março 30, 2024

Capítulo 21 - Encontro com Claus

Depois de mais de uma hora, finalmente o desfecho da ópera e as luzes do teatro se acenderam. Olhei para o camarote a frente, mas ele estava vazio. "Droga"- pensei comigo. Ane e eu nos dirigimos para a saída e já descíamos a escadaria quando senti uma mão pegar meu cotovelo:

- Podemos ir a algum lugar para conversarmos? - Claus perguntou enquanto eu me virava para ver quem havia me tocado.

Antes que eu pudesse responder Ane se antecipou:

- Sim, podemos.

Um calafrio e medo percorreram meu corpo. Estava feito. Encontrei Claus. Precisava da cura de Phillip, rápido. Ele então apontou para uma bela carruagem com belos corcéis negros parada a nossa frente:

- Podem me acompanhar em minha charrete? - ele deu a mão a Ane e depois a mim para subirmos na charrete.

A viagem foi relativamente curta e logo paramos em frente a uma enorme mansão, provavelmente sua residência. Acompanhando-nos para dentro, pude perceber a mesma decoração fúnebre do castelo de Philip. Velas e uma lareira iluminavam uma enorme sala com sofás de couro preto. As cortinas cobriam completamente as janelas impedindo qualquer iluminação externa. Sentei num dos sofás, enquanto Claus foi até um aparador para servir alguma bebida. Sentando-se ao meu lado com uma taça na mão ele começou:

- Qual o seu nome, bela jovem? Você não é de Paris, não?
- Você deve ser Claus, certo? Meu nome prefiro não falar... - respondi tentando me afastar dele.
- O que você veio fazer aqui? O que sabe de mim? - ele perguntou segurando meu braço irritado.
- Sei que provavelmente estou arriscando minha vida, mas vim a Paris atrás de você, Sr. Claus Deidrich. - tentei me desvencilhar de sua mão.
- O que sabe sobre mim? Arriscar sua vida? Estou curioso. - falou ele me soltando e colocando a taça sobre a mesa após esvazia-la em um único gole.
- Sei muito sobre você. - respondi nitidamente tensa
Ele voltou a segurar-me, agora nos pulsos, com uma força sobre-humana.
- O que você sabe sobre mim?
- Sei que você é um vampiro. - falei tentando esconder meu medo.
- Mas veio atrás de mim mesmo sabendo que posso te esmagar como um inseto, ou beber até a última gota de seu sangue em segundos? - ele falou com um sorriso macabro nos lábios.
- Porque só você pode responder a uma pergunta que pode salvar a vida de um velho amigo. O que acha? - falei ainda tentando me soltar.
- Então você deve conhecer Phillip. Quer que eu responda a pergunta da carta dele? Ele andou bebendo sangue de forma errada.... De onde você o conhece? Por que uma bela jovem como você se arriscaria pela vida de um vampiro? - ele falou com outro sorriso, agora malicioso, nos lábios
- Sim, preciso dessa resposta. Mas as suas perguntas infelizmente não poderei responder. Tenho medo de você, mas se me matar Phillip te caçará como um animal e te matará... - falei tentando demonstrar segurança.
- Então você deve ser a princesa que povoava os sonhos de Phillip. Você é valiosa para ele, não é? - ele falou se levantando e me olhando de cima a baixo.
- O que você vai fazer, Claus? Irá me matar ou me dará a resposta que pode curar Phillip? - falei me levantando e caminhando em direção à porta.
Ele rapidamente surgiu na minha frente me impedindo de sair.
- Tenho que pensar. Você é tão bela - ele falou pegando uma mecha do meu cabelo e enrolando em seu dedo, podia sentir seu hálito frio perto de meu rosto. - tão corajosa! Ah, sem dúvidas você é a princesa que ele chamava enquanto dormia... acho que vou te dar a resposta que você procura, mas vou querer algo em troca.
Droga, eu não esperava ter que negociar com um vampiro, mas eu precisava salvar Phillip. Por alguma razão eu não aguentava vê-lo tão doente.
- O que você quer? - perguntei com medo
- Hum - ele se afastou virando de costas para mim, colocou a mão no queixo, virou-se novamente para mim e então falou - Apenas um beijo em troca da cura de seu príncipe. Nunca beijei uma princesa tão bela e tão corajosa, queria saber o gosto desses lábios.
Respirei fundo, engoli em seco, cheguei a pensar em correr, mas respondi:
- Se você me der a cura, terá seu pagamento. - falei rápido e completamente apavorada.
- Ele precisa do meu sangue. - ele falou rapidamente - Agora meu pagamento. - ele falou rapidamente me envolvendo em seus braços.

Antes que eu percebesse ele já estava tocando seus lábios frios nos meus, em segundos que pareceram horas. Ele então ele se afastou, mas manteve suas mãos ao redor da minha cintura:
- Vamos, tenho que arrumar minhas malas, preciso salvar meu menino.
- Como? Não entendi. - falei tentando recuperar fôlego.
- Partimos hoje, minha bela. Antes que Phillip fique mais debilitado. - ele falou com um sorriso ainda mais malicioso.
Tentei recuperar o ar.
- Embarcamos hoje? Como isso será possível? - pensei, pois era difícil conseguir um navio que partisse à noite, ainda mais em cima da hora.
- Eu resolvo isso, minha doce menina. A carruagem levará você e sua acompanhante para buscar suas bagagens, nos encontraremos no porto.
- Hoje! Precisamos ser rápidos. - Ele falou praticamente me empurrando para dentro da carruagem.

