maio 01, 2024

Capítulo 30 - Paixão

Acordei no horário do almoço, quase sem dores. Pensei do que seria aquele chá, que Phillip fez minha aia me servir no café. Resolvi pedir a ajuda de Ane para me trocar, eu gostaria de descer para almoçar fora do quarto na companhia do Rei e do Príncipe. Tomei um banho, coloquei um vestido e desci as escadas na companhia de minha aia.
Sentei à mesa para almoçar. Ambos olharam curiosos para mim, pois há dois dias eu não tinha condições de descer as escadas. Precisava pedir ao Rei que adiasse o casamento. Minha mente estava confusa, aterrorizada e eu precisava me recuperar fisica e emocionalmente. Conversamos durante o almoço e o Rei concordou. Adiaríamos até que eu estivesse bem. Phillip por sua vez parecia impaciente, mas entendia que eu não estava bem.
Resolvi caminhar pelo jardim com Ane logo após o almoço. Percebi que o príncipe tentava chegar até nós. O dia ainda estava claro, ensolarado. Fiquei sem ar pensando que o sol poderia matá-lo. Ane me segurou para que eu não caísse. Phillip me pegou pelo outro braço e pediu licença para que Ane nos deixasse a sós. 
- O que houve? Por que você está tendo um ataque de pânico? - ele falou num sussurro enquanto observava minha aia se afastar.
- V...você está andando sob o sol... c...como? - falei sem conseguir respirar
- Eu tentei explicar no outro dia. Há alguns anos chamei um bruxo para fazer um encantamento que me permitisse andar sob o sol. Eu queria poder ver o nascer do sol e o pôr do sol com você. - ele falou me segurando pela cintura enquanto eu recuperava a respiração - é magia, mas só vai até as fronteiras de meu reino. Você está bem?
- Não, ainda sinto dores... ainda estou com medo. - falei de forma seca
- Quer entrar? - ele perguntou ainda me segurando para que eu não caísse
- Ainda não. - respondi tentando me afastar.
- Bom, ainda tem algo que eu gostaria de perguntar a Sua Alteza. - ele falou com um leve sorriso no canto dos lábios
- O quê? - questionei sem expressar nada
- A princesa não acha que foi um pouco longe por minha vida? Para uma noiva que até agora não aparentava ter sentimentos por mim... não me dava nenhum sinal de afeto e foi até Paris. Tratando com uma criatura perigosa como Claus. Por que você fez isso? Você nem queria esse casamento... - ele falou olhando para os meus olhos
- E iria mais longe! - respondi me afastando dele
Ele ficou parado com um leve sorriso de satisfação nos lábios olhando para o horizonte. Sentia algo por ele, mas eu ainda não tinha certeza de se era amor. Voltei para o castelo. Ane me acompanhou pelas escadas. Cheguei ao meu quarto, deitei e pedi a minha aia que não permitisse que ninguém me acordasse. Ela então ficou sentada em uma cadeira do lado de fora, como eu pedi.
Cerca de meia hora se passou e pude ouvir minha aia falando com Phillip que eu ordenará que ninguém me atrapalhasse o sono. Dormi até o jantar. Desci para o jantar como havia feito no almoço, acompanhada de Ane. Ao terminar, esperei o rei e o príncipe se afastarem para conversar e subi discretamente com Ane, sem que nenhum deles percebesse. Dessa vez tranquei a porta do quarto e coloquei uma cadeira travando a maçaneta.
Troquei de roupa. Deitei na cama. Quando estava quase adormecendo ouvi um barulho vindo da janela. Abri as cortinas e pude ver Phillip sentado do lado de fora no parapeito da janela. Abri a janela e o mandei entrar.
- O que você estava fazendo lá fora? Como subiu até aqui? - perguntei enquanto caminhava de volta para a cama.
- Por que você está me evitando desde o almoço? - ele perguntou sem olhar para mim
- Perguntei primeiro - falei colocando minha mão sob seu queixo para levantar seu olhar para mim
- Acho que preciso ficar te lembrando que sou um vampiro e posso escalar as paredes do castelo sem sequer me cansar ou cair. - ele falou rapidamente - sua vez!
- Não estou te evitando, nem fugindo de você. Dr. Oliver falou que preciso de repouso e como falei no almoço preciso de um tempo para me recuperar... só de descer as escadas sinto cansaço.
- Sua alteza pode me explicar melhor o que estava me falando mais cedo no jardim? Você disse que iria mais longe para salvar minha vida? - ele perguntou passando sua mão de leve em minha bochecha
- Creio que não há resposta certa para isso. - respondi levantando da cama e caminhando para a janela
Ele levantou rapidamente me seguindo. Chegando próximo à janela ao mesmo tempo que eu. Sem falar nada o abracei e descansei minha cabeça em seu peito largo.
- Não entendo. O que sente por mim? - ele perguntou inalando o cheiro dos meus cabelos.
- Estou confusa... nem eu entendo... mas creio que vou gostar de ser sua rainha.
Senti seu abraço apertar um pouco mais. Ficamos um bom tempo abraçados em silêncio. Pude sentir ele cheirando meus cabelos, enquanto eu tentava aninhar mais meu rosto em seu peito. Era tão agradável estar em seus braços.



Capítulo 29 - Mais verdades

Os primeiros raios de sol iluminaram meu quarto atravessando as brechas nas cortinas. Pude ver Phillip sentado dormindo na poltrona próxima às janelas. Afastei as cobertas, levantei e caminhei silenciosamente até o banheiro. Consegui passar por ele sem acordá-lo. Ele cumpriu mais uma vez a promessa de ficar até o amanhecer vigiando meu sono.
Ao sair do banheiro Phillip estava sentado na ponta da cama, acordado e olhando enquanto eu caminhava do banheiro de volta para a cama.
- Bom dia, como está se sentindo? - ele perguntou com a voz ainda rouca.
- Melhor. Dolorida, mas melhor. Consegui dormir melhor hoje. Preciso voltar para casa. O rei vai acabar ficando irritado com a demora para voltarmos. Primeiro sua doença e agora isso. Estou preocupada com esconder tantas coisas do rei... - falei enquanto deitava de volta na cama e puxava as cobertas sobre mim.
- Ele não vai desconfiar. - ele falou me cobrindo
- O que fez você acreditar em mim? Vir me socorrer quando Claus tentou me matar? - perguntei com um tom irritado - Antes você não acreditou tanto em mim quando te contei sobre o que havia ocorrido em Paris. O que mudou?
- Anteontem, depois que te encontrei coberta de sangue no chão, sem ver o que havia acontecido ou sem sequer ver Claus, imaginei que ele teria feito isso com você, mas você estava desacordada. Eu não tinha como perguntar a você. Claus pode ser violento, mas só quando é contrariado. Imaginei que algo mais poderia ter acontecido em Paris, ele deve ter tentado algo alem do beijo em você. Então, vampiros são excelentes controladores de mentes. Chamei Ane na biblioteca e sob meu controle pedi a ela que me contasse em detalhes sobre a viagem de vocês a Paris. Ela contou tudo. Mortais não mentem quando controlados. Sei que Claus não tentou nada, mas roubou um beijo contra a sua vontade.
- Você não viu Claus me levantando pelos cabelos? Eu vi você entrando pela porta! Não daria tempo dele escapar.
- Vi o momento em que ele te arremessou contra a parede. Talvez da segunda vez... e o lancei pela janela aberta. Ao cair lá embaixo ele correu para a floresta. Ontem, antes da segunda visita do Dr. Oliver eu rastreei Claus com outros soldados meus pela floresta. Ele sumiu. - ele disse pegando minha mão e segurando entre suas mãos.
- Por que você não foi atrás dele quando o viu correndo para a floresta? - perguntei sentando-me na cama, encostada na cabeceira
- Ao ver o sangue nas paredes e em seu vestido... você estava desacordada... eu pensei que você estava morta. Mas vampiros ouvem o coração humano à distância e pude ouvir seu coração batendo, coloquei você na cama e quis ter certeza de que você ficaria bem.
- E se ele conseguisse? E se Claus conseguisse me ferir ao ponto de quase me matar? Você teria coragem de me transformar num de vocês? - perguntei com um pouco de curiosidade.
- E te condenar a uma vida eterna em um mundo que muda muito. Você não suportaria, minha princesa! - ele falou com um tom preocupado. - ele se levantou da cama e caminhou até a porta. - Vou pedir a sua aia que traga seu café da manhã e mais um chá para ajudá-la com as dores.
Minutos após ele sair, Ane entrou com uma bandeja. Comi pouco, pois as dores ainda atrapalhavam demais no meu apetite. Tomei um chá amargo, que me fez sentir muito sono deitei e adormeci.

