda sinto as costelas e os cortes ainda estão cicatrizando. Meu amigo de infância conhece bem a sua espécie. Lucas me salvou de Claus. Acho que foi muito sangue em muito pouco tempo. Além disso, vou me casar com uma criatura dessas. Acho que minha mente não consegue processar todas essas informações. - falei tudo de uma vez como um grande desabafo.

- Você tem medo de mim? - ele perguntou desviando o olhar

- Não, não mais. Não depois de ontem. Acredito que você é a minha paz em meio ao caos. - quase não consegui terminar a frase, pois ele se levantou rapidamente, deu a volta na mesa, se ajoelhou na minha frente e beijou meus lábios, tudo muito rápido, como um borrão.

- Ontem, após você chegar. Você falou do filho de Claus. Quem é ele? - Phillip perguntou sentando-se novamente na sua poltrona usual.

- Em Paris, após nossas pesquisas, eu e Anna descobrimos que Claus andava com um jovem sempre o acompanhando. Chamava-o de filho. Nunca ouvimos seu nome. Ele deve ter aceitado o que você não aceitou. Acho que ele deve estar se sentindo só, pois matamos Claus... talvez tenha seguido Claus até aqui... - falei pensativa

- O que você quer fazer? Temos um dia todo. Com exceção do almoço. - ele disse com um pouco de ciúme em sua voz

- O almoço, tinha esquecido. - falei irônica

- Você e esse caçador de vampiros são só amigos? - ele falou e pude sentir novamente o ciúme na sua voz

- Só amigos. Mas você fala como se nunca tivesse saído com nenhuma outra mulher. Vossa Alteza já teve algum relacionamento antes do que temos hoje? - perguntei sabendo que a resposta poderia ser dolorosa para mim...

- Não vou falar sobre isso. Qualquer coisa antes da minha princesa é totalmente sem valor para mim. - ele respondeu de forma evasiva

Contornei a mesa e sentei na poltrona ao seu lado, peguei suas mãos e falei:

- Mas eu quero saber! - soou quase com uma ordem

- Tive sim alguns casos e não me guardei para você como deveria ter feito. - ele falou desapontado, passando a mão nos cabelos

Levantei e me afastei. Não sei porquê, mas imaginar que alguém pode tocá-lo e beija-lo antes de mim me deu uma certa raiva. Meu coração disparou angustiado.

- Ciúmes? - ele falou passando suas mãos pela minha cintura, encostando seus lábios no meu ouvido

- Sim, como não teria? Você deveria ser só meu! - falei virando para ele e olhando bem nos seus olhos.

- Adoro quando você sente ciúmes. Da mesma forma como adorei você ter buscado a minha cura, apesar dos riscos. Porque tudo isso significa que você tem sentimentos por mim. - ele falou apertando o abraço e me colocando bem mais próxima dele.

- Eu odeio saber que outra pode ter você antes de mim. E você já deveria saber que eu tenho sentimentos por você desde a primeira vez que desci naquela cripta.

- Como assim? - ele falou surpreso me soltando dos seus braços

- Vampiros não conseguem ouvir o coração humano batendo? Como você não ouviu meu coração acelerado naquela primeira vez em que te vi? - falei com um sorriso malicioso afastando-me propositalmente dele

- Estou há tempos tentando fazer você gostar de mim, mas você agora me diz que já estava apaixonada desde a primeira vez na cripta. - ele falou passando a mão nos cabelos e demonstrando estar inquieto.

Caminhei em sua direção, colocando minhas mãos em seu pescoço. Enlacei meus dedos em seus cabelos negros macios e puxei seu rosto para um beijo. O beijo mais apaixonado e quente que já demos até aqui. Nos afastamos para respirar e ele fala:

- Tem certeza de que nunca beijou ninguém antes? - ele parece desnorteado

- Você está desconfiando de mim? - falei o afastando com a mão em seu peito.

- Esse beijo parece dizer o contrário. - ele falou sorrindo.

Ouvimos uma batida na porta e Phillip correu para se esconder no closet. Anna avisa que o almoço já está posto e a sigo para fora do quarto com ela. Na sala de jantar, além de Lucas, temos outros casais de nobres que também chegaram hoje e apesar da conversa frugal durante a refeição, minha mente vagava no Vampiro em meu quarto.