Capítulo 20 - Visitando Claus

Saí do quarto com uma idéia fixa. Eu precisava tentar salva-lo. O casamento seria adiado, pois ele estava muito fraco. Dormi confortavelmente no meu quarto em seu castelo, mas acordei bem cedo, antes do Rei. Eu precisava de uma boa desculpa para ir a Paris. Tinha que encontrar Claus e as respostas das quais Phillip precisava para melhorar.

Aproveitei para remexer documentos no escritório de Phillip, precisava de algum endereço, alguma idéia de onde encontrar Claus. Achei cartas. Perfeito. Pude ouvir Phillip passando ordens ao seu servo e tive medo de que ele tentasse me impedir. Será que ele sabia dos meus planos? Acho que ele podia pensar depois de noss conversa na noite anterior.

Com o auxílio de Ane, parti cedo, carregando o mínimo possível de bagagem. Deixei um bilhete para meu pai informando que precisaria resolver algo em relação ao enxoval e aproveitaria o fato do noivo estar doente para isso. Meu pai acreditaria, ele jamais pensaria que eu tinha planos mais perigosos.

Minha aia e eu fingimos ser apenas duas nobre a caminho de Paris para compras. Embarcamos em um navio no porto sem que ningu;em desconfiasse que eu era da realeza. A viagem foi longa e muito cansativa, passei grande parte dela enjoada e dormindo. 

Estava vivendo uma aventura, mas Ane achava que seria castigada pela minha loucura. Contudo, assegurei a ela que eu precisava ajudar meu noivo. Chegamos ao porto de Nantes numa manhã ensolarada. Depois de uma viagem de charrete passando por Rennes e outros pequenos vilarejos, finalmente chegamos ao nosso destino.

Ane e eu procuramos uma hospedaria para ficarmos por poucos dias. Eu precisava encontrar Claus, então resolvi colocar nossas bagagens em nosso quarto, descansar brevemente, trocar de roupa e seguir para a minha busca. 

O sol se punha na hora em que eu e Ane saímos a procura de Claus Deidrich. Acabamos conhecendo quase toda Paris, além de conseguirmos coletar muitas informações sobre Claus. Estava muito tarde quando resolvemos voltar para nossa hospedagem.

Jantamos num restaurante próximo enqunto Ane e eu conversamos sobre nossas descobertas:
- Sua Alteza precisa me explicar qual a finalidade de perseguirmos a história deste Claus Deidrich? Estou preocupada.
- Ane, essa é uma longa história, mas tudo o que você precisa saber é que Claus detém o conhecimento sobre como curar o príncipe Phillip. Quando estiver pronta contarei a você os detalhes, mas você precisa confiar em mim por agora. - respondi contendo as emoções
- Certo. Comecemos com o que nos disse aquela senhora no porto. Aparentemente o Sr. Claus é assíduo frequentador da Ópera, mas está sempre distante dos demais espectadores em um camarote dele.
- Depois temos o que aquele funcionário do teatro informou - falei enquanto fazia pequenas anotações em um caderninho que trouxe comigo - Sr. Claus está sempre acompanhado de um rapaz, que embora aparente ter a mesma idade dele, ele chama de filho.
- Há também o que foi dito pelo funcionário da bilheteria do teatro, ambos sempre ficam no mesmo camarote, e saem da ópera acompanhados de alguma moça rica da alta sociedade, mas aparentemente são encontros furtivos e os relacionamentos não passam de uma semana.
- Precisamos revervar o camarote em frente ao dele e nos fazer perceber. Preciso da cura de Phillip e somente ele poderá me dar essa informação... - pensei tendo calafrios, pois eu sabia que iria confrontar a besta que transformou Phillip num vampiro.

Na manhã seguinte, pouco depois das dez, saímos em direção à bilheteria do teatro, reservamos o camrote. Depois segui para uma loja badalada e comprei um belo vestido vermelho de cetim. Foi o dia mais cansativo, pois passamos boa parte dele nos arrumando para a ópera. Entramos no teatro e sentamos em nosso camarote, mas o camarote a frante estava vazio.

Uma tensão e medo percorreram minha espinha. E se ele não aparecesse? E se Phillip não sobrevivesse? Eu tentei manter minha respiração regular. O palco se iluminou e as luzes da plateia se apagaram. Após quinze minutos agonizates, finalmente observei uma figura assustadoramente bela no camarote a frente. Ane suspirou diante de tamanha beleza. Cabelos negros, olhos verdes e uma pele branca. Parecia que cada traço dele era desenhado. 

Comecei a tentar chamar a atenção dele trocando olhares e de repente percebi que havia conseguido, pois ele me retribuiu com um sorriso malicioso em seu rosto. Embora fosse uma princesa eu nunca havia assistido a uma ópera e realmente gostei do que assisti. 
 
 

Capítulo 19 - A Visita

Ao terminar de ler a carta, o rei mandou que minha aia ajudasse a arrumar uma bagagem. - Você vai comigo! - o rei ordenou olhando diretamente para mim. Ele queria saber qual a questão que assolava a saúde de Phillip e aproveitaria para me apresentar minha futura residência. Um arrepio de dúvida percorreu meu corpo.

- Mas será prudente eu ir? - questionei meu pai

- Isto é uma ordem de seu pai em cumprimento a um pedido de seu noivo. Apenas obedeça. Vá se arrumar, pois a carruagem já deve estar a caminho.

O rei chamou seu primeiro ministro avisando-lhe de sua pequena, mas urgente viagem e este informou que cuidaria dos assuntos do reino de forma a parecer que o rei não viajou.

No dia seguinte acordei cedo, meu pai não dormiu a noite inteira. Partimos logo após o café e a carruagem estava a nossa espera. A viajem foi cansativa, por isso paramos para comer e dormir. Chegamos a um pequeno vilarejo, numa noite. Havia quartos reservados para nós, pelo príncipe. O rei finalmente dormiu um pouco. Eu passei a noite acordada com meus pensametos.

