maio 07, 2024

Capítulo 35 - A noite cai

Enquanto eu almoçava, Phillip ficou no quarto sozinho. Andou de um lado para outro incerto. Deitou-se na cama. Ele adorava deitar em minha cama, pois tinha meu cheiro e ele adorava sentir meu cheiro nos lençois. Assim ele adormeceu. Chegando em meu quarto após o almoço avisei a Ane que eu dormiria mais cedo e por isso não desceria para o jantar.
Pedi a ela que me deixasse repousar, pois eu precisava estar bem em alguns dias para o casamento. Phillip estava deitado, sem camisa, com o rosto enterrado em meu travesseiro e com os cabelos desgrenhados. Era uma visão divina. Ele não acordou mesmo depois de ouvir o som da chave trancando a porta. 
Sentei devagar na cama. Tomei meu tempo observando aquela visão. Ele era tão lindo, tão forte, cada músculo de suas costas parecia saltar em relaxamento total. Não iria resistir à tentação de beijá-lo, ele estava tão vulnerável. Reclinei devagar em sua direção, deitando ao seu lado. Cada movimento preciso e delicado, para que ele não acordasse. Segurei seus pulsos contra a cama e o beijei como antes de sair.
Ele acordou e ao invés de tentar se afastar, me abraçou trazendo seu corpo mais para perto do meu. O tempo parecia ter parado naquele beijo. Quando finalmente nos afastamos, para respirar ele falou com a voz rouca, olhando diretamente em meus olhos:
- O que foi isso?
- Eu não resisti e senti que era o momento certo para um beijo. - falei ainda tentando respirar
- Nunca ninguém me beijou assim, princesa... - ele falou me puxando novamente para perto de seu corpo.
- Eu também nunca fui beijada assim antes, acho que estou me apaixonando por você, Phillip. - falei passando meus dedos em seus cabelos.
Ficamos ainda um bom tempo só trocando olhares. Deitados.
- Você parece cansado. - falei preocupada
- Estou há duas noites sem me alimentar. Vampiros começam a ficar cansados, fracos e lentos, quando estão com fome. - ele falou se levantando. - Já anoiteceu?
Levantei e segui até a janela para verificar e sim, já era noite.
- Tenho que ir. Só nos veremos no dia do casamento. Não vá até a cabana. Tenho medo de você sozinha na floresta.
Ele se aproximou rápido de mim, me abraçando e falando em meu ouvido:
- Você diz que tem sentimentos por mim, mas fugiu quando eu te perguntei se você já havia beijado outra pessoa, chega aqui e me desperta com um beijo que será difícil de esquecer.
Um arrepio corre pelo meu corpo e tento manter minha postura mais ríspida:
- Você desconfia de mim, quando eu falo a verdade. Nunca beijei, nem beijarei outra pessoa. O que ocorreu em Paris, com Claus foi contra a minha vontade... - respondi tentando me soltar do abraço dele.
Ele me apertou mais perto dele, como se isso fosse possível e falou com os lábios no meu:
- Adeus, minha noiva.
- Adeus... - falei com ele me soltando e saindo pela janela.
Ele desapareceu na escuridão da noite e voltei para minha cama. Iria sonhar com ele certamente. Dormi cedo neste dia. Não voltei à cabana. Ele não voltou a me procurar.

maio 05, 2024

Capítulo 34 - Mais um dia com ele

Acabei adormecendo sentada ao lado de Phillip, com minha cabeça em seu ombro. O dia amanheceu e ele acordou, me carregando até a cama para que eu dormisse melhor. Ane entrou em meu quarto e pedi a ela que me deixasse dormir, pois eu estava ainda muito cansada. Ela deixou as cortinas fechadas e saiu do quarto delicadamente. Pensei que Phillip tivesse partido, mas o vi saindo de meu closet assim que Ane fechou a porta, lembrando-me que eu tinha que almoçar com Lucas.

- Bom dia! - ele falou com um enorme sorriso

- Bom dia, achei que você tivesse ido embora. Ane entrou para abrir as cortinas, mas falei a ela que eu precisava descansar e ela saiu.

