julho 11, 2011

Capítulo 11: Quarto encontro

Retornando da cripta, alguns minutos depois, as roupas de Philip agora estavam limpas e ele parecia diferente do Philip que me carregara até ali. Ele sentou-se na cama ao meu lado, permaneci estática, pois precisava assimilar todas aquelas cenas de horror. Senti sua mão gelada subir pelo meu pescoço até meu queixo. Ele levantou minha cabeça e eu sabia que iria ouvir sua reclamação a respeito do que aconteceu. Olhando em meus olhos ele falou:

- Alteza, vou tentar lhe fazer entender. Você será minha esposa em breve, você me pertence há muito tempo. Não quero adiar mais o nosso casamento. Você está fraca e aparenta estar doente. Vou levá-la ao castelo hoje, você não sairá até se recuperar. Vou vigiar seu sono por hoje.

- Como você me encontrou na floresta? Você não me seguiu, eu vi! Ouviu meus gritos? - falei aterrorizada.

- Segui, de longe, mas estava bem próximo. Ouvi quando você gritou e corri para socorrê-la. Não quero te perder.

- Achei que você não tivesse me seguido. - falei erguendo-me para sentar ao lado dele na cama – o que aconteceu depois que você chegou? Como aqueles lobos morreram? Eram muitos lobos...

- Vinte, uma alcatéia inteira. Eu simplesmente os matei, precisava te proteger – ele falou se afastando.

- Estou com medo de você... - afastei-me dele tentei me levantar, mas a fraqueza me fez cair sentada – não quero voltar para o palácio, vou dormir aqui

- Vou levar você até o palácio, já falei – ele segurou forte meu pulso

- Você vai acabar me machucando, tenho medo... você parecia um animal! - falei soltando-me da mão dele e levantando da cama.

- Por que? Por que está fazendo isso?

- Se se transformar como antes, você pode me machucar?

- Eu nunca a machucaria, tenho controle sobre meus poderes. Precisava usá-los para te proteger. Você ia virar a refeição daqueles lobos.

- Você precisa me dar umas respostas – falava com certa autoridade dando voltas pelo quarto, ouvindo o ranger das tábuas do piso – preciso saber... de que você se alimenta?

- De sangue, mas não humano... de animais como aqueles lobos. - ele ergueu a cabeça encarando-me – você está muito nervosa, responderei tudo o que você quiser saber.

- Por que quer que eu volte para o palácio? Por que não posso passar a noite aqui? - perguntei me ajoelhando na frente dele.

- Porque só posso te proteger durante a noite, se acontecer algo a você durante o dia não poderei te ajudar e você está fraca, aparenta estar doente, não quero adiar o casamento, você precisa melhorar.

- Não entendi, por que não pode me ajudar durante o dia?

- Porque em meu reino criei uma proteção para a luz do sol, que não há em seu reino. Se eu sair, durante o dia morrerei.

- Você vai me levar ao palácio, mas não vai ficar lá? Por que? - senti a fraqueza voltar e cai sentada no chão.

- Vou levá-la ao palácio, você precisa descansar. Fico com você até você dormir. Depois partirei.

Ele me levantou e pegou-me novamente em seus braços. Desacordei.

Capítulo 10 – Mais um pouco de Philip

- Vossa Alteza está tentando fazer com que eu me sinta culpado pela outra noite?

- Não, estou tentando conversar com Vossa Alteza de forma civilizada - respondi tentando inutilmente me soltar dos braços dele - você pode me soltar? deixe-me ir até lá fora! O rei acha que estou doente, está até pensando em adiar o casamento, mas não me sinto mal. Deixe-me ir, eu tenho que voltar para o palácio...

- Você não está bem. O que você tem? - ele falou segurando-me pelo pescoço de forma que pudesse olhar para os meus olhos – está tão pálida, parece fraca, por que se arriscou a vir até a floresta, por que não ficou descansando?

- Eu precisava saber o que havia acontecido com você. Não preciso descansar... - respondi com um tom irônico enquanto me esquivava dele e fugia para a floresta - … se quiser, pode me seguir.