Continuamos a viagem ao amanhecer. Durante a viajem dormium pouco dentro da carruagem. Estava exausta. Após três noites sem dormir, fui acordada por meu pai quando nos aproximamos do castelo. 

- Olhe que bela floresta! Parece viva! - ele falou afastando a cortina e olhando para fora da pequena janela da carruagem.

Era noite quando ouvi os portões do castelo abrirem. As imponentes torres, que para meu pai eram desnecessárias quando se temum bom exército e uma excelente guarda real. Meu estômago doeu quando desci da carruagem. 

O servo de Philip nos recebeu e gentilmente perguntou sobre como foi a nossa viagem enquanto nos guiava para dentro e diretamente para nossos aposentos, onde poderiamos descansar antes do jantar. O quarto onde fiquei tinha uma decoração delicada, quase angelical. 

Era agradável, diferente do resto do castelo que possuia uma aurea mais sombria e uma decoração mais masculina. Os lençóis eram de seda clara, parecia que este quarto nunca havia abrigado ninguém. Belo, delicado, perfeito para mim. Descobri que era também o quarto mais próximo ao quarto do príncipe. Assim que eu pudesse, tenatria descobrir o que estava acontecendo com meu noivo.

Após um banho relaxante numa bela banheira branca com pés dourados, pude deitar na cama macia e decorada com um belo docel com tecidos finos e esvoaçantes protegendo meu sono. Deitei e rapidamente dormi. Aquele quarto me trazia uma sensação de segurança e tranquilidade. Após um bom tempo fui acordada pelas batidas na porta do servo do príncipe nos chamando para o jantar.

Levantei revigorada, meu pai já me aguardava no grande salão de jantar. A decoração aqui acompanhava a mesma do resto do castelo, levemente assustadora, couro, madeira escura, paredes de pedra, era um salão frio, apesar da lareira e das enormes tochas que o iluminavam.

Depois do jantar retornamos aos nossos aposentos. O quarto era perfeito, mas a preocupação com Phillip não me permitiu adormecer. Eu precisava saber dele. Que doença o teria acometido? Resolvi levantar, porque havia passado muito tempo pensando nele. Caminhei lentamente, saí pela porta sem fazer um ruído e encostei meu ouvido na porta do quarto dele. Só pude ouvir um barulho forte de respiração ofegante.

Segurei a maçaneta delicadamente e a virei devagar. Abri a porta com a mesma cautela, lentamente para não acordá-lo. Entrei num quarto escuro com pouca iluminação vinda de uma lareira. Mas consegui vê-lo deitado em sua enorme cama em meio ao docel pesado de tecido aveludado escuro, as cortinas pesadas fechadas. Havia uma bacia de água fervente ao lado da cama que deixava o clime úmido, uma umidade com um leve aroma de lavanda e limão.

Resolvi continuar caminhando lentamente até a beira da cama, só de sentir seu cheiro consegui sentir meu coração quase pular para fora do peito. Ele parecia dormir profundamente. Respirava mal. Não resisti e toquei seu rosto, ele abriu os olhos nervoso, sua mão segurou meu pulso e com sua voz rouca ele falou:

- O que você faz aqui? Não quero que me veja assim!
- Perdoe-me, Alteza, mas eu precisava vê-lo. Não consigo dormir sabendo que você está doente. - respondi com a voz trêmula do susto.
- Não quero você aqui! Saia agora! - ele ordenou...
- Diga-me,o que há com Vossa Alteza? E vou embora - respondi
- Não quero diser, saia agora! - ele continuou ordenando
- Por que? - o desafiei, soltando minha mão da sua e ficando em pé
- Você não me obedece, pelo menos respeite minha doença e saisa daqui! - ele continuou tentando
- Eu vou sair! Você conhece meus sentimentos. Mas assim que o sol nascer pedirei a meu pai para retornarmos para casa, você não me verá mais. - respondi dando dois passos para trás
- Do que você est;a falando? Você é minha, princesa. Você não poderá fugir disso!
- Não, mas posso te dar o pior casamento que já existiu. Posso te dar o que você está me dando agora... minha indiferença para que você sofra pela eternidade. O que acha?
- Se fizer isso, matarei todos em seu reino, bebendo até a última gota de sangue de cada um, até mesmo seu pai. - ele retrucou com raiva
- Vossa alteza é um ser ruim! Como meu pai pode pensar em me casar com algu;em assim? O príncipe não percebe que só quero ajudá-lo? Parece que deseja de fato o adiamento do casamento! Chega! Vou deixa-lo em paz, não vou mais ouvi-lo.
Virei e segui emdireção à porta. Parei assim que o senti me segurar pela cintura, ele rapidamente se levantou e me alcançou. Um calafrio percorreu meu corpo. Tive medo de que ele me machucasse, por raiva. Mas pude ouvir a voz suae dele em meu ouvido:
- Não quero que você vá, mas não quero que me veja assim.
- Por que não me fala o que você tem? - falei virando para olhar em seus olhos.
- Não quero falar. - ele repondeu desviando os olhos dos meus.
- Então me deixe voltar para casa. Espero você melhorar. Mas não aguento ve-lo tao vulnerável sem poder ajuda-lo. - coloquei as mãos em seu peito para afastá-lo de mim
Ele voltou seus olhos para os meus e falou:
- Não posso deixa-la ir. Finalmente sinto que você tem sentimentos por mim e não consigo deixa-la ir. Quero você perto. Só não quero que me veja assim.
- Não posso te ajudar, não sei o que você tem, você não me diz e está começando a doer ver você assim. Achei que ficaria melhor se te visse, mas não. - falei colocando mais força em minhas mãos para me livrar de seu aperto.
Ele olhou ao redor, como se estivesse pensando bastante. Não me soltou de seus braços. Pegou meu pulso e me pediu para sentar na ponta da cama. Ele se deitou, colocou minha mão sobre seu peito, se cobriu e tentou respirar profundamente, olhando diretamente nos meus olhos falou:
- Eu cometi um erro. Tomei sangue ruim. Os vampiros chamam de sangue estragado.
- Como assim? - perguntei nervosa
- Nós precisamos tomar o sangue até o coração da criatura parar de bater e nem uma gota a mais. Sempre ouvi sobre, mas nunca soube das consequencias. Não sei até quando ficarei assim. Tenho febres, muita fraqueza, não sei se sobreviverei. Estou em busca de Claus Deidrich, o vampiro que me transformou nessa criatura. Sei que ele mora em Paris, mas meus servos não o localizaram. Ele deve saber como posso melhorar, mas preciso que o encontrem. Acho que ele não quer que eu o encontre. Ele queria que eu fosse seu filho, deve querer me ver morto, porque fugi dele.
Levantei, mas Phillip segurou meu pulso:
- Fique comigo essa noite. - ele suplicou com os olhos tristes
- Preciso ir - respondi confusa, mas sabendo exatamente para onde eu precisava ir.
- Eu imploro, posso não ter mais uma noite para passar com minha princesa. - ele implorou
- Você está fraco, descanse. Eu voltarei. - ele me soltou e resmungou triste
-  Então vá...
- Sei exatamente o que preciso fazer! - falei quase que pensando alto
- O que você vai fazer? - seu olhar era de preocupação.
Saí do quarto sabendo exatamente o que precisava fazer e onde eu iria.


