maio 27, 2024

Capítulo 41 - Dúvidas

Acordei relaxada, mas a tensão da conversa da noite anterior me reservou uma dor de cabeça forte no dia seguinte. Anna veio até meu quarto para que eu descesse para o café da manhã, mas não consegui. Pedi a ela que informasse ao rei que eu precisava de algum tempo, que estava com dor. Assim que retornou com a resposta, minha aia veio com uma bandeja farta de pães, bolos e frutas, ordens do rei segundo ela. Tomei o café em minha cama mesmo, mas passei o resto da manhã pensando.
Na hora do almoço, não foi Anna quem veio me buscar, mas o próprio rei. Ainda muito indisposta pedi a ele para permanecer em meu quarto e ele concedeu, afinal eu tinha pouco tempo para me recuperar e se todo aquele repouso e alimentação ajudasse, ele não me impediria de passar os próximos dias no meu quarto.
Dormi um pouco após o almoço em meu quarto. Um pouco antes do jantar desci para a biblioteca. Esse cômodo sempre foi meu favorito, depois do jardim. Li um dos livros enquanto aguardava pela hora do jantar. Fui interrompida em minha leitura por Lucas batendo na porta e pedindo licença para falar comigo.
Assenti com a cabeça e ele começou, após sentar-se em uma poltrona a minha frente:
- Gostaria de pedir que me perdoasse pela minha indelicadeza ontem. - ele falou com o olhar baixo
- Sem problemas, Lucas. - após falar limpei a garganta para prosseguir – mas tudo o que você descobriu sobre Phillip, ele já havia me contado de certa forma. Nós estávamos nos conhecendo ao longo dos meses. Ele mesmo já havia perguntado para mim se eu tinha certeza de que eu queria este casamento. Inicialmente eu não podia decidir, meu pai foi claro. Mas o príncipe não queria que eu fosse forçada a casar com ele. Acredito que ele queria que seu amor fosse correspondido, mas sem poderes, sem hipnose, só a minha vontade. - falei calmamente apoiando o livro sobre uma mesa lateral
- Não acredito que essas criaturas tenham sentimentos. Mas eu o vi protegendo o rei nos Cárpatos. Ele parece ter. Espero que ele te proteja e cuide de você como eu faria. Espero que você tenha certeza de sua escolha, Alteza! - ele se levantou e ficou de pé atrás da minha poltrona, abaixou-se e falou no meu ouvido – mas acredito que você não queira virar uma criatura dessas, ou quer? Vocês poderão ter filhos? Acho que seu pai conta com isso… - ele voltou e sentou-se novamente na poltrona na minha frente.
- Eu não sei. Não sei de nada disso, Lucas! - fiquei com raiva dele, a dor de cabeça voltou bem mais forte. Levantei e caminhei até a porta. - Vou jantar! Não me perturbe mais com seus ciúmes!
Abri a porta, saí e fechei-a com força atrás de mim. Um arrepio de medo e raiva percorreu meu corpo. Segurei as lágrimas que vieram do fundo do meu coração. Eu queria filhos. Será que Phillip poderia me dar filhos? Fiquei apavorada com a idéia. Respirei fundo e desci as escadas em direção ao salão de jantar, que hoje estava muito cheio, afinal faltavam dois dias para as festividades.
Após um jantar festivo, segui para o jardim. Meus pensamentos não me permitiriam dormir tão cedo. Como eu odiava Lucas por enfiar todas essas questões na minha mente. Eu tinha tanta certeza de que queria ficar com Phillip. Maldito! Andei de um lado para o outro, sentei-me no banco de frente para uma enorme fonte no centro do jardim e senti uma mão no meu ombro.
- Está com dúvidas? - pude ouvir a voz de Lucas bem perto, vindo de trás de mim.
- Por que você fez isso? Por que você colocou essas coisas em minha mente? - falei retirando a mão dele com raiva.
- Porque não vou te perder sem lutar. - ele falou com um sorriso malicioso nos lábios.
Levantei e caminhei em direção ao palácio, subi as escadas e me tranquei em meu quarto. Sei que hoje não conseguirei dormir. Droga!

maio 26, 2024

Capítulo 40 - Sua Decisão

Segui-o até uma das salas de estar, sentado numa poltrona estava o rei e em outra, próxima se sentou Lucas.
- Sente-se, princesa! - ordenou o Rei com seu tom rude
Segui até a poltrona à frente dele e Lucas se sentou na poltrona ao lado do Rei. Logo ele recomeçou:
- Preciso informar o que minha investigação trouxe sobre seu noivo - Lucas apontou em minha direção - e que pode ou não alterar os sentimentos de Vossa Majestade em relação ao casamento da princesa. - ele terminou olhando para meu pai.
Meu coração parecia que ia parar de bater. O que poderia Lucas ter descoberto que comprometeria a cerimônia daqui a três dias? Precisei me concentrar para não prender a respiração. O casamento não podia ser cancelado. Eu queria Phillip.
- Vampiros tem poderes. Podem seduzir facilmente uma presa. - Lucas começou - estudei todas as formas que eles atuavam por lá. Mas Phillip tem pequenos segredos que vão além de poderes.
- Respire, minha filha, não quero te perder. Já basta tudo que você passou sem que eu pudesse protegê-la - o Rei falou ajoelhando-se na minha frente - Não pude te proteger do maldito do Claus e quem sabe o que mais você não me contou, mas das suas fugas noturnas eu só soube para onde você ia quando Phillip me contou nos Cárpatos.
- Ele construiu a cabana para ficar mais perto de mim - falei quase num soluço.
- Então provavelmente ele já te contou tudo sobre ele? - Lucas disse cruzando os braços sobre o peito.
- Espero que sim. - mais um sussurro quase inaudível
- Phillip era o filho mais novo do rei John, sua mãe a rainha Helena faleceu dando a luz a ele. A infância dele e de seu irmão foi terrível. O rei enlouqueceu e era cruel com os filhos. Phillip fugia para a floresta, um dia ele veio à cavalo, quando tinha por volta de doze anos até os limites do reino. Ele viu a linda menina de cachos dourados brincando no jardim. Você, princesa - falou ele apontando em minha direção - ele viu a sua felicidade brincando sozinha em meio ao jardim.
- Ele não me contou isso... - falei colocando o rosto entre minhas mãos
- Ele via sua alegria. Ele voltou inúmeras vezes. A sua alegria brincando e correndo o fazia feliz. O menino de doze anos já passava mais tempo por aqui do que em seu reino e seu pai ficou com raiva e o mandou para concluir os estudos em Paris.
- Por isso, John nunca mais conversou comigo? - o rei falou alto.
- Se ele pudesse, se seu reino fosse mais poderoso comercialmente do que o seu ele certamente entraria em guerra com Vossa Mahjestade, mas ele sabia que seria derrotado por seu exército. - respondeu Lucas
- Como você sabe de tudo isso? - perguntei com lágrimas nos olhos
- Sua Alteza, investiguei da mesma forma como você fez em Paris para encontrar Claus. - Lucas respondeu
- Minha filha foi atrás daquele assassino? - o rei disse colocando a mão na cabeça e se levantando
- Depois ela poderá explicar melhor ao Rei, mas preciso terminar. - falou Lucas se aproximando de meu pai e colocando a mão em seu ombro.
- Phillip não é muito mais velho que a princesa. Ele foi para Paris estudar, mas seu irmão não aguentou a solidão com a crueldade do pai e se atirou da torre mais alta do palácio. Phillip não aguentou mais essa perda e a distância de seu grande amor. Foi num momento de fraqueza dele que Claus o transformou no vampiro que ele é hoje. Mas diferente de Claus ele só bebeu sangue humano uma vez. Ele não é um vampiro cruel. Ao voltar ele procurou pela princesa e sabia que ela já teria idade para se casar. Foi neste momento que ele veio até o rei para conseguir a mão da princesa... - Lucas terminou limpando a garganta e sentando e se acomodando na poltrona de volta.
- Ele me contou quase tudo... - falei gaguejando - e eu o conheci na noite antes da noite do noivado. Foi a minha primeira fuga do palácio e também a primeira vez que vi a cabana. Ele salvou minha vida na floresta, de lobos... - falei abaixando a cabeça e olhando para o chão
- Por que você foi atrás de Claus? - o rei perguntou com um tom intimidador, voltando para a sua poltrona e olhando diretamente para mim
- Phillip ia morrer. Ele adoeceu. Somente Claus poderia ajudar com a cura. Eu tive medo, mas não poderia perde-lo - respondi olhando nos olhos do rei
- Minha filha, preciso saber de você, você quer se casar com o príncipe? - ele perguntou olhando nos meus olhos - Mesmo sabendo que ele não é humano
- Eu não queria antes, não o conhecia, mas sei que quero agora. Eu arrisquei minha vida por ele... e sei que faria de novo. - respondi tremendo
- Está certo. Preciso que você descanse. Vou avisar ao seu noivo e a cerimônia será em três dias. Até lá nada de escapar à noite. Nada de correr mais riscos. Saiba que colocarei dois guardas em sua porta. Vossa alteza não sai do palácio até o fim da cerimônia.
Concordei com a cabeça e saí da sala em direção às escadas. Lucas me seguiu e segurou-me pelo braço.
- Você sabe que tenho sentimentos por você? - ele falou chegando bem perto de mim - Tem certeza de que quer se casar com uma criatura como Phillip? - ele falou tão perto de meu rosto que pude sentir seu hálito quente em minha bochecha
- Ele não é uma criatura! Estarei me casando com o príncipe Phillip! - falei soltando meu braço da mão de Lucas. - você é como um irmão para mim, Lucas.
Subi as escadas rapidamente, entrei em meu quarto e fechei a porta. Estava exausta. Caí na cama sem sequer me trocar e adormeci rapidamente.

