abril 30, 2024

Capítulo 28 – Recuperando

Os primeiros raios de sol iluminaram meu quarto e pude observar uma silhueta em pé diante da janela. Após o ocorrido no dia anterior, encolhi-me próximo à cabeceira da cama, debaixo das cobertas. Meus olhos embaçados demoraram a mostrar a imagem do Rei, encostado na janela. Ao perceber que eu estava acordada ele falou:
- O que houve ontem? - sua voz saiu quase como um sussurro, enquanto ele caminhava em direção à cama.
- Eu tropecei descendo as escadas. Acho que foi um acidente bobo. - falei tentando justificar minha ausência no jantar. - mas estou bem… um pouco machucada, mas bem
- Minha filha, teremos que voltar para seguir com os preparativos de seu casamento. O príncipe já está melhor, você não fez isso de propósito, fez? - ele falou colocando a mão sobre a minha enquanto sentava na beira da cama, se aproximando de mim.
- Sua Majestade sabe que eu jamais me machucaria para evitar… ou só adiar o casamento, que já está nos seus planos para ocorrer, independente de minha vontade. - falei olhando para as mãos.
- Creio que você tem razão. - ele falou se levantando e caminhando em direção à porta – Assim que Dr. Oliver lhe liberar para viajar, partiremos.
Algum tempo depois da saída do rei, minha aia entrou com uma bandeja de café da manhã. Informando que o príncipe mandou o recado de que ao final da tarde viria me visitar com o médico. Novamente comi muito pouco. A dor das costelas ainda me impedia de me mover completamente. Com a ajuda de Ane consegui tomar um demorado banho de banheira. A água quente parecia um analgésico nos hematomas e cortes.
Logo depois, troquei o vestido com o qual dormi, por uma camisola mais macia. Novamente com a ajuda de Ane, que também refez os curativos e limpou os cortes, aterrorizada.
- Como Sua Alteza conseguiu tantos machucados caindo da escada? - ela falou desembaraçando devagar meus cabelos e passando unguento nos cortes na cabeça.
- Ane, por conta de uma pequena distração me desequilibrei e estas escadas são gigantescas, tentei me segurar, mas não consegui.
Retornei para a cama e deitei. Precisava dormir. Durante a noite foi impossível dormir, a dor e as cenas terríveis da violência. Finalmente adormeci, mas pedi a minha aia para permanecer no quarto comigo. Ela sentou-se numa poltrona próxima da janela e pegou um livro para ler, isso me ajudou a dormir. Embora Ane não pudesse me proteger da ira de Claus, ela ao menos me traria a segurança de que ela gritaria por socorro.
Ao acordar percebi que era noite, levantei da cama num pulo ao perceber que Ane tinha saído do quarto. Eu estava sozinha. Ficar de pé tão rápido, esquecendo de minhas costelas quebradas me deu falta de ar. Segurei numa cadeira para evitar a queda. Ouvi uma batida na porta.
Phillip entrou acompanhado do Dr. Oliver, fazendo uma careta ao perceber que eu estava de pé.
- Vossa Alteza está de pé? - pude ouvir o tom irônico em sua pergunta.
O médico por sua vez, apontou para cama enquanto perguntava:
- Posso examiná-la, Alteza? - sentando-se na cadeira ao lado da cama
Caminhei devagar e voltei para a cama. Deitei devagar, ainda sentia muita dor. Ao apoiar a mão na cama, um dos cortes no braço voltou a sangrar. Pude observar os punhos cerrados de Phillip e suas narinas dilatando, quase como se ele pudesse sentir o cheiro do sangue à distância. Passou-se algum tempo com Dr. Oliver examinando cada ferimento e hematoma. Ele então falou que eu precisava manter o repouso, virou-se para a porta, pediu licença e saiu.
- O príncipe parece tenso com algo… - falei me cobrindo.
Ele se aproximou da cama, pegou meu braço machucado com as mãos e falou:
- Talvez porque aquele maldito quis tirar de mim algo que me pertence. - falou removendo a bandagem, agora encharcada de sangue
- O que você está fazendo? - falei tentando retomar meu braço, sem sucesso, porquê vampiros tinham que ser tão fortes!
- Vou trocar esse curativo. - falou pegando novas bandagens e trocando-as.
- O sangue não está te deixando insano? - perguntei em provocação.
- Seu sangue sempre me deixa insano, mais do que de qualquer outro humano. Você é minha. - ele limpou o corte e envolveu em bandagens limpas, mas lambeu as pontas dos dedos que estavam sujas de sangue, e quando o fez fechou os olhos, como se estivesse lambendo os dedos sujos de doce.
- Isso é assustador. - falei quando ele soltou meu braço e o escondi sob as cobertas.
- Através do sabor do seu sangue sei que você ainda é mortal. Eu caçaria Claus como um animal se ele tivesse te transformado em um de nós. - ele falou abrindo os olhos e olhando diretamente nos meus olhos.
- Há mais alguma coisa que você consiga saber pelo meu sangue? - perguntei com curiosidade.
- Sim, consigo saber o quanto você está sentindo de dor e também um pouco do seu medo. Não se levante. Tente ficar o máximo que puder em repouso. - ele falou baixo, num tom de ordem. - Sei que minutos antes de entrarmos aqui você sentiu uma forte falta de ar. Suas costelas estão quebradas. Você precisa de repouso. Vou me limpar e retorno com seu jantar.
- Não precisa, basta mandar Ane. - falei sentando na cama.
- Não, minha princesa. - ele falou desabotoando as mangas da camisa e o botão no colarinho. - hoje passarei a noite te vigiando, como ontem.
Deitei me recostando no travesseiro. E aguardei. Ele retornou como prometido com o jantar, que não consegui comer muito. E depois sentou-se na poltrona próxima da janela e adormeci com a presença calmante dele ali.