Terminei de falar e saí rapidamente para a floresta, que agora parecia bem mais assustadora e fria a noite. Diminui a velocidade da caminhada quando senti a falta de ar e a fraqueza retornando. Vi um amontoado de folhas secas e sentei sobre elas para descansar. Após alguns minutos sozinha senti um calafrio ao ouvir uivos de lobos se aproximando. Pensei em voltar para a cabana, mas não consegui levantar, minhas pernas não respondiam. Estava muito cansada.

Não estava acreditando, consegui correr até a cabana e agora não tinha forças para fugir. Pude ver os olhos dos lobos ao longe e fechei os olhos, porque não queria ver o que iria me acontecer. De repente ao abrir os olhos me vi cercada de lobos. Por que não fiquei na cabana? Olhei para o alto e gritei com toda força que me restava, na esperança de ser ouvida por alguém.

Abaixei a cabeça e a cobri com o xale em encolhendo, a ideia de ver aqueles lobos me devorando não era agradável. Ouvi algo que parecia uma briga entre os lobos e depois um silêncio mortal. Estava com medo de descobrir a cabeça, mas fui baixando o xale vagarosamente. A visão era assustadora: Philip de pé coberto de sangue com vinte lobos mortos ao seu redor. O ar que me faltava antes ficou agora totalmente escasso.

Philip correu em minha direção, pegou-me em seus braços, que pareciam estranhamente mais fortes do que antes e me carregou de volta para a cabana. Sem falar uma palavra. Ele só buscava sentir o cheiro de meus cabelos durante o trajeto. Ele me colocou na cama e acendeu a lareira, descendo para a cripta. O quarto parecia bem mais aconchegante e quente. Encolhi-me enrolando o xale.

Capítulo 9 – O terceiro encontro

Durante dias as costureiras vinham pela manhã e só saiam depois que eu escolhesse o último tecido ou experimentasse o último vestido. Mas naquela manhã fria elas começaram a trazer o vestido de noiva, aquele com o qual me casaria, cheio de detalhes, rendas e babados. Uma princesa não poderia se casar com qualquer vestido, teria de ser um vestido digno da realeza.

Ainda estava cansada como na manhã há quatro semanas, logo após a festa de noivado. Mas a idéia de ter um vestido como este era simplesmente revigorante. Quando o dia terminou o vestido ainda não estava pronto, mas já dava para ver como seria quando estivesse pronto. Com a porta do quarto onde ele era guardado entre aberta admirei-o. O medo de todas as cenas dos dias antes parecia se apagar de minha mente ao observar tão bela visão.

Senti minhas forças retornando. Como seria a cerimônia e a festa? O que eu deveria esperar de meu pretendente? Dúvidas aumentaram minha curiosidade e minha mente vagou até a cabana. Precisava voltar lá, ao menos mais uma vez. Senti como se fosse um impulso para voltar àquele lugar sombrio. Será que ainda estaria lá? Será que Philip estaria me esperando? Será que ele poderia responder minhas dúvidas?

Não pensei mais. Falei com Ana, que relutou em me deixar sair, mas insisti. Depois de colocar um pesado xale sobre meus ombros, ela me deu um beijo na testa e pediu para que voltasse mais cedo dessa vez, temia por minha saúde. Saí do palácio correndo, como da primeira vez, mas já não era tão divertido agora. Soltei os cabelos e pude sentir o vento neles.

A noite caiu sobre o bosque e encontrei a cabana logo que o último raio de sol se escondeu no horizonte. Ventava forte. Fechei o xale e entrei pela porta. Estava tudo escuro. Acendi uma vela que estava sobre a mesa. Retirei o xale e os sapatos. Segui pelo alçapão do assoalho, descendo a escada que levava à cripta. O ar estava mais úmido que da última vez, e tudo parecia bem mais escuro.

Acendi as velas próximas das paredes de pedra e me aproximei do altar. Empurrei a tampa com dificuldade, não tinha mais força. Removi a tampa do caixão. Philip dormia, mas parecia estar morto. Cheguei bem perto, senti o frio que saia de sua pele. Aproximei meu rosto um pouco mais. Meu coração parecia estar acelerado. Não resisti ao momento e beijei-o de leve nos lábios.