 

março 29, 2024

Capítulo 18 - A carta

Pude vê-lo sair pelo portão principal do castelo, seguindo até sua carruagem que já o aguardava do lado de fora do castelo. Tive muito tempo para pensar em tudo que aconteceu, durante o tempo em que eu não o vi. Não dormia mais direito e só me alimentava quando obrigada por meu pai ou minha aia. Foi a pior dor que eu sentira, aquelas saudades.

Os dias eram todos iguais. Tudo parecia se repetir. Cheguei a fugir uma tarde para ir até a cabana, para ver se encontrava Phillip, mas ele não estava lá. Ele me mandava cartas todos os dias, mas eu não as abri. Não queria saber de nada, não respondi a nenhuma delas. Ele parecia saber que eu não lia as cartas, pois também enviava cartas ao Rei.
Meu pai parecia empolgado ao contar sobre cada uma delas. Eu não ouvia.

Faltavam cinco dias para o casamento, quando recebi uma carta diferente. Um servo do príncipe relatava que ele havia adoecido. A letra não era a dele. A carta dizia que havia a possibilidade de adiamento do casamento, caso ele não se recuperasse.

Fiquei apavorada com a ideia de um adiamento. Uma pergunta não saia de minha mente: Como um vampiro, um ser imortal, poderia adoecer? Pedi permissão ao Rei para visita-lo, era algo razoável, pois tratava-se de meu noivo.

Meu pai disse que ele deveria ir ver o estado de Phillip e não eu. Concordei com o Rei, mas pedi para que ele me desse notícias. Antes de ir, no entanto, de forma cordial o Rei preferiu enviar uma carta ao principe pedindo permissão para ir ve-lo. Meu pai perguntou se haveria algum problema dele levar consigo a princesa.

Passei a noite pensando. Não consegui descansar imaginando qual enfermidade teria caído sobre Phillip. Dois dias depois a carta finalmente chegou, para a minha surpresa na letra de Phillip:

"Caro amigo,

Sinto muito por meu estado e também por não poder recebê-lo. É uma pena,pois eu adoraria rever minha noiva. No entanto, convido-os para virem de qualquer forma, mesmo sem que eu possa vê-los pessoalmente, mas ao menos conheçam meu castelo.
Se possível, traga minha adorável noiva, saber que ela estará próxima de mim pode ao menos diminuir um pouco minha solidão.
Meu servo real irá recebê-los e acomodá-los.
Amanhã enviarei uma carruagem para busca-los e para que passem ao menos uma noite em meu castelo.

Philip III"