abril 30, 2024

Capítulo 28 – Recuperando

Os primeiros raios de sol iluminaram meu quarto e pude observar uma silhueta em pé diante da janela. Após o ocorrido no dia anterior, encolhi-me próximo à cabeceira da cama, debaixo das cobertas. Meus olhos embaçados demoraram a mostrar a imagem do Rei, encostado na janela. Ao perceber que eu estava acordada ele falou:
- O que houve ontem? - sua voz saiu quase como um sussurro, enquanto ele caminhava em direção à cama.
- Eu tropecei descendo as escadas. Acho que foi um acidente bobo. - falei tentando justificar minha ausência no jantar. - mas estou bem… um pouco machucada, mas bem
- Minha filha, teremos que voltar para seguir com os preparativos de seu casamento. O príncipe já está melhor, você não fez isso de propósito, fez? - ele falou colocando a mão sobre a minha enquanto sentava na beira da cama, se aproximando de mim.
- Sua Majestade sabe que eu jamais me machucaria para evitar… ou só adiar o casamento, que já está nos seus planos para ocorrer, independente de minha vontade. - falei olhando para as mãos.
- Creio que você tem razão. - ele falou se levantando e caminhando em direção à porta – Assim que Dr. Oliver lhe liberar para viajar, partiremos.
Algum tempo depois da saída do rei, minha aia entrou com uma bandeja de café da manhã. Informando que o príncipe mandou o recado de que ao final da tarde viria me visitar com o médico. Novamente comi muito pouco. A dor das costelas ainda me impedia de me mover completamente. Com a ajuda de Ane consegui tomar um demorado banho de banheira. A água quente parecia um analgésico nos hematomas e cortes.
Logo depois, troquei o vestido com o qual dormi, por uma camisola mais macia. Novamente com a ajuda de Ane, que também refez os curativos e limpou os cortes, aterrorizada.
- Como Sua Alteza conseguiu tantos machucados caindo da escada? - ela falou desembaraçando devagar meus cabelos e passando unguento nos cortes na cabeça.
- Ane, por conta de uma pequena distração me desequilibrei e estas escadas são gigantescas, tentei me segurar, mas não consegui.
Retornei para a cama e deitei. Precisava dormir. Durante a noite foi impossível dormir, a dor e as cenas terríveis da violência. Finalmente adormeci, mas pedi a minha aia para permanecer no quarto comigo. Ela sentou-se numa poltrona próxima da janela e pegou um livro para ler, isso me ajudou a dormir. Embora Ane não pudesse me proteger da ira de Claus, ela ao menos me traria a segurança de que ela gritaria por socorro.
Ao acordar percebi que era noite, levantei da cama num pulo ao perceber que Ane tinha saído do quarto. Eu estava sozinha. Ficar de pé tão rápido, esquecendo de minhas costelas quebradas me deu falta de ar. Segurei numa cadeira para evitar a queda. Ouvi uma batida na porta.
Phillip entrou acompanhado do Dr. Oliver, fazendo uma careta ao perceber que eu estava de pé.
- Vossa Alteza está de pé? - pude ouvir o tom irônico em sua pergunta.
O médico por sua vez, apontou para cama enquanto perguntava:
- Posso examiná-la, Alteza? - sentando-se na cadeira ao lado da cama
Caminhei devagar e voltei para a cama. Deitei devagar, ainda sentia muita dor. Ao apoiar a mão na cama, um dos cortes no braço voltou a sangrar. Pude observar os punhos cerrados de Phillip e suas narinas dilatando, quase como se ele pudesse sentir o cheiro do sangue à distância. Passou-se algum tempo com Dr. Oliver examinando cada ferimento e hematoma. Ele então falou que eu precisava manter o repouso, virou-se para a porta, pediu licença e saiu.
- O príncipe parece tenso com algo… - falei me cobrindo.
Ele se aproximou da cama, pegou meu braço machucado com as mãos e falou:
- Talvez porque aquele maldito quis tirar de mim algo que me pertence. - falou removendo a bandagem, agora encharcada de sangue
- O que você está fazendo? - falei tentando retomar meu braço, sem sucesso, porquê vampiros tinham que ser tão fortes!
- Vou trocar esse curativo. - falou pegando novas bandagens e trocando-as.
- O sangue não está te deixando insano? - perguntei em provocação.
- Seu sangue sempre me deixa insano, mais do que de qualquer outro humano. Você é minha. - ele limpou o corte e envolveu em bandagens limpas, mas lambeu as pontas dos dedos que estavam sujas de sangue, e quando o fez fechou os olhos, como se estivesse lambendo os dedos sujos de doce.
- Isso é assustador. - falei quando ele soltou meu braço e o escondi sob as cobertas.
- Através do sabor do seu sangue sei que você ainda é mortal. Eu caçaria Claus como um animal se ele tivesse te transformado em um de nós. - ele falou abrindo os olhos e olhando diretamente nos meus olhos.
- Há mais alguma coisa que você consiga saber pelo meu sangue? - perguntei com curiosidade.
- Sim, consigo saber o quanto você está sentindo de dor e também um pouco do seu medo. Não se levante. Tente ficar o máximo que puder em repouso. - ele falou baixo, num tom de ordem. - Sei que minutos antes de entrarmos aqui você sentiu uma forte falta de ar. Suas costelas estão quebradas. Você precisa de repouso. Vou me limpar e retorno com seu jantar.
- Não precisa, basta mandar Ane. - falei sentando na cama.
- Não, minha princesa. - ele falou desabotoando as mangas da camisa e o botão no colarinho. - hoje passarei a noite te vigiando, como ontem.
Deitei me recostando no travesseiro. E aguardei. Ele retornou como prometido com o jantar, que não consegui comer muito. E depois sentou-se na poltrona próxima da janela e adormeci com a presença calmante dele ali.

abril 24, 2024

Capítulo 27 - As consequências

Acordei em minha cama com a cabeça latejando. Havia muito sangue no meu vestido. Eu estava sozinha no meu quarto. Ane entrou alguns momentos depois seguida por Phillip. Ele gentilmente pediu licença à minha aia e fechou a porta.
- Entrei em seu quarto, após ouvir um barulho forte e te encontrei no chão. O que houve? - ele falou ansioso.
- Não quero conversar. Minha cabeça dói. - tentei ficar de pé, mas uma tonteira forte me derrubou.
- Você não está bem. Quem te atacou? - ele perguntou enquanto me segurava para que eu não caísse. - Volte para a cama. Vou chamar sua Aia para que ela te ajude a se trocar, todo esse sangue no seu vestido, é seu? Isso pode assustar o Rei.
- Chame Ane, saia daqui! Deixe-me! Chega! - falei sem perceber que as lágrimas escorriam pelo meu rosto.
Ele saiu e logo depois Ane entrou e me ajudou a trocar o vestido manchado por um limpo e me ajudou a limpar meu rosto. Coloquei um chale para tampar as marcas de mão no meu pescoço.
Depois disso Ane arrumou meu cabelo que estava completamente desgrenhado. A cabeça ainda doía, mas eu precisava descer para jantar. Pedi a Ane que falasse ao Rei que eu estava indisposta e que preferia comer em meu quarto. Ela assentiu com a cabeça e saiu do quarto. Sentei encostada na cabeceira da cama, para esperar Ane, mas Phillip chegou no quarto com uma bandeja e dois pratos.
- Vim jantar com Sua Alteza.- ele disse entrando no quarto e fechando a porta atrás de si.
- Não quero conversar. Minha cabeça ainda dói. - falei sem olhar diretamente para ele.
- Mas eu preciso saber o que aconteceu. Até porque Claus desapareceu. Eu estava procurando ele, quando ouvi o barulho assustador de coisas caindo vindo de seu quarto. - ele falou passando a mão em minha bochecha.
- Claus tentou me matar! - falei baixo, pensando que ele não ouviria, mas ele deu um pulo da cama
- Aquele desgraçado fez o que? - ele começou a andar de um lado para o outro no quarto.
- Ele tentou me matar, o sangue no meu vestido, era dele. Eu enfiei uma tesoura na mão dele, para ele soltar meu pescoço. Depois ele me arremeçou contra a parede... o barulho que você ouviu, foi quando eu caí no chão. Pouco antes de te ver entrando pela porta ele me levantou puxando meus cabelos e me arremessou contra outra parede. Ele teria conseguido, se você não tivesse entrado no quarto. Acho que se me arremessasse contra outra parede eu teria morrido. Ele disse que mesmo que eu pedisse socorro para você, você não acreditaria em mim. - falei num sussurro, colocando a mão no rosto de Phillip para que ele olhasse nos meus olhos.
- Tenho que concordar que não gostei da idéia de você ir atrás dele em Paris, mas nunca deixaria de atender a um pedido de socorro da minha princesa. Não sei porque você não gritou. Por que não me chamou?
- Ele me fez acreditar que você não viria, que não confiava mais em mim... - falei olhando para o meu prato.
- Claus é ardiloso e perverso, ele sabia que no momento em que eu ouvisse seu chamado, eu o mataria...- ele falou levantando meu queixo para que eu olhasse em seus olhos - Você é minha! Te defenderei de qualquer um.
- Minha cabeça ainda dói. - falei colocando a mão na cabeça
- Posso ver? - Phillip perguntou caminhando em minha direção. Ele soltou meus cabelos e começou a olhar em minha cabeça - Você está com um corte... Maldito! - pude vê-lo passar a língua nos lábios, poderia ser pelo sangue na ferida - Vou pedir para que nosso médico venha vê-la agora, já volto. - ele saiu correndo e voltou tão rápido quanto saiu.
Não consegui esvaziar o prato, mas comi o suficiente do jantar antes que o médico chegasse.
Phillip pediu para que Ane ficasse dentro do quarto enquanto o médico do reino me examinava. Antes de sair o médico chamou o príncipe de volta.
- Sua alteza, a princesa caiu das escadas? - o médico perguntou curioso, com um olhar preocupado.
- Foi um pequeno acidente na escadaria sim. - Phillip preferiu manter o verdadeiro motivo em segredo.
- Ela está com uma costela quebrada, não muito grave, mas terá que manter o repouso por alguns dias e há um corte em seu braço que já está com curativo, precisa ser trocado amanhã e dois cortes na cabeça. Sem curativos, mas deixei este unguento para passar amanhã. Ela não pode caminhar, recomendo não descer as escadas. Precisará de auxilio de sua Aia para um banho, mas só amanhã.
Pude ver os punhos de Phillip cerrados e sua mandíbula travar. Ele transpareceu ódio pelos olhos.
- Obrigada, Dr. Oliver. - ele disse em voz baixa, entre os dentes.
Assim que o médico saiu, o príncipe pediu para que Ane saísse e não falasse so ocorrido com o Rei, caso ele perguntasse, comentasse que ela tropeçou na escadaria do palácio.
Sozinhos novamente, Phillip se aproximou da cama:
- Hoje vou vigiá-la durante a noite e amanhã também. Não posso correr o risco de Claus voltar para terminar o que começou. 
Um calafrio percorreu pelo meu corpo e sentei na cama, apavorada com a possibilidade de Claus retornar.
- Deite-se, ele não vai voltar. Se voltar, eu estarei aqui para matá-lo. - Phillip falou determinado.
Deitei, mas não consegui adormecer. Fiquei revendo as cenas da agressão de Claus em minha mente. Meu corpo doía muito. Dormi acordando várias vezes...