Ele não acordou. Virei e subi as escadas rapidamente, fechei o alçapão e senti novamente a fraqueza de antes. Sentada na cama fiquei observando a tampa do alçapão enquanto minha mente retornava às imagens que antes me aterrorizavam. Não sabia o que fazer. Pensei: como seria a cabana por fora? Ele havia dito que ela não existia para ninguém.

Coloquei o xale sobre os ombros e com os pés descalços abri a porta. “Philip!” fale assustada ao vê-lo de pé do lado de fora da porta. “Como você fez isso?” perguntei tentando retomar o ar - “Como pôde sair tão depressa do caixão e da cripta e parar aí fora? Como não o vi?” Colocando a mão sobre a minha boca para que me calasse ele respondeu: “Já lhe falei o que sou... não se lembra daquela noite? Onde você pensava em ir?”

Ele segurava-me pela cintura com uma das mãos, enquanto tampava minha boca com a outra. Lentamente ele retirou a mão de minha boca. “Eu ia ver a cabana por fora, você falou que só eu posso vê-la.” falei ainda sem ar “depois dar uma volta pela floresta, por que quer saber? Não parecia se importar comigo quando saiu de meu quarto naquela noite...”

- Mas você ficou bem depois daquilo tudo? Precisava te ver de novo... e acho que você também precisava me ver. - ele falou bem próximo ao meu ouvido enquanto eu tentava me soltar dele.

- Não, não fiquei bem. As imagens daquela noite dificultaram meu sono e costumo dormir com Ana a me observar, não consigo dormir sozinha. Mas você pareceu não notar, na verdade nem sentiu que eu estava mal…

julho 10, 2011

Capítulo 8 – Os dias após

O pouco tempo de sono foi o suficiente para trazer a mente as imagens mais aterrorizantes a respeito de quem era Philip, meu futuro marido. Com o complemento da imagem ainda nítida em minha mente da horripilante cena do cavalo de sua carruagem. Apenas algumas horas após conseguir finalmente dormir fui acordada por minha Aia, Ana.

Senti uma certa fraqueza, meus movimentos naquela manhã eram lentos e desci vagarosamente a escada, com Ana a reclamar da lentidão, informando-me que meu pai aguardava para o café-da-manhã e perguntando se eu havia excedido na quantidade de vinho na noite anterior. “Alteza, a Senhorita sabe que não pode beber!”

Estava pálida e muito cansada, o que acontecera comigo? Por que estava me sentindo assim? Ao sentar-me à mesa ouvi de meu pai: “Minha filha está doente?” O medo percorreu minha pele na forma de um arrepio e respondi: “Não, papai, acho que é só o cansaço pela festa de ontem. Tive medo de que ele percebesse algum dos acontecimentos da noite anterior, afinal uma princesa não pode ser vista se esgueirando pelos corredores do palácio e muito menos invadindo o quarto de um hospede tão nobre, da forma como eu havia feito na noite anterior.

Mas percebi olhando ao redor que Philip não estava sentado à mesa conosco. “Onde está o príncipe, papai?” Perguntei na certeza de que ainda o veria no interior do palácio naquela manhã, mas meus pensamentos ainda estavam confusos com o emaranhado de cenas de horror em meio à cena do tranquilo príncipe adormecido quando entrei no quarto escondida.

Peguei somente uma maçã e um copo d'água, tudo parecia enjoativo naquela manhã, enquanto o rei se punha de pé e caminhando para a janela falou com uma voz mansa: “Partiu antes do amanhecer, tinha algum compromisso importante.” Em seguida, o rei voltou-se a Ana e deu ordem a ela para cuidar de mim, pois ele também iria viajar, tinha compromissos em uma província e iria demorar alguns dias para retornar.

