março 10, 2024

Capítulo 14 - O passado

Philip me carregou até a minha cama. Retirou meus sapatos e me cobriu com o semblante ainda preso à pergunta: 
- Por que Sua Alteza não teria coragem de bater em mim?

- Estou muito cansada, não me sinto bem. Deixe-me dormir. Não vou responde-lo, enquanto você não responder às minhas perguntas...

- A princesa está cansada demais para ouvir sobre minha vida, melhor descansar. Ainda estarei aqui quando você acordar.

- Existe algo que gostaria de saber, qual o sabor do sangue? É bom? Você quer experimentar o meu?

- Você está sendo má. Pare com isso! - ele respondeu virando-se para sair

- Quem fez isso com você? Quem te transformou nesse monstro?

Eu pude ver uma lágrima escorrer por seu rosto, ele abaixou a cabeça e voltou para o lado de minha cama, ajoelhando-se ao lado de onde eu estava deitada, com seu rosto próximo ao meu:

- Uma semana após o seu nascimento, há 17 anos, minha mãe adoeceu e faleceu. Meu pai culpava a mim e meu irmão. Era doloroso, então juntei alguns servos de meu pai, levei-os a um ponto da floresta e pedi para que construíssem a cabana. Aquela que você pode ver. Passou-se um ano, e meu pai começou a sentir minha falta, porque eu passava mais tempo na cabana e na floresta do que no castelo. De lá eu conseguia vir até próximo de seu castelo. Te conheci e te vi crescer. Era como se seus olhos também gostassem de mim. Revoltado com a minha ausência, meu pai amargo com suas dores, me enviou para estudar em Paris, na França a um oceano de distância. Comecei a sofrer com saudades de você.

- Não precisa continuar. - falei nervosa

- Recebi uma carta com a notícia da morte de meu irmão. Ele caiu da torre principal do castelo, ele já não aguentava o sofrimento de meu pai e a ausência da minha mãe. E eu estava distante demais. Comecei a sair para beber. Tentando fugir dos demônios do passado. Numa dessas noites fui seguido por uma figura estranha, mas não percebi de pronto. Senti a criatura se aproximar, mas corri muito. Acabei parando em um beco frente a frente com a criatura. Ele era assustador e muito forte, ele falou com uma voz grossa: "Está sofrendo, posso ver em seus olhos. Deixe-me tirar esse sofrimento de você. Você quer?"Eu estava fraco e bêbado, não sabia o que fazer e aceitei. Depois disso senti os dentes da criatura em meu pescoço. Bêbado e fraco, fiquei quase sem sangue, porque ele havia sido sugado pela criatura, Senti a morte em meu corpo, quando ele retirou do bolso um pequeno punhal e cortou o próprio pulso. E deu de seu sangue para que eu bebesse.

- Acho que foi o suficiente, chega! - falei cobrindo meu rosto.

- Preciso ir até o fim, apenas ouça. - ele disse retirando o cobertor de meu rosto já banhado em lágrimas. 
- Quando acordei estava dentro de um caixão numa cripta e a estranha criatura estava sentada ao lado do caixão. Perguntei o que havia acontecido. Assim que ele acabou a explicação corri Busquei refúgio para me esconder. Meu pai começou a mandar diversas correspondências para que eu voltasse, mas eu não tinha coragem. Passei dois meses me escondendo, então resolvi voltar. Meu pai me achou estranho, mas achou que era consequência da perda pela qual passamos.

- Por que você não se matou? Como seu irmão – falei quase num soluço, sem conter as lágrimas que escorriam pelos meus olhos.

- Voltei para a minha cabana. De lá eu ficava mais perto para te observar todas as noites. Por você não me matei. De noite, do lado de fora de sua janela eu te vigiava. Você estava crescendo. Linda. Você ia ser minha. Meu pai adoeceu e em seu leito de morte contei-lhe o que aconteceu comigo em Paris, ele me perdoou.



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