Capítulo 26 - O confronto

Entrei no quarto no qual eu estava instalada no palácio de Phillip. Tranquei a porta. Joguei meu corpo na cama, olhei para o teto e deixei minha mente vagar. Não sabia se seria ou não incomodada por alguém. Talvez não. Estava cansada.

Pude observar cada detalhe do quarto. Era assustador. Parecia ter sido decorado para mim. As paredes eram claras, havia um dossel com um tecido fino que deixava a iluminação atravessá-lo. A janela deste quarto parecia ser bem maior que as dos demais.

Todos os tecidos do quarto, lençóis, colchas, cobertas eram delicados e em cores suaves. Parecia que quem decorou este quarto esteve no meu quarto no castelo de meu pai. Fui até as enormes janelas e pude ver Phillip ainda sentado no jardim, apreciando o por do sol.

Resolvi entrar no banheiro e tomar um banho antes da hora do jantar. Entrei na banheira e cheguei a adormecer. Sonhei com imagens dos acontecimentos dos últimos dias. Acordei e saí da banheira. Caminhei para o quarto para me vestir. Após terminar, quando estava arrumando o cabelo em frente ao espelho observei um vulto atrás de mim. 

Levantei num susto e rapidamente identifiquei Claus saindo das sombras: 

- Como ousa entrar aqui sem minha permissão? Depois de tentar colocar Phillip contra mim? Saia daqui ou vou gritar por socorro. 

- Se gritar, estará morta antes de alguém chegar. - ele falou chegando até mim rapidamente, como um borrão e tampando minha boca.- Vou tirar a minha mão, mas você vai conversar baixo comigo!

- O que você quer de mim? Não está satisfeito? Deixe-me em paz! - falei quase sussurrando.

- Vossa Alteza não entendeu bem minhas intenções, então serei bem claro: quero me vingar de Phillip, por ele ter me tirado a presença dele. 

Ainda não sei ao certo se te mato ou te levo para mim. O que a princesa prefere? Nem tente reagir, posso te matar em segundos e vocês mortais não sabem como nos ferir. A única criatura que poderia te proteger esta distante desse quarto e não confia mais tanto em você.
- ele disse segurando meu pescoço.

- Não morrerei sem lutar - falei pegando uma tesoura e enfiando em sua mão o que o fez me soltar, mas não consegui correr, pois ele me pegou rapidamente e me arremessou contra uma parede. Caí no chão, próximo à comoda, derrubando as coisas que estavam sobre ela no chão.

O barulho poderia ter chamado a atenção de alguém, pensei. Mas ele já estava vindo novamente em minha direção, agarrando meus cabelos para me colocar de pé. Tentei me soltar batendo nele, era inútil. Vi Phillip atravessar a porta, quase num borrão, desacordei quando minha cabeça atingiu o chão, após Claus me lançar  do outro lado do quarto.


abril 21, 2024

Capítulo 25 - Revelações

Sentada na biblioteca, com os olhos de Phillip me julgando pelo que fiz, pensei em sair correndo, mas não teria como. Tentei raciocinar uma saída:
- Por que você deixou escapar de Claus Deidrich para mim? Quando estava aqui, com você doente? O que você queria que eu fizesse? Que apenas assistisse sua morte? Qual teria sido o propósito de permitir que eu e o Rei viessemos? - falei tudo, como se estivesse preso no fundo de minha garganta.
Phillip se afastou de minha poltrona, virou-se como se estivesse pensando na melhor resposta. Mas ele não teve tempo.
- Você praticamente me induziu a ir atrás de Claus. Era como se estivesse me pedindo para que eu o procurasse para que ele te salvasse. - vomitei esse final me levantando e caminhando em direção à porta.
Ele pegou minha mão e saiu pela porta comigo, descendo as escadas e saindo pela porta da frente.
Eu não havia percebido que ainda era dia e fiquei aterrorizada, pois o príncipe sequer se abalou pela claridade...
- O que? Como é possível? Sua Alteza me falou que o sol era mortal... comecei a gaguejar com o coração disparando.
- Há muitas coisas que minha linda e doce noiva ainda não sabe. Pois comecemos das mais importantes. Posso ter te induzido a procurar a minha cura, mas jamais faria isso de forma consciente. Achei que Claus me odiava e poderia ter te matado. Por isso nada mais será escondido de você. Estou aqui fora no sol, porque há muitos anos fiz um pacto com uma bruxa para que ela lançasse esse feitiço sobre meu reino, para que eu pudesse apreciar os jardins ao seu lado.
- Por isso que toda vez que atravesso as suas fronteiras eu passo mal? É um feitiço.
- Eu não sabia que você o sentia assim. O que você sente? - ele perguntou segurando meus pulsos para que eu ficasse de frente para ele.
- É com se eu tivesse comido algo que me fez mal, da última vez cheguei a vomitar. - falei sem querer olhar diretamente para o rosto de Phillip, olhava para o chão...
Ele colocou uma de suas mãos sob meu queixo, levantando minha cabeça para que eu conseguisse olhar em seus olhos.
- Depois do casamento você não terá mais que atravessar as fronteiras, não terá mais problemas com o feitiço. Você pode me falar do que aconteceu em Paris? O preço da minha cura foi só um beijo? Não confio em Claus, não acredito que ele se contentou só com um beijo.... - ele falou com a voz um pouco mais dura.
- Não sei o que ele te contou, mas para mim ele só pediu um beijo. Ele sequer me deu tempo de fugir, assim que falou o que precisava ser feito, ele me agarrou e não me deu tempo para nada... - falei abaixando a cabeça.
Phillip me soltou, caminhou alguns paços para longe e soltou:
- Desgraçado!
- Mas eu o teria beijado cem vezes se este fosse o preço pela sua cura. - falei virando para entrar no castelo, corri pelas escadas até meu quarto e senti as lágrimas escorrendo pelo meu rosto.


abril 12, 2024

Capítulo 24 - A Bronca

Fui acordada na manhã seguinte por minha aia, com muita dor de cabeça e uma tonteira forte. Disfarcei o mal estar e perguntei onde estavam Claus e Phillip. Ela disse que não sabia onde eles estavam. Levantei, troquei de roupa e segui pelo corredor até o quarto de Phillip, que estava vazio. 

Voltei ao meu quarto e perguntei a Ane onde estava o Rei e ela falou que ele me aguardava para o café da manhã, no salão de jantar. Apressei meu passo e desci as escadas em direção ao salão de jantar. Onde encontrei meu pai, Claus e Phillip, tomando o café da manhã e conversando animadamente.

Para minha surpresa, Claus havia se apresentado como médico. Meu pai jamais saberia o que ocorreu. Nunca saberia que eu fui à Paris para buscar um vampiro para salvar a vida de meu noivo vampiro. A ignorância era uma benção. 

Com tudo que vivi até aqui, meus pesadelos estavam sempre comigo, desde a primeira noite em que o príncipe entrou em nosso reino. Mas eu preferia os pesadelos, desde que ele estivesse comigo. Os três olharam diretamente para mim, quando atravessei a porta e sentei ao lado do meu pai.

Ainda não estava bem do estômago, por isso acabei comendo só as frutas. Embora o rei me julgasse com seu olhar. Ao terminarmos o café, meu pai pediu licença ao príncipe e seu convidado, pois precisava falar comigo.