abril 24, 2024

Capítulo 27 - As consequências

Acordei em minha cama com a cabeça latejando. Havia muito sangue no meu vestido. Eu estava sozinha no meu quarto. Ane entrou alguns momentos depois seguida por Phillip. Ele gentilmente pediu licença à minha aia e fechou a porta.
- Entrei em seu quarto, após ouvir um barulho forte e te encontrei no chão. O que houve? - ele falou ansioso.
- Não quero conversar. Minha cabeça dói. - tentei ficar de pé, mas uma tonteira forte me derrubou.
- Você não está bem. Quem te atacou? - ele perguntou enquanto me segurava para que eu não caísse. - Volte para a cama. Vou chamar sua Aia para que ela te ajude a se trocar, todo esse sangue no seu vestido, é seu? Isso pode assustar o Rei.
- Chame Ane, saia daqui! Deixe-me! Chega! - falei sem perceber que as lágrimas escorriam pelo meu rosto.
Ele saiu e logo depois Ane entrou e me ajudou a trocar o vestido manchado por um limpo e me ajudou a limpar meu rosto. Coloquei um chale para tampar as marcas de mão no meu pescoço.
Depois disso Ane arrumou meu cabelo que estava completamente desgrenhado. A cabeça ainda doía, mas eu precisava descer para jantar. Pedi a Ane que falasse ao Rei que eu estava indisposta e que preferia comer em meu quarto. Ela assentiu com a cabeça e saiu do quarto. Sentei encostada na cabeceira da cama, para esperar Ane, mas Phillip chegou no quarto com uma bandeja e dois pratos.
- Vim jantar com Sua Alteza.- ele disse entrando no quarto e fechando a porta atrás de si.
- Não quero conversar. Minha cabeça ainda dói. - falei sem olhar diretamente para ele.
- Mas eu preciso saber o que aconteceu. Até porque Claus desapareceu. Eu estava procurando ele, quando ouvi o barulho assustador de coisas caindo vindo de seu quarto. - ele falou passando a mão em minha bochecha.
- Claus tentou me matar! - falei baixo, pensando que ele não ouviria, mas ele deu um pulo da cama
- Aquele desgraçado fez o que? - ele começou a andar de um lado para o outro no quarto.
- Ele tentou me matar, o sangue no meu vestido, era dele. Eu enfiei uma tesoura na mão dele, para ele soltar meu pescoço. Depois ele me arremeçou contra a parede... o barulho que você ouviu, foi quando eu caí no chão. Pouco antes de te ver entrando pela porta ele me levantou puxando meus cabelos e me arremessou contra outra parede. Ele teria conseguido, se você não tivesse entrado no quarto. Acho que se me arremessasse contra outra parede eu teria morrido. Ele disse que mesmo que eu pedisse socorro para você, você não acreditaria em mim. - falei num sussurro, colocando a mão no rosto de Phillip para que ele olhasse nos meus olhos.
- Tenho que concordar que não gostei da idéia de você ir atrás dele em Paris, mas nunca deixaria de atender a um pedido de socorro da minha princesa. Não sei porque você não gritou. Por que não me chamou?
- Ele me fez acreditar que você não viria, que não confiava mais em mim... - falei olhando para o meu prato.