Capítulo 39 – Uma noite

- Levando você de volta para o palácio. Você precisa descansar. Em três dias, você precisa estar bem e saudável, não quero mais riscos. Por isso uma das bruxas de meu reino lançou um feitiço de proteção e nada acontecerá a você, ao rei ou a qualquer nobre que estiver dentro do palácio. E em três dias volto para nossa festa. Conversei muito com seu pai e ele já sabe que sou um vampiro. Contei a ele absolutamente tudo nos Cárpatos. Queria que ele compreendesse o que estava acontecendo. Ele sabe o que aconteceu em detalhes e amanhã, talvez ele a chame para uma conversa sobre o casamento.
- O que? Conversar sobre o que? - perguntei nervosa
- Quando contei a ele quem eu era, o que eu era, informei que aceitava do rei que ele abrisse mão de nossa aliança e entenderia se ele não quisesse permitir nosso casamento. Eu assegurei a ele que não permaneceria com os planos para o casamento e me afastaria, mas ele disse que antes de tomar essa decisão precisava conversar com vossa alteza. Ele quer que você decida se ainda me quer como seu noivo ou não. Falei a ele que não iria sequer utilizar de meus poderes para convencê-la a ficar comigo. Então, hoje você volta para o palácio e só nos veremos de novo se Vossa Alteza disser que me quer.
- Como assim? Pensei que eu não poderia decidir sobre o casamento, mas agora eu posso? Não entendo... - praticamente vomitei as palavras.
Phillip me colocou no chão quando chegamos na porta do palácio.
- Aqui me despeço de você. Talvez para sempre? - ele perguntou enquanto me abraçava me colocando bem perto de si.
- M... mas... - antes que eu conseguisse falar ele me deu um beijo nos lábios, virou-se rapidamente e desapareceu na escuridão da noite como um borrão.
Mil imagens passaram pela minha mente, cada incidente terrível que me trouxe até aqui. Como eu resolveria isso. Pelo menos tinha até amanhã para pensar. Não, eu definitivamente não saberia viver sem Phillip ao meu lado. Mas todo o terror dos últimos meses me assombrava. Será que tudo tinha acabado? Será que ainda haveria mais algum momento de pavor...
Respirei fundo, entrei no palácio e quase caí para trás ao ver o vulto de Lucas de pé perto das enormes portas do saguão principal.
- Princesa, onde você foi? - ele perguntou com um ar bastante irritado e segurou minha mão
- Eu precisava fazer uma coisa, hoje. - falei quase num sussurro, não queria que ele soubesse que atravessei a floresta, em minha condição fraca, para visitar meu noivo vampiro no meio da noite.
- Você foi ver Phillip? - ele disse olhando diretamente nos meus olhos
- Como você sabe? - perguntei confusa, será que eu era tão óbvia assim?
- Quando você me contou que ele era um vampiro, na noite em que matamos Claus, eu resolvi fazer uma breve investigação sobre seu pretendente. Eu precisava saber se você estava em perigo e se precisava ser protegida dele.
- Como assim? O que você fez? Você é louco? - perguntei deixando a raiva tomar conta de mim
- Lido com esse tipo de criatura há alguns anos nos Cárpatos. A minha querida princesa achou que eu deixaria você se unir a uma dessas criaturas sem que eu soubesse exatamente o porquê dele fazer tanta questão de casar-se com você. E Vossa Alteza sabe porque o príncipe Phillip te quer tanto? - ele perguntou soltando minha mão e caminhando até outra sala, me chamando para segui-lo.