- Podemos conversar? - ele estendeu gentilmente sua mão para que eu a pegasse e pudesse acompanhá-lo.

Levantei, pedindo licença. O rei e eu fomos até a biblioteca. Onde o rei começou seu discurso:
- Seu noivo estava doente e você, uma menina de 17 anos, achou uma boa idéia ir até Paris para fazer compras?
- Papai, eu fui a Paris, pois ao falar com Phillip, ele me falou que estava doente e o casamento iria demorar, que eu poderia cuidar de outros detalhes para o casamento, já que ele seria adiado. - criei a pior desculpa que podia, mas talvez funcionasse.
Ele caminhava por entre as poltronas de couro preto, chegando até a que eu estava sentada. Ele se curvou em minha direção e falou:
- Você não viaja sem minha autorização, nem pode. Mesmo com sua aia. Preciso que você diga se entendeu? A partir de hoje você ficará dentro dos portões do castelo e, até o casamento, vai ser vigiada por dois soldados. - ele se afastou.
- Peço desculpas, Majestade. Não vou desobedecê-lo. - falei engolindo em seco.
- Ótimo. Após se casar as regras serão de Phillip, mas até lá, você obedece ao seu rei. Ainda que seu noivo tenha lhe permitido, eu não deixei. -  neste momento ouvimos uma batida na porta. - Sim. Pode entrar - respondeu o rei
Phillip entrou pela porta e perguntou a meu pai se poderia falar comigo. Meu coração disparou. Acho que agora a bronca seria mais terrível.
- Vou deixá-los a sós. - falou o rei saindo e fechando a porta atrás de si, enquanto tentei levantar da poktrona onde estava, sem sucesso, pois Phillip se curvou em minha direção:
- Você foi a Paris e trouxe Claus? Como você fez isso? Ele jamais viria. O que você falou? Ou o que ele te pediu enm troca de salvar a minha vida? Por que você se colocou em risco? - ele disparou com um ar nervoso e uma voz quase sussurrada.
Tentei respirar, mas o ar não vinha.
- Eu... eu achei... você podia morrer.... - balbuciei quase num gaguejo.
- Estou vivo, mas o sangue de Claus tem um preço e ele me odeia, disse que você já pagou o preço. - ele falou se aproximando mais de meu rosto, pude sentir o hálito gelado dele perto de meu rosto.
- Ele falou o que ele fez? - perguntei com a voz falhando
- Ele me falou do seu preço, um beijo de minha jovem doce e bela noiva. Você o beijou? - Ele perguntou com os olhos fixos nos meus
- Ele me beijou, não tive tempo sequer de responder. E o beijaria outras vezes se isso fosse salvar você. - falei abaixando meu rosto para meu colo.
Ele pegou meu queixo e levantou minha cabeça para que eu olhasse em seus olhos:
- Você não pode colocar sua vida em risco. Claus é perigoso e se ele te matasse eu não conseguiria continuar vivo.


 

Capítulo 23 - A cura

Subi para o quarto onde estava antes hospedada. Enquanto isso, o servo de Phillip levou Claus ao quarto do príncipe. Cheguei a vê-lo entrar no quarto. Embora estivesse curiosa para entender a cura, ouvi os gemidos de Phillip e pude ouvir os passos quase silenciosos de Claus e resolvi entrar no meu quarto.

Entrei no quarto, mas ainda estava muito curiosa e corri até o corredor. Cheguei até a porta entreaberta do quarto de Phillip e ouvi parte da conversa de Claus com Phillip, que mais balbuceava do que respondia.

Pude ver quando Claus retirou do bolso uma pequena adaga e cortou o pulso, que imediatamente começou a sangrar. Ele colocou o pulso sobre a boca aberta de Phillip, para que ele bebesse de seu sangue. A cena me embrulhou o estômago e caí de joelhos batendo na porta do quarto.

Claus rapidamente virou para olhar bem em minha direção, não aguentei e praticamente vomitando, enquanto ele falou com uma voz grave e suave: 
- Como sua alteza pressentiu que Phillip estava bem perto da morte?

Levantei minha cabeça para encarar seus olhos e respondi:
- Não sabia que vampiros podiam morrer. Foi assim que você o transformou em vampiro? - perguntei sem muito interesse, o estômago ainda embrulhado.

Enquanto Phillip bebia do sangue, Claus prosseguiu falando, como se não tivesse um vampiro sedento sugando seu pulso.
- Não, antes eu bebi todo o sangue dele, depois eu fiz isso.

Levantei-me num susto, com uma injeção de adrenalina, e saí correndo, para o meu quarto, tranquei a porta e resolvi tomar um banho quente e talvez tentar apagar as cenas de minha mente.

Deitei na cama, olhando em volta naquele quarto lindo, que parecia feito para mim. Aos poucos o sono foi chegando e dormi profundamente. Um sono como há muito tempo eu já não tinha. Tive sonhos bons e outros assustadores. 

Capítulo 22 - A viagem de volta

No caminho para o porto, Ane ficou calada. Na enorme mansão de Claus ela havia sido separada de mim. O servo de Claus a colocou sentada em outra sala enquanto eu conversava com ele. Mas não sei se o servo disse-lhe algo que a deixou atordoada, mas havia um silêncio gélido:
- O que houve, Ane? Aconteceu algo com você enquanto eu falava com Claus? - falei pegando em suas mãos.
Ela continuou com a cabeça baixa, mas pude ver uma lágrima escorrer de seus olhos:
- Alteza, o servo de Claus, Eduard, lançou algum feitiço enquanto eu estava com ele... - um arrepio percorreu meu corpo
- Como assim? O que houve? - perguntei nervosa
- Ele me perguntou por que uma princesa como a senhora precisava de uma aia acompanhando-a nesta viagem. Ele falou que só princesas muito novas precisam da companhia constante de uma aia. Eu tentei não responder, mas acabei falando a ele a sua idade e detalhes sobre sua alteza que eu jamais falaria a ninguém, me desculpe... - ela abaixou a cabeça para o seu colo. - a essa altura certamente Claus já tinha absolutamente todas as informações ao meu respeito.

O porto de Nantes parecia sombrio àquela hora da noite. Mas Claus estava aguardando na porta da charrete assim que paramos. O servo dele ajudou a carregar as bagagens e ele, eu e Ane seguimos em direção a um navio que parecia pronto a zarpar.

Claus explicou que vampiros não podiam viajar como os humanos, seu servo não iria, então ele precisaria passar a mim algumas orientações sobre sua viagem. Ele então deu ordens ao seu servo de nos instalar em nossa cabine e se despediu entregando-me uma rosa vermelha e um bilhete, pedindo para que eu só o abrisse quando o navio desatracasse do porto. 

Chegando na cabine, sentei ao lado de Ane que ainda tremia pela nossa conversa na charrete. Mas segurei suas mãos e a acalmei:

- Ficará tudo bem.

Ouvi os apitos do navio e percebi seu leve balanço o que indicava que já estávamos navegando. Abri o bilhete, ainda com a rosa em mãos e comecei a ler:

Minha doce Princesa,
Como você já sabe o que sou, não precisamos de maiores explicações. Vampiros viajam longos trajetos em seus caixões e o meu foi despachado por meu servo e está nos porões deste navio. 
Enquanto eu estiver dentro de meu caixão nem eu, nem os mortais do navio correm risco. 
Contudo, para que eu permaneça trancado, e não termos uma enorme quantidade de passageiros e tripulantes mortos. Desça até o porão, pouse a rosa sobre o meu caixão, isso me manterá preso dentro dele e evitará também que eu me exponha acidentalmente ao sol.

Obrigado.
Claus Deidrich

 Assim que terminei a leitura do bilhete, saí da cabine com a rosa nas mãos e seguida pela minha Aia. Apavorada pela imagem que rapidamente surgiu na minha mente dos corredores do navio cheios de corpos.

Desci as escadas até o porão e pude localizar o caixão devidamente colocado dentre as demais caixas. Coloquei a rosa sobre a tampa, de forma que ela não caísse, nem saísse da posição. Durante toda a viagem, desci algumas vezes para conferir se ela permanecia na posição correta. 

O resto do tempo, dentro do navio, dormi. Todos os acontecimentos dos últimos dias pareciam ter retirado as minhas forças e eu precisaria estar bem para quando Phillip se recuperasse.

Depois de duas semanas o navio atracou. Era uma noite chuvosa e assustadoramente já havia uma charrete nos aguardando no porto. Um servo colocou nossas malas na charrete, enquanto outro entrou no navio. Após alguns minutos o que entrou no navio saiu do navio acompanhado de Claus, que caminhava pacientemente em direção a nós.

Novamente a sensação de pavor percorreu minha espinha. Claus ainda tinha um sorriso, dessa vez parecia mais assustador que das outras vezes. Subimos na charrete e seguimos para o castelo de Phillip. Ao atravessarmos as fronteiras do reino, fui atingida pela sensação nauseante de outrora, começou a escorrer sangue do meu nariz. 

Claus afastou a cortina da charrete e sussurrou: - Interessante, há algo estranho no ar, algum tipo de magia.

