abril 12, 2024

Capítulo 22 - A viagem de volta

No caminho para o porto, Ane ficou calada. Na enorme mansão de Claus ela havia sido separada de mim. O servo de Claus a colocou sentada em outra sala enquanto eu conversava com ele. Mas não sei se o servo disse-lhe algo que a deixou atordoada, mas havia um silêncio gélido:
- O que houve, Ane? Aconteceu algo com você enquanto eu falava com Claus? - falei pegando em suas mãos.
Ela continuou com a cabeça baixa, mas pude ver uma lágrima escorrer de seus olhos:
- Alteza, o servo de Claus, Eduard, lançou algum feitiço enquanto eu estava com ele... - um arrepio percorreu meu corpo
- Como assim? O que houve? - perguntei nervosa
- Ele me perguntou por que uma princesa como a senhora precisava de uma aia acompanhando-a nesta viagem. Ele falou que só princesas muito novas precisam da companhia constante de uma aia. Eu tentei não responder, mas acabei falando a ele a sua idade e detalhes sobre sua alteza que eu jamais falaria a ninguém, me desculpe... - ela abaixou a cabeça para o seu colo. - a essa altura certamente Claus já tinha absolutamente todas as informações ao meu respeito.

O porto de Nantes parecia sombrio àquela hora da noite. Mas Claus estava aguardando na porta da charrete assim que paramos. O servo dele ajudou a carregar as bagagens e ele, eu e Ane seguimos em direção a um navio que parecia pronto a zarpar.

Claus explicou que vampiros não podiam viajar como os humanos, seu servo não iria, então ele precisaria passar a mim algumas orientações sobre sua viagem. Ele então deu ordens ao seu servo de nos instalar em nossa cabine e se despediu entregando-me uma rosa vermelha e um bilhete, pedindo para que eu só o abrisse quando o navio desatracasse do porto. 

Chegando na cabine, sentei ao lado de Ane que ainda tremia pela nossa conversa na charrete. Mas segurei suas mãos e a acalmei:

- Ficará tudo bem.

Ouvi os apitos do navio e percebi seu leve balanço o que indicava que já estávamos navegando. Abri o bilhete, ainda com a rosa em mãos e comecei a ler:

Minha doce Princesa,
Como você já sabe o que sou, não precisamos de maiores explicações. Vampiros viajam longos trajetos em seus caixões e o meu foi despachado por meu servo e está nos porões deste navio. 
Enquanto eu estiver dentro de meu caixão nem eu, nem os mortais do navio correm risco. 
Contudo, para que eu permaneça trancado, e não termos uma enorme quantidade de passageiros e tripulantes mortos. Desça até o porão, pouse a rosa sobre o meu caixão, isso me manterá preso dentro dele e evitará também que eu me exponha acidentalmente ao sol.

Obrigado.
Claus Deidrich

 Assim que terminei a leitura do bilhete, saí da cabine com a rosa nas mãos e seguida pela minha Aia. Apavorada pela imagem que rapidamente surgiu na minha mente dos corredores do navio cheios de corpos.

Desci as escadas até o porão e pude localizar o caixão devidamente colocado dentre as demais caixas. Coloquei a rosa sobre a tampa, de forma que ela não caísse, nem saísse da posição. Durante toda a viagem, desci algumas vezes para conferir se ela permanecia na posição correta. 

O resto do tempo, dentro do navio, dormi. Todos os acontecimentos dos últimos dias pareciam ter retirado as minhas forças e eu precisaria estar bem para quando Phillip se recuperasse.

Depois de duas semanas o navio atracou. Era uma noite chuvosa e assustadoramente já havia uma charrete nos aguardando no porto. Um servo colocou nossas malas na charrete, enquanto outro entrou no navio. Após alguns minutos o que entrou no navio saiu do navio acompanhado de Claus, que caminhava pacientemente em direção a nós.

Novamente a sensação de pavor percorreu minha espinha. Claus ainda tinha um sorriso, dessa vez parecia mais assustador que das outras vezes. Subimos na charrete e seguimos para o castelo de Phillip. Ao atravessarmos as fronteiras do reino, fui atingida pela sensação nauseante de outrora, começou a escorrer sangue do meu nariz. 

Claus afastou a cortina da charrete e sussurrou: - Interessante, há algo estranho no ar, algum tipo de magia.

Quando a charrete parou na entrada do castelo, ainda estava fraca do mal estar e Claus me retirou da charrete, carregando-me no colo. Entramos no castelo, ele me colocou no chão ao encontrar de frente com o Rei.

- Papai! - falei com um ar mais alegre.

- Sua alteza, descanse! Amanhã precisamos conversar. - meu pai falou com um tom rígido.


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