Parecendo bastante preocupado com meu estado naquela manhã, o rei alertou a todos no palácio que deveriam evitar qualquer atividade naqueles dias de distanciamento dele, pois temia que algo acontecesse comigo durante sua estadia. Avisou a Ana que em breve chegariam as costureiras da corte para fazerem todo o enxoval de casamento da princesa.

Ele falava como se eu nem estivesse na sala e de repente senti uma tonteira mais forte, resolvi subir para meus aposentos, pensando no que faria nas semanas seguintes em que Philip e meu pai estavam distantes do palácio. Ainda bem confusa deitei em minha cama e adormeci.

Os dias que se seguiram foram silenciosos no palácio, que parecia vazio. Eu mal saia de meus aposentos. Mal me levantava da cama. Ana chegou a pensar que eu estava doente, mas eu só sentia o cansaço e o medo causado pelo horror das cenas do dia da festa. “As costureiras estão aqui.” Era a única frase que saia da boca de Ana com o poder de me fazer levantar da cama.

fevereiro 11, 2011

Capítulo 7 – O segundo encontro

Entrei sem que ele abrisse os olhos. Somente vê-lo dormir já era observar um pedacinho do paraíso. Como podia ser tão belo? Meus olhos percorreram todo o corpo dele dos pés, passando pela a camisa parcialmente aberta mostrando uma pequena parte de seu peito, até os cabelos negros. Deitado, dormindo tranquilamente. Tranquei a porta atrás de mim. Ousei me aproximar silenciosamente da cama.

Estava extasiada com aquela visão, tanto que nem vi quando ele abriu os olhos. “O que você está fazendo aqui?” Perguntou se pondo de pé e caminhando em minha direção. “Alteza, não pretendia acordá-lo.” e acabei pensando alto: “Como você é perfeito!” Após um suspiro: “Vossa alteza é realmente um vampiro, como me disse? Gostaria que me mostrasse que realmente é um vampiro, pois ainda não acredito.”

Ele voltou para sua cama e deitou-se de costas para mim, cobriu-se completamente e com um gesto me mandou sair. Virei para sair e caminhei cambaleando até a porta. “O que você tem, princesa?” ele perguntou ao perceber que eu não estava caminhando direito. Quando ia destrancar a porta faltou o ar e cai, mas ele levantou-se e me segurou antes que eu tocasse o chão. “Foi o vinho? Eu não a vi beber esta noite. O que você tem?” ele falou baixo com um tom preocupado enquanto me carregava e colocava deitada em sua cama.

“Eu não quero falar. Você não quer me provar que é realmente um vampiro. Deixe-me sair. Vou para o meu quarto. Não sei como são os vampiros só ouvi muitas lendas e histórias sem detalhes,” falei tentando me levantar, mas sem forças.

“Você quer ver o monstro? Não basta minha palavra? Tudo bem, eu não queria te mostrar isso, mas … talvez você nem lembre disso amanhã.” segurando-me contra a cama e tampando a minha boca com uma das mãos, ele começou a se transformar seus olhes ficaram vermelhos como o sangue e seus dentes cresceram. Pensei: “Isso é real!” e senti minha boca dormente sob a mão gelada dele. Fechei os olhos.

Após alguns minutos senti sua mão em minha nuca, ele me colocou sentada: “Você não está bem. O que houve? Por que está assim?”ele perguntou preocupado.

“Isso deve ser medo. Você me dá medo. Posso voltar para meu quarto agora?” levantei-me devagar e cai no chão. Senti novamente ele me segurar em seus braços. “Você não vai conseguir voltar até seu quarto.” Carregando-me silenciosamente pelos corredores ele me colocou sobre a minha cama e virou-se em direção à porta.

“Não vá!” pedi sussurrando. Ele respondeu com um breve aceno e pude ver a porta se fechando atrás dele. Passei a noite acordada, quando fechava os olhos via o cavalo devorando a ratazana ou Phillip transformado em monstro. Quando o sol apareceu no horizonte finalmente consegui dormir.

janeiro 22, 2011

Capítulo 6 – O noivado

Peguei uma das taças e Phillip pegou a outra. Pude ver quando ele rapidamente virou a taça de vinho bebendo tudo em um único gole. Senti uma leve tonteira e preferi não beber. Saímos da biblioteca e seguimos para o salão. Do alto da escadaria toda enfeitada de flores que descia para um grande salão onde todos dançavam, comiam e bebiam. Havia muita alegria no ar, somente eu estava confusa e não muito alegre.

