janeiro 04, 2011

Capítulo 3 – Sonho ou realidade

Ana, minha aia, veio me chamar para o café. Perguntou se eu conseguira ao menos descansar um pouco. Respondi que sim com um gesto. Desci as escadarias ao encontro de meu pai para a primeira refeição do dia. Meu pai voltou a tocar no assunto do casamento. Não queria discutir, nem podia. Todos devem obedecer às ordens do rei.

Minha mente voou o dia inteiro pelos acontecimentos da noite anterior e apesar dos afazeres diários, a visita das costureiras para aumentar meu guarda-roupa, acompanhar o jardineiro pelo jardim para colher as flores mais belas – ao menos isso meu pai permitia que eu fizesse, escolher as flores que adornavam os cômodos do castelo e finalmente a visita de minha tutora, tinha aulas todos os dias, sobre quase todos os assuntos: história, geografia, artes... Deveria conhecer de tudo a filha de um rei.

Não podia, no entanto, fazer minhas próprias escolhas. Devia aceitar as escolhas feitas por outros para minha vida. No jantar, novamente o rei tocou no assunto do casamento informando-me tão somente que eu não conheceria meu pretendente só na data da cerimônia. Abaixei minha cabeça em concordância e pedi permissão para me recolher aos meus aposentos.

Ana já me aguardava com minha capa e acompanhando-me pelas escadas e através das dependências da criadagem, pediu para que eu fosse cautelosa, para que ninguém percebesse minha ausência. “Tome cuidado também com os males e feras que se escondem dentre as árvores, o rei mandará degolar-me se descobrir que estou te ajudando ou se algo pior ocorrer.” Ela sussurrou enquanto abria a porta de saída dos fundos.

Pedi somente para que ela me ajudasse, pois eu gostaria de chegar um pouco mais tarde na manhã seguinte. Ela disse somente: “Cuidado! Irá chover esta noite. Abrigue-se e até amanhã.”

Corri, novamente descalça através dos portões do castelo. Precisava ir exatamente para o mesmo lugar: “A cabana onde dormira na noite passada.” Senti uma sensação assustadora, pois parecia que alguém havia trocado os lençóis da cama onde eu dormi. “Acho que não devia ser tão abandonada assim.” Mas onde estaria o dono? Por que não apareceu na noite passada?

Minha curiosidade superou meu medo. Procurei o alçapão no mesmo local em que estava no meu sonho. Debaixo do tapete velho próximo ao sofá. Já era tarde quando desci as escadas. Era tudo igual ao que havia sonhado na noite anterior. Chegando à cripta abaixo da cabana vi o altar. Removi sua tampa bem mais pesada que no sonho e avistei o caixão. “Aberto! Onde está aquela criatura?”

De repente, senti como se alguém estivesse dentro daquele lugar. Tremi, mas não estava com frio. Ao virar lentamente vi o mesmo ser, que em meu sonho estava deitado dentro do caixão, de pé parado atrás de mim e encarando-me da mesma forma que havia feito no sonho. Tinha que manter o controle. Será que ele me mataria.

Como ele estava impedindo a passagem para a subida da escada, fui me aproximando lentamente, para tentar fugir. Senti um calafrio percorrer meu corpo quando ele se pôs na minha frente mais rápido que um piscar de olhos. “O que você está fazendo em minha casa?” O ar estava denso demais e eu mal conseguia respirar. Ele pegou meus braços e pude sentir suas mãos geladas. “Responda-me! O que veio fazer aqui?” Quase sem voz murmurei: “Tive um sonho noite passada... essa cripta e tudo o que há nela também estavam no sonho...” Antes que conseguisse prosseguir desmaiei.

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