- Por que eu acordei com você dormindo em meu ombro? Sentada ao meu lado? Não é mais confortável dormir na cama? - ele perguntou com um tom irônico em sua voz.

- Demorei a sentir sono. Muitos pensamentos atrapalharam. - fale me levantando e caminhando em direção ao banheiro.

- Mas você dormia hoje de manhã, quando a coloquei na cama. - ele falou próximo à porta do banheiro

- Porque olhar para você dormindo acalmou meus pensamentos. - falei com um sorriso nos lábios

Ele abriu a porta do baheiro e entrou. Eu estava enchendo a banheira, mas ainda não tinha me despido para um banho.

- Você adormeceu por minha causa? - ele perguntou olhando diretamente nos meus olhos - Você vai tomar um banho?

- Sim, adormeci porque seu belo rosto me traz paz e sim, vou tomar um banho e agradeceria se você fosse um cavalheiro e me esperasse no quarto. 

Ele virou-se e fechou a porta atrás de si. Após o banho, vesti um vestido mais simples e confortável. Saí do closet e fui para o quarto. Sobre a mesinha de café, minha aia deixou uma bandeja com frutas e croissants, alé de suco e café.

- Então meu belo rosto ajuda Sua Alteza a dormir. - ele falou se gabando, enquanto eu caminhava em direção ao café da manhã.- Ane deixou a bandeja aqui.

Não respondi. Só peguei uma xícara de café e um croissant. Sentei na poltrona em frente a ele.

- Você não vai me dizer o que a manteve acordada? - ele perguntou se curvando em minha direção.

- Fui atacada por um vampiro em seu castelo. Ele me seguiu até aqui e podia ter me matado, ainda sinto as costelas e os cortes ainda estão cicatrizando. Meu amigo de infância conhece bem a sua espécie. Lucas me salvou de Claus. Acho que foi muito sangue em pouco tempo. Além disso, vou me casar com uma criatura dessas. Acho que minha mente não consegue processar todas essas informações. - falei tudo de uma vez como um grande desabafo.

- Você tem medo de mim? - ele perguntou desviando o olhar de mim

- Não, não mais. Não depois de ontem. Você é a minha paz em meio ao caos. - quase não consegui terminar a frase, pois ele se levantou rapidamente, deu a volta na mesa, se ajoelhou na minha frente e beijou meus lábios, tudo muito rápido.

- Ontem, após você chegar. Você falou do filho de Claus. Quem é ele? - Phillip perguntou sentando-se novamente na poltrona.

- Em Paris, após nossas pesquisas, eu e Ane descobrimos que Claus andava com um jovem a tiracolo. Chamava-o de filho. Nunca ouvimos seu nome. Ele deve ter aceitado o que você não aceitou. Acho que ele deve estar se sentindo só, pois matamos Claus... - falei pensativa

- O que você quer fazer? Temos um dia todo. Com exceção do almoço. - ele disse com um pouco de ciúme em sua voz

- O almoço, tinha esquecido. - falei irônica

- Você e esse caçador de vampiros são só amigos? - ele falou e pude sentir novamente o ciúme na sua voz

- Só amigos. Mas você fala como se nunca tivesse saído com nenhuma mulher. Vossa Alteza já teve algum relacionamento antes do que temos hoje? - perguntei sabendo que a resposta poderia ser dolorosa...

- Não vou falar sobre isso. Qualquer coisa antes da minha princesa é totalmente sem valor para mim. - ele respondeu de forma evasiva

Contornei a mesa e sentei na poltrona ao seu lado, peguei suas mãos e falei:

- Eu quero saber! - soou quase com uma ordem

- Tive sim alguns casos e não me guardei para você como deveria ter feito. - ele falou desapontado, passando a mão nos cabelos

Levantei e me afastei. Não sei porquê, mas imaginar que alguém pode tocá-lo e beija-lo antes de mim me deu uma certa raiva.

- Ciúmes? - ele falou passando suas mãos pela minha cintura, encostando seus lábios no meu ouvido

- Sim, como não teria? Você deveria ser só meu! - falei virando para ele e olhando bem nos seus olhos.

