abril 30, 2024

Capítulo 28 – Recuperando

Os primeiros raios de sol iluminaram meu quarto e pude observar uma silhueta em pé diante da janela. Após o ocorrido no dia anterior, encolhi-me próximo à cabeceira da cama, debaixo das cobertas. Meus olhos embaçados demoraram a mostrar a imagem do Rei, encostado na janela. Ao perceber que eu estava acordada ele falou:
- O que houve ontem? - sua voz saiu quase como um sussurro, enquanto ele caminhava em direção à cama.
- Eu tropecei descendo as escadas. Acho que foi um acidente bobo. - falei tentando justificar minha ausência no jantar. - mas estou bem… um pouco machucada, mas bem
- Minha filha, teremos que voltar para seguir com os preparativos de seu casamento. O príncipe já está melhor, você não fez isso de propósito, fez? - ele falou colocando a mão sobre a minha enquanto sentava na beira da cama, se aproximando de mim.
- Sua Majestade sabe que eu jamais me machucaria para evitar… ou só adiar o casamento, que já está nos seus planos para ocorrer, independente de minha vontade. - falei olhando para as mãos.
- Creio que você tem razão. - ele falou se levantando e caminhando em direção à porta – Assim que Dr. Oliver lhe liberar para viajar, partiremos.
Algum tempo depois da saída do rei, minha aia entrou com uma bandeja de café da manhã. Informando que o príncipe mandou o recado de que ao final da tarde viria me visitar com o médico. Novamente comi muito pouco. A dor das costelas ainda me impedia de me mover completamente. Com a ajuda de Ane consegui tomar um demorado banho de banheira. A água quente parecia um analgésico nos hematomas e cortes.
Logo depois, troquei o vestido com o qual dormi, por uma camisola mais macia. Novamente com a ajuda de Ane, que também refez os curativos e limpou os cortes, aterrorizada.
- Como Sua Alteza conseguiu tantos machucados caindo da escada? - ela falou desembaraçando devagar meus cabelos e passando unguento nos cortes na cabeça.
- Ane, por conta de uma pequena distração me desequilibrei e estas escadas são gigantescas, tentei me segurar, mas não consegui.
Retornei para a cama e deitei. Precisava dormir. Durante a noite foi impossível dormir, a dor e as cenas terríveis da violência. Finalmente adormeci, mas pedi a minha aia para permanecer no quarto comigo. Ela sentou-se numa poltrona próxima da janela e pegou um livro para ler, isso me ajudou a dormir. Embora Ane não pudesse me proteger da ira de Claus, ela ao menos me traria a segurança de que ela gritaria por socorro.
Ao acordar percebi que era noite, levantei da cama num pulo ao perceber que Ane tinha saído do quarto. Eu estava sozinha. Ficar de pé tão rápido, esquecendo de minhas costelas quebradas me deu falta de ar. Segurei numa cadeira para evitar a queda. Ouvi uma batida na porta.
Phillip entrou acompanhado do Dr. Oliver, fazendo uma careta ao perceber que eu estava de pé.
- Vossa Alteza está de pé? - pude ouvir o tom irônico em sua pergunta.
O médico por sua vez, apontou para cama enquanto perguntava:
- Posso examiná-la, Alteza? - sentando-se na cadeira ao lado da cama
Caminhei devagar e voltei para a cama. Deitei devagar, ainda sentia muita dor. Ao apoiar a mão na cama, um dos cortes no braço voltou a sangrar. Pude observar os punhos cerrados de Phillip e suas narinas dilatando, quase como se ele pudesse sentir o cheiro do sangue à distância. Passou-se algum tempo com Dr. Oliver examinando cada ferimento e hematoma. Ele então falou que eu precisava manter o repouso, virou-se para a porta, pediu licença e saiu.
- O príncipe parece tenso com algo… - falei me cobrindo.
Ele se aproximou da cama, pegou meu braço machucado com as mãos e falou:
- Talvez porque aquele maldito quis tirar de mim algo que me pertence. - falou removendo a bandagem, agora encharcada de sangue
- O que você está fazendo? - falei tentando retomar meu braço, sem sucesso, porquê vampiros tinham que ser tão fortes!
- Vou trocar esse curativo. - falou pegando novas bandagens e trocando-as.
- O sangue não está te deixando insano? - perguntei em provocação.
- Seu sangue sempre me deixa insano, mais do que de qualquer outro humano. Você é minha. - ele limpou o corte e envolveu em bandagens limpas, mas lambeu as pontas dos dedos que estavam sujas de sangue, e quando o fez fechou os olhos, como se estivesse lambendo os dedos sujos de doce.
- Isso é assustador. - falei quando ele soltou meu braço e o escondi sob as cobertas.
- Através do sabor do seu sangue sei que você ainda é mortal. Eu caçaria Claus como um animal se ele tivesse te transformado em um de nós. - ele falou abrindo os olhos e olhando diretamente nos meus olhos.
- Há mais alguma coisa que você consiga saber pelo meu sangue? - perguntei com curiosidade.
- Sim, consigo saber o quanto você está sentindo de dor e também um pouco do seu medo. Não se levante. Tente ficar o máximo que puder em repouso. - ele falou baixo, num tom de ordem. - Sei que minutos antes de entrarmos aqui você sentiu uma forte falta de ar. Suas costelas estão quebradas. Você precisa de repouso. Vou me limpar e retorno com seu jantar.
- Não precisa, basta mandar Ane. - falei sentando na cama.
- Não, minha princesa. - ele falou desabotoando as mangas da camisa e o botão no colarinho. - hoje passarei a noite te vigiando, como ontem.
Deitei me recostando no travesseiro. E aguardei. Ele retornou como prometido com o jantar, que não consegui comer muito. E depois sentou-se na poltrona próxima da janela e adormeci com a presença calmante dele ali.

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