Quando a charrete parou na entrada do castelo, ainda estava fraca do mal estar e Claus me retirou da charrete, carregando-me no colo. Entramos no castelo, ele me colocou no chão ao encontrar de frente com o Rei.

- Papai! - falei com um ar mais alegre.

- Sua alteza, descanse! Amanhã precisamos conversar. - meu pai falou com um tom rígido.


março 30, 2024

Capítulo 21 - Encontro com Claus

Depois de mais de uma hora, finalmente o desfecho da ópera e as luzes do teatro se acenderam. Olhei para o camarote a frente, mas ele estava vazio. "Droga"- pensei comigo. Ane e eu nos dirigimos para a saída e já descíamos a escadaria quando senti uma mão pegar meu cotovelo:

- Podemos ir a algum lugar para conversarmos? - Claus perguntou enquanto eu me virava para ver quem havia me tocado.

Antes que eu pudesse responder Ane se antecipou:

- Sim, podemos.

Um calafrio e medo percorreram meu corpo. Estava feito. Encontrei Claus. Precisava da cura de Phillip, rápido. Ele então apontou para uma bela carruagem com belos corcéis negros parada a nossa frente:

- Podem me acompanhar em minha charrete? - ele deu a mão a Ane e depois a mim para subirmos na charrete.

A viagem foi relativamente curta e logo paramos em frente a uma enorme mansão, provavelmente sua residência. Acompanhando-nos para dentro, pude perceber a mesma decoração fúnebre do castelo de Philip. Velas e uma lareira iluminavam uma enorme sala com sofás de couro preto. As cortinas cobriam completamente as janelas impedindo qualquer iluminação externa. Sentei num dos sofás, enquanto Claus foi até um aparador para servir alguma bebida. Sentando-se ao meu lado com uma taça na mão ele começou:

- Qual o seu nome, bela jovem? Você não é de Paris, não?
- Você deve ser Claus, certo? Meu nome prefiro não falar... - respondi tentando me afastar dele.
- O que você veio fazer aqui? O que sabe de mim? - ele perguntou segurando meu braço irritado.
- Sei que provavelmente estou arriscando minha vida, mas vim a Paris atrás de você, Sr. Claus Deidrich. - tentei me desvencilhar de sua mão.
- O que sabe sobre mim? Arriscar sua vida? Estou curioso. - falou ele me soltando e colocando a taça sobre a mesa após esvazia-la em um único gole.
- Sei muito sobre você. - respondi nitidamente tensa
Ele voltou a segurar-me, agora nos pulsos, com uma força sobre-humana.
- O que você sabe sobre mim?
- Sei que você é um vampiro. - falei tentando esconder meu medo.
- Mas veio atrás de mim mesmo sabendo que posso te esmagar como um inseto, ou beber até a última gota de seu sangue em segundos? - ele falou com um sorriso macabro nos lábios.
- Porque só você pode responder a uma pergunta que pode salvar a vida de um velho amigo. O que acha? - falei ainda tentando me soltar.
- Então você deve conhecer Phillip. Quer que eu responda a pergunta da carta dele? Ele andou bebendo sangue de forma errada.... De onde você o conhece? Por que uma bela jovem como você se arriscaria pela vida de um vampiro? - ele falou com outro sorriso, agora malicioso, nos lábios
- Sim, preciso dessa resposta. Mas as suas perguntas infelizmente não poderei responder. Tenho medo de você, mas se me matar Phillip te caçará como um animal e te matará... - falei tentando demonstrar segurança.
- Então você deve ser a princesa que povoava os sonhos de Phillip. Você é valiosa para ele, não é? - ele falou se levantando e me olhando de cima a baixo.
- O que você vai fazer, Claus? Irá me matar ou me dará a resposta que pode curar Phillip? - falei me levantando e caminhando em direção à porta.
Ele rapidamente surgiu na minha frente me impedindo de sair.
- Tenho que pensar. Você é tão bela - ele falou pegando uma mecha do meu cabelo e enrolando em seu dedo, podia sentir seu hálito frio perto de meu rosto. - tão corajosa! Ah, sem dúvidas você é a princesa que ele chamava enquanto dormia... acho que vou te dar a resposta que você procura, mas vou querer algo em troca.
Droga, eu não esperava ter que negociar com um vampiro, mas eu precisava salvar Phillip. Por alguma razão eu não aguentava vê-lo tão doente.
- O que você quer? - perguntei com medo
- Hum - ele se afastou virando de costas para mim, colocou a mão no queixo, virou-se novamente para mim e então falou - Apenas um beijo em troca da cura de seu príncipe. Nunca beijei uma princesa tão bela e tão corajosa, queria saber o gosto desses lábios.
Respirei fundo, engoli em seco, cheguei a pensar em correr, mas respondi:
- Se você me der a cura, terá seu pagamento. - falei rápido e completamente apavorada.
- Ele precisa do meu sangue. - ele falou rapidamente - Agora meu pagamento. - ele falou rapidamente me envolvendo em seus braços.

Antes que eu percebesse ele já estava tocando seus lábios frios nos meus, em segundos que pareceram horas. Ele então ele se afastou, mas manteve suas mãos ao redor da minha cintura:
- Vamos, tenho que arrumar minhas malas, preciso salvar meu menino.
- Como? Não entendi. - falei tentando recuperar fôlego.
- Partimos hoje, minha bela. Antes que Phillip fique mais debilitado. - ele falou com um sorriso ainda mais malicioso.
Tentei recuperar o ar.
- Embarcamos hoje? Como isso será possível? - pensei, pois era difícil conseguir um navio que partisse à noite, ainda mais em cima da hora.
- Eu resolvo isso, minha doce menina. A carruagem levará você e sua acompanhante para buscar suas bagagens, nos encontraremos no porto.
- Hoje! Precisamos ser rápidos. - Ele falou praticamente me empurrando para dentro da carruagem.

Capítulo 20 - Visitando Claus

Saí do quarto com uma idéia fixa. Eu precisava tentar salva-lo. O casamento seria adiado, pois ele estava muito fraco. Dormi confortavelmente no meu quarto em seu castelo, mas acordei bem cedo, antes do Rei. Eu precisava de uma boa desculpa para ir a Paris. Tinha que encontrar Claus e as respostas das quais Phillip precisava para melhorar.

Aproveitei para remexer documentos no escritório de Phillip, precisava de algum endereço, alguma idéia de onde encontrar Claus. Achei cartas. Perfeito. Pude ouvir Phillip passando ordens ao seu servo e tive medo de que ele tentasse me impedir. Será que ele sabia dos meus planos? Acho que ele podia pensar depois de noss conversa na noite anterior.

Com o auxílio de Ane, parti cedo, carregando o mínimo possível de bagagem. Deixei um bilhete para meu pai informando que precisaria resolver algo em relação ao enxoval e aproveitaria o fato do noivo estar doente para isso. Meu pai acreditaria, ele jamais pensaria que eu tinha planos mais perigosos.

Minha aia e eu fingimos ser apenas duas nobre a caminho de Paris para compras. Embarcamos em um navio no porto sem que ningu;em desconfiasse que eu era da realeza. A viagem foi longa e muito cansativa, passei grande parte dela enjoada e dormindo. 

Estava vivendo uma aventura, mas Ane achava que seria castigada pela minha loucura. Contudo, assegurei a ela que eu precisava ajudar meu noivo. Chegamos ao porto de Nantes numa manhã ensolarada. Depois de uma viagem de charrete passando por Rennes e outros pequenos vilarejos, finalmente chegamos ao nosso destino.

Ane e eu procuramos uma hospedaria para ficarmos por poucos dias. Eu precisava encontrar Claus, então resolvi colocar nossas bagagens em nosso quarto, descansar brevemente, trocar de roupa e seguir para a minha busca. 

O sol se punha na hora em que eu e Ane saímos a procura de Claus Deidrich. Acabamos conhecendo quase toda Paris, além de conseguirmos coletar muitas informações sobre Claus. Estava muito tarde quando resolvemos voltar para nossa hospedagem.

Jantamos num restaurante próximo enqunto Ane e eu conversamos sobre nossas descobertas:
- Sua Alteza precisa me explicar qual a finalidade de perseguirmos a história deste Claus Deidrich? Estou preocupada.
- Ane, essa é uma longa história, mas tudo o que você precisa saber é que Claus detém o conhecimento sobre como curar o príncipe Phillip. Quando estiver pronta contarei a você os detalhes, mas você precisa confiar em mim por agora. - respondi contendo as emoções
- Certo. Comecemos com o que nos disse aquela senhora no porto. Aparentemente o Sr. Claus é assíduo frequentador da Ópera, mas está sempre distante dos demais espectadores em um camarote dele.
- Depois temos o que aquele funcionário do teatro informou - falei enquanto fazia pequenas anotações em um caderninho que trouxe comigo - Sr. Claus está sempre acompanhado de um rapaz, que embora aparente ter a mesma idade dele, ele chama de filho.
- Há também o que foi dito pelo funcionário da bilheteria do teatro, ambos sempre ficam no mesmo camarote, e saem da ópera acompanhados de alguma moça rica da alta sociedade, mas aparentemente são encontros furtivos e os relacionamentos não passam de uma semana.
- Precisamos revervar o camarote em frente ao dele e nos fazer perceber. Preciso da cura de Phillip e somente ele poderá me dar essa informação... - pensei tendo calafrios, pois eu sabia que iria confrontar a besta que transformou Phillip num vampiro.