- Claus é ardiloso e perverso, ele sabia que no momento em que eu ouvisse seu chamado, eu o mataria...- ele falou levantando meu queixo para que eu olhasse em seus olhos - Você é minha! Te defenderei de qualquer um.
- Minha cabeça ainda dói. - falei colocando a mão na cabeça
- Posso ver? - Phillip perguntou caminhando em minha direção. Ele soltou meus cabelos e começou a olhar em minha cabeça - Você está com um corte... Maldito! - pude vê-lo passar a língua nos lábios, poderia ser pelo sangue na ferida - Vou pedir para que nosso médico venha vê-la agora, já volto. - ele saiu correndo e voltou tão rápido quanto saiu.
Não consegui esvaziar o prato, mas comi o suficiente do jantar antes que o médico chegasse.
Phillip pediu para que Ane ficasse dentro do quarto enquanto o médico do reino me examinava. Antes de sair o médico chamou o príncipe de volta.
- Sua alteza, a princesa caiu das escadas? - o médico perguntou curioso, com um olhar preocupado.
- Foi um pequeno acidente na escadaria sim. - Phillip preferiu manter o verdadeiro motivo em segredo.
- Ela está com uma costela quebrada, não muito grave, mas terá que manter o repouso por alguns dias e há um corte em seu braço que já está com curativo, precisa ser trocado amanhã e dois cortes na cabeça. Sem curativos, mas deixei este unguento para passar amanhã. Ela não pode caminhar, recomendo não descer as escadas. Precisará de auxilio de sua Aia para um banho, mas só amanhã.
Pude ver os punhos de Phillip cerrados e sua mandíbula travar. Ele transpareceu ódio pelos olhos.
- Obrigada, Dr. Oliver. - ele disse em voz baixa, entre os dentes.
Assim que o médico saiu, o príncipe pediu para que Ane saísse e não falasse so ocorrido com o Rei, caso ele perguntasse, comentasse que ela tropeçou na escadaria do palácio.
Sozinhos novamente, Phillip se aproximou da cama:
- Hoje vou vigiá-la durante a noite e amanhã também. Não posso correr o risco de Claus voltar para terminar o que começou. 
Um calafrio percorreu pelo meu corpo e sentei na cama, apavorada com a possibilidade de Claus retornar.
- Deite-se, ele não vai voltar. Se voltar, eu estarei aqui para matá-lo. - Phillip falou determinado.
Deitei, mas não consegui adormecer. Fiquei revendo as cenas da agressão de Claus em minha mente. Meu corpo doía muito. Dormi acordando várias vezes...





Capítulo 26 - O confronto

Entrei no quarto no qual eu estava instalada no palácio de Phillip. Tranquei a porta. Joguei meu corpo na cama, olhei para o teto e deixei minha mente vagar. Não sabia se seria ou não incomodada por alguém. Talvez não. Estava cansada.

Pude observar cada detalhe do quarto. Era assustador. Parecia ter sido decorado para mim. As paredes eram claras, havia um dossel com um tecido fino que deixava a iluminação atravessá-lo. A janela deste quarto parecia ser bem maior que as dos demais.