maio 21, 2024

Capitulo 38 – Eles retornaram

Quando finalmente consegui ficar de pé, recebi um abraço de meu pai, o rei. Lucas me pegou no colo e repetiu a pergunta:
- O que houve com, Vossa Alteza? - seu tom parecia assustado, como se eu estivesse com uma aparência horrível, sentia-me fraca, mas não me olhava num espelho há um bom tempo.
- Há alguns dias eu recebi uma carta de um servo seu… - peguei o papel dobrado no meio do livro que eu carregava e entreguei ao pai de Lucas, ele entregou ao Rei que seguiu em direção a entrada do palácio.
- Desgraçado! - pude ouvir meu pai murmurar, enquanto mostrava o papel para Lucas.- Ele tentou matá-la!
- Como? - perguntei quando Lucas me colocou de pé dentro do saguão do palácio.
- O filho de Claus, antes de morrer, falou que teríamos uma surpresa ao voltar. Provavelmente, ele pensou que você se mataria.- ele disse me segurando para evitar que eu caísse novamente.
Seguimos caminhando para o salão de jantar, onde estava servido o almoço. Muitos dos nobres que estavam aguardando o casamento felicitaram o rei em sua chegada. Sentamos em nossos lugares e pela primeira vez em meses finalmente comi. Ainda sentia falta de Phillip, mas tinha certeza de que ele não viria até escurecer.
Após o jantar todos se recolheram e o rei recomendou que eu descansasse, pois em três dias ele realizaria a cerimônia. Em meu quarto, sentei de frente para a janela pensando se Phillip viria me ver, como ele estaria? Nenhum dos três, meu pai, o pai de Lucas ou o próprio Lucas contaram absolutamente nada do que ocorreu nos Cárpatos.
A ansiedade estava me matando. Já passava da meia noite quando resolvi me agasalhar e correr pela floresta até a cabana. Lá estava ela. Entrei e desci rapidamente para a cripta, estava escuro, apenas uma tocha iluminava aquele cômodo gelado. Afastei a tampa do caixão, mas estava vazio.
- Onde você está, Phillip? - murmurei baixo, olhando para o caixão vazio.
- Cumpri minha promessa! - ouvi sua voz em meu ouvido, atrás de mim. Senti suas mãos em meus ombros.
- Por que Vossa Alteza não foi até o palácio? - perguntei me virando para olhar em seus magnificos olhos negros.
- Porque eu sabia que você viria até aqui. Mas você não parece bem, minha princesa, não deveria ter vindo! - ele falou me olhando com preocupação para meu rosto.
Aproveitei a proximidade dele para abraça-lo forte pressionando meu rosto em seu peito.
- Como você está? O que aconteceu? Como vocês conseguiram voltar? - perguntei afastando minha cabeça somente para olhar nos olhos de Phillip, mas sem soltá-lo de meu abraço.
- Calma, eu vou responder a todas as suas perguntas.- ele falou baixo, aproximando sua boca do meu ouvido - Mas primeiro queria pedir desculpas por fazê-la dormir por três dias. Você precisava descansar e ainda passaria por tanta preocupação, sem ninguém por perto para cuidar de você. - ele falou com o olhar preocupado, afastando uma mecha de meu cabelo para trás da minha orelha.
- Estou bem. - falei olhando nos olhos de Phillip.
- Minha princesa certamente já encontrou seu pai e Lucas, então sei que sabe que estão todos bem. Eu estou bem, por ter certeza de que o filho de Claus está morto, e não poderá mais vir atrás de você para tentar matá-la ou ao seu amigo. Um excelente caçador de vampiros, pelo jeito. Pois ele rastreou o esconderijo onde o exército se abrigava durante o dia e os matava ainda dormindo. Eu guardava o castelo do pai de Lucas à noite. Quando os vampiros tentavam de todas as artimanhas para invadi-lo. Foram muitos dias até que conseguíssemos nos livrar dos vampiros que ele alistou. Agora é a minha vez de perguntar. - ele me afastou de seu abraço e me sentei nos degraus atrás de mim.
- Quando eu parti você não estava tão pálida nem tão fraca. O que houve com você? - ele perguntou sentando-se ao meu lado no degrau e aproximando de mim.
- Há alguns dias recebi uma carta, parecia ter sido escrita por um servo de Lucas. Dizia que todos vocês haviam morrido. Fiquei assustada, aterrorizada, perdi o chão. Eu não sabia o que fazer, pensei em continuar aguardando o retorno de vocês, mas já o fazia sem ter esperanças. Chorei, não dormi direito, não comi direito, não conseguia… - falei com uma lágrima escapando no canto do meu olho – pensei em morrer, mas o reino me manteve viva, marquei uma reunião com o conselho, contaria o conteúdo da carta hoje, mas então...
- Não fale isso. - Phillip falou se aproximando mais de mim e pegando minha mão e colocando-se em seu peito.
- E o casamento, meu príncipe? - falei olhando para o chão.
- Você sabe dos meus sentimentos por você, minha noiva. - ele falou me levantando do chão e subindo as escadas para a cabana comigo.
- Você não foi me ver assim que chegou. Por que? Por que ficou aqui, e não foi me ver? - perguntei recostando minha cabeça em seu peito.
- Preciso falar a verdade para minha bela princesa. Eu queria saber se você viria me ver. Queria saber se você ainda me queria como demonstrou antes de minha partida.- ele falou colocando a mão em minhas costas e rapidamente me pegando no colo para me carregar pelas escadas.
- A floresta tem lobos, Vossa Alteza sabe dos riscos – falei com um leve sorriso malicioso no canto da boca.
- Consegui ouvir você vindo. Ouvi sua inquietação enquanto estava em seu quarto, após o jantar. Mas não sabia se você dormiria ou se viria até mim. - ele respondeu com um sorriso malicioso.
Na cabana achei que ele me colocaria na cama, mas não. Ele continuou andando, saiu pela porta e continuou caminhando até o palácio.
- O que você está fazendo? - perguntei olhando para ele, que não me soltava e caminhava naturalmente como se eu não pesasse em seus braços.

Capitulo 37 – Dias tristes

- Três dias? Como assim? Você nem tentou me acordar? - perguntei a Anna tendo um ataque de pânico.
- Tentei, Sua alteza! Não consegui. Nem nosso médico conseguiu. - ela respondeu aflita.
Durante o café da manhã eu estava com muita fome, terminei depois de meia-hora. Levantei e segui para a biblioteca, peguei um livro e resolvi sentar-me num banco no jardim do palácio para ler. De acordo com Phillip eu devia esperar. Não consegui ler sequer uma palavra. Comecei a divagar pelos pensamentos sombrios que pairavam em minha mente. COmecei a me culpar. "Provoquei tudo isso. Por que fui até Claus? Como Phillip me fez dormir por três dias." Anoiteceu e Anna veio me buscar no jardim para jantar. Após a refeição me recolhi em meu quarto, tomei um longo banho e me arrumei para descansar. Deitei e demorei a dormir.
Os próximos dias foram iguais. Eu sentava no mesmo banco no jardim. Divagava. Lia alguns livros que eu pegava na biblioteca. Perdi a conta de quantos livros eu li. Eu parecia estar constantemente hipnotizada pelo portão. Meus olhos só se desviavam das páginas dos livros para aquele portão. Qualquer barulho que eu ouvisse, me fazia olhar para o portão.
Passou-se um mês, pelos portões atravessou um mensageiro do reino com uma carta, que peguei e abri ansiosa. Certamente foi uma das piores coisas que já fiz, em seu interior um papel completamente manchado de sangue:
Vossa Alteza,
Quem vos transmite essa notícia triste e dolorosa é o servo fiel do Sr. Lucas.
Meu mestre, o príncipe Phillip, seu pai e o pai de meu mestre faleceram numa batalha voraz. Lutaram honrosamente, mas não conseguiram vencer, pois o exército de Eduard era enorme e ávido por vingança.
A esta hora os servos que restaram vivos nos Cárpatos e não foram transformados em monstros estão fugindo por suas vidas.
Lamento muito, acredito que Eduard, filho de Claus irá atrás de você.
Acredito que não sobreviverei…
A escrita se interrompia num enorme rabisco apavorante. E agora? O que eu faria? Como eu poderia superar a dor e continuar o governo de meu pai? Entrei no palácio e subi as escadas e me tranquei. Foram mais três dias perdidos. Eu não sabia o que dizer ao conselho ou ao primeiro ministro de meu pai. Permaneci trancada em meu quarto chorando e dormindo de exaustão. Depois de meu breve luto de alguns dias pensei no reino e em todos que dependiam de um governante capaz de comandá-los, eu sabia que não tinha essa capacidade.
Após um banho quente resolvi descer para o dejejum. Muitos nobres ainda estavam no palácio aguardando o retorno do Rei e de meu noivo. Só eu sabia do conteúdo da carta, não estava pronta para partilhar com ninguém. Mas comecei a definhar lentamente com o passar dos dias. Voltei a sentar-me com um livro olhando para os portões. E se eles voltassem? E se a carta não fosse verdade?
Já não me alimentava mais o suficiente. Nem dormia o suficiente. Passou-se mais uma semana dolorosa e eu tinha tomado coragem para chamar o conselho. A reunião seria à tarde, mas passei minha manhã lendo no jardim. Admirando os portões. Até que observei três silhuetas familiares desembarcarem de uma carruagem em frente ao portão. Levantei ao reconhecer Lucas e meu pai, um terceiro senhor, que parecia o Conde, pai de Lucas. Involuntariamente sorri e tentei correr na direção deles. Meus pés falharam miseravelmente. Eu estava fraca demais. Caí sentada sobre a grama.
- Lucas, é você? - perguntei sentada na grama com a voz rouca.
- Sim, meu anjo, o que houve com você? Por que está tão pálida? - ele falou me ajudando a levantar do chão.

maio 20, 2024

Capítulo 36 - Onde está o rei?