Na manhã seguinte, pouco depois das dez, saímos em direção à bilheteria do teatro, reservamos o camrote. Depois segui para uma loja badalada e comprei um belo vestido vermelho de cetim. Foi o dia mais cansativo, pois passamos boa parte dele nos arrumando para a ópera. Entramos no teatro e sentamos em nosso camarote, mas o camarote a frante estava vazio.

Uma tensão e medo percorreram minha espinha. E se ele não aparecesse? E se Phillip não sobrevivesse? Eu tentei manter minha respiração regular. O palco se iluminou e as luzes da plateia se apagaram. Após quinze minutos agonizates, finalmente observei uma figura assustadoramente bela no camarote a frente. Ane suspirou diante de tamanha beleza. Cabelos negros, olhos verdes e uma pele branca. Parecia que cada traço dele era desenhado. 

Comecei a tentar chamar a atenção dele trocando olhares e de repente percebi que havia conseguido, pois ele me retribuiu com um sorriso malicioso em seu rosto. Embora fosse uma princesa eu nunca havia assistido a uma ópera e realmente gostei do que assisti. 
 
 

Capítulo 19 - A Visita

Ao terminar de ler a carta, o rei mandou que minha aia ajudasse a arrumar uma bagagem. - Você vai comigo! - o rei ordenou olhando diretamente para mim. Ele queria saber qual a questão que assolava a saúde de Phillip e aproveitaria para me apresentar minha futura residência. Um arrepio de dúvida percorreu meu corpo.

- Mas será prudente eu ir? - questionei meu pai

- Isto é uma ordem de seu pai em cumprimento a um pedido de seu noivo. Apenas obedeça. Vá se arrumar, pois a carruagem já deve estar a caminho.

O rei chamou seu primeiro ministro avisando-lhe de sua pequena, mas urgente viagem e este informou que cuidaria dos assuntos do reino de forma a parecer que o rei não viajou.

No dia seguinte acordei cedo, meu pai não dormiu a noite inteira. Partimos logo após o café e a carruagem estava a nossa espera. A viajem foi cansativa, por isso paramos para comer e dormir. Chegamos a um pequeno vilarejo, numa noite. Havia quartos reservados para nós, pelo príncipe. O rei finalmente dormiu um pouco. Eu passei a noite acordada com meus pensametos.

Continuamos a viagem ao amanhecer. Durante a viajem dormium pouco dentro da carruagem. Estava exausta. Após três noites sem dormir, fui acordada por meu pai quando nos aproximamos do castelo. 

- Olhe que bela floresta! Parece viva! - ele falou afastando a cortina e olhando para fora da pequena janela da carruagem.

Era noite quando ouvi os portões do castelo abrirem. As imponentes torres, que para meu pai eram desnecessárias quando se temum bom exército e uma excelente guarda real. Meu estômago doeu quando desci da carruagem. 

O servo de Philip nos recebeu e gentilmente perguntou sobre como foi a nossa viagem enquanto nos guiava para dentro e diretamente para nossos aposentos, onde poderiamos descansar antes do jantar. O quarto onde fiquei tinha uma decoração delicada, quase angelical. 

Era agradável, diferente do resto do castelo que possuia uma aurea mais sombria e uma decoração mais masculina. Os lençóis eram de seda clara, parecia que este quarto nunca havia abrigado ninguém. Belo, delicado, perfeito para mim. Descobri que era também o quarto mais próximo ao quarto do príncipe. Assim que eu pudesse, tenatria descobrir o que estava acontecendo com meu noivo.

Após um banho relaxante numa bela banheira branca com pés dourados, pude deitar na cama macia e decorada com um belo docel com tecidos finos e esvoaçantes protegendo meu sono. Deitei e rapidamente dormi. Aquele quarto me trazia uma sensação de segurança e tranquilidade. Após um bom tempo fui acordada pelas batidas na porta do servo do príncipe nos chamando para o jantar.

Levantei revigorada, meu pai já me aguardava no grande salão de jantar. A decoração aqui acompanhava a mesma do resto do castelo, levemente assustadora, couro, madeira escura, paredes de pedra, era um salão frio, apesar da lareira e das enormes tochas que o iluminavam.

Depois do jantar retornamos aos nossos aposentos. O quarto era perfeito, mas a preocupação com Phillip não me permitiu adormecer. Eu precisava saber dele. Que doença o teria acometido? Resolvi levantar, porque havia passado muito tempo pensando nele. Caminhei lentamente, saí pela porta sem fazer um ruído e encostei meu ouvido na porta do quarto dele. Só pude ouvir um barulho forte de respiração ofegante.

Segurei a maçaneta delicadamente e a virei devagar. Abri a porta com a mesma cautela, lentamente para não acordá-lo. Entrei num quarto escuro com pouca iluminação vinda de uma lareira. Mas consegui vê-lo deitado em sua enorme cama em meio ao docel pesado de tecido aveludado escuro, as cortinas pesadas fechadas. Havia uma bacia de água fervente ao lado da cama que deixava o clime úmido, uma umidade com um leve aroma de lavanda e limão.

Resolvi continuar caminhando lentamente até a beira da cama, só de sentir seu cheiro consegui sentir meu coração quase pular para fora do peito. Ele parecia dormir profundamente. Respirava mal. Não resisti e toquei seu rosto, ele abriu os olhos nervoso, sua mão segurou meu pulso e com sua voz rouca ele falou:

- O que você faz aqui? Não quero que me veja assim!
- Perdoe-me, Alteza, mas eu precisava vê-lo. Não consigo dormir sabendo que você está doente. - respondi com a voz trêmula do susto.
- Não quero você aqui! Saia agora! - ele ordenou...
- Diga-me,o que há com Vossa Alteza? E vou embora - respondi
- Não quero diser, saia agora! - ele continuou ordenando
- Por que? - o desafiei, soltando minha mão da sua e ficando em pé
- Você não me obedece, pelo menos respeite minha doença e saisa daqui! - ele continuou tentando
- Eu vou sair! Você conhece meus sentimentos. Mas assim que o sol nascer pedirei a meu pai para retornarmos para casa, você não me verá mais. - respondi dando dois passos para trás
- Do que você est;a falando? Você é minha, princesa. Você não poderá fugir disso!
- Não, mas posso te dar o pior casamento que já existiu. Posso te dar o que você está me dando agora... minha indiferença para que você sofra pela eternidade. O que acha?
- Se fizer isso, matarei todos em seu reino, bebendo até a última gota de sangue de cada um, até mesmo seu pai. - ele retrucou com raiva
- Vossa alteza é um ser ruim! Como meu pai pode pensar em me casar com algu;em assim? O príncipe não percebe que só quero ajudá-lo? Parece que deseja de fato o adiamento do casamento! Chega! Vou deixa-lo em paz, não vou mais ouvi-lo.
Virei e segui emdireção à porta. Parei assim que o senti me segurar pela cintura, ele rapidamente se levantou e me alcançou. Um calafrio percorreu meu corpo. Tive medo de que ele me machucasse, por raiva. Mas pude ouvir a voz suae dele em meu ouvido:
- Não quero que você vá, mas não quero que me veja assim.
- Por que não me fala o que você tem? - falei virando para olhar em seus olhos.
- Não quero falar. - ele repondeu desviando os olhos dos meus.
- Então me deixe voltar para casa. Espero você melhorar. Mas não aguento ve-lo tao vulnerável sem poder ajuda-lo. - coloquei as mãos em seu peito para afastá-lo de mim
Ele voltou seus olhos para os meus e falou:
- Não posso deixa-la ir. Finalmente sinto que você tem sentimentos por mim e não consigo deixa-la ir. Quero você perto. Só não quero que me veja assim.
- Não posso te ajudar, não sei o que você tem, você não me diz e está começando a doer ver você assim. Achei que ficaria melhor se te visse, mas não. - falei colocando mais força em minhas mãos para me livrar de seu aperto.
Ele olhou ao redor, como se estivesse pensando bastante. Não me soltou de seus braços. Pegou meu pulso e me pediu para sentar na ponta da cama. Ele se deitou, colocou minha mão sobre seu peito, se cobriu e tentou respirar profundamente, olhando diretamente nos meus olhos falou:
- Eu cometi um erro. Tomei sangue ruim. Os vampiros chamam de sangue estragado.
- Como assim? - perguntei nervosa
- Nós precisamos tomar o sangue até o coração da criatura parar de bater e nem uma gota a mais. Sempre ouvi sobre, mas nunca soube das consequencias. Não sei até quando ficarei assim. Tenho febres, muita fraqueza, não sei se sobreviverei. Estou em busca de Claus Deidrich, o vampiro que me transformou nessa criatura. Sei que ele mora em Paris, mas meus servos não o localizaram. Ele deve saber como posso melhorar, mas preciso que o encontrem. Acho que ele não quer que eu o encontre. Ele queria que eu fosse seu filho, deve querer me ver morto, porque fugi dele.
Levantei, mas Phillip segurou meu pulso:
- Fique comigo essa noite. - ele suplicou com os olhos tristes
- Preciso ir - respondi confusa, mas sabendo exatamente para onde eu precisava ir.
- Eu imploro, posso não ter mais uma noite para passar com minha princesa. - ele implorou
- Você está fraco, descanse. Eu voltarei. - ele me soltou e resmungou triste
-  Então vá...
- Sei exatamente o que preciso fazer! - falei quase que pensando alto
- O que você vai fazer? - seu olhar era de preocupação.
Saí do quarto sabendo exatamente o que precisava fazer e onde eu iria.