Todos os tecidos do quarto, lençóis, colchas, cobertas eram delicados e em cores suaves. Parecia que quem decorou este quarto esteve no meu quarto no castelo de meu pai. Fui até as enormes janelas e pude ver Phillip ainda sentado no jardim, apreciando o por do sol.

Resolvi entrar no banheiro e tomar um banho antes da hora do jantar. Entrei na banheira e cheguei a adormecer. Sonhei com imagens dos acontecimentos dos últimos dias. Acordei e saí da banheira. Caminhei para o quarto para me vestir. Após terminar, quando estava arrumando o cabelo em frente ao espelho observei um vulto atrás de mim. 

Levantei num susto e rapidamente identifiquei Claus saindo das sombras: 

- Como ousa entrar aqui sem minha permissão? Depois de tentar colocar Phillip contra mim? Saia daqui ou vou gritar por socorro. 

- Se gritar, estará morta antes de alguém chegar. - ele falou chegando até mim rapidamente, como um borrão e tampando minha boca.- Vou tirar a minha mão, mas você vai conversar baixo comigo!

- O que você quer de mim? Não está satisfeito? Deixe-me em paz! - falei quase sussurrando.

- Vossa Alteza não entendeu bem minhas intenções, então serei bem claro: quero me vingar de Phillip, por ele ter me tirado a presença dele. 

Ainda não sei ao certo se te mato ou te levo para mim. O que a princesa prefere? Nem tente reagir, posso te matar em segundos e vocês mortais não sabem como nos ferir. A única criatura que poderia te proteger esta distante desse quarto e não confia mais tanto em você.
- ele disse segurando meu pescoço.

- Não morrerei sem lutar - falei pegando uma tesoura e enfiando em sua mão o que o fez me soltar, mas não consegui correr, pois ele me pegou rapidamente e me arremessou contra uma parede. Caí no chão, próximo à comoda, derrubando as coisas que estavam sobre ela no chão.

O barulho poderia ter chamado a atenção de alguém, pensei. Mas ele já estava vindo novamente em minha direção, agarrando meus cabelos para me colocar de pé. Tentei me soltar batendo nele, era inútil. Vi Phillip atravessar a porta, quase num borrão, desacordei quando minha cabeça atingiu o chão, após Claus me lançar  do outro lado do quarto.


abril 21, 2024

Capítulo 25 - Revelações

Sentada na biblioteca, com os olhos de Phillip me julgando pelo que fiz, pensei em sair correndo, mas não teria como. Tentei raciocinar uma saída:
- Por que você deixou escapar de Claus Deidrich para mim? Quando estava aqui, com você doente? O que você queria que eu fizesse? Que apenas assistisse sua morte? Qual teria sido o propósito de permitir que eu e o Rei viessemos? - falei tudo, como se estivesse preso no fundo de minha garganta.
Phillip se afastou de minha poltrona, virou-se como se estivesse pensando na melhor resposta. Mas ele não teve tempo.
- Você praticamente me induziu a ir atrás de Claus. Era como se estivesse me pedindo para que eu o procurasse para que ele te salvasse. - vomitei esse final me levantando e caminhando em direção à porta.
Ele pegou minha mão e saiu pela porta comigo, descendo as escadas e saindo pela porta da frente.
Eu não havia percebido que ainda era dia e fiquei aterrorizada, pois o príncipe sequer se abalou pela claridade...
- O que? Como é possível? Sua Alteza me falou que o sol era mortal... comecei a gaguejar com o coração disparando.
- Há muitas coisas que minha linda e doce noiva ainda não sabe. Pois comecemos das mais importantes. Posso ter te induzido a procurar a minha cura, mas jamais faria isso de forma consciente. Achei que Claus me odiava e poderia ter te matado. Por isso nada mais será escondido de você. Estou aqui fora no sol, porque há muitos anos fiz um pacto com uma bruxa para que ela lançasse esse feitiço sobre meu reino, para que eu pudesse apreciar os jardins ao seu lado.
- Por isso que toda vez que atravesso as suas fronteiras eu passo mal? É um feitiço.
- Eu não sabia que você o sentia assim. O que você sente? - ele perguntou segurando meus pulsos para que eu ficasse de frente para ele.
- É com se eu tivesse comido algo que me fez mal, da última vez cheguei a vomitar. - falei sem querer olhar diretamente para o rosto de Phillip, olhava para o chão...
Ele colocou uma de suas mãos sob meu queixo, levantando minha cabeça para que eu conseguisse olhar em seus olhos.
- Depois do casamento você não terá mais que atravessar as fronteiras, não terá mais problemas com o feitiço. Você pode me falar do que aconteceu em Paris? O preço da minha cura foi só um beijo? Não confio em Claus, não acredito que ele se contentou só com um beijo.... - ele falou com a voz um pouco mais dura.
- Não sei o que ele te contou, mas para mim ele só pediu um beijo. Ele sequer me deu tempo de fugir, assim que falou o que precisava ser feito, ele me agarrou e não me deu tempo para nada... - falei abaixando a cabeça.
Phillip me soltou, caminhou alguns paços para longe e soltou:
- Desgraçado!
- Mas eu o teria beijado cem vezes se este fosse o preço pela sua cura. - falei virando para entrar no castelo, corri pelas escadas até meu quarto e senti as lágrimas escorrendo pelo meu rosto.