Alguns dias se passaram, fornecedores de todo o reino entravam e saiam do palácio e o Rei não retornava de sua visita ao pai de Lucas. Muitos nobres chegavam e já estavam hospedados. Faltando apenas dois dias para a cerimônia o Rei não chegou. Uma grande preocupação se abateu sobre o conselho e o Primeiro ministro veio até o palácio, informando que estava administrando tudo, mas ainda precisava de auxílio do rei em algumas decisões. Então uma carta chegou. Lucas pegou a carta e não me deixou ler. Após ler a carta, Lucas virou-se para mim e disse:
- Preciso ir até os Cárpatos para trazer o Rei de volta! - conforme falou, Lucas saiu e rapidamente seguiu em direção aos estábulos mandando preparar a sua carruagem.
Despediu-se de mim, embarcou em sua carruagem que estava pronta rapidamente e me pediu para entregar a carta fechada a Phillip, pois ele poderia ajudar. Sem abrir a carta e ansiosa pelo que o fez correr para os Cárpatos, aguardei o anoitecer, e corri até a cabana. Lá desci rapidamente até a cripta, Phillip não estava deitado em seu caixão, mas estava de pé num canto do cômodo gelado:
- Você não me obedece! - pude ouvir sua voz ríspida, quase num tom de bronca, olhando fixamente para mim.
- Algo aconteceu... - falei tentando me recuperar do susto e regular minha respiração que estava irregular - Lucas partiu hoje cedo para os Cárpatos. Meu pai não voltou de lá. Essa carta chegou de lá hoje. - entreguei a carta, ainda fechada, nas mãos de Phillip
- Deixe-me ver. - Ele falou pegando a carta da minha mão.
Depois de ler a carta cuidadosamente longe de meus olhos, ele falou:
- Preciso partir também - ele falou calmamente para mim - Mas vou deixá-la no palácio. Acho que não voltaremos em dois dias. Vou aproveitar para informar de um novo adiamento, mas prepare-se para a nossa volta.
- O que está acontecendo? O que há na carta? - perguntei nervosa.
- Algo aconteceu nos Cárpatos, Lucas precisará de ajuda. Voltarei com seu pai e Lucas, mas prossiga com os preparativos, pois vamos nos casar assim que voltarmos. Espere por nós.
- Fale-me o que está acontecendo! - exigi irritada
- O filho de Claus está em busca de vingança pela morte de seu pai! - Phillip andava de um lado para o outro
- Como assim? - Sentei no degrau atrás de mim, sentindo minhas pernas fracas
- Ele criou um pequeno exército de criaturas da noite, e estão cercando o Castelo do pai de Lucas. Ele está tentando matar seu pai e o pai de Lucas.
- O que os está impedindo? - perguntei tremendo, com as lágrimas escorrendo dos meus olhos
- Um vampiro só pode entrar em algum lugar depois de ser convidado pelo dono da casa, o pai de Lucas não permitiu essa visita em seu castelo. Venha, preciso te colocar em segurança. Vou levá-la de volta ao palácio e depois vou encontrar Lucas nos Cárpatos. - ele disse com uma voz calma
- Não posso deixar você ir. E se o filho de Claus matar você. - falei me levantando e caminhando em direção ao Phillip.
- Sou um vampiro, sei me defender deles. E sei mais sobre nossa espécie do que ele. - ele falou me abraçando perto de seu peito
Neste momento vi tudo escurecer e não me recordo de mais nada. Acordei na minha cama no palácio com um bilhete de Phillip em minha mão explicando que ele voltaria em uma semana com Lucas e meu pai. Assim que voltasse de viagem com o rei, o casamento ocorreria em dois dias. Desci para o café e percebi que estava completamente revigorada. Anna demonstrou surpresa ao me ver e rapidamente me serviu o café. Perguntei a ela o que houve, ela respondeu que eu havia dormido por três dias seguidos.

maio 07, 2024

Capítulo 35 - A noite cai

Enquanto eu almoçava, minha ansiedade me lembrava que Phillip ficou no meu quarto sozinho. Ele andou de um lado para outro incerto. Deitou-se na minha cama. Ele adorava deitar em minha cama, pois tinha meu cheiro e ele adorava sentir meu cheiro nos lençois. Assim ele adormeceu. Chegando em meu quarto após o almoço avisei a Anna que eu dormiria mais cedo e por isso não desceria para o jantar.
Pedi a ela que me deixasse repousar, pois eu precisava estar bem em alguns dias para o casamento. Phillip estava deitado, sem camisa, com o rosto enterrado em meu travesseiro e com os cabelos desgrenhados. Era uma visão divina. Ele não acordou mesmo depois de ouvir o som da chave trancando a porta.
Sentei devagar na cama. Tomei meu tempo observando aquela visão. Ele era tão lindo, tão forte, cada músculo de suas costas parecia saltar em relaxamento total. Não iria resistir à tentação de beijá-lo, ele parecia tão vulnerável. Reclinei devagar em sua direção, deitando ao seu lado. Cada movimento preciso e delicado, para que ele não acordasse. Segurei seus pulsos contra a cama e o beijei como antes de sair.
Ele acordou e ao invés de tentar se afastar, me abraçou trazendo seu corpo mais para perto do meu. O tempo parecia ter parado naquele beijo. Quando finalmente nos afastamos, para respirar ele falou com a voz rouca, olhando diretamente em meus olhos:
- O que foi isso? - ele sentou enquanto falava
- Eu não resisti e senti que era o momento certo para um beijo. - falei ainda tentando respirar e sentando-me ao seu lado
- Nunca ninguém me beijou assim, princesa... - ele falou me puxando novamente para perto de seu corpo recostado na cabeceira da cama
- Eu também nunca fui beijada assim antes, acho que estou completamente apaixonada por você, Phillip. - falei passando meus dedos em seus cabelos.
Ficamos ainda um bom tempo só trocando olhares. Recostados na cabeceira e grudados um no outro.
- Você parece cansado. - falei preocupada
- Estou há duas noites sem me alimentar. Vampiros começam aparentar cansaço, fraqueza e ficamos lentos, quando estamos com fome. - ele falou se levantando. - Já anoiteceu?
Levantei e segui até a janela para verificar e sim, já era noite.
- Tenho que ir. Só nos veremos no dia do casamento. Não vá até a cabana. Tenho medo de você sozinha na floresta. - ele falou pegando a sua camisa e a vestindo.
Ele se aproximou rápido de mim, me abraçando e falando em meu ouvido:
- Você diz que tem sentimentos por mim, mas fugiu quando eu te perguntei se você já havia beijado outra pessoa, chega aqui e me desperta com um beijo que será difícil de esquecer.
Um arrepio correu pelo meu corpo e tentei manter minha postura mais rígida:
- Você desconfia de mim, quando eu falo a verdade. Nunca beijei, nem beijarei outra pessoa. O que ocorreu em Paris, com Claus foi contra a minha vontade... - respondi tentando me soltar do abraço dele sem sucesso
Ele me apertou mais perto dele, como se isso fosse possível e falou com os lábios nos meus:
- Adeus, minha noiva.
- Adeus... - falei com ele me soltando e saindo pela janela.
Pude ver quando ele montou em um de seus corcéis negros e então desapareceu na escuridão da noite e voltei para minha cama. Talvez depois do dia agradável, aproveitando a companhia maravilhosa de meu amado príncipe eu conseguisse dormir melhor. Iria sonhar com ele certamente. Dormi cedo neste dia. Não voltei à cabana. E ele não voltou a me procurar.

maio 05, 2024

Capítulo 34 - Mais um dia com ele

Acabei adormecendo sentada ao lado de Phillip, com minha cabeça em seu ombro. O dia amanheceu e ele acordou. Ele me carregou até a cama para que eu dormisse melhor. Anna entrou em meu quarto e pedi a ela que me deixasse dormir, pois eu estava ainda muito cansada. Ela deixou as cortinas fechadas e saiu do quarto discreta e silenciosamente. Pensei que Phillip tivesse partido, mas o vi saindo de meu closet assim que Anna fechou a porta. Antes de sair ela me lembrou que eu tinha que almoçar com Lucas.

- Bom dia! - ele falou com um enorme sorriso nos lábios

- Bom dia, achei que você tivesse ido embora. Anna entrou para abrir as cortinas, mas falei a ela que eu precisava descansar e ela saiu.