- Adoro quando você sente ciúmes. Da mesma forma como adorei você ter buscado a minha cura, apesar dos riscos. Porque tudo isso significa que você tem sentimentos por mim. - ele falou apertando o abraço

- Eu odeio saber que outra pode ter você antes de mim. E você já deveria saber que eu tenho sentimentos por você desde a primeira vez que desci naquela cripta.

- Como assim? - ele falou surpreso me soltando dos seus braços

- Vampiros não conseguem ouvir o coração humano batendo? Como você não ouviu meu coração acelerado naquela primeira vez em que te vi? - falei com um sorriso malicioso, levantando e me afastando dele

- Estou há tempos tentando fazer você gostar de mim, mas você agora me diz que já estava apaixonada desde a primeira vez na cripta. - ele fala passando a mão nos cabelos e demonstra estar inquieto.

Caminho em sua direção, coloco minhas mãos em seu pescoço. Enlaço meus dedos em seus cabelos e puxo seu rosto para um beijo. Damos o beijo mais apaixonado e quente que já demos. Nos afastamos para respirar e ele fala:

- Tem certeza de que nunca beijou ninguém antes?

- Você está desconfiando de mim? - falei o afastando com a mão em seu peito.

- Esse beijo diz o contrário. - ele fala sorrindo.

Uma batida na porta. Phillip se esconde no closet. Ane avisa que o almoço já está posto e saio do quarto com ela. Na sala de jantar, além de Lucas, temos outro casal de nobres que também chegaram hoje e apesar da conversa frugal durante a refeição, minha mente vagava no Vampiro em meu quarto.



Capítulo 33 - Concluindo a conversa

Tentei pensar em tudo que o vampiro no andar de baixo poderia fazer. Talvez se vingar da morte de Claus. Fui até a janela para verificar se ela estava trancada, quando vi a janela aberta. Um arrepio correu minha espinha e finalmente pude ver, em meio à escuridão Phillip de pé no canto próximo à janela. Dei um pulo para traz com o susto, mas consegui perguntar:
- O que você está fazendo aqui? - só então percebi que o corte no meu braço estava sangrando.
- O que houve? Onde você estava? - ele falou saindo das sombras e caminhando em minha direção.
- Quero minhas respostas antes - demandei - O que você está fazendo aqui? - falei caminhando em direção ao banheiro, precisava de algo para estancar o sangramento.
- Você saiu correndo da cabana. Eu precisava ter certeza de que você chegaria em segurança.
- Demorei, porque quando cheguei aqui ouvi um barulho e fui ver o que era.
- Por que seu corte está sangrando? O que você está tentando esconder de mim? - ele falou segurando meu braço machucado
- Escorreguei no saguão, esbarrei com o braço e o corte abriu. Preciso fazer um curativo. - Menti, não queria outro vampiro morto dentro do meu castelo.
- Venha! - ele ordenou me levando até a cama, onde me sentei. 
Ele cautelosamente pegou uma atadura limpa e refez o curativo.
- Por que você veio até aqui? - perguntei, pois eu não esperava que ele me seguisse de volta.
- Para saber porquê voce fugiu. - ele falou sentando ao meu lado na beira da cama
- Você parecia estar com ciúmes de Lucas. Mas não sei como você reagiria à morte de Claus... tive medo. - falei quase gaguejando.
- Mesmo sabendo que sou um vampiro e que te alcançaria facilmente? E se quisesse fazer mal a você eu faria, mas a princesa sabe bem que sou incapaz de te machucar, não? - ele falou acariciando minha bochecha com o polegar.
- Talvez... - falei quase num sussurro
- Vamos retomar nossa conversa na cabana, mas primeiro, conte-me a verdade sobre como o corte abriu, certo? Você estava com o coração disparado quando trancou a porta do quarto. Não minta. Não quero ter que te forçar a me falar a verdade.
Abaixei a cabeça. O nervosismo era aparente.
- O filho de Claus. O som que ouvi ao entrar no castelo era o filho de Claus. Ele me segurou e rasgou o corte. Ia me morder, mas consegui derruba-lo e correr pelas escadas. 
- Vou verificar se ele ainda está aqui. - ele disse se levantando.
- Não, não me deixe sozinha. - falei segurando sua mão.
- Eu vou ficar - ele falou de pé, indo até a janela. Fechou as cortinas e virou-se para mim com um olhar malicioso - e se eu passasse o dia com você, como fizemos daquela outra vez? 
- Quando amanheceu e você ficou preso aqui? - perguntei nervosa
- Sim, poderíamos conversar e eu tiraria todas as dúvidas que deixam você com medo. Você não pode ter medo de mim. Vamos ser um casal em breve. Você precisa começar a confiar em mim. 
- E se não funcionar? Tem nobres chegando para o casamento. Tenho outros preparativos que preciso dar andamento. Eu não poderia passar o dia todo aqui em meu quarto.
Ele se aproximou da cama, me levantou com um puxão e me abraçou:
- Vamos tentar. Vai ser melhor do que da outra vez, certo? - ele falou encostando a testa na minha testa.
- Tudo bem. - desisti. Deitei para dormir enquanto ele foi para a poltrona próxima à janela.
- Durma! Amanhã teremos nosso dia. - ele falou recostando um pouco mais.
Não consegui pegar no sono. Muitas coisa passaram em minha mente. Phillip dormiu e pude apreciar o quão belo e pacífico ele parecia dormindo. Sentei ao lado dele e fiquei pensando em como viveríamos daquela forma. Toda essa situação era estranha e muito complexa. Mas olhando ele dormir pensei no quão bom era ter alguém forte e poderoso como ele para me amar e me proteger. 

