julho 11, 2011

Capítulo 9 – O terceiro encontro

Durante dias as costureiras vinham pela manhã e só saiam depois que eu escolhesse o último tecido ou experimentasse o último vestido. Mas naquela manhã fria elas começaram a trazer o vestido de noiva, aquele com o qual me casaria, cheio de detalhes, rendas e babados. Uma princesa não poderia se casar com qualquer vestido, teria de ser um vestido digno da realeza.

Ainda estava cansada como na manhã há quatro semanas, logo após a festa de noivado. Mas a idéia de ter um vestido como este era simplesmente revigorante. Quando o dia terminou o vestido ainda não estava pronto, mas já dava para ver como seria quando estivesse pronto. Com a porta do quarto onde ele era guardado entre aberta admirei-o. O medo de todas as cenas dos dias antes parecia se apagar de minha mente ao observar tão bela visão.

Senti minhas forças retornando. Como seria a cerimônia e a festa? O que eu deveria esperar de meu pretendente? Dúvidas aumentaram minha curiosidade e minha mente vagou até a cabana. Precisava voltar lá, ao menos mais uma vez. Senti como se fosse um impulso para voltar àquele lugar sombrio. Será que ainda estaria lá? Será que Philip estaria me esperando? Será que ele poderia responder minhas dúvidas?

Não pensei mais. Falei com Ana, que relutou em me deixar sair, mas insisti. Depois de colocar um pesado xale sobre meus ombros, ela me deu um beijo na testa e pediu para que voltasse mais cedo dessa vez, temia por minha saúde. Saí do palácio correndo, como da primeira vez, mas já não era tão divertido agora. Soltei os cabelos e pude sentir o vento neles.

A noite caiu sobre o bosque e encontrei a cabana logo que o último raio de sol se escondeu no horizonte. Ventava forte. Fechei o xale e entrei pela porta. Estava tudo escuro. Acendi uma vela que estava sobre a mesa. Retirei o xale e os sapatos. Segui pelo alçapão do assoalho, descendo a escada que levava à cripta. O ar estava mais úmido que da última vez, e tudo parecia bem mais escuro.

Acendi as velas próximas das paredes de pedra e me aproximei do altar. Empurrei a tampa com dificuldade, não tinha mais força. Removi a tampa do caixão. Philip dormia, mas parecia estar morto. Cheguei bem perto, senti o frio que saia de sua pele. Aproximei meu rosto um pouco mais. Meu coração parecia estar acelerado. Não resisti ao momento e beijei-o de leve nos lábios.

Ele não acordou. Virei e subi as escadas rapidamente, fechei o alçapão e senti novamente a fraqueza de antes. Sentada na cama fiquei observando a tampa do alçapão enquanto minha mente retornava às imagens que antes me aterrorizavam. Não sabia o que fazer. Pensei: como seria a cabana por fora? Ele havia dito que ela não existia para ninguém.

Coloquei o xale sobre os ombros e com os pés descalços abri a porta. “Philip!” fale assustada ao vê-lo de pé do lado de fora da porta. “Como você fez isso?” perguntei tentando retomar o ar - “Como pôde sair tão depressa do caixão e da cripta e parar aí fora? Como não o vi?” Colocando a mão sobre a minha boca para que me calasse ele respondeu: “Já lhe falei o que sou... não se lembra daquela noite? Onde você pensava em ir?”

Ele segurava-me pela cintura com uma das mãos, enquanto tampava minha boca com a outra. Lentamente ele retirou a mão de minha boca. “Eu ia ver a cabana por fora, você falou que só eu posso vê-la.” falei ainda sem ar “depois dar uma volta pela floresta, por que quer saber? Não parecia se importar comigo quando saiu de meu quarto naquela noite...”

- Mas você ficou bem depois daquilo tudo? Precisava te ver de novo... e acho que você também precisava me ver. - ele falou bem próximo ao meu ouvido enquanto eu tentava me soltar dele.

- Não, não fiquei bem. As imagens daquela noite dificultaram meu sono e costumo dormir com Ana a me observar, não consigo dormir sozinha. Mas você pareceu não notar, na verdade nem sentiu que eu estava mal…

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