Capítulo 17 - Primeira despedida

Embora estivesse com vontade de estar na presença do príncipe, sabendo que ele era um prisioneiro no meu quarto, aproveitei para dar uma volta nos jardins após o almoço. Precisava do ar e de um tempo com meus pensamentos. Nunca conseguiria responder às perguntas dele. Todas as vezes que o beijei ele dormia. E o fiz intencionalmente.
Uma luz rapidamente clareou meus pensamentos, eu estava completamente apaixonada por ele. Não fazia idéia do que dizer a ele. Não teria coragem de me declarar. Mas os pesadelos e todo o restante sobre quem ou o que ele era me assustavam. Como eu conseguiria superar tudo.
Senti uma brisa gelada e, com receio de adoecer novamente, entrei no castelo. O casamento seria em uma semana e agora eu não queria adiá-lo. Subi as escadas em silêncio. Entrei no meu quarto e o vi novamente adormecido na poltrona. 
Tirei meus sapatos para não fazer barulho. Entrei andando silenciosamente no banheiro. Tomei um demorado banho quente e coloquei um vestido mais confortável. Saí do banheiro sem fazer nenhum ruído e caminhei até minha cama, deitando e puxei as cobertas para me cobrir.
Estava muito cansada. Adormeci. Novamente os sonhos sangrentos tomaram conta do meu sono. Senti duas mãos me levantando, colocando-me sentada, no exato momento em que um lobo saltou em minha direção no pesadelo.
- Respire! - ouvi a voz suave de Phillip me fala. - Outro pesadelo, minha princesa?
Dessa vez demorei a abrir os olhos.
- Sim. Sempre sangrentos, sempre assustadores. - falei ao perceber que eu transpirava bastante.
- Podemos retomar nossa conversa, quando você retornou? Não a vi entrar, tão pouco a vi trocar-se. - ele falou reparando no vestido diferente.
- Vossa alteza dormia, não quis acorda-lo. - respondi tentando fugir das questões que eu já sabia que ele voltaria a fazer.
- Sabe se já anoiteceu? Perdi a noção do tempo. - falou ele que continuava a me segurar circulando seus braços com suas mão em minhas costas.
Fiz um movimento para me levantar e caminhar até a janela e ele me soltou. Abrindo uma pequena fresta pela cortina pude ver que o sol já estava se pondo.
- Falta pouco, Alteza! O sol está se pondo. - falei um pouco triste. Ele percebeu minha tristeza e caminhou ate mim, próximo à poltrona, onde ele antes estava descansando.
- Está triste? Minha princesa, responda-se ao menos uma de minhas perguntas. - ele falou dando mais um passo em minha direção. - Só uma pergunta?
- Sim. - respondi quando ele me alcançou e segurou meus pulsos. - responderei uma pergunta. - falei firme, sem olhar em seus olhos.
- Está triste pelo mesmo motivo que me acordou com um beijo ou pelo mesmo motivo pelo qual chorou quando fui atingido pelo sol? - ele perguntou me puxando para perto dele. Colocando minhas mãos em seu peito.
- Sim, sim - respondi quase sem sol, meu coração disparado pela proximidade dele.
- Minha princesa está se apaixonando pelo monstro? - ele falou com um sorriso malicioso em seus lábios.
- Não. - respondi ainda tentando buscar o ar
- Não entendi. - ele falou confuso, passando suas mãos pela minha cintura e me aproximado de seu corpo. - Seu coração está gritando outra coisa, minha princesa. - ele falou ressaltando o quanto meu coração parecia ruidoso naquele momento.
Engoli em seco e falei: - Não estou me apaixonando por você, pois isso já ocorreu há muito tempo...
- Não estou entendendo. - ele falou olhando bem nos meus olhos
- Eu há muito já me apaixonei por você! Talvez o medo seja maior por isso. Por saber que sou completamete vulnerável a você! - falei me soltando de seu aperto e caminhando em direção a cortina. 
Ao perceber que já havia anoitecido, abri a cortina.
- Sua alteza já tem suas respostas e já não precisa mais ficar preso aqui. - falei apontando para a janela.
- Perdi a hora! - ele falou. - Preciso ir. Nos veremos em breve,minha princesa. Na cerimônia!



Capítulo 16 - O dia do vestido

Fiquei completamente corada com a pergunta, gaguejei:
- Porque... porque... tive medo... te beijei..., porque quando te conheci tive vontade de beija-lo e não sabia se você corresponderia. - levantei rapidamente, retomando minhas forças e envergonhada.
Virei para a porta, saí correndo, fechando-a atrás de mim.
Desci até a cozinha, onde peguei uma maçã. A única coisa que meu estomago estava aceitando bem. Encontrei Ane, que rapidamente me arrastou para a saleta de chá onde a costureira já me aguardava.
Pensamentos sobre os últimos acontecimentos povoaram a minha mente: "Será que ele tentaria vir atrás de mim? O que será que ele estaria pensando de mim depois do ocorrido?" 
O vestido era lindo. Delicado, com todas as rendas e todo o brilho que a realeza merecia. Mas minha mente permanecia no fato do príncipe dentro do meu quarto.
Após horas intermináveis, meu pai chegou bem no final dos ajustes e ficou próximo à porta observando com admiração, eu e o vestido.
- Minha filha! - ele falou comum sorriso nos lábios. - você está linda! Príncipe Phillip ainda está conosco? - ele me perguntou e fiquei tensa em perceber que o príncipe estava preso em meu quarto.
- Acredito que sim, papai! Passei os últimos dias descansando como você pediu. - falei empolgada.
- Troque de roupa, vamos almoçar. Vou pedir a um servo para convidar o príncipe a se juntar a nós. - o rei falou virando-se para sair.
Um arrepio correu minha espinha. "E se o servo descobrir que o príncipe está em meu quarto?"
Logo após me despedir das costureiras corri pelas escadas e cheguei ao meu quarto o mais rápido que pude, encontrando o príncipe dormindo na poltrona em frente à janela.
- Phillip! - tentei acordá-lo, mas ele parecia dormir profundamente. Beijei-o nos lábios. Ele abriu os olhos.
- Voltou? - ele falou com um sorriso nos lábios, mas dessa vez não consegui fugir a tempo, ele me segurou passando uma mão pela minha nuca e a outra segurando meu pulso. - Sem fugir, princesa! Quero minhas respostas, lhe dei as suas. - ele falou com um olhar malicioso.
Meu coração disparou, a proximidade com ele fazia o ar escapar de meus pulmões. Ele parecia estar se deliciando do momento.
- Posso ouvir seu coração disparado, princesa! Está com medo? Acha que eu vou te machucar? - ele perguntou com uma voz assertiva.
- Não. - respondi, tentando retomar o controle sobre minha respiração. - O Rei chegou. Perguntou se você ainda estava pelo castelo e queria que você se juntasse a nós para almoçar.
- Vou deixá-la levar o recado para o rei, mas nossa conversa não acabou, fale a ele que estou um pouco cansado, por isso não me juntarei a vocês. - ele falou soltando o aperto de suas mãos em minha nuca e meu pulso. - estarei te aguardando!
Saí pela porta e voltei para o salão de jantar. Informei ao Rei da situação do príncipe e sentamos para almoçar. Finalmente, depois de dias ruins, consegui me alimentar. Ao final da refeição o rei se recolheu ao seu escritório e me mandou voltar ao meu quarto, para que eu pudesse descansar...