maio 03, 2024

Capítulo 32 - De volta à cabana

Minha aia lavou o chão da sala de chá, com o auxílio de outra serva. Ninguém sequer questionou o que havia acontecido. Lucas se recolheu para seu quarto, ele precisava de um banho e descanso. E me recolhi para meu quarto. Será que Phillip estaria na cripta sob a cabana? Resolvi sair no meio da noite. Ninguém notaria se eu saísse e voltasse antes do amanhecer.
Chegando à cabana, desci até a cripta e Phillip estava à minha espera. Pude perceber raiva em seu olhar, não entendi. Saí correndo da cripta e da cabana. Voltei pela floresta silenciosa, mas Phillip apareceu rapidamente em minha frente. No susto, caí de joelhos. Ele me levantou e me levou de volta para a cabana, me segurando pelos braços.
- Quero falar com você. Por que fugiu? - ele falou enquanto me colocava sentada na cama.
- Por que você me olhou daquela maneira? O que você quer?
- Hoje só eu pergunto! - ele falou com um tom ríspido. - Quem é o jovem nobre que você recebeu hoje no palácio? Onde está o rei?
- Aquele é Lucas Jared VI, um amigo meu de infância, filho de um conde amigo do Rei, ele veio para o nosso casamento e meu pai está com o pai dele nos Cárpatos.
- Sua alteza sabe que seu amigo é um caçador de vampíros? - ele perguntou com um tom ainda mais ríspido.
- Não, só sabia que ele estava caçando Claus... - falei prendendo a respiração.
- O que houve? Por que você está tremendo? - ele perguntou segurand minhas mãos
- Matamos Claus. - falei enquanto buscava o ar
- Como? Isso não é possível! - ele falou me largandi e ficando de pé
- Ele veio terminar o que havia começado em seu castelo, mas Lucas rapidamente o matou... - falei fechando os olhos
- Eu sabia que Claus estava por perto, mas como Lucas conseguiu matá-lo?
- Com uma estaca de madeira no coração. - falei relembrando da cena e do sangue.
- Seu amigo vai me caçar! - ele falou caminhando em direção à porta da cabana.
- Não, não vai... - respondi me levantando e sentindo a dor nas costelas.
- Como você pode ter tanta certeza? - ele se virou e me segurou pelos cotovelos
- Porque eu pedi a ele. Ele já sabe que você é um vampiro, mas não vai te caçar, nem te matar. - respondi quase sem voz, a dor aumentou
- Por que você fugiu de mim quando me viu na cripta? E como pode ter tanta certeza de que ele não vai me caçar?
- Fugi, porque você parecia estar com raiva de mim... tive medo de que você estivesse com raiva porque matamos Claus. E tenho certeza porque Lucas é como um irmão para mim, ele não faria nada para me magoar.
O príncipe me soltou e virou de costas para mim. Caminhei em direção à porta e saí da cabana para retornar ao castelo. Cheguei a me perder pela floresta, mas percebi que percorri todo o caminho de volta ao castelo completamente sozinha. Subi as escadas com dificuldades, as costelas doíam bastante. Deitei e não consegui dormir. 
Desci as escadas para o saguão do palácio com uma vela para iluminar o caminho. Fui até a cozinha, bem mais silenciosa sem os movimentos diários nessa hora da madrugada. Ouvi um barulho vindo do saguão, voltei pela porta e vi um vulto. Virei a vela na direção e pude ver o vampiro "filho" de Claus que eu havia conhecido em Paris. O susto me fez deixar a vela cair, ela apagou assim que tocou o chão. Ele correu na minha direção e pegou minha mão:
- Claus veio aqui? Ele queria muito te machucar
- O que você quer? - eu estava apavorada, quase sem voz
- Preciso... - ele puxou minha mão em sua direção, tentou morder meu braço, onde havia o corte feito no ataque por Claus. Consegui afasta-lo e fugir. Meu braço sangrava novamente. Corri pelas escadas e subi o mais rápido que pude. Entrei em meu quarto e tranquei a porta.
 