abril 12, 2024

Capítulo 24 - A Bronca

Fui acordada na manhã seguinte por minha aia, com muita dor de cabeça e uma tonteira forte. Disfarcei o mal estar e perguntei onde estavam Claus e Phillip. Ela disse que não sabia onde eles estavam. Levantei, troquei de roupa e segui pelo corredor até o quarto de Phillip, que estava vazio. 

Voltei ao meu quarto e perguntei a Ane onde estava o Rei e ela falou que ele me aguardava para o café da manhã, no salão de jantar. Apressei meu passo e desci as escadas em direção ao salão de jantar. Onde encontrei meu pai, Claus e Phillip, tomando o café da manhã e conversando animadamente.

Para minha surpresa, Claus havia se apresentado como médico. Meu pai jamais saberia o que ocorreu. Nunca saberia que eu fui à Paris para buscar um vampiro para salvar a vida de meu noivo vampiro. A ignorância era uma benção. 

Com tudo que vivi até aqui, meus pesadelos estavam sempre comigo, desde a primeira noite em que o príncipe entrou em nosso reino. Mas eu preferia os pesadelos, desde que ele estivesse comigo. Os três olharam diretamente para mim, quando atravessei a porta e sentei ao lado do meu pai.

Ainda não estava bem do estômago, por isso acabei comendo só as frutas. Embora o rei me julgasse com seu olhar. Ao terminarmos o café, meu pai pediu licença ao príncipe e seu convidado, pois precisava falar comigo.

- Podemos conversar? - ele estendeu gentilmente sua mão para que eu a pegasse e pudesse acompanhá-lo.