Entreguei a taça de vinho na mão de um dos servos que serviam os convidados. Estava um pouco pálida e assustada pelas minhas recentes descobertas. Phillip seguiu até meu pai e acenou para que eu fosse em sua direção. Atravessei o salão em direção a meu pai e Phillip. Antes que eu pudesse alcança-los, Phillip retirou do bolso um lenço bordado, ajoelhou-se no chão diante de mim, em frente ao meu pai e abrindo o lenço perguntou: “Vossa alteza, aceita se casar comigo?” Vi que meu pai apoio sua mão sobre o ombro de Phillip, como se já aprovasse o gesto e me encarou a espera da resposta.

Respirei fundo, pois neste momento todos já olhavam para nós e o salão tão cheio de sons já havia ficado mudo, e respondi friamente: “Claro, se é da vontade de meu pai.” Um sorriso de alegria surgiu no rosto do rei e Phillip se levantou apressadamente para colocar um lindo anel de brilhantes, que antes estava enrolado no lenço em meu dedo.

Após o jantar e de vários brindes – estava tão tonta e confusa com tudo que não bebi sequer uma gota de vinho – toda a nobreza se despediu aos poucos e os que ficaram se recolheram aos aposentos de hóspedes. O príncipe dormiria por aquela noite no castelo e também se recolheu. Segui para meu quarto pouco antes de meu pai se despedir de todos.

Estava muito assustada e confusa para conseguir dormir. Caminhei pelos corredores do castelo. Sabia que não precisaria voltar à cabana esta noite. Ele estava ali. Dormindo num dos aposentos de hóspedes. Ana me encontrou e me levou de volta para meu quarto. “Vossa Alteza precisa descansar. Nada de fugir esta noite.” Perguntei a ela em que quarto ficara meu pretendente. “Alteza, não faça nada de errado. Amanhã o verá no café-da-manhã. Acalme-se” Mas eu precisava saber e Ana acabou cedendo a minha curiosidade.

Aguardei os sons todos no castelo acabarem. Na certeza de que todos dormiam atravessei os corredores do castelo em direção ao quarto onde dormia Phillip.

janeiro 17, 2011

Capítulo 5 – O encontro

Corri para o toalete e lavei meu rosto, precisava parar de suar e tremer. Ana bateu na porta e avisou que meu pai me chamava. Fui ao encontro dele, mas não no salão de baile. Ele me aguardava em outra sala de estar do castelo. “Filha, como desejo que você não seja mais surpreendida e foi pedido de seu noivo, ele gostaria de falar inicialmente a sós com você. Eu o deixei aguardando em nossa biblioteca. Estarei no salão com os demais convidados, espero que vocês não demorem muito.”

Caminhei apressadamente até a porta da biblioteca e ao entrar não vi o príncipe. Sentado em uma poltrona de costas para a porta ele falou com uma voz forte e conhecida: “Por que você está tremendo? Está com medo de mim?” Novamente senti um arrepio e agora era capaz de ouvir meu coração batendo alto.

A biblioteca estava escura, com apenas algumas velas a ilumina-la. Não consegui ver o rosto quando ele se levantou da poltrona, mas aquela voz... De onde eu conhecia aquela voz. Caminhei lentamente em direção a ele enquanto ele vinha em minha direção. Ia gritar ao reconhece-lo, mas ele tampou rapidamente minha boca com sua mão gelada, enquanto segurava-me contra si com a outra mão.

“Fique calma. Respire. Você não pode gritar, ou vai ter que explicar para o rei o que anda fazendo enquanto ele dorme, ou onde anda dormindo no meio da floresta.” ele falou com um tom sarcástico.

