Minha aia lavou o chão da sala de chá, com o auxílio de outras servas do palácio. Ninguém sequer questionou o que havia acontecido. Lucas se recolheu para seu quarto de madrugada, ele precisava de um banho e descanso. Eu me recolhi para meu quarto, ainda aterrorizada e exausta. Será que Phillip estaria na cripta sob a cabana? Eu precisava contar a ele o que aconteceu. Resolvi sair ao entardecer, ninguém notaria se eu saísse e voltasse antes do amanhecer.
Corri pela floresta, ainda com dores pelo corpo, chegando à cabana, desci até a cripta e Phillip estava à minha espera, em pé ao lado do altar. Pude perceber raiva em seu olhar, sem entender e sentindo um arrepiu de medo, Subi correndo as escadas e fugi da cabana. Voltei pela floresta silenciosa, mas Phillip apareceu como um borrão em minha frente. No susto, caí de joelhos. Ele me levantou e me levou de volta para a cabana, me segurando pelos braços.
- Quero falar com você. Por que fugiu? - ele falou com uma voz de comando enquanto me colocava sentada na cama.
- Por que você me assustou pela forma como olhou para mim? O que você quer? - falei tremendo - O que você está fazendo aqui? Pensei que estaria em seu palácio...
- Hoje só eu pergunto! - ele falou com um tom ríspido interrompendo-me. - Quem é o jovem nobre que você recebeu hoje no palácio? Onde está o rei?
- Aquele é Lucas Jared VI, um amigo meu de infância, filho de um conde amigo do Rei, ele veio para o nosso casamento e meu pai está com o pai dele nos Cárpatos. Mas eu vim falar...
- Sua alteza sabe que seu amigo é um caçador de vampíros? - ele perguntou com um tom ainda mais ríspido me interrompendo.
- Não, eu só sabia que ele estava caçando Claus... - falei prendendo a respiração e tremendo incontrolavelmente.
- O que houve? Por que você está tremendo? Por que parece apavorada? - ele perguntou segurando minhas mãos, se aproximando e colocando minhas mãos em seu peito
- M... matamos Claus. - falei enquanto buscava o ar
- Como? Isso não é possível! - ele falou soltando minhas mãos e ficando de pé
- Ele veio terminar o que havia começado em seu castelo, ele veio me matar, ele disse isso para mim, mas Lucas foi mais rápido que ele, e o matou... - falei fechando os olhos
- Eu sabia que Claus estava por perto, podia sentir seu cheiro, mas como Lucas conseguiu matá-lo? Somos criaturas rápidas e perigosas, difíceis de derrotar. - ele falou olhando para o fogo na lareira
- Com uma estaca de madeira no coração. Nem eu sabia que isso era possível. Ainda imagino Claus se levantando para me atacar, mas ele não levantou, via a morte em seus olhos - falei relembrando da cena e do sangue.
- Seu amigo vai me caçar? - ele falou caminhando em direção à porta da cabana, afastando-se mais ainda de mim.
- Não, não vai... - respondi me levantando, caminhando até ele e sentindo uma forte dor nas costelas, que me fez dobrar o corpo.
- Como você pode ter tanta certeza? - ele se virou e me segurou pelos cotovelos, parecia perceber qu eu estava sentindo dor
- Porque eu pedi a ele. Ele já sabe que você é um vampiro, mas não vai te caçar, nem te matar. - respondi quase sem voz, a dor aumentou demais e minhas pernas falharam
- Por que você fugiu de mim quando me viu na cripta? E como pode ter tanta certeza de que ele não vai me caçar? - ele falou sustentando um pouco mais de meu peso em suas mãos, porque comecei a dobrar mais o corpo
- Fugi, porque achei que você estaria com raiva de mim... tive medo de que você estivesse com raiva porque matamos Claus. E tenho certeza de que Lucas não irá te machucar, porque ele é como um irmão para mim, ele não faria nada para me magoar.
O príncipe me soltou e virou de costas para mim. Caminhei em direção à porta e saí da cabana para retornar ao castelo caminhando vagarosamente e com muita dor. Cheguei a me perder pela floresta, mas percebi que percorri todo o caminho de volta ao castelo completamente sozinha. Subi as escadas com dificuldades, as costelas doíam bastante. Deitei em minha cama e não conseguia dormir.
Resolvi dar uma volta dentro do palácio. Desci as escadas para o saguão do palácio com uma vela para iluminar o caminho. Fui até a cozinha, bem mais silenciosa sem os movimentos diários nessa hora da madrugada. Ouvi um barulho vindo do saguão, próximo à porta, voltei pelo corredor e vi um vulto. Virei a vela na direção e pude ver o vampiro "filho" de Claus que eu havia conhecido em Paris. O susto me fez deixar a vela cair, ela apagou assim que tocou o chão. Ele correu na minha direção e pegou minha mão:
- Claus veio aqui? Ele queria muito te machucar - ele falou segurando meu pulso com força, isso deixaria um hematoma
- O que você quer? - eu estava apavorada, quase sem voz, dores no corpo e aquele aperto doloroso
- Preciso... - ele puxou minha mão em sua direção, tentou morder meu braço, onde havia o corte feito no ataque por Claus. Dei um chute em seu joelho com toda a força que consegui juntar, consegui afastá-lo e fugi. Meu braço sangrava novamente no corte. Corri pelas escadas e subi o mais rápido que pude. Entrei em meu quarto e tranquei a porta e coloquei uma cadeira segurando a maçaneta.
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