- Por que eu acordei com você dormindo em meu ombro? Sentada ao meu lado? Não é mais confortável dormir na cama? - ele perguntou com um tom irônico em sua voz, com os braços dobrados em frente ao peito, com a camisa parcialmente aberta, encostado na parede próxima à janela

- Demorei a sentir sono. Muitos pensamentos atrapalharam, cenas horríveis que preferia esquecer. - falei me levantando e caminhando em direção ao banheiro.

- Mas você dormia hoje de manhã, quando a coloquei na cama. - ele falou caminhas até próximo à porta do banheiro

- Porque olhar para você dormindo ajudou a acalmar meus pensamentos. - falei com um sorriso nos lábios, jogando água gelada no rosto

Ele abriu a porta do baheiro e entrou. Eu estava enchendo a banheira, mas ainda não tinha me despido para um banho.

- Você adormeceu por minha causa? - ele perguntou olhando diretamente nos meus olhos - Você vai tomar um banho?

- Sim, adormeci porque seu belo rosto me traz paz e sim, vou tomar um banho e agradeceria se você fosse um cavalheiro e me esperasse no quarto.

Ele virou-se e fechou a porta atrás de si, com um sorriso malicioso no rosto. Após o banho, vesti um vestido mais simples e confortável. Saí do closet e fui para o quarto. Sobre a mesinha de café, minha aia deixou uma bandeja com frutas e croissants, além de suco e café.

- Então meu belo rosto ajuda Sua Alteza a dormir. - ele falou se gabando, com um ar arrogante, enquanto eu caminhava em direção ao café da manhã.- Anna deixou sua bandeja aqui.

Não respondi. Só peguei uma xícara de café e um croissant. Sentei na poltrona em frente a ele, que estava sentado na poltrona diante da mesa.

- Você não vai me dizer o que a manteve acordada? - ele perguntou se curvando em minha direção.

- Fui atacada por um vampiro em seu castelo. Ele me seguiu até aqui e podia ter me matado, ainda sinto as costelas e os cortes ainda estão cicatrizando. Meu amigo de infância conhece bem a sua espécie. Lucas me salvou de Claus. Acho que foi muito sangue em muito pouco tempo. Além disso, vou me casar com uma criatura dessas. Acho que minha mente não consegue processar todas essas informações. - falei tudo de uma vez como um grande desabafo.

- Você tem medo de mim? - ele perguntou desviando o olhar

- Não, não mais. Não depois de ontem. Acredito que você é a minha paz em meio ao caos. - quase não consegui terminar a frase, pois ele se levantou rapidamente, deu a volta na mesa, se ajoelhou na minha frente e beijou meus lábios, tudo muito rápido, como um borrão.

- Ontem, após você chegar. Você falou do filho de Claus. Quem é ele? - Phillip perguntou sentando-se novamente na sua poltrona usual.

- Em Paris, após nossas pesquisas, eu e Anna descobrimos que Claus andava com um jovem sempre o acompanhando. Chamava-o de filho. Nunca ouvimos seu nome. Ele deve ter aceitado o que você não aceitou. Acho que ele deve estar se sentindo só, pois matamos Claus... talvez tenha seguido Claus até aqui... - falei pensativa

- O que você quer fazer? Temos um dia todo. Com exceção do almoço. - ele disse com um pouco de ciúme em sua voz

- O almoço, tinha esquecido. - falei irônica

- Você e esse caçador de vampiros são só amigos? - ele falou e pude sentir novamente o ciúme na sua voz

- Só amigos. Mas você fala como se nunca tivesse saído com nenhuma outra mulher. Vossa Alteza já teve algum relacionamento antes do que temos hoje? - perguntei sabendo que a resposta poderia ser dolorosa para mim...

- Não vou falar sobre isso. Qualquer coisa antes da minha princesa é totalmente sem valor para mim. - ele respondeu de forma evasiva

Contornei a mesa e sentei na poltrona ao seu lado, peguei suas mãos e falei:

- Mas eu quero saber! - soou quase com uma ordem

- Tive sim alguns casos e não me guardei para você como deveria ter feito. - ele falou desapontado, passando a mão nos cabelos

Levantei e me afastei. Não sei porquê, mas imaginar que alguém pode tocá-lo e beija-lo antes de mim me deu uma certa raiva. Meu coração disparou angustiado.

- Ciúmes? - ele falou passando suas mãos pela minha cintura, encostando seus lábios no meu ouvido

- Sim, como não teria? Você deveria ser só meu! - falei virando para ele e olhando bem nos seus olhos.

- Adoro quando você sente ciúmes. Da mesma forma como adorei você ter buscado a minha cura, apesar dos riscos. Porque tudo isso significa que você tem sentimentos por mim. - ele falou apertando o abraço e me colocando bem mais próxima dele.

- Eu odeio saber que outra pode ter você antes de mim. E você já deveria saber que eu tenho sentimentos por você desde a primeira vez que desci naquela cripta.

- Como assim? - ele falou surpreso me soltando dos seus braços

- Vampiros não conseguem ouvir o coração humano batendo? Como você não ouviu meu coração acelerado naquela primeira vez em que te vi? - falei com um sorriso malicioso afastando-me propositalmente dele

- Estou há tempos tentando fazer você gostar de mim, mas você agora me diz que já estava apaixonada desde a primeira vez na cripta. - ele falou passando a mão nos cabelos e demonstrando estar inquieto.

Caminhei em sua direção, colocando minhas mãos em seu pescoço. Enlacei meus dedos em seus cabelos negros macios e puxei seu rosto para um beijo. O beijo mais apaixonado e quente que já demos até aqui. Nos afastamos para respirar e ele fala:

- Tem certeza de que nunca beijou ninguém antes? - ele parece desnorteado

- Você está desconfiando de mim? - falei o afastando com a mão em seu peito.

- Esse beijo parece dizer o contrário. - ele falou sorrindo.

Ouvimos uma batida na porta e Phillip correu para se esconder no closet. Anna avisa que o almoço já está posto e a sigo para fora do quarto com ela. Na sala de jantar, além de Lucas, temos outros casais de nobres que também chegaram hoje e apesar da conversa frugal durante a refeição, minha mente vagava no Vampiro em meu quarto.