 

março 29, 2024

Capítulo 18 - A carta

Pude vê-lo sair pelo portão principal do castelo, seguindo até sua carruagem que já o aguardava do lado de fora do castelo. Tive muito tempo para pensar em tudo que aconteceu, durante o tempo em que eu não o vi. Não dormia mais direito e só me alimentava quando obrigada por meu pai ou minha aia. Foi a pior dor que eu sentira, aquelas saudades.

Os dias eram todos iguais. Tudo parecia se repetir. Cheguei a fugir uma tarde para ir até a cabana, para ver se encontrava Phillip, mas ele não estava lá. Ele me mandava cartas todos os dias, mas eu não as abri. Não queria saber de nada, não respondi a nenhuma delas. Ele parecia saber que eu não lia as cartas, pois também enviava cartas ao Rei.
Meu pai parecia empolgado ao contar sobre cada uma delas. Eu não ouvia.

Faltavam cinco dias para o casamento, quando recebi uma carta diferente. Um servo do príncipe relatava que ele havia adoecido. A letra não era a dele. A carta dizia que havia a possibilidade de adiamento do casamento, caso ele não se recuperasse.

Fiquei apavorada com a ideia de um adiamento. Uma pergunta não saia de minha mente: Como um vampiro, um ser imortal, poderia adoecer? Pedi permissão ao Rei para visita-lo, era algo razoável, pois tratava-se de meu noivo.

Meu pai disse que ele deveria ir ver o estado de Phillip e não eu. Concordei com o Rei, mas pedi para que ele me desse notícias. Antes de ir, no entanto, de forma cordial o Rei preferiu enviar uma carta ao principe pedindo permissão para ir ve-lo. Meu pai perguntou se haveria algum problema dele levar consigo a princesa.

Passei a noite pensando. Não consegui descansar imaginando qual enfermidade teria caído sobre Phillip. Dois dias depois a carta finalmente chegou, para a minha surpresa na letra de Phillip:

"Caro amigo,

Sinto muito por meu estado e também por não poder recebê-lo. É uma pena,pois eu adoraria rever minha noiva. No entanto, convido-os para virem de qualquer forma, mesmo sem que eu possa vê-los pessoalmente, mas ao menos conheçam meu castelo.
Se possível, traga minha adorável noiva, saber que ela estará próxima de mim pode ao menos diminuir um pouco minha solidão.
Meu servo real irá recebê-los e acomodá-los.
Amanhã enviarei uma carruagem para busca-los e para que passem ao menos uma noite em meu castelo.

Philip III"

Capítulo 17 - Primeira despedida

Embora estivesse com vontade de estar na presença do príncipe, sabendo que ele era um prisioneiro no meu quarto, aproveitei para dar uma volta nos jardins após o almoço. Precisava do ar e de um tempo com meus pensamentos. Nunca conseguiria responder às perguntas dele. Todas as vezes que o beijei ele dormia. E o fiz intencionalmente.
Uma luz rapidamente clareou meus pensamentos, eu estava completamente apaixonada por ele. Não fazia idéia do que dizer a ele. Não teria coragem de me declarar. Mas os pesadelos e todo o restante sobre quem ou o que ele era me assustavam. Como eu conseguiria superar tudo.
Senti uma brisa gelada e, com receio de adoecer novamente, entrei no castelo. O casamento seria em uma semana e agora eu não queria adiá-lo. Subi as escadas em silêncio. Entrei no meu quarto e o vi novamente adormecido na poltrona. 
Tirei meus sapatos para não fazer barulho. Entrei andando silenciosamente no banheiro. Tomei um demorado banho quente e coloquei um vestido mais confortável. Saí do banheiro sem fazer nenhum ruído e caminhei até minha cama, deitando e puxei as cobertas para me cobrir.
Estava muito cansada. Adormeci. Novamente os sonhos sangrentos tomaram conta do meu sono. Senti duas mãos me levantando, colocando-me sentada, no exato momento em que um lobo saltou em minha direção no pesadelo.
- Respire! - ouvi a voz suave de Phillip me fala. - Outro pesadelo, minha princesa?
Dessa vez demorei a abrir os olhos.
- Sim. Sempre sangrentos, sempre assustadores. - falei ao perceber que eu transpirava bastante.
- Podemos retomar nossa conversa, quando você retornou? Não a vi entrar, tão pouco a vi trocar-se. - ele falou reparando no vestido diferente.
- Vossa alteza dormia, não quis acorda-lo. - respondi tentando fugir das questões que eu já sabia que ele voltaria a fazer.
- Sabe se já anoiteceu? Perdi a noção do tempo. - falou ele que continuava a me segurar circulando seus braços com suas mão em minhas costas.
Fiz um movimento para me levantar e caminhar até a janela e ele me soltou. Abrindo uma pequena fresta pela cortina pude ver que o sol já estava se pondo.
- Falta pouco, Alteza! O sol está se pondo. - falei um pouco triste. Ele percebeu minha tristeza e caminhou ate mim, próximo à poltrona, onde ele antes estava descansando.
- Está triste? Minha princesa, responda-se ao menos uma de minhas perguntas. - ele falou dando mais um passo em minha direção. - Só uma pergunta?
- Sim. - respondi quando ele me alcançou e segurou meus pulsos. - responderei uma pergunta. - falei firme, sem olhar em seus olhos.
- Está triste pelo mesmo motivo que me acordou com um beijo ou pelo mesmo motivo pelo qual chorou quando fui atingido pelo sol? - ele perguntou me puxando para perto dele. Colocando minhas mãos em seu peito.
- Sim, sim - respondi quase sem sol, meu coração disparado pela proximidade dele.
- Minha princesa está se apaixonando pelo monstro? - ele falou com um sorriso malicioso em seus lábios.
- Não. - respondi ainda tentando buscar o ar
- Não entendi. - ele falou confuso, passando suas mãos pela minha cintura e me aproximado de seu corpo. - Seu coração está gritando outra coisa, minha princesa. - ele falou ressaltando o quanto meu coração parecia ruidoso naquele momento.
Engoli em seco e falei: - Não estou me apaixonando por você, pois isso já ocorreu há muito tempo...
- Não estou entendendo. - ele falou olhando bem nos meus olhos
- Eu há muito já me apaixonei por você! Talvez o medo seja maior por isso. Por saber que sou completamete vulnerável a você! - falei me soltando de seu aperto e caminhando em direção a cortina. 
Ao perceber que já havia anoitecido, abri a cortina.
- Sua alteza já tem suas respostas e já não precisa mais ficar preso aqui. - falei apontando para a janela.
- Perdi a hora! - ele falou. - Preciso ir. Nos veremos em breve,minha princesa. Na cerimônia!



Capítulo 16 - O dia do vestido

Fiquei completamente corada com a pergunta, gaguejei:
- Porque... porque... tive medo... te beijei..., porque quando te conheci tive vontade de beija-lo e não sabia se você corresponderia. - levantei rapidamente, retomando minhas forças e envergonhada.
Virei para a porta, saí correndo, fechando-a atrás de mim.
Desci até a cozinha, onde peguei uma maçã. A única coisa que meu estomago estava aceitando bem. Encontrei Ane, que rapidamente me arrastou para a saleta de chá onde a costureira já me aguardava.
Pensamentos sobre os últimos acontecimentos povoaram a minha mente: "Será que ele tentaria vir atrás de mim? O que será que ele estaria pensando de mim depois do ocorrido?" 
O vestido era lindo. Delicado, com todas as rendas e todo o brilho que a realeza merecia. Mas minha mente permanecia no fato do príncipe dentro do meu quarto.
Após horas intermináveis, meu pai chegou bem no final dos ajustes e ficou próximo à porta observando com admiração, eu e o vestido.
- Minha filha! - ele falou comum sorriso nos lábios. - você está linda! Príncipe Phillip ainda está conosco? - ele me perguntou e fiquei tensa em perceber que o príncipe estava preso em meu quarto.
- Acredito que sim, papai! Passei os últimos dias descansando como você pediu. - falei empolgada.
- Troque de roupa, vamos almoçar. Vou pedir a um servo para convidar o príncipe a se juntar a nós. - o rei falou virando-se para sair.
Um arrepio correu minha espinha. "E se o servo descobrir que o príncipe está em meu quarto?"
Logo após me despedir das costureiras corri pelas escadas e cheguei ao meu quarto o mais rápido que pude, encontrando o príncipe dormindo na poltrona em frente à janela.
- Phillip! - tentei acordá-lo, mas ele parecia dormir profundamente. Beijei-o nos lábios. Ele abriu os olhos.
- Voltou? - ele falou com um sorriso nos lábios, mas dessa vez não consegui fugir a tempo, ele me segurou passando uma mão pela minha nuca e a outra segurando meu pulso. - Sem fugir, princesa! Quero minhas respostas, lhe dei as suas. - ele falou com um olhar malicioso.
Meu coração disparou, a proximidade com ele fazia o ar escapar de meus pulmões. Ele parecia estar se deliciando do momento.
- Posso ouvir seu coração disparado, princesa! Está com medo? Acha que eu vou te machucar? - ele perguntou com uma voz assertiva.
- Não. - respondi, tentando retomar o controle sobre minha respiração. - O Rei chegou. Perguntou se você ainda estava pelo castelo e queria que você se juntasse a nós para almoçar.
- Vou deixá-la levar o recado para o rei, mas nossa conversa não acabou, fale a ele que estou um pouco cansado, por isso não me juntarei a vocês. - ele falou soltando o aperto de suas mãos em minha nuca e meu pulso. - estarei te aguardando!
Saí pela porta e voltei para o salão de jantar. Informei ao Rei da situação do príncipe e sentamos para almoçar. Finalmente, depois de dias ruins, consegui me alimentar. Ao final da refeição o rei se recolheu ao seu escritório e me mandou voltar ao meu quarto, para que eu pudesse descansar...