Capítulo 15 - O sol e o susto

- Ainda tenho medo de você... mas estou muito cansada... acho que terei mais pesadelos... principalmente por saber que você me observava esse tempo todo... - falei com a voz rouca, tentando respirar.

- Dei suas respostas. Quero a minha. Por que você não teria coragem de me bater? - ele falou, enquanto ouvimos o barulho da maçaneta girar. 

Pedi a ele que permanecesse sentado onde estava, quando minha aia adentrou o quarto. Havia amahecido. Não percebemos. Ane me trouxe o café da manhã, mas eu sabia que não conseguiria comer. Não tinha dormido. Estava exausta.

Ela viu Phillip sentado na poltrona próxima a janela e ele falou a ela que estava cuidando de mim. Ela discretamente saiu, depois de deixar a bandeja em uma mesinha e fechar a porta atrás de si.

- Posso esperar por sua resposta. - ele disse persistente, apontando para a bandeja. - Vossa Alteza tem que se alimentar.

- Você não poderá sair daqui agora, amanheceu. - falei apontando para as pesadas cortinas fechadas na frente de minha janela. Adormeci após falar.

Hoje seria o dia em que as costureiras viriam para a prova do vestido. Phillip me acordou acariciando meu rosto. 

- Ao menos dessa vez não houve gritos. Seu sono pareceu melhor. Ainda houve um murmúrio... - ele falou calmamente olhando em meus olhos, mas o interrompi.

- Mas tive pesadelos! Quanto tempo eu dormi? - falei me descobrindo e levantando a caminho do banheiro.

- Dormiu pouco mais de quatro horas, princesa. Por que a pressa? Você ainda tem que descansar. - ele falou sentado ao lado da cama me acompanhando com os olhos.

- Hoje é a primeira prova do vestido de noiva. - falei do banheiro arrumando meu cabelo e lavando meu rosto.

- Isso é muito importante para mim. - ele falou se levantando e caminhando em direção à porta - Vou deixá-la a sós.

Corri antes que ele virasse a maçaneta para sair e segurei sua mão, colocando-me entre a porta e ele.

- Príncipe, não saia desse quarto! Todas as janelas do castelo são abertas às 8h e não quero pensar no que aconteceria se um raio de sol lhe atingisse. - falei retomando o folego

Ele acariciou minha bochecha e delicadamente colocou uma mecha de meu cabelo atrás de minha orelha, falando com a voz mais suave que já havia ouvido dele:

- A princesa está preocupada com a vida de seu noivo? - pude notar um leve sorriso no canto de seus belos lábios.

- Talvez - falei, tentando fugir do quarto, mas falhando miseravelmente.

- Princesa, deixe-me ver, ele virou a maçaneta e me empurrou, ele era muito forte.

- Não - gritei no exato momento em que uma leve fresta da porta revelou a claridade do lado de fora de meu quarto.

Phillip fechou a porta e caiu para trás como se tivesse levado um golpe, totalmente desacordado. Assustada, ajoelhei e segurei sua cabeça em minhas mãos. Tentei puxa-lo para longe da porta. Eu não sabia o que fazer.

- Acorda! - ordenei a ele enquanto uma lágrima escorria de meus olhos -... você não é tão frágil assim, não morra!

Observei-o durante algum tempo. Mais lágrimas embaçaram minha visão. Dei um beijo em seus lábios gelados. Ele abriu os olhos e disse enxugando minhas lágrimas:

- O que aconteceu?

- Você desmaiou. Há luz do sol lá fora, Há uma enorme janela no final docorredor que o ilumina todo. Você tem que ficar aqui. Eu preciso sair do quarto, mas você só poderá sair quando anoitecer.

- Por que a princesa me beijou? - ele perguntou olhando diretamente nos meus olhos, enquanto sentava.







março 10, 2024

Capítulo 14 - O passado

Philip me carregou até a minha cama. Retirou meus sapatos e me cobriu com o semblante ainda preso à pergunta: 
- Por que Sua Alteza não teria coragem de bater em mim?

- Estou muito cansada, não me sinto bem. Deixe-me dormir. Não vou responde-lo, enquanto você não responder às minhas perguntas...

- A princesa está cansada demais para ouvir sobre minha vida, melhor descansar. Ainda estarei aqui quando você acordar.

- Existe algo que gostaria de saber, qual o sabor do sangue? É bom? Você quer experimentar o meu?

- Você está sendo má. Pare com isso! - ele respondeu virando-se para sair

- Quem fez isso com você? Quem te transformou nesse monstro?

Eu pude ver uma lágrima escorrer por seu rosto, ele abaixou a cabeça e voltou para o lado de minha cama, ajoelhando-se ao lado de onde eu estava deitada, com seu rosto próximo ao meu:

- Uma semana após o seu nascimento, há 17 anos, minha mãe adoeceu e faleceu. Meu pai culpava a mim e meu irmão. Era doloroso, então juntei alguns servos de meu pai, levei-os a um ponto da floresta e pedi para que construíssem a cabana. Aquela que você pode ver. Passou-se um ano, e meu pai começou a sentir minha falta, porque eu passava mais tempo na cabana e na floresta do que no castelo. De lá eu conseguia vir até próximo de seu castelo. Te conheci e te vi crescer. Era como se seus olhos também gostassem de mim. Revoltado com a minha ausência, meu pai amargo com suas dores, me enviou para estudar em Paris, na França a um oceano de distância. Comecei a sofrer com saudades de você.