Levantei, pedindo licença. O rei e eu fomos até a biblioteca. Onde o rei começou seu discurso:
- Seu noivo estava doente e você, uma menina de 17 anos, achou uma boa idéia ir até Paris para fazer compras?
- Papai, eu fui a Paris, pois ao falar com Phillip, ele me falou que estava doente e o casamento iria demorar, que eu poderia cuidar de outros detalhes para o casamento, já que ele seria adiado. - criei a pior desculpa que podia, mas talvez funcionasse.
Ele caminhava por entre as poltronas de couro preto, chegando até a que eu estava sentada. Ele se curvou em minha direção e falou:
- Você não viaja sem minha autorização, nem pode. Mesmo com sua aia. Preciso que você diga se entendeu? A partir de hoje você ficará dentro dos portões do castelo e, até o casamento, vai ser vigiada por dois soldados. - ele se afastou.
- Peço desculpas, Majestade. Não vou desobedecê-lo. - falei engolindo em seco.
- Ótimo. Após se casar as regras serão de Phillip, mas até lá, você obedece ao seu rei. Ainda que seu noivo tenha lhe permitido, eu não deixei. -  neste momento ouvimos uma batida na porta. - Sim. Pode entrar - respondeu o rei
Phillip entrou pela porta e perguntou a meu pai se poderia falar comigo. Meu coração disparou. Acho que agora a bronca seria mais terrível.
- Vou deixá-los a sós. - falou o rei saindo e fechando a porta atrás de si, enquanto tentei levantar da poktrona onde estava, sem sucesso, pois Phillip se curvou em minha direção:
- Você foi a Paris e trouxe Claus? Como você fez isso? Ele jamais viria. O que você falou? Ou o que ele te pediu enm troca de salvar a minha vida? Por que você se colocou em risco? - ele disparou com um ar nervoso e uma voz quase sussurrada.
Tentei respirar, mas o ar não vinha.
- Eu... eu achei... você podia morrer.... - balbuciei quase num gaguejo.
- Estou vivo, mas o sangue de Claus tem um preço e ele me odeia, disse que você já pagou o preço. - ele falou se aproximando mais de meu rosto, pude sentir o hálito gelado dele perto de meu rosto.
- Ele falou o que ele fez? - perguntei com a voz falhando
- Ele me falou do seu preço, um beijo de minha jovem doce e bela noiva. Você o beijou? - Ele perguntou com os olhos fixos nos meus
- Ele me beijou, não tive tempo sequer de responder. E o beijaria outras vezes se isso fosse salvar você. - falei abaixando meu rosto para meu colo.
Ele pegou meu queixo e levantou minha cabeça para que eu olhasse em seus olhos:
- Você não pode colocar sua vida em risco. Claus é perigoso e se ele te matasse eu não conseguiria continuar vivo.


 

Capítulo 23 - A cura

Subi para o quarto onde estava antes hospedada. Enquanto isso, o servo de Phillip levou Claus ao quarto do príncipe. Cheguei a vê-lo entrar no quarto. Embora estivesse curiosa para entender a cura, ouvi os gemidos de Phillip e pude ouvir os passos quase silenciosos de Claus e resolvi entrar no meu quarto.

Entrei no quarto, mas ainda estava muito curiosa e corri até o corredor. Cheguei até a porta entreaberta do quarto de Phillip e ouvi parte da conversa de Claus com Phillip, que mais balbuceava do que respondia.

Pude ver quando Claus retirou do bolso uma pequena adaga e cortou o pulso, que imediatamente começou a sangrar. Ele colocou o pulso sobre a boca aberta de Phillip, para que ele bebesse de seu sangue. A cena me embrulhou o estômago e caí de joelhos batendo na porta do quarto.

Claus rapidamente virou para olhar bem em minha direção, não aguentei e praticamente vomitando, enquanto ele falou com uma voz grave e suave: 
- Como sua alteza pressentiu que Phillip estava bem perto da morte?

Levantei minha cabeça para encarar seus olhos e respondi:
- Não sabia que vampiros podiam morrer. Foi assim que você o transformou em vampiro? - perguntei sem muito interesse, o estômago ainda embrulhado.

Enquanto Phillip bebia do sangue, Claus prosseguiu falando, como se não tivesse um vampiro sedento sugando seu pulso.
- Não, antes eu bebi todo o sangue dele, depois eu fiz isso.

Levantei-me num susto, com uma injeção de adrenalina, e saí correndo, para o meu quarto, tranquei a porta e resolvi tomar um banho quente e talvez tentar apagar as cenas de minha mente.

Deitei na cama, olhando em volta naquele quarto lindo, que parecia feito para mim. Aos poucos o sono foi chegando e dormi profundamente. Um sono como há muito tempo eu já não tinha. Tive sonhos bons e outros assustadores. 