Capítulo 15 - O sol e o susto

- Ainda tenho medo de você... mas estou muito cansada... acho que terei mais pesadelos... principalmente por saber que você me observava esse tempo todo... - falei com a voz rouca, tentando respirar.

- Dei suas respostas. Quero a minha. Por que você não teria coragem de me bater? - ele falou, enquanto ouvimos o barulho da maçaneta girar. 

Pedi a ele que permanecesse sentado onde estava, quando minha aia adentrou o quarto. Havia amahecido. Não percebemos. Ane me trouxe o café da manhã, mas eu sabia que não conseguiria comer. Não tinha dormido. Estava exausta.

Ela viu Phillip sentado na poltrona próxima a janela e ele falou a ela que estava cuidando de mim. Ela discretamente saiu, depois de deixar a bandeja em uma mesinha e fechar a porta atrás de si.

- Posso esperar por sua resposta. - ele disse persistente, apontando para a bandeja. - Vossa Alteza tem que se alimentar.

- Você não poderá sair daqui agora, amanheceu. - falei apontando para as pesadas cortinas fechadas na frente de minha janela. Adormeci após falar.

Hoje seria o dia em que as costureiras viriam para a prova do vestido. Phillip me acordou acariciando meu rosto. 

- Ao menos dessa vez não houve gritos. Seu sono pareceu melhor. Ainda houve um murmúrio... - ele falou calmamente olhando em meus olhos, mas o interrompi.

- Mas tive pesadelos! Quanto tempo eu dormi? - falei me descobrindo e levantando a caminho do banheiro.

- Dormiu pouco mais de quatro horas, princesa. Por que a pressa? Você ainda tem que descansar. - ele falou sentado ao lado da cama me acompanhando com os olhos.

- Hoje é a primeira prova do vestido de noiva. - falei do banheiro arrumando meu cabelo e lavando meu rosto.

- Isso é muito importante para mim. - ele falou se levantando e caminhando em direção à porta - Vou deixá-la a sós.

Corri antes que ele virasse a maçaneta para sair e segurei sua mão, colocando-me entre a porta e ele.

- Príncipe, não saia desse quarto! Todas as janelas do castelo são abertas às 8h e não quero pensar no que aconteceria se um raio de sol lhe atingisse. - falei retomando o folego

Ele acariciou minha bochecha e delicadamente colocou uma mecha de meu cabelo atrás de minha orelha, falando com a voz mais suave que já havia ouvido dele:

- A princesa está preocupada com a vida de seu noivo? - pude notar um leve sorriso no canto de seus belos lábios.

- Talvez - falei, tentando fugir do quarto, mas falhando miseravelmente.

- Princesa, deixe-me ver, ele virou a maçaneta e me empurrou, ele era muito forte.

- Não - gritei no exato momento em que uma leve fresta da porta revelou a claridade do lado de fora de meu quarto.

Phillip fechou a porta e caiu para trás como se tivesse levado um golpe, totalmente desacordado. Assustada, ajoelhei e segurei sua cabeça em minhas mãos. Tentei puxa-lo para longe da porta. Eu não sabia o que fazer.

- Acorda! - ordenei a ele enquanto uma lágrima escorria de meus olhos -... você não é tão frágil assim, não morra!

Observei-o durante algum tempo. Mais lágrimas embaçaram minha visão. Dei um beijo em seus lábios gelados. Ele abriu os olhos e disse enxugando minhas lágrimas:

- O que aconteceu?

- Você desmaiou. Há luz do sol lá fora, Há uma enorme janela no final docorredor que o ilumina todo. Você tem que ficar aqui. Eu preciso sair do quarto, mas você só poderá sair quando anoitecer.

- Por que a princesa me beijou? - ele perguntou olhando diretamente nos meus olhos, enquanto sentava.







março 10, 2024

Capítulo 14 - O passado

Philip me carregou até a minha cama. Retirou meus sapatos e me cobriu com o semblante ainda preso à pergunta: 
- Por que Sua Alteza não teria coragem de bater em mim?

- Estou muito cansada, não me sinto bem. Deixe-me dormir. Não vou responde-lo, enquanto você não responder às minhas perguntas...

- A princesa está cansada demais para ouvir sobre minha vida, melhor descansar. Ainda estarei aqui quando você acordar.

- Existe algo que gostaria de saber, qual o sabor do sangue? É bom? Você quer experimentar o meu?

- Você está sendo má. Pare com isso! - ele respondeu virando-se para sair

- Quem fez isso com você? Quem te transformou nesse monstro?

Eu pude ver uma lágrima escorrer por seu rosto, ele abaixou a cabeça e voltou para o lado de minha cama, ajoelhando-se ao lado de onde eu estava deitada, com seu rosto próximo ao meu:

- Uma semana após o seu nascimento, há 17 anos, minha mãe adoeceu e faleceu. Meu pai culpava a mim e meu irmão. Era doloroso, então juntei alguns servos de meu pai, levei-os a um ponto da floresta e pedi para que construíssem a cabana. Aquela que você pode ver. Passou-se um ano, e meu pai começou a sentir minha falta, porque eu passava mais tempo na cabana e na floresta do que no castelo. De lá eu conseguia vir até próximo de seu castelo. Te conheci e te vi crescer. Era como se seus olhos também gostassem de mim. Revoltado com a minha ausência, meu pai amargo com suas dores, me enviou para estudar em Paris, na França a um oceano de distância. Comecei a sofrer com saudades de você.

- Não precisa continuar. - falei nervosa

- Recebi uma carta com a notícia da morte de meu irmão. Ele caiu da torre principal do castelo, ele já não aguentava o sofrimento de meu pai e a ausência da minha mãe. E eu estava distante demais. Comecei a sair para beber. Tentando fugir dos demônios do passado. Numa dessas noites fui seguido por uma figura estranha, mas não percebi de pronto. Senti a criatura se aproximar, mas corri muito. Acabei parando em um beco frente a frente com a criatura. Ele era assustador e muito forte, ele falou com uma voz grossa: "Está sofrendo, posso ver em seus olhos. Deixe-me tirar esse sofrimento de você. Você quer?"Eu estava fraco e bêbado, não sabia o que fazer e aceitei. Depois disso senti os dentes da criatura em meu pescoço. Bêbado e fraco, fiquei quase sem sangue, porque ele havia sido sugado pela criatura, Senti a morte em meu corpo, quando ele retirou do bolso um pequeno punhal e cortou o próprio pulso. E deu de seu sangue para que eu bebesse.

- Acho que foi o suficiente, chega! - falei cobrindo meu rosto.

- Preciso ir até o fim, apenas ouça. - ele disse retirando o cobertor de meu rosto já banhado em lágrimas. 
- Quando acordei estava dentro de um caixão numa cripta e a estranha criatura estava sentada ao lado do caixão. Perguntei o que havia acontecido. Assim que ele acabou a explicação corri Busquei refúgio para me esconder. Meu pai começou a mandar diversas correspondências para que eu voltasse, mas eu não tinha coragem. Passei dois meses me escondendo, então resolvi voltar. Meu pai me achou estranho, mas achou que era consequência da perda pela qual passamos.

- Por que você não se matou? Como seu irmão – falei quase num soluço, sem conter as lágrimas que escorriam pelos meus olhos.

- Voltei para a minha cabana. De lá eu ficava mais perto para te observar todas as noites. Por você não me matei. De noite, do lado de fora de sua janela eu te vigiava. Você estava crescendo. Linda. Você ia ser minha. Meu pai adoeceu e em seu leito de morte contei-lhe o que aconteceu comigo em Paris, ele me perdoou.