- Não precisa continuar. - falei nervosa

- Recebi uma carta com a notícia da morte de meu irmão. Ele caiu da torre principal do castelo, ele já não aguentava o sofrimento de meu pai e a ausência da minha mãe. E eu estava distante demais. Comecei a sair para beber. Tentando fugir dos demônios do passado. Numa dessas noites fui seguido por uma figura estranha, mas não percebi de pronto. Senti a criatura se aproximar, mas corri muito. Acabei parando em um beco frente a frente com a criatura. Ele era assustador e muito forte, ele falou com uma voz grossa: "Está sofrendo, posso ver em seus olhos. Deixe-me tirar esse sofrimento de você. Você quer?"Eu estava fraco e bêbado, não sabia o que fazer e aceitei. Depois disso senti os dentes da criatura em meu pescoço. Bêbado e fraco, fiquei quase sem sangue, porque ele havia sido sugado pela criatura, Senti a morte em meu corpo, quando ele retirou do bolso um pequeno punhal e cortou o próprio pulso. E deu de seu sangue para que eu bebesse.

- Acho que foi o suficiente, chega! - falei cobrindo meu rosto.

- Preciso ir até o fim, apenas ouça. - ele disse retirando o cobertor de meu rosto já banhado em lágrimas. 
- Quando acordei estava dentro de um caixão numa cripta e a estranha criatura estava sentada ao lado do caixão. Perguntei o que havia acontecido. Assim que ele acabou a explicação corri Busquei refúgio para me esconder. Meu pai começou a mandar diversas correspondências para que eu voltasse, mas eu não tinha coragem. Passei dois meses me escondendo, então resolvi voltar. Meu pai me achou estranho, mas achou que era consequência da perda pela qual passamos.

- Por que você não se matou? Como seu irmão – falei quase num soluço, sem conter as lágrimas que escorriam pelos meus olhos.

- Voltei para a minha cabana. De lá eu ficava mais perto para te observar todas as noites. Por você não me matei. De noite, do lado de fora de sua janela eu te vigiava. Você estava crescendo. Linda. Você ia ser minha. Meu pai adoeceu e em seu leito de morte contei-lhe o que aconteceu comigo em Paris, ele me perdoou.



Capítulo 13 - Verdades

Tentei me alimentar seguindo as ordens do rei. Não poderia sair mais do castelo, mas havia muita coisa que eu ainda precisava saber sobre meu pretendente. Fui até a janela para ver que seu cavalo ainda estava na baia. "Ele está aqui!" - meu coração acelerou, chamei Ana. Queria trocar-me antes de sair na porta de meu quarto. Não podia encontrar com ninguém de camisola!

Minha aia me auxiliou com o vestido e ajeitou meu cabelo. Constatei que eu havia perdido peso. Mas já não sentia a febre, nem o cansaço forte de antes. Assim que terminei de me vestir perguntei a ela:

- Onde está o rei?" Ana sabia que não era quem eu realmente queria encontrar, então respondeu:

- Ele estava no escritório conversando com o príncipe, mas mandou que preparassem sua carruagem, para ir até um de seus conselheiros, mas o príncipe está na biblioteca lendo desde então.

Ela de fato sabia que eu queria saber do príncipe. Saí pelas portas de meu quarto e apressei minha passada, antes de entrar na biblioteca falei a Ana que não gostaria que minha conversa com meu noivo fosse interrompida, que ela alertasse para ninguém entrasse ali. Terminei de falar abrindo as portas e entrando na enorme sala cercada de enormes prateleiras com livros do chão ao teto e pude ver Philip sentado de costas para a porta.

- Sua alteza está se sentindo melhor? - sua voz suave pareceu reconhecer-me pelos passos. Respirei fundo para responder: 
- Sim, na verdade preciso saber por quanto tempo você está aqui? - falei enquanto caminhava até uma das prateleiras próximas de onde ele estava sentado.

- Desde a noite em que te trouxe da floresta. Falei que ficaria até ter certeza de que você estava bem e segura. Cumpri com minha palavra. - ele falou levantando e caminhando até mim "Mas posso ver que não está totalmente recuperada." Ele percebeu que eu ainda não estava bem.

- Estou bem- falei tentando esconder uma leve tonteira. "Sem as respostas às perguntas que já fiz e repeti para você, será difícil me recuperar. Não acho que tenha sido uma infecção, mas não posso falar com o rei que durmo mal e não como direito porque não consigo tirar as imagens assustadoras dos últimos dias de minha mente." - me afastei um pouco.

- Então por isso você falava, chorava e até chegou a gritas durante o sono? - ele falou parando. "Você não precisa fugir de mim, vou responder todas as suas perguntas." - ele falou voltando para a poltrona onde estava sentado e apontando para a poltrona próxima, para que eu pudesse me sentar.

"Desde o noivado sonho com cavalos devorando ratazanas e muito sangue. Depois disso sonho com você, em sua forma mais assustadora devorando os lobos..."- meu coração acelerou e eu não consegui respirar.

Philip saltou de sua poltrona em minha direção e se ajoelhou aos meus pés segurando as minhas mãos, sua voz um pouco mais exaltada: "Acalme-se! Respire fundo. Eu vou te explicar tudo!" Como ele podia saber que eu estava prestes a ter um ataque de pânico. Aos poucos seu toque gelado me aclamou.

- Começando pelos cavalos de minha carruagem, eu os transformei para terem mais resistência em longas viagens. Já te falei que meu reino fica bem distante. São mais de 10 dias de viagem, transformados eles fazem em 5 dias. - ele falou retornando a sua poltrona.