Capítulo 31 - Um velho amigo

Na manhã seguinte, o Rei já havia realizado todos os preparativos para partirmos para casa. As carruagens já estavam com nossas bagagens e restava apenas embarcarmos. Viajamos de volta logo após o café. Meu pai tinha receio das estradas à noite, por isso ele sempre parava em alguma hospedagem pelo caminho.
Os machucados do ataque de Claus ainda doíam. Durante a viagem fui informada pelo Rei de que ele não poderia estar em nosso palácio para recepcionar os primeiros nobres que chegariam para as festas do casamento, pois teria que ir visitar um nobre nos Cárpatos, um velho amigo. Pois ele não viria ao casamento.
Estranhei. Por que ele tinha que visitar esse amigo? Qual o sentido dessa nova viagem? O Rei explicou que o filho deste amigo, um velho e talvez meu único amigo de infância estaria representando seu pai na festa.
Consegui descansar por alguns dias antes da chegada de Lucas Jared VI. Seu pai era Conde. Lucas passou uma boa temporada conosco na infância, pois sua mãe faleceu no parto e seu pai tinha receio de culpa-lo pela perda de seu grande amor. Quando sua carruagem chegou pude ver um homem forte e já sem traços de criança desembarcar. Fiz questão de recepcioná-lo, a pedido de meu pai.
- Alteza, como você mudou! - seus lindos olhos castanhos brilharam ao encontrar os meus, mas a voz estava completamente diferente, mais grave e forte.
- Caro Lucas, você também mudou! - falei me aproximando e estendendo a mão para ele. - como vai seu pai o Conde? Como tem passado?
- Estou bem, meu pai mandou lembranças e vim representá-lo no grande sua de Sua Alteza! - ele falou com um tom irônico e complementou - Como você está? Ansiosa, pirralha?
- Um pouco. - respondi rindo, ele ainda agia comigo como se tivéssemos oito anos.
- Você está linda, princesa! - ele disse colocando minha mão em seu braço enquanto caminhávamos para dentro do palácio.
- Venha, vou te acompanhar até seus aposentos. Será bom ter um amigo por perto neste período. - falei tentando disfarçar a vergonha.
Subimos ate o segundo andar, eu ainda caminhava com um pouco de dificuldade, pois as costelas ainda doiam. No jantar, conversamos sobre nossa infância. Lembramos de nossas brincadeiras. Ele me contou sobre como seu casamento arranjado deu errado. 
O pai de lucas o havia prometido a uma princesa francesa. Mas pouco antes deles se conhecerem o Conde descobriu que sua futura nora estava grávida de um dos guardas da realeza. Todos os planos foram desfeitos e o pai da princesa optou por enviá-la a um convento.
Por um lado Lucas ficou aliviado, mas por outro frustrado. Seu pai decidiu que Lucas iria se casar com quem ele escolhesse e o mandou para viajar pelo mundo e estudar. Afinal, para o Conde, Lucas era a única lembrança viva de seu grande amor. 
