- O que houve, Ane? Aconteceu algo com você enquanto eu falava com Claus? - falei pegando em suas mãos.
Ela continuou com a cabeça baixa, mas pude ver uma lágrima escorrer de seus olhos:
- Alteza, o servo de Claus, Eduard, lançou algum feitiço enquanto eu estava com ele... - um arrepio percorreu meu corpo
- Como assim? O que houve? - perguntei nervosa
- Ele me perguntou por que uma princesa como a senhora precisava de uma aia acompanhando-a nesta viagem. Ele falou que só princesas muito novas precisam da companhia constante de uma aia. Eu tentei não responder, mas acabei falando a ele a sua idade e detalhes sobre sua alteza que eu jamais falaria a ninguém, me desculpe... - ela abaixou a cabeça para o seu colo. - a essa altura certamente Claus já tinha absolutamente todas as informações ao meu respeito.
O porto de Nantes parecia sombrio àquela hora da noite. Mas Claus estava aguardando na porta da charrete assim que paramos. O servo dele ajudou a carregar as bagagens e ele, eu e Ane seguimos em direção a um navio que parecia pronto a zarpar.
Claus explicou que vampiros não podiam viajar como os humanos, seu servo não iria, então ele precisaria passar a mim algumas orientações sobre sua viagem. Ele então deu ordens ao seu servo de nos instalar em nossa cabine e se despediu entregando-me uma rosa vermelha e um bilhete, pedindo para que eu só o abrisse quando o navio desatracasse do porto.
Chegando na cabine, sentei ao lado de Ane que ainda tremia pela nossa conversa na charrete. Mas segurei suas mãos e a acalmei:
- Ficará tudo bem.
Ouvi os apitos do navio e percebi seu leve balanço o que indicava que já estávamos navegando. Abri o bilhete, ainda com a rosa em mãos e comecei a ler:
Minha doce Princesa,
Como você já sabe o que sou, não precisamos de maiores explicações. Vampiros viajam longos trajetos em seus caixões e o meu foi despachado por meu servo e está nos porões deste navio.
Enquanto eu estiver dentro de meu caixão nem eu, nem os mortais do navio correm risco.
Contudo, para que eu permaneça trancado, e não termos uma enorme quantidade de passageiros e tripulantes mortos. Desça até o porão, pouse a rosa sobre o meu caixão, isso me manterá preso dentro dele e evitará também que eu me exponha acidentalmente ao sol.
Obrigado.
Claus Deidrich
Assim que terminei a leitura do bilhete, saí da cabine com a rosa nas mãos e seguida pela minha Aia. Apavorada pela imagem que rapidamente surgiu na minha mente dos corredores do navio cheios de corpos.
Desci as escadas até o porão e pude localizar o caixão devidamente colocado dentre as demais caixas. Coloquei a rosa sobre a tampa, de forma que ela não caísse, nem saísse da posição. Durante toda a viagem, desci algumas vezes para conferir se ela permanecia na posição correta.
O resto do tempo, dentro do navio, dormi. Todos os acontecimentos dos últimos dias pareciam ter retirado as minhas forças e eu precisaria estar bem para quando Phillip se recuperasse.
Depois de duas semanas o navio atracou. Era uma noite chuvosa e assustadoramente já havia uma charrete nos aguardando no porto. Um servo colocou nossas malas na charrete, enquanto outro entrou no navio. Após alguns minutos o que entrou no navio saiu do navio acompanhado de Claus, que caminhava pacientemente em direção a nós.
Novamente a sensação de pavor percorreu minha espinha. Claus ainda tinha um sorriso, dessa vez parecia mais assustador que das outras vezes. Subimos na charrete e seguimos para o castelo de Phillip. Ao atravessarmos as fronteiras do reino, fui atingida pela sensação nauseante de outrora, começou a escorrer sangue do meu nariz.
Claus afastou a cortina da charrete e sussurrou: - Interessante, há algo estranho no ar, algum tipo de magia.
Quando a charrete parou na entrada do castelo, ainda estava fraca do mal estar e Claus me retirou da charrete, carregando-me no colo. Entramos no castelo, ele me colocou no chão ao encontrar de frente com o Rei.
- Papai! - falei com um ar mais alegre.
- Sua alteza, descanse! Amanhã precisamos conversar. - meu pai falou com um tom rígido.
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