Parecia uma tortura ouvir essas verdades assustadoras, mas poderia ser mais terrível: "Você também se alimenta de sangue de ratazanas? Ou de lobos?"- meu estômago embrulhou com a imagem formada na minha mente imediatamente, levantei, buscando tomar um pouco de distancia, talvez com medo da resposta...

- Sim, não me alimento de sangue humano, mas me alimento de sangue de outros animais, para evitar a fome, ela pode me tornar um ser perigoso. - ao ouvir a resposta, talvez pelo horror nela saí correndo da biblioteca, e continuei correndo pelas escadarias, só parando após atravessar os jardins e atingir o portão do castelo.

Uma súbita tonteira me atingiu, eu não conseguia respirar, quase caí, mas senti fortes braços me segurarem, antes que eu chegasse ao chão. "Eu não queria que você soubesse de cada detalhe assustador sobre mim, mas você insiste em perguntar. Você ainda está fraca. Quer que eu e leve de volta ao castelo ou quer que eu vá embora?" - ouvi sua voz num tom mais suave

- Não sei, não quero pensar. Não acredito no que você acabou de me dizer. De qualquer forma, não acredito que consiga voltar caminhando sozinha. - respondi tentando respirar.

- Está com medo de mim? Por que correu? Por que você não me bateu ou gritou comigo? - ele falou me ajudando a ficar de pé.

- Não tenho coragem de te bater, mas também não tenho medo de você.

Voltamos para dentro do castelo, eu estava muito cansada. Meus braços e pernas doíam. Não consegui subir as escadas, eu precisava dormir.

- Por que você não tem coragem de me bater? - ele perguntou enquanto me carregava pelos degraus até meu quarto.

Capítulo 12: Descoberta

Não adiantou minha insistência. Desacordada, ele me levou até meu quarto dentro do castelo. Abri os olhos em minha cama, mas ainda era noite. Não consegui ver se ele estava lá. Levantei, mas antes que pudesse chegar na porta ouvi sua voz suave atrás de mim. 
 - Deite-se, você não está bem!"

Virei e pude ver sua silhueta ao lado da janela de meu quarto, mas eu sabia que ele me deixaria assim que eu caísse no sono. Mas há muito eu já não conseguia dormir a noite inteira. 

- Alteza, você sabe que não vou conseguir descansar o suficiente e por fim, acho que todo o pavor e medo que tem me mantido acordada só irá desaparecer quando eu entender exatamente os motivos. Por que temos que nos casar? Por que tão rápido? Como será possível uma vida assim? E sobretudo, tenho medo..."

Ele virou-se e caminhou até mim. 
- Você parece uma criança teimosa, mas estou preocupado com a sua saúde. Preciso que você durma e ficarei aqui ao seu lado" - ele falou puxando uma cadeira para o lado de minha cama - até ter certeza de que você está bem e segura.

Parecia tenso com a idéia de que o rei adiaria o casamento caso eu não estivesse bem.

Deitei. Recostei a cabeça no travesseiro e adormeci. Estava exausta.

Tive pesadelos assustadores a noite toda. As cenas dos cavalos se alimentando ou de Phillip me salvando dos lobos...

Acordei no que parecia ser a manhã seguinte coberta por grossos cobertores, Ana sentada ao lado da cama, colocando toalhas molhadas em minha testa. "Graças a Deus, Vossa Alteza acordou!" - um sorriso alegre e levemente aliviado apareceu em seu rosto.

- Ana, por quanto tempo estive dormindo? O que houve? - perguntei tensa. Neste momento o médico do rei entrou em meu quarto. 
- Princesa, você esteve desacordada por três dias. Aparentemente teve uma infecção que parece estar cedendo. Contudo, Sua Majestade deixou claro que se continuar assim, terá que adiar o casamento. - e finalmente as palavras do médico vieram como um soco no estômago.

Pedi a minha Aia para que preparasse um banho quente para mim, recomendação do próprio médico e que me trouxesse algo, pois eu estava com fome.

Após o banho, ainda em meu quarto Ana trouxe frutas, uma fatia de bolo e torradas, mas não consegui comer tudo, somente uma maçã. Pedi para ficar sozinha, eu precisava melhorar, mas minha mente não conseguia entender o que aconteceu.

Olhei pela janela e pude notar um dos cavalos do príncipe numa das baias do castelo. "Como? Ele está aqui?" Falei alto, mas só para mim. Pude ouvir uma voz vinda de trás de mim familiar, o rei:
 - Sim, filha, seu noivo está aqui! Ele chegou ontem, após eu enviar o mensageiro com um bilhete comunicando de sua doença e da possibilidade de adiamento do casamento.

Ele fechou a porta e continuou: 

- Como você está? E há quanto tempo você foge à noite do castelo?

Um calafrio percorreu minha espinha, como meu pai teria descoberto? 

- Papai, eu... - ele não me deixou terminar: 
- Aumentei a segurança ao redor do castelo e se você quiser passear, irá sempre com um guarda e NUNCA MAIS me desobedeça! - seu tom mais áspero me aterrorizou.

- Você correndo risco durante a noite, na floresta! - eu não podia responder. Estava sem ar. Sentando-se ao meu lado e pegando a minha mão, com a voz mais calma: 
- Você é uma princesa. Tem deveres e obrigações. Você adoeceu por conta das noites frias fora dos portões. Preciso que me prometa que não repetirá. - Olhei para ele e assenti com a cabeça.

Ele saiu do quarto falando: - Coma! Esvazie os pratos! Você precisa estar forte em menos de uma semana!

- Por que? - minha pergunta ficou sem resposta, meu pai havia fechado a porta atrás de si