Capítulo 33 - Concluindo a conversa

Tentei pensar em tudo que o vampiro no andar de baixo poderia fazer. Talvez se vingar da morte de Claus. Fui até a janela para verificar se ela estava trancada, quando vi a janela aberta. Um arrepio correu minha espinha e finalmente pude ver, em meio à escuridão Phillip de pé no canto próximo à janela. Dei um pulo para traz com o susto, mas consegui perguntar:
- O que você está fazendo aqui? - só então percebi que o corte no meu braço estava sangrando.
- O que houve? Onde você estava? - ele falou saindo das sombras e caminhando em minha direção.
- Quero minhas respostas antes - demandei - O que você está fazendo aqui? - falei caminhando em direção ao banheiro, precisava de algo para estancar o sangramento.
- Você saiu correndo da cabana. Eu precisava ter certeza de que você chegaria em segurança.
- Demorei, porque quando cheguei aqui ouvi um barulho e fui ver o que era.
- Por que seu corte está sangrando? O que você está tentando esconder de mim? - ele falou segurando meu braço machucado
- Escorreguei no saguão, esbarrei com o braço e o corte abriu. Preciso fazer um curativo. - Menti, não queria outro vampiro morto dentro do meu castelo.
- Venha! - ele ordenou me levando até a cama, onde me sentei. 
Ele cautelosamente pegou uma atadura limpa e refez o curativo.
- Por que você veio até aqui? - perguntei, pois eu não esperava que ele me seguisse de volta.
- Para saber porquê voce fugiu. - ele falou sentando ao meu lado na beira da cama
- Você parecia estar com ciúmes de Lucas. Mas não sei como você reagiria à morte de Claus... tive medo. - falei quase gaguejando.
- Mesmo sabendo que sou um vampiro e que te alcançaria facilmente? E se quisesse fazer mal a você eu faria, mas a princesa sabe bem que sou incapaz de te machucar, não? - ele falou acariciando minha bochecha com o polegar.
- Talvez... - falei quase num sussurro
- Vamos retomar nossa conversa na cabana, mas primeiro, conte-me a verdade sobre como o corte abriu, certo? Você estava com o coração disparado quando trancou a porta do quarto. Não minta. Não quero ter que te forçar a me falar a verdade.
Abaixei a cabeça. O nervosismo era aparente.
- O filho de Claus. O som que ouvi ao entrar no castelo era o filho de Claus. Ele me segurou e rasgou o corte. Ia me morder, mas consegui derruba-lo e correr pelas escadas. 
- Vou verificar se ele ainda está aqui. - ele disse se levantando.
- Não, não me deixe sozinha. - falei segurando sua mão.
- Eu vou ficar - ele falou de pé, indo até a janela. Fechou as cortinas e virou-se para mim com um olhar malicioso - e se eu passasse o dia com você, como fizemos daquela outra vez? 
- Quando amanheceu e você ficou preso aqui? - perguntei nervosa
- Sim, poderíamos conversar e eu tiraria todas as dúvidas que deixam você com medo. Você não pode ter medo de mim. Vamos ser um casal em breve. Você precisa começar a confiar em mim. 
- E se não funcionar? Tem nobres chegando para o casamento. Tenho outros preparativos que preciso dar andamento. Eu não poderia passar o dia todo aqui em meu quarto.
Ele se aproximou da cama, me levantou com um puxão e me abraçou:
- Vamos tentar. Vai ser melhor do que da outra vez, certo? - ele falou encostando a testa na minha testa.
- Tudo bem. - desisti. Deitei para dormir enquanto ele foi para a poltrona próxima à janela.
- Durma! Amanhã teremos nosso dia. - ele falou recostando um pouco mais.
Não consegui pegar no sono. Muitas coisa passaram em minha mente. Phillip dormiu e pude apreciar o quão belo e pacífico ele parecia dormindo. Sentei ao lado dele e fiquei pensando em como viveríamos daquela forma. Toda essa situação era estranha e muito complexa. Mas olhando ele dormir pensei no quão bom era ter alguém forte e poderoso como ele para me amar e me proteger. 

maio 03, 2024

Capítulo 32 - De volta à cabana

Minha aia lavou o chão da sala de chá, com o auxílio de outras servas do palácio. Ninguém sequer questionou o que havia acontecido. Lucas se recolheu para seu quarto de madrugada, ele precisava de um banho e descanso. Eu me recolhi para meu quarto, ainda aterrorizada e exausta. Será que Phillip estaria na cripta sob a cabana? Eu precisava contar a ele o que aconteceu. Resolvi sair ao entardecer, ninguém notaria se eu saísse e voltasse antes do amanhecer.
Corri pela floresta, ainda com dores pelo corpo, chegando à cabana, desci até a cripta e Phillip estava à minha espera, em pé ao lado do altar. Pude perceber raiva em seu olhar, sem entender e sentindo um arrepiu de medo, Subi correndo as escadas e fugi da cabana. Voltei pela floresta silenciosa, mas Phillip apareceu como um borrão em minha frente. No susto, caí de joelhos. Ele me levantou e me levou de volta para a cabana, me segurando pelos braços.
- Quero falar com você. Por que fugiu? - ele falou com uma voz de comando enquanto me colocava sentada na cama.
- Por que você me assustou pela forma como olhou para mim? O que você quer? - falei tremendo - O que você está fazendo aqui? Pensei que estaria em seu palácio...
- Hoje só eu pergunto! - ele falou com um tom ríspido interrompendo-me. - Quem é o jovem nobre que você recebeu hoje no palácio? Onde está o rei?
- Aquele é Lucas Jared VI, um amigo meu de infância, filho de um conde amigo do Rei, ele veio para o nosso casamento e meu pai está com o pai dele nos Cárpatos. Mas eu vim falar...
- Sua alteza sabe que seu amigo é um caçador de vampíros? - ele perguntou com um tom ainda mais ríspido me interrompendo.
- Não, eu só sabia que ele estava caçando Claus... - falei prendendo a respiração e tremendo incontrolavelmente.
- O que houve? Por que você está tremendo? Por que parece apavorada? - ele perguntou segurando minhas mãos, se aproximando e colocando minhas mãos em seu peito
- M... matamos Claus. - falei enquanto buscava o ar
- Como? Isso não é possível! - ele falou soltando minhas mãos e ficando de pé
- Ele veio terminar o que havia começado em seu castelo, ele veio me matar, ele disse isso para mim, mas Lucas foi mais rápido que ele, e o matou... - falei fechando os olhos
- Eu sabia que Claus estava por perto, podia sentir seu cheiro, mas como Lucas conseguiu matá-lo? Somos criaturas rápidas e perigosas, difíceis de derrotar. - ele falou olhando para o fogo na lareira
- Com uma estaca de madeira no coração. Nem eu sabia que isso era possível. Ainda imagino Claus se levantando para me atacar, mas ele não levantou, via a morte em seus olhos - falei relembrando da cena e do sangue.
- Seu amigo vai me caçar? - ele falou caminhando em direção à porta da cabana, afastando-se mais ainda de mim.
- Não, não vai... - respondi me levantando, caminhando até ele e sentindo uma forte dor nas costelas, que me fez dobrar o corpo.
- Como você pode ter tanta certeza? - ele se virou e me segurou pelos cotovelos, parecia perceber qu eu estava sentindo dor
- Porque eu pedi a ele. Ele já sabe que você é um vampiro, mas não vai te caçar, nem te matar. - respondi quase sem voz, a dor aumentou demais e minhas pernas falharam
- Por que você fugiu de mim quando me viu na cripta? E como pode ter tanta certeza de que ele não vai me caçar? - ele falou sustentando um pouco mais de meu peso em suas mãos, porque comecei a dobrar mais o corpo
- Fugi, porque achei que você estaria com raiva de mim... tive medo de que você estivesse com raiva porque matamos Claus. E tenho certeza de que Lucas não irá te machucar, porque ele é como um irmão para mim, ele não faria nada para me magoar.
O príncipe me soltou e virou de costas para mim. Caminhei em direção à porta e saí da cabana para retornar ao castelo caminhando vagarosamente e com muita dor. Cheguei a me perder pela floresta, mas percebi que percorri todo o caminho de volta ao castelo completamente sozinha. Subi as escadas com dificuldades, as costelas doíam bastante. Deitei em minha cama e não conseguia dormir.
Resolvi dar uma volta dentro do palácio. Desci as escadas para o saguão do palácio com uma vela para iluminar o caminho. Fui até a cozinha, bem mais silenciosa sem os movimentos diários nessa hora da madrugada. Ouvi um barulho vindo do saguão, próximo à porta, voltei pelo corredor e vi um vulto. Virei a vela na direção e pude ver o vampiro "filho" de Claus que eu havia conhecido em Paris. O susto me fez deixar a vela cair, ela apagou assim que tocou o chão. Ele correu na minha direção e pegou minha mão:
- Claus veio aqui? Ele queria muito te machucar - ele falou segurando meu pulso com força, isso deixaria um hematoma
- O que você quer? - eu estava apavorada, quase sem voz, dores no corpo e aquele aperto doloroso
- Preciso... - ele puxou minha mão em sua direção, tentou morder meu braço, onde havia o corte feito no ataque por Claus. Dei um chute em seu joelho com toda a força que consegui juntar, consegui afastá-lo e fugi. Meu braço sangrava novamente no corte. Corri pelas escadas e subi o mais rápido que pude. Entrei em meu quarto e tranquei a porta e coloquei uma cadeira segurando a maçaneta.