Capítulo 22 - A viagem de volta

No caminho para o porto, Ane ficou calada. Na enorme mansão de Claus ela havia sido separada de mim. O servo de Claus a colocou sentada em outra sala enquanto eu conversava com ele. Mas não sei se o servo disse-lhe algo que a deixou atordoada, mas havia um silêncio gélido:
- O que houve, Ane? Aconteceu algo com você enquanto eu falava com Claus? - falei pegando em suas mãos.
Ela continuou com a cabeça baixa, mas pude ver uma lágrima escorrer de seus olhos:
- Alteza, o servo de Claus, Eduard, lançou algum feitiço enquanto eu estava com ele... - um arrepio percorreu meu corpo
- Como assim? O que houve? - perguntei nervosa
- Ele me perguntou por que uma princesa como a senhora precisava de uma aia acompanhando-a nesta viagem. Ele falou que só princesas muito novas precisam da companhia constante de uma aia. Eu tentei não responder, mas acabei falando a ele a sua idade e detalhes sobre sua alteza que eu jamais falaria a ninguém, me desculpe... - ela abaixou a cabeça para o seu colo. - a essa altura certamente Claus já tinha absolutamente todas as informações ao meu respeito.

O porto de Nantes parecia sombrio àquela hora da noite. Mas Claus estava aguardando na porta da charrete assim que paramos. O servo dele ajudou a carregar as bagagens e ele, eu e Ane seguimos em direção a um navio que parecia pronto a zarpar.

Claus explicou que vampiros não podiam viajar como os humanos, seu servo não iria, então ele precisaria passar a mim algumas orientações sobre sua viagem. Ele então deu ordens ao seu servo de nos instalar em nossa cabine e se despediu entregando-me uma rosa vermelha e um bilhete, pedindo para que eu só o abrisse quando o navio desatracasse do porto. 

Chegando na cabine, sentei ao lado de Ane que ainda tremia pela nossa conversa na charrete. Mas segurei suas mãos e a acalmei:

- Ficará tudo bem.

Ouvi os apitos do navio e percebi seu leve balanço o que indicava que já estávamos navegando. Abri o bilhete, ainda com a rosa em mãos e comecei a ler:

Minha doce Princesa,
Como você já sabe o que sou, não precisamos de maiores explicações. Vampiros viajam longos trajetos em seus caixões e o meu foi despachado por meu servo e está nos porões deste navio. 
Enquanto eu estiver dentro de meu caixão nem eu, nem os mortais do navio correm risco. 
Contudo, para que eu permaneça trancado, e não termos uma enorme quantidade de passageiros e tripulantes mortos. Desça até o porão, pouse a rosa sobre o meu caixão, isso me manterá preso dentro dele e evitará também que eu me exponha acidentalmente ao sol.

Obrigado.
Claus Deidrich

 Assim que terminei a leitura do bilhete, saí da cabine com a rosa nas mãos e seguida pela minha Aia. Apavorada pela imagem que rapidamente surgiu na minha mente dos corredores do navio cheios de corpos.

Desci as escadas até o porão e pude localizar o caixão devidamente colocado dentre as demais caixas. Coloquei a rosa sobre a tampa, de forma que ela não caísse, nem saísse da posição. Durante toda a viagem, desci algumas vezes para conferir se ela permanecia na posição correta. 

O resto do tempo, dentro do navio, dormi. Todos os acontecimentos dos últimos dias pareciam ter retirado as minhas forças e eu precisaria estar bem para quando Phillip se recuperasse.

Depois de duas semanas o navio atracou. Era uma noite chuvosa e assustadoramente já havia uma charrete nos aguardando no porto. Um servo colocou nossas malas na charrete, enquanto outro entrou no navio. Após alguns minutos o que entrou no navio saiu do navio acompanhado de Claus, que caminhava pacientemente em direção a nós.

Novamente a sensação de pavor percorreu minha espinha. Claus ainda tinha um sorriso, dessa vez parecia mais assustador que das outras vezes. Subimos na charrete e seguimos para o castelo de Phillip. Ao atravessarmos as fronteiras do reino, fui atingida pela sensação nauseante de outrora, começou a escorrer sangue do meu nariz. 

Claus afastou a cortina da charrete e sussurrou: - Interessante, há algo estranho no ar, algum tipo de magia.

Quando a charrete parou na entrada do castelo, ainda estava fraca do mal estar e Claus me retirou da charrete, carregando-me no colo. Entramos no castelo, ele me colocou no chão ao encontrar de frente com o Rei.

- Papai! - falei com um ar mais alegre.

- Sua alteza, descanse! Amanhã precisamos conversar. - meu pai falou com um tom rígido.