Senti raiva, mas ele tinha razão. E ver minha aia sendo punida me partiria o coração. Parei de lutar para tentar me soltar. Ele foi me soltando lentamente. “Pode perguntar.” Ele falou enquanto eu dava mais um passo para trás. “Quem é você? Ou o que é você? Por que estava naquela cripta na noite passada? O que você quer de mim?” as perguntas saíram quase num sussurro. Ninguém poderia ouvir.

“Vamos nos apresentar primeiro. Meu nome é Phillip III, a muitos anos meus pais construíram um reinado de tristeza e morte, longe daqui. Mas não é disso que você quer saber. Eu sempre quis você.” ele falou dando um passo em minha direção. “Aquela cripta é meu refúgio, onde me escondo quando venho de meu reino e, embora você tenha encontrado a cabana, ela não existe, só quem pode vê-la é você."

“Você é o que estou pensando? É um vampiro?” falei dando mais um passo para trás.

“Sou um ser da noite ou um vampiro como você prefere dizer. Mas não quero que você tenha medo de mim. Saiba que não posso machucá-la.” falou ele chegando bem perto de mim.

Ana bateu e após eu mandar entrar abriu a porta. Com uma bandeja e duas taças de vinho na mão ela falou: “Suas altezas estão sendo aguardadas no salão principal. O rei está chamando.”

janeiro 08, 2011

Capítulo 4 – De volta a rotina

Acordei na manhã seguinte em minha cama no castelo. Dei um pulo da cama ao ver Ana entrar pela porta: “Você me disse que iria chegar mais tarde hoje. Onde está sua capa?” A vontade de contar todo o ocorrido era grande, mas ela ficaria com medo e não me deixaria voltar até lá. Eu nem sabia se realmente queria voltar até aquele lugar. Respondi a ela simplesmente: “Senti saudades de meu quarto, nem tudo é belo além dos portões do castelo.

Após me trocar desci para tomar o café da manhã com meu pai. Descobri que meus planos de voltar para a cabana deveriam ser adiados, porque o rei planejou um jantar de noivado, com toda a nobreza presente e meu pretendente esta noite. Ele iria conversar sobre a aliança antes que eu conhecesse.

Por isso os arranjos e todas as belas decorações no salão de gala do castelo. “Um jantar, papai? Por que não me avisou ontem? O que vestirei?” Ele muito sorridente, pois estava feliz com minha preocupação quanto ao que vestir. “As costureira vieram ontem para isso e voltarão hoje para vesti-la.” Ele estava menos preocupado que da primeira vez que conversamos sobre o casamento arranjado.

Fiquei boa parte da manhã no meu quarto pensando, queria voltar àquela cripta e ter coragem de falar com aquele lindo ser. Mas eu tinha medo e os compromissos deste dia já seriam demais. Não poderia sair após o noivado e se o rei quisesse falar comigo mais tarde. Era tudo muito arriscado.

As costureiras chegaram no meio da tarde. Vesti um lindo vestido em cetim rosa, cheio de fitas e pedrarias. Parecia uma verdadeira princesa. Mas meus pensamentos voltaram para o casamento. E se meu pretendente fosse um velho, feio e barrigudo. Como poderia eu com meus 17 anos me casar com alguém tão mais velho.

Era difícil não pensar neste tipo de coisa, o rei não me dava detalhes sobre meu pretendente. Reino distante e príncipe eram as únicas coisas que eu sabia. O que mais me perturbava era não ter minha mãe para conversar sobre estas coisas. Como seria casar com alguém? Ora, eu deveria ter alguém para falar comigo sobre isso.

A tarde caiu e pude ver o movimento frenético de carruagens chegando de minha janela. Só podia sair de meu quarto quando o rei me chamasse. Assim manda a tradição. Então eu ali, sentada, pronta e só apreciando as luzes e a nobreza chegando pela porta da frente. Avistei uma carruagem negra chegando, com quatro belíssimos cavalos e pude ver alguém saltar da carruagem acompanhado de seu servo. “Será que era o príncipe? Parecia mais novo do que eu pensava. Mas de longe...”