Capítulo 31 - Um velho amigo

Na manhã seguinte, o Rei já havia realizado todos os preparativos para partirmos para casa. As carruagens já estavam com nossas bagagens e restava apenas embarcarmos. Viajamos de volta logo após o café. Meu pai tinha receio das estradas à noite, por isso ele sempre parava em alguma hospedagem pelo caminho. Os machucados do ataque de Claus ainda doíam. Durante a viagem fui informada pelo Rei de que ele não poderia estar em nosso palácio para recepcionar os primeiros nobres que chegariam para as festas do casamento, pois iria visitar um nobre nos Cárpatos, um velho amigo. Pois ele não viria ao casamento.
Estranhei. Por que ele tinha que visitar esse amigo? Qual o sentido dessa nova viagem? O Rei explicou que o filho deste amigo, um velho e talvez meu único amigo de infância estaria representando seu pai na festa.
Consegui descansar por alguns dias antes da chegada de Lucas Jared VI. Seu pai era Conde. Lucas passou uma boa temporada conosco na infância, pois sua mãe faleceu no parto e seu pai tinha receio de culpá-lo pela perda de seu grande amor. Quando sua carruagem chegou pude ver um homem forte e já sem traços de criança desembarcar. Fiz questão de recepcioná-lo, a pedido de meu pai.
- Alteza, como você mudou! - seus lindos olhos castanhos brilharam ao encontrar os meus, mas a voz estava completamente diferente, mais grave e forte.
- Caro Lucas, você também mudou! - falei me aproximando e estendendo a mão para ele. - como vai seu pai o Conde? Como tem passado?
- Estou bem, meu pai mandou lembranças e vim representá-lo no grande dia de Sua Alteza! - ele falou com um tom irônico e complementou - Como você está? Ansiosa, pirralha?
- Um pouco. - respondi rindo, ele ainda agia comigo como se tivéssemos oito anos.
- Você está linda, princesa! - ele disse colocando minha mão em seu braço enquanto caminhávamos para dentro do palácio.
- Venha, vou te acompanhar até seus aposentos. Será bom ter um amigo por perto neste período. - falei tentando disfarçar a vergonha.
Subimos até o segundo andar, eu ainda caminhava com um pouco de dificuldade, pois as costelas ainda doiam. No jantar, conversamos sobre nossa infância. Lembramos de nossas brincadeiras. Ele me contou sobre como seu casamento arranjado deu errado.
O pai de lucas o havia prometido a uma princesa francesa. Mas pouco antes deles se conhecerem o Conde descobriu que sua futura nora estava grávida de um dos guardas da realeza. Todos os planos foram desfeitos e o pai da princesa optou por enviá-la a um convento.
Por um lado Lucas ficou aliviado, mas por outro frustrado. Seu pai decidiu que Lucas iria se casar com quem ele escolhesse e o mandou para viajar pelo mundo e estudar. Afinal, para o Conde, Lucas era a única lembrança viva de seu grande amor.
Apesar de todos os acontecimentos, Lucas estava feliz. Havia conhecido muitos lugares e hoje era bem mais intelectual do que antes. E o Conde se sentia realizado simplesmente de ver seu filho assim. Lucas veio para minha cerimônia a contra-gosto, pois nunca foi a favor de casamentos arranjados. Contudo viu no convite uma oportunidade de rever a melhor amiga da infância. Passamos muitos anos distantes. Sentamos para conversar após o jantar em uma grande sala de chá no segundo andar do palácio. Lucas contava sobre sua vida nos Cárpatos e suas viagens, quando de repente ouvi um barulho vindo da janela, nos viramos para olhar e pude reconhecer a silhueta assustadora de Claus. Nesse momento Lucas reparou em como fiquei rapidamente pálida e comecei a tremer. Sussurrei: "Ele vai me matar!", um pouco antes de Claus quebrar a janela entrando no cômodo.
- Como vai, Sua Alteza? - Claus falou com certa ironia em seu tom - Quem é seu amigo? Tenho a impressão de que já o conheço... - falou dando rápidos passos em minha direção ignorando parcialmente a presença de Lucas...
- Saia daqui! - gritei com a voz falhando e tentando respirar.
- Acho que não vou embora, temos que encerrar nosso assunto de outro dia, fomos interrompidos, se não me engano... - ele se aproximava rápido demais
- Lembro de você. - disse Lucas caminhando diretamente até Claus.
- Tolo, você sabe que nunca conseguirá me matar. Por que ainda tenta? - disse Claus empurrando Lucas e seguindo em minha direção.
- Não desisto fácil! - falou Lucas, com um ar arrogante.
Num movimento rápido, Lucas saltou em direção à janela quebrada, pegou um pedaço de madeira que pendia dela, correu em direção a Claus que estava já bem próximo de mim, se colocou entre Claus e eu e cravou-lhe a estaca bem no meio do peito.
Pude ver quando Claus caiu, instantaneamente com os olhos já sem vida. Havia muito sangue nas roupas de Lucas e pelo chão. Foi assustador. Sem entender o que estava acontecendo e como eles se conheciam, perguntei gaguejando e com a voz trêmula a Lucas:
- Como... de onde você conhece Claus? - falei retomando a respiração.
- Sua Alteza sabe que ele é um vampiro, não? - ele perguntou avaliando a bagunça total do cômodo e olhando nos meus olhos logo após.
Apenas concordei com a cabeça. Ele continuou:
- Nos Cárpatos temos muitas criaturas como ele. Numa de minhas viagens a Paris, enquanto eu estudava, o conheci. Comecei a caça-lo quando percebi que ele gostava de matar humanos. Como você o conhece? - ele perguntou segurando meu queixo sem entender o que Claus, uma criatura perversa e sanguinária, queria comigo.
- O príncipe com quem vou me casar, Phillip é um vampiro. Claus o transformou em um, quando ele estava em Paris estudando, quando Phillip estava bêbado e deprimido. Como você sabia que esse pedaço de madeira o mataria? V... Você os caça?
- Sim, mas não tenho intenção de matar seu noivo. Só caço os vampiros que matam pessoas. - ele falou enrolando o corpo de Claus no tapete que forrava o chão.
- O que vamos fazer? Com o corpo? É muito sangue... - falei ainda tremendo em choque.
- Vou levá-lo para o jardim atrás do palácio. O sol se encarregará de transforma-lo em pó.
Acompanhei meu amigo de infância carregando Claus até o jardim dos fundos e o colocamos entre dois arbustos, para que ninguém o achasse até o amanhecer. Talvez a noite mais sombria desde o ataque, que pareceu durar apenas alguns segundos.

No dia seguinte só encontraríamos a estaca da janela e um montinho de cinzas no lugar.