Apesar de todos os acontecimentos, Lucas estava feliz. Havia conhecido muitos lugares e hoje era bem mais intelectual do que antes. E o Conde se sentia realizado simplesmente de ver seu filho assim. Lucas veio para minha cerimônia a contra-gosto, pois nunca foi a favor de casamentos arranjados. Contudo viu no convite uma oportunidade de rever a melhor amiga da infância. Passamos muitos anos distantes. Sentamos para conversar após o jantar em uma grande sala de chá no segundo andar. Lucas contava sobre sua vida nos Cárpatos e suas viagens, quando de repente ouvi um barulho vindo da janela, nos viramos para olhar e pude reconhecer a silhueta conhecida de Claus. Nesse momento Lucas reparou em como fiquei rapidamente pálida e comecei a tremer. Sussurrei: "Ele vai me matar!", um pouco antes de Claus quebrar a janela entrando no cômodo.
- Como vai, Sua Alteza? - ele falou com certa ironia em seu tom - Quem é seu amigo? Tenho a impressão de que já o conheço... -  falou dando rápidos passos em minha direção...
- Saia daqui! - falei tentando respirar.
- Acho que não vou embora, temos que encerrar nosso assunto de outro dia, fomos interrompidos, se não me engano... - ele se aproximava rápido
- Lembro de você. - disse Lucas caminhando diretamente até Claus.
- Tolo, você sabe que nunca conseguirá me matar. Por que ainda tenta. - disse Claus empurrando Lucas e seguindo em minha direção.
- Não desisto fácil! - falou Lucas, com um ar arrogante.
Num movimento rápido, Lucas saltou em direção à janela quebrada, pegou um pedaço de madeira que pendia dela, correu em direção a Claus que estava já bem próximo de mim, se colocou entre Claus e eu e cravou-lhe a estaca bem no meio do peito.
Pude ver quando Claus caiu, instantaneamente com os olhos já sem vida. Havia muito sangue nas roupas de Lucas e pelo chão. Foi assustador. Sem entender o que estava acontecendo e como eles se conheciam,perguntei a Lucas:
- Como... de onde você conhece Claus? - falei retomando a respiração.
- Sua Alteza sabe que ele é um vampiro, não? - ele perguntou avaliando a bagunça total do cômodo.
Apenas concordei com a cabeça. Ele continuou:
- Nos Cárpatos temos muitas criaturas como ele. Numa de minhas viagens a Paris, enquanto eu estudava, o conheci. Comecei a caça-lo quando percebi que ele gostava de matar humanos. Como você o conhece? - ele perguntou segurando meu queixo sem entender o que Claus queria comigo.
- O prícipe com quem vou me casar é um vampiro. Claus o transformou em um, quando ele estava em Paris estudando, quando Phillip estava bêbado e deprimido. Como você sabia que essa estaca o mataria? Você os caça?
- Sim, mas não tenho intenção de matar seu noivo. Só caço os que matam pessoas. - ele falou enrolando o corpo de Claus no tapete.
- O que vamos fazer? Com o corpo? É muito sangue... - falei ainda em choque.
- Vou levá-lo para o jardim atrás do palácio. O sol se encarregará de transforma-lo em pó.
Acompanhei meu amigo de infância carregando Claus até o jardim dos fundos e o colocamos entre dois arbustos, para que ninguém o achasse até o amanhecer. No dia seguinte só encontraríamos a estaca da janela e um montinho de cinzas no lugar. 