Acompanhei a carruagem com os olhos e vi quando ela foi colocada atrás do castelo distante das demais. “Estranho!” Pensei. Um dos cavalos olhou para cima e vi seus olhos como chamas vermelhas. Meu coração disparou e comecei a tremer, aquilo não era um cavalo normal. Tive uma visão ainda mais pavorosa quando o cavalo arrebatou uma ratazana e a devorou lambendo o sangue que havia escorrido pelo chão.

janeiro 04, 2011

Capítulo 3 – Sonho ou realidade

Ana, minha aia, veio me chamar para o café. Perguntou se eu conseguira ao menos descansar um pouco. Respondi que sim com um gesto. Desci as escadarias ao encontro de meu pai para a primeira refeição do dia. Meu pai voltou a tocar no assunto do casamento. Não queria discutir, nem podia. Todos devem obedecer às ordens do rei.

Minha mente voou o dia inteiro pelos acontecimentos da noite anterior e apesar dos afazeres diários, a visita das costureiras para aumentar meu guarda-roupa, acompanhar o jardineiro pelo jardim para colher as flores mais belas – ao menos isso meu pai permitia que eu fizesse, escolher as flores que adornavam os cômodos do castelo e finalmente a visita de minha tutora, tinha aulas todos os dias, sobre quase todos os assuntos: história, geografia, artes... Deveria conhecer de tudo a filha de um rei.

Não podia, no entanto, fazer minhas próprias escolhas. Devia aceitar as escolhas feitas por outros para minha vida. No jantar, novamente o rei tocou no assunto do casamento informando-me tão somente que eu não conheceria meu pretendente só na data da cerimônia. Abaixei minha cabeça em concordância e pedi permissão para me recolher aos meus aposentos.

Ana já me aguardava com minha capa e acompanhando-me pelas escadas e através das dependências da criadagem, pediu para que eu fosse cautelosa, para que ninguém percebesse minha ausência. “Tome cuidado também com os males e feras que se escondem dentre as árvores, o rei mandará degolar-me se descobrir que estou te ajudando ou se algo pior ocorrer.” Ela sussurrou enquanto abria a porta de saída dos fundos.

Pedi somente para que ela me ajudasse, pois eu gostaria de chegar um pouco mais tarde na manhã seguinte. Ela disse somente: “Cuidado! Irá chover esta noite. Abrigue-se e até amanhã.”

Corri, novamente descalça através dos portões do castelo. Precisava ir exatamente para o mesmo lugar: “A cabana onde dormira na noite passada.” Senti uma sensação assustadora, pois parecia que alguém havia trocado os lençóis da cama onde eu dormi. “Acho que não devia ser tão abandonada assim.” Mas onde estaria o dono? Por que não apareceu na noite passada?

Minha curiosidade superou meu medo. Procurei o alçapão no mesmo local em que estava no meu sonho. Debaixo do tapete velho próximo ao sofá. Já era tarde quando desci as escadas. Era tudo igual ao que havia sonhado na noite anterior. Chegando à cripta abaixo da cabana vi o altar. Removi sua tampa bem mais pesada que no sonho e avistei o caixão. “Aberto! Onde está aquela criatura?”

De repente, senti como se alguém estivesse dentro daquele lugar. Tremi, mas não estava com frio. Ao virar lentamente vi o mesmo ser, que em meu sonho estava deitado dentro do caixão, de pé parado atrás de mim e encarando-me da mesma forma que havia feito no sonho. Tinha que manter o controle. Será que ele me mataria.

Como ele estava impedindo a passagem para a subida da escada, fui me aproximando lentamente, para tentar fugir. Senti um calafrio percorrer meu corpo quando ele se pôs na minha frente mais rápido que um piscar de olhos. “O que você está fazendo em minha casa?” O ar estava denso demais e eu mal conseguia respirar. Ele pegou meus braços e pude sentir suas mãos geladas. “Responda-me! O que veio fazer aqui?” Quase sem voz murmurei: “Tive um sonho noite passada... essa cripta e tudo o que há nela também estavam no sonho...” Antes que conseguisse prosseguir desmaiei.