maio 01, 2024

Capítulo 30 - Paixão

Acordei no horário do almoço, quase sem dores. Pensei rapidamente no chá, que Phillip fez minha aia me servir no café. Resolvi pedir a ajuda de Anna para me trocar, eu gostaria de descer para almoçar fora do quarto na companhia do Rei e do Príncipe. Tomei um banho, coloquei um vestido e desci as escadas lentamente na companhia de minha aia.
Sentei à mesa para almoçar. Ambos olharam curiosos para mim, pois há dois dias eu não tinha condições de descer as escadas. Precisava pedir ao Rei que adiasse o casamento. Minha mente estava confusa, aterrorizada e eu precisava me recuperar fisica e emocionalmente. Conversamos durante o almoço e o Rei concordou. Adiaríamos até que eu estivesse bem. Phillip por sua vez parecia impaciente, mas entendia que eu não estava bem.
Resolvi caminhar pelo jardim com Anna logo após o almoço. Percebi que o príncipe tentava chegar até nós. O dia ainda estava claro, ensolarado. Fiquei sem ar pensando que o sol poderia matá-lo. Anna me segurou para que eu não caísse. Phillip me pegou pelo outro braço e pediu licença para que Anna nos deixasse a sós.
- O que houve? Por que você está tendo um ataque de pânico? - ele falou num sussurro, bem próximo ao meu ouvido, enquanto observava minha aia se afastar.
- V...você está andando sob o sol... c...como? - falei sem conseguir respirar
- Eu tentei explicar no outro dia. Há alguns anos chamei uma bruxa para fazer um encantamento, que me permitisse andar sob o sol. Eu queria poder ver o nascer do sol e o pôr do sol com você. - ele falou me segurando pela cintura enquanto eu recuperava a respiração - é magia, mas só vai até as fronteiras de meu reino. Você está bem?
- Não, ainda sinto dores... ainda estou com medo. - falei de forma seca, tremendo
- Quer entrar? - ele perguntou ainda me segurando para que eu não caísse
- Ainda não. - respondi tentando me afastar dele, mas aproveitando-me do equilíbrio que ele me dava segurando-me
- Bom, ainda tem algo que eu gostaria de perguntar a Sua Alteza. - ele falou com um leve sorriso no canto dos lábios
- O quê? - questionei sem expressar nada
- A princesa não acha que foi um pouco longe por minha vida? Para uma noiva que até agora não aparentava ter sentimentos por mim... não me dava nenhum sinal de afeto e foi até Paris. Tratando com uma criatura perigosa como Claus. Por que você fez isso? Você nem queria esse casamento... - ele falou olhando para os meus olhos
- E iria mais longe! - respondi empurrando-o colocando minhas duas mãos em seu peito
Ele ficou parado com um leve sorriso de satisfação nos lábios olhando para o horizonte. Sentia algo por ele, mas eu ainda não tinha certeza de se era amor. Voltei para o castelo. Anna me acompanhou pelas escadas. Cheguei ao meu quarto, deitei e pedi a minha aia que não permitisse que ninguém me acordasse. Ela então ficou sentada em uma cadeira do lado de fora, como eu pedi.
Cerca de meia hora se passou e pude ouvir minha aia falando com Phillip que eu ordenara que ninguém me atrapalhasse o sono. Dormi até o jantar. Desci para o jantar como havia feito no almoço, acompanhada de Anna. Ao terminar, esperei o rei e o príncipe se afastarem para conversar e subi discretamente com Anna, sem que nenhum deles percebesse. Dessa vez tranquei a porta do quarto e coloquei uma cadeira travando a maçaneta.
Troquei de roupa. Deitei na cama. Quando estava quase adormecendo ouvi um barulho vindo da janela. Abri as cortinas e pude ver Phillip sentado do lado de fora no parapeito da janela. Abri a janela e o mandei entrar.
- O que você estava fazendo lá fora? Como subiu até aqui? - perguntei enquanto caminhava de volta para a cama.
- Por que você está me evitando desde o almoço? - ele perguntou me seguindo para dentro do quarto, sem olhar para mim
- Perguntei primeiro - falei colocando minha mão sob seu queixo para direcionar seu olhar para mim
- Acho que preciso ficar te lembrando que sou um vampiro e posso escalar as paredes do castelo sem sequer me cansar ou cair. - ele falou rapidamente - sua vez agora, minha princesa!
- Não estou te evitando, nem fugindo de você. Dr. Oliver falou que preciso de repouso e como falei no almoço preciso de um tempo para me recuperar... só de descer as escadas sinto cansaço.- falei apoiando minhas mãos em seu peito
- Sua alteza pode me explicar melhor o que estava me falando mais cedo no jardim? Você disse que iria mais longe para salvar minha vida? - ele perguntou passando sua mão de leve em minha bochecha
- Creio que não há resposta certa para isso. - respondi sentando na beirada da cama
Ele sentou ao meu lado rapidamente. Chegando mais próximo de mim. Sem falar nada o abracei e descansei minha cabeça em seu peito largo.
- Não entendo. O que sente por mim? - ele perguntou inalando o cheiro dos meus cabelos.
- Estou confusa... nem eu entendo... mas creio que vou gostar de ser sua rainha.
Senti seu abraço apertar um pouco mais. Ficamos um bom tempo abraçados em silêncio. Pude sentir ele cheirando meus cabelos, enquanto eu tentava aninhar mais meu rosto em seu peito. Era tão agradável estar em seus braços.

Capítulo 29 - Mais verdades

Os primeiros raios de sol iluminaram meu quarto atravessando as cortinas entreabertas. Pude ver Phillip sentado dormindo na poltrona próxima às janelas. Afastei as cobertas, levantei e caminhei silenciosamente até o banheiro para lavar o rosto. Consegui passar por ele sem acordá-lo. Era reconfortante ver que ele cumpriu mais uma vez a promessa de ficar até o amanhecer vigiando meu sono e me protegendo.
Ao sair do banheiro Phillip estava sentado na ponta da cama, acordado e olhando para cada movimento meu enquanto eu caminhava do banheiro de volta para a cama.
- Bom dia, como está se sentindo? - ele perguntou com a voz ainda rouca e sonolenta.
- Sinto-me melhor. Dolorida, mas melhor. Consegui dormir melhor hoje. Dói respirar. Preciso voltar para casa. O rei vai acabar ficando irritado com a demora para voltarmos. Primeiro sua doença e agora isso. Estou preocupada escondendo tantas coisas do rei... - falei enquanto deitava de volta na cama, sentindo as costelas e puxava as cobertas sobre mim.
- Ele não vai desconfiar. - ele falou me cobrindo-me melhor.
- O que fez você acreditar em mim? Vir me socorrer quando Claus tentou me matar? - perguntei com um tom irritado, as dores estavam insuportáveis - Antes você não acreditou tanto em mim quando te contei sobre o que havia ocorrido em Paris. O que mudou?
- Anteontem, depois que te encontrei coberta de sangue no chão, sem ver o que havia acontecido ou sem encontrar Claus por perto, imaginei que ele teria feito isso com você, mas você estava desacordada, consegui ouvir seu coração, então sabia que você estava viva. Eu não tinha como perguntar a você. Claus pode ser violento, mas só quando é contrariado. Imaginei que algo mais poderia ter acontecido em Paris, ele deve ter tentado algo além do beijo em você. Bom, vampiros são excelentes controladores de mentes, podemos hipnotizar qualquer humano só com o movimento de uma mão. Chamei Anna na biblioteca e sob meu controle pedi a ela que me contasse em detalhes sobre a viagem de vocês a Paris. Ela contou tudo. Mortais não mentem quando controlados. Sei que Claus não tentou nada, mas roubou um beijo contra a sua vontade.
- Você não viu Claus me levantando pelos cabelos? Eu vi você entrando pela porta! Não daria tempo dele escapar.
- Vi o momento em que ele te arremessou contra a parede. Talvez da segunda vez... e o lancei pela janela aberta. Ao cair lá embaixo ele correu para a floresta. Ontem, antes da segunda visita do Dr. Oliver, rastreei Claus com outros soldados meus pela floresta. Ele sumiu. - ele disse pegando minha mão e segurando entre suas mãos.
- Por que você não foi atrás dele quando o viu correndo para a floresta? - perguntei sentando-me na cama, encostada na cabeceira
- Ao ver o sangue nas paredes e em seu vestido... você estava desacordada... eu pensei que você estava morta. Mas vampiros ouvem o coração humano à distância e pude ouvir seu coração batendo, coloquei você na cama e quis ter certeza de que você ficaria bem.
- E se ele conseguisse? E se Claus conseguisse me ferir ao ponto de quase me matar? Você teria coragem de me transformar num vampiro? - perguntei com um pouco de curiosidade.
- E te condenar a uma vida eterna em um mundo que muda muito. Você não suportaria, minha princesa! - ele falou com um tom preocupado. - ele se levantou da cama e caminhou até a porta. - Vou pedir a sua aia que traga seu café da manhã e mais um chá para ajudá-la com as dores.
Minutos após ele sair, Anna entrou com uma bandeja. Comi pouco, pois as dores ainda atrapalhavam demais no meu apetite. Tomei um chá amargo, que me fez sentir muito sono deitei e adormeci.