maio 01, 2024

Capítulo 30 - Paixão

Acordei no horário do almoço, quase sem dores. Pensei do que seria aquele chá, que Phillip fez minha aia me servir no café. Resolvi pedir a ajuda de Ane para me trocar, eu gostaria de descer para almoçar fora do quarto na companhia do Rei e do Príncipe. Tomei um banho, coloquei um vestido e desci as escadas na companhia de minha aia.
Sentei à mesa para almoçar. Ambos olharam curiosos para mim, pois há dois dias eu não tinha condições de descer as escadas. Precisava pedir ao Rei que adiasse o casamento. Minha mente estava confusa, aterrorizada e eu precisava me recuperar fisica e emocionalmente. Conversamos durante o almoço e o Rei concordou. Adiaríamos até que eu estivesse bem. Phillip por sua vez parecia impaciente, mas entendia que eu não estava bem.
Resolvi caminhar pelo jardim com Ane logo após o almoço. Percebi que o príncipe tentava chegar até nós. O dia ainda estava claro, ensolarado. Fiquei sem ar pensando que o sol poderia matá-lo. Ane me segurou para que eu não caísse. Phillip me pegou pelo outro braço e pediu licença para que Ane nos deixasse a sós. 
- O que houve? Por que você está tendo um ataque de pânico? - ele falou num sussurro enquanto observava minha aia se afastar.
- V...você está andando sob o sol... c...como? - falei sem conseguir respirar
- Eu tentei explicar no outro dia. Há alguns anos chamei um bruxo para fazer um encantamento que me permitisse andar sob o sol. Eu queria poder ver o nascer do sol e o pôr do sol com você. - ele falou me segurando pela cintura enquanto eu recuperava a respiração - é magia, mas só vai até as fronteiras de meu reino. Você está bem?
- Não, ainda sinto dores... ainda estou com medo. - falei de forma seca
- Quer entrar? - ele perguntou ainda me segurando para que eu não caísse
- Ainda não. - respondi tentando me afastar.
- Bom, ainda tem algo que eu gostaria de perguntar a Sua Alteza. - ele falou com um leve sorriso no canto dos lábios
- O quê? - questionei sem expressar nada
- A princesa não acha que foi um pouco longe por minha vida? Para uma noiva que até agora não aparentava ter sentimentos por mim... não me dava nenhum sinal de afeto e foi até Paris. Tratando com uma criatura perigosa como Claus. Por que você fez isso? Você nem queria esse casamento... - ele falou olhando para os meus olhos
- E iria mais longe! - respondi me afastando dele
Ele ficou parado com um leve sorriso de satisfação nos lábios olhando para o horizonte. Sentia algo por ele, mas eu ainda não tinha certeza de se era amor. Voltei para o castelo. Ane me acompanhou pelas escadas. Cheguei ao meu quarto, deitei e pedi a minha aia que não permitisse que ninguém me acordasse. Ela então ficou sentada em uma cadeira do lado de fora, como eu pedi.
Cerca de meia hora se passou e pude ouvir minha aia falando com Phillip que eu ordenará que ninguém me atrapalhasse o sono. Dormi até o jantar. Desci para o jantar como havia feito no almoço, acompanhada de Ane. Ao terminar, esperei o rei e o príncipe se afastarem para conversar e subi discretamente com Ane, sem que nenhum deles percebesse. Dessa vez tranquei a porta do quarto e coloquei uma cadeira travando a maçaneta.
Troquei de roupa. Deitei na cama. Quando estava quase adormecendo ouvi um barulho vindo da janela. Abri as cortinas e pude ver Phillip sentado do lado de fora no parapeito da janela. Abri a janela e o mandei entrar.
- O que você estava fazendo lá fora? Como subiu até aqui? - perguntei enquanto caminhava de volta para a cama.
- Por que você está me evitando desde o almoço? - ele perguntou sem olhar para mim
- Perguntei primeiro - falei colocando minha mão sob seu queixo para levantar seu olhar para mim
- Acho que preciso ficar te lembrando que sou um vampiro e posso escalar as paredes do castelo sem sequer me cansar ou cair. - ele falou rapidamente - sua vez!
- Não estou te evitando, nem fugindo de você. Dr. Oliver falou que preciso de repouso e como falei no almoço preciso de um tempo para me recuperar... só de descer as escadas sinto cansaço.
- Sua alteza pode me explicar melhor o que estava me falando mais cedo no jardim? Você disse que iria mais longe para salvar minha vida? - ele perguntou passando sua mão de leve em minha bochecha
- Creio que não há resposta certa para isso. - respondi levantando da cama e caminhando para a janela
Ele levantou rapidamente me seguindo. Chegando próximo à janela ao mesmo tempo que eu. Sem falar nada o abracei e descansei minha cabeça em seu peito largo.
- Não entendo. O que sente por mim? - ele perguntou inalando o cheiro dos meus cabelos.
- Estou confusa... nem eu entendo... mas creio que vou gostar de ser sua rainha.
Senti seu abraço apertar um pouco mais. Ficamos um bom tempo abraçados em silêncio. Pude sentir ele cheirando meus cabelos, enquanto eu tentava aninhar mais meu rosto em seu peito. Era tão agradável estar em seus braços.



Capítulo 29 - Mais verdades

Os primeiros raios de sol iluminaram meu quarto atravessando as brechas nas cortinas. Pude ver Phillip sentado dormindo na poltrona próxima às janelas. Afastei as cobertas, levantei e caminhei silenciosamente até o banheiro. Consegui passar por ele sem acordá-lo. Ele cumpriu mais uma vez a promessa de ficar até o amanhecer vigiando meu sono.
Ao sair do banheiro Phillip estava sentado na ponta da cama, acordado e olhando enquanto eu caminhava do banheiro de volta para a cama.
- Bom dia, como está se sentindo? - ele perguntou com a voz ainda rouca.
- Melhor. Dolorida, mas melhor. Consegui dormir melhor hoje. Preciso voltar para casa. O rei vai acabar ficando irritado com a demora para voltarmos. Primeiro sua doença e agora isso. Estou preocupada com esconder tantas coisas do rei... - falei enquanto deitava de volta na cama e puxava as cobertas sobre mim.
- Ele não vai desconfiar. - ele falou me cobrindo
- O que fez você acreditar em mim? Vir me socorrer quando Claus tentou me matar? - perguntei com um tom irritado - Antes você não acreditou tanto em mim quando te contei sobre o que havia ocorrido em Paris. O que mudou?
- Anteontem, depois que te encontrei coberta de sangue no chão, sem ver o que havia acontecido ou sem sequer ver Claus, imaginei que ele teria feito isso com você, mas você estava desacordada. Eu não tinha como perguntar a você. Claus pode ser violento, mas só quando é contrariado. Imaginei que algo mais poderia ter acontecido em Paris, ele deve ter tentado algo alem do beijo em você. Então, vampiros são excelentes controladores de mentes. Chamei Ane na biblioteca e sob meu controle pedi a ela que me contasse em detalhes sobre a viagem de vocês a Paris. Ela contou tudo. Mortais não mentem quando controlados. Sei que Claus não tentou nada, mas roubou um beijo contra a sua vontade.
- Você não viu Claus me levantando pelos cabelos? Eu vi você entrando pela porta! Não daria tempo dele escapar.
- Vi o momento em que ele te arremessou contra a parede. Talvez da segunda vez... e o lancei pela janela aberta. Ao cair lá embaixo ele correu para a floresta. Ontem, antes da segunda visita do Dr. Oliver eu rastreei Claus com outros soldados meus pela floresta. Ele sumiu. - ele disse pegando minha mão e segurando entre suas mãos.
- Por que você não foi atrás dele quando o viu correndo para a floresta? - perguntei sentando-me na cama, encostada na cabeceira
- Ao ver o sangue nas paredes e em seu vestido... você estava desacordada... eu pensei que você estava morta. Mas vampiros ouvem o coração humano à distância e pude ouvir seu coração batendo, coloquei você na cama e quis ter certeza de que você ficaria bem.
- E se ele conseguisse? E se Claus conseguisse me ferir ao ponto de quase me matar? Você teria coragem de me transformar num de vocês? - perguntei com um pouco de curiosidade.
- E te condenar a uma vida eterna em um mundo que muda muito. Você não suportaria, minha princesa! - ele falou com um tom preocupado. - ele se levantou da cama e caminhou até a porta. - Vou pedir a sua aia que traga seu café da manhã e mais um chá para ajudá-la com as dores.
Minutos após ele sair, Ane entrou com uma bandeja. Comi pouco, pois as dores ainda atrapalhavam demais no meu apetite. Tomei um chá amargo, que me fez sentir muito sono deitei e adormeci.