- Três dias? Como assim? Você nem tentou me acordar? - perguntei a Anna tendo um ataque de pânico.
- Tentei, Sua alteza! Não consegui. Nem nosso médico conseguiu. - ela respondeu aflita.
Durante o café da manhã eu estava com muita fome, terminei depois de meia-hora. Levantei e segui para a biblioteca, peguei um livro e resolvi sentar-me num banco no jardim do palácio para ler. De acordo com Phillip eu devia esperar. Não consegui ler sequer uma palavra. Comecei a divagar pelos pensamentos sombrios que pairavam em minha mente. COmecei a me culpar. "Provoquei tudo isso. Por que fui até Claus? Como Phillip me fez dormir por três dias." Anoiteceu e Anna veio me buscar no jardim para jantar. Após a refeição me recolhi em meu quarto, tomei um longo banho e me arrumei para descansar. Deitei e demorei a dormir.
Os próximos dias foram iguais. Eu sentava no mesmo banco no jardim. Divagava. Lia alguns livros que eu pegava na biblioteca. Perdi a conta de quantos livros eu li. Eu parecia estar constantemente hipnotizada pelo portão. Meus olhos só se desviavam das páginas dos livros para aquele portão. Qualquer barulho que eu ouvisse, me fazia olhar para o portão.
Passou-se um mês, pelos portões atravessou um mensageiro do reino com uma carta, que peguei e abri ansiosa. Certamente foi uma das piores coisas que já fiz, em seu interior um papel completamente manchado de sangue:
Vossa Alteza,
Quem vos transmite essa notícia triste e dolorosa é o servo fiel do Sr. Lucas.
Meu mestre, o príncipe Phillip, seu pai e o pai de meu mestre faleceram numa batalha voraz. Lutaram honrosamente, mas não conseguiram vencer, pois o exército de Eduard era enorme e ávido por vingança.
A esta hora os servos que restaram vivos nos Cárpatos e não foram transformados em monstros estão fugindo por suas vidas.
Lamento muito, acredito que Eduard, filho de Claus irá atrás de você.
Acredito que não sobreviverei…
A escrita se interrompia num enorme rabisco apavorante. E agora? O que eu faria? Como eu poderia superar a dor e continuar o governo de meu pai? Entrei no palácio e subi as escadas e me tranquei. Foram mais três dias perdidos. Eu não sabia o que dizer ao conselho ou ao primeiro ministro de meu pai. Permaneci trancada em meu quarto chorando e dormindo de exaustão. Depois de meu breve luto de alguns dias pensei no reino e em todos que dependiam de um governante capaz de comandá-los, eu sabia que não tinha essa capacidade.
Após um banho quente resolvi descer para o dejejum. Muitos nobres ainda estavam no palácio aguardando o retorno do Rei e de meu noivo. Só eu sabia do conteúdo da carta, não estava pronta para partilhar com ninguém. Mas comecei a definhar lentamente com o passar dos dias. Voltei a sentar-me com um livro olhando para os portões. E se eles voltassem? E se a carta não fosse verdade?
Já não me alimentava mais o suficiente. Nem dormia o suficiente. Passou-se mais uma semana dolorosa e eu tinha tomado coragem para chamar o conselho. A reunião seria à tarde, mas passei minha manhã lendo no jardim. Admirando os portões. Até que observei três silhuetas familiares desembarcarem de uma carruagem em frente ao portão. Levantei ao reconhecer Lucas e meu pai, um terceiro senhor, que parecia o Conde, pai de Lucas. Involuntariamente sorri e tentei correr na direção deles. Meus pés falharam miseravelmente. Eu estava fraca demais. Caí sentada sobre a grama.
- Lucas, é você? - perguntei sentada na grama com a voz rouca.
- Sim, meu anjo, o que houve com você? Por que está tão pálida? - ele falou me ajudando a levantar do